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Relevância dos determinantes padrões de estrutura de capital

2.6 Evidências Empíricas sobre Determinantes da Estrutura de Capital dos Bancos

2.6.2 Relevância dos determinantes padrões de estrutura de capital

O estudo realizado por ÇAĞLAYAN e ŞAK (2010) teve por objetivo analisar o relacionamento entre o valor contábil da alavancagem bancária e os determinantes padrões da estrutura de capital, além de verificar se as principais teorias do financiamento de bancos (trade-off, pecking order e custo de agência) podem explicar a estrutura de capital dos bancos comerciais turcos. Para tanto, foi coletada uma amostra de 25 bancos comerciais na Turquia – país em desenvolvimento como o Brasil, durante o período de 1992 a 2007. Como resultado, verificou-se que as variáveis independentes tamanho, razão entre valor de mercado e contábil, lucratividade e ativos tangíveis são significantes ao nível de 1%. Além disso, o sinal dos coeficientes das referidas variáveis estão de acordo com a literatura de finanças.

Ainda em 2010, outro estudo foi realizado por Romdhane. O objetivo do seu trabalho consistiu em verificar se determinantes padrões, também, seriam aplicáveis na definição da estrutura de capital de 16 bancos comerciais na Tunísia, durante os anos de 2002 e 2008. Como resultado, as variáveis risco, lucratividade, custo do capital próprio, variação no volume de depósitos, razão entre depósitos a prazo e à vista, taxa de intermediação (total de ativos/ total de depósitos), taxa média do índice da Basiléia da amostra de bancos analisados e tamanho eram todas estatisticamente significativas ao nível de 1% ou 5%, em relação à variável dependente de valor contábil do capital próprio dos bancos analisados.

O modelo de regressão desenvolvido por Gropp e Heider (2010), adicionalmente, teve como objetivo secundário verificar se os determinantes padrões da estrutura de capital de empresas não financeiras – tamanho, lucratividade, garantia oferecida por ativos tangíveis, pagamento de dividendos, razão entre valor de mercado e contábil e risco dos ativos - eram igualmente relevantes para a definição do nível de alavancagem financeira dos bancos.

Como resultado, esses autores identificaram que os coeficientes de todas as variáveis independentes eram significativos ao nível de 1%, em relação à variável dependente alavancagem financeira, para valores contábeis e de mercado, com exceção da variável razão entre valor de mercado e contábil, para o valor de mercado da alavancagem financeira. Os sinais dos coeficientes, também, foram aderentes à teoria de finanças. Além disso, os autores encontraram um percentual médio de capital próprio, a valores contábeis, de 7,4%. Esse percentual corresponde a quase o dobro do capital mínimo definido pelo acordo da Basiléia que é de 4%31 (nível 1 – vide Quadros 4 e 6), implicando que existem outros fatores que explicam a definição da estrutura de capital dos bancos.

Por sua vez, o estudo realizado por Baton e Laux (2010) buscou examinar a relação entre os programas de compensação de executivos de instituições financeiras e seu nível de alavancagem. Ele foi realizado com 40 instituições financeiras, durante o período de 2005 a 2007, que possuíam receitas iguais ou superiores a US$ 5 bilhões. A hipótese principal era que devido à natureza de aumento de riscos gerado por um programa de compensação, executivos com uma parcela maior de pagamentos baseados em ações e opções, em relação à

31 O trabalho de Group e Heider (2009) considerou, apenas, os requerimentos mínimos de capitais aplicáveis ao nível 1, uma vez que o nível 2 não pode ser considerado como capital nas teorias padrões de estrutura de capital, devido à inclusão de instrumentos híbridos de longo prazo de dívidas.

remuneração fixa, elevam o percentual de dívidas na estrutura de capital dos bancos. Como resultado, o estudo verificou que programas de compensação baseados em ações e opções estão positivamente relacionadas à alavancagem das instituições financeiras, enquanto remunerações baseadas em salário fixo estão negativamente relacionadas. Tal fato levanta a questão sobre o alinhamento de interesses entre gestores e acionistas e o objetivo principal dos gestores que é o aumento da riqueza desses últimos.

O modelo de regressão desenvolvido por Ahmad, Ariff e Skully (2009) identificou significância estatística para as variáveis lucratividade e tamanho, em relação à variável dependente nível de capital próprio dos bancos malaios. Todavia, o sinal obtido para lucratividade foi o oposto do esperado – negativo e não positivo. Já para a variável tamanho, o sinal obtido – negativo – encontra-se de acordo com a literatura de finanças.

No estudo realizado por Octavia e Brown (2008), um dos seus objetivos consistia em verificar se os determinantes padrões possuíam o poder de explicar a estrutura de capital dos bancos em países em desenvolvimento. Como resultado, as variáveis independentes tamanho, lucratividade, razão entre valor de mercado e contábil, ativos tangíveis, pagamento de dividendos e risco dos ativos apresentaram significância estatística, aos níveis de 1% e 5%, na definição do nível de alavancagem financeira a valor contábil dos bancos. Com relação ao valor de mercado da alavancagem financeira, as variáveis independentes tamanho e razão entre valor de mercado e contábil eram relevantes, ou seja, eles concluíram que os determinantes padrões da estrutura de capital possuem poder de explicação na variação do capital dos bancos – contábil e de mercado, acima do mínimo requerido pelos acordos da Basiléia.

O resultado obtido para o valor contábil do capital oferece suporte à teoria do colchão do excedente de capital. Todavia, essa afirmação não foi comprovada para o valor de mercado de capital, mas, sim, para atender às pressões de mercado. Referida teoria afirma que os bancos possuem um colchão de capital próprio como garantia contra a possibilidade de estar abaixo dos limites mínimos estabelecidos pelos acordos da Basiléia ou para enfrentar crises financeiras. Assim sendo, os bancos que possuem um baixo custo de captação de capital próprio no curto prazo – bancos que são rentáveis, distribuem dividendos e possuem um alto nível na relação entre valor de mercado e contábil – tendem a manter mais capital próprio, significativamente.

Outro estudo empírico foi realizado, em 2008, por Brewer III, Kaufman e Wall, em que eles buscaram compreender por que a estrutura de capital de bancos semelhantes varia entre países desenvolvidos distintos. Para tanto, eles incluíram variáveis independentes em seu modelo que envolvem políticas públicas regulatórias locais – ex: poder de ações corretivas imediatas da legislação do país, segurança de liquidez dos bancos etc., variáveis específicas – ex: tamanho, lucratividade e risco de crédito; fatores macro-econômicos de cada país – ex: PIB e variáveis de controle – ex: políticas contábeis de cada país. Para tanto, eles utilizaram uma amostra composta por 78 bancos de 12 países desenvolvidos32, durante o período de 1992 a 2005, totalizando 649 observações. Como resultado, verificaram que, como para qualquer outro tipo de empresa, o nível de capital próprio dos bancos era, significativamente, afetado pela maioria de suas variáveis específicas – ex: tamanho, lucratividade e risco de crédito - ao nível de 1% e 5%.

Adicionalmente, o estudo realizado por Kleff e Weber (2008), também, incluiu variáveis padrões da estrutura de capital dos bancos em seu modelo de regressão, entre elas lucratividade e tamanho. As hipóteses construídas são que existe uma relação positiva entre lucratividade e negativa entre tamanho, e capital próprio contábil dos bancos. Como resultado, eles verificaram que a lucratividade e o tamanho possuem uma relação positiva e negativa, estatisticamente significativa aos níveis de 5% e 1%, respectivamente, em relação à proporção de capital próprio contábil dos bancos.

Os Quadros 10 e 11, a seguir, sintetizam a análise da relação entre a variável dependente – nível de alavancagem financeira a valor contábil e de mercado, respectivamente – e as variáveis independentes padrões que influenciam a estrutura de capital dos bancos, objeto deste trabalho, considerando a existência de um colchão ou excedente de capital próprio sobre o mínimo regulatório definido pelos acordos da Basiléia:

32 Austrália, Canadá, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Japão, Holanda, Suécia, Suíça, Inglaterra e Estados Unidos.

Quadro 10 – Relação entre variáveis independentes e nível de alavancagem33 financeira a valor contábil dos bancos

Variáveis indepen- dentes Relação esperada Çağlayan e Şak (2010) Romd- hane (2010) Gropp e Heider (2010) Barton e Laux (2010) Ahmad et al (2009) Octavia e Brown (2008) Brewer III et al (2008) Kleff e Weber (2008) Tamanho + + + + N/A + + + + Lucrati- vidade - - - - N/A + - - - Oportu- nidade de cresci- mento

- + N/A - N/A N/A + N/A N/A

Ativos tangíveis como garantia

+ - N/A + N/A N/A - N/A N/A

Pagamen -to de di- videndos

- N/A N/A - N/A N/A + N/A N/A

Progra- ma de compen- sação de executi- vos

+ N/A N/A N/A + N/A N/A N/A N/A

N/A: Não aplicável

Quadro 11 – Relação entre variáveis independentes e nível de alavancagem34 financeira a valor de mercado dos bancos

Variáveis independentes Relação esperada Octavia e Brown (2008) Gropp e Heider (2010)

Tamanho + + +

Lucratividade - - -

Oportunidade de crescimento - - -

Ativos tangíveis como garantia + - +

Pagamento de dividendos - - -

33

No caso da variável dependente ser o nível de capital próprio do banco, os sinais são inversos. 34 Idem.

3 METODOLOGIA

Segundo Marconi e Lakatos (2010, p. 3), “toda pesquisa deve basear-se em uma teoria que serve como ponto de partida para a investigação bem sucedida de um problema. A teoria, portanto, é utilizada para conceituar os dados a serem analisados”. Assim sendo, com base no referencial teórico apresentado, as técnicas estatísticas, descritas a seguir, viabilizarão a comprovação, ou não, das hipóteses alternativas mencionadas no item 1.2 deste trabalho.