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BEM E MAL SOFRER

No documento Portal Luz Espírita (páginas 66-68)

BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS

BEM E MAL SOFRER

18. Quando o Cristo disse “Bem-aventurados os aflitos, porque o reino dos céus pertence a eles”, não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que todos os

que se encontram na Terra sofrem — quer ocupem tronos, quer penam sobre a palha. Ah, mas poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus recusa consolações, desde que lhes falte coragem. A prece é um apoio para a alma; contudo, não basta: é preciso que tenha por base uma fé viva na bondade de Deus. Ele já lhes disse muitas vezes que não coloca fardos pesados em ombros fracos. O fardo é proporcionado às forças, como a recompensa para a resignação e a coragem. Mais sublime será a recompensa, do que penosa a aflição. Porém, é preciso merecê- la e é para isso que a vida se apresenta cheia de tribulações.

O militar que não é mandado para as linhas de fogo fica descontente, porque o repouso no campo não lhe dá nenhuma promoção. Então, sejam como o militar e não desejem um repouso em que o seu corpo ficasse entediado e a sua alma se enfraquecesse. Alegrem-se, quando Deus enviar vocês para a luta. Esta não consiste no fogo da batalha, mas nos amargores da vida, onde às vezes é mais necessário mais coragem do que num combate sangrento, pois não é raro que aquele que se mantém firme em presença do inimigo fraqueje nos apertos de uma pena moral. O homem não obtém nenhuma recompensa por essa espécie de coragem; mas Deus lhe reserva palmas de vitória e uma situação gloriosa. Quando uma causa de sofrimento ou de contrariedade recair sobre vocês, ponham-se acima dela e quando tiverem conseguido dominar os ímpetos da impaciência, da cólera, ou do desespero, dizei consigo mesmo, cheio de justa satisfação “Fui o mais forte!”

Bem-aventurados os aflitos pode então ser traduzido assim: Bem-

aventurados os que têm ocasião de provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque multiplicarão a alegria que lhes falta na Terra, porque depois do trabalho virá o repouso.

Lacordaire (Havre, 1863) O MAL E O REMÉDIO

19. Será que a Terra é um lugar de prazer, um paraíso de delícias? Já não ressoa

mais aos seus ouvidos a voz do profeta? Ele não proclamou que haveria prantos e ranger de dentes para os que nascessem nesse vale de dores? Então, todos vocês que aí vivem, esperem ardentes lágrimas e amargo sofrer e, por mais agudas e profundas que sejam as suas dores, voltem o olhar para o Céu e bendigam ao Senhor por ter querido experimentá-los. Ó, homens! Será que não reconhecem o poder do Senhor, senão quando Ele tenha lhes curado as chagas do corpo e coroado de beatitude e ventura os seus dias? Será que não reconhecem o seu amor, senão quando adornou o corpo de vocês de todas as glórias e tenha restituído o brilho e a brancura? Imitem aquele que lhes foi dado para exemplo. Tendo chegado ao último grau da indignidade e da miséria, deitado sobre uma estrumeira, disse ele a Deus “Senhor,

conheci todos os agrados da riqueza e me reduziu à mais absoluta miséria; obrigado, obrigado, meu Deus, por ter querido experimentar o teu servo!”. Até

quando os seus olhares se deterão nos horizontes que a morte limita? Quando afinal as suas almas decidirão lançar-se para além dos limites de um túmulo? Se tivessem de chorar e sofrer a vida inteira, que seria isso em relação à eterna glória reservada ao que tenha sofrido a prova com fé, amor e resignação? Busquem consolações para os seus males no futuro que Deus lhes prepara e procurem a causa no passado. E vocês, que mais sofrem, considerem-se os afortunados da Terra.

Como desencarnados, quando pairavam no Espaço, escolheram as suas provas, julgando-se bastante fortes para suportá-las. Por que agora murmurar? Vocês, que pediram a riqueza e a glória, queriam sustentar luta com a tentação e vencê-la. Vocês, que pediram para lutar de corpo e espírito contra o mal moral e físico, sabiam que quanto mais forte fosse a prova, tanto mais gloriosa a vitória e que, se triunfassem, embora o seu corpo devesse parar numa estrumeira, dele, ao morrer, se desprenderia uma alma de cintilante alvura e purificada pelo batismo da expiação e do sofrimento.

Logo, que remédio receitar aos atacados de obsessões cruéis e de cruciantes males? Só um é infalível: a fé, o apelo ao céu. Se, na maior crueldade dos seus sofrimentos, entoarem hinos ao Senhor, o anjo — que está bem a sua cabeceira — lhes apontará com a mão o sinal da salvação e o lugar que um dia ocuparão. A fé é o remédio seguro do sofrimento; mostra sempre os horizontes do infinito diante dos quais se esvaem os poucos dias brumosos do presente. Portanto, não nos perguntem qual o remédio para curar tal úlcera ou tal chaga, para tal tentação ou tal prova. Lembrem-se de que aquele que crê é forte pelo remédio da fé e que aquele que duvida um instante da sua eficácia é imediatamente punido, porque logo sente as dolorosas angústias da aflição.

O Senhor colocou o seu selo em todos os que creem nele. O Cristo lhes disse que com a fé se transportam montanhas e eu lhes digo que aquele que sofre e tem a fé por amparo ficará sob a sua proteção e não mais sofrerá. Os momentos das dores mais fortes lhe serão as primeiras notas alegres da eternidade. Sua alma se desprenderá de tal maneira do corpo que, enquanto se estorcer em convulsões, ela planará hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor nas regiões celestes, entoando junto com os anjos.

Ditosos os que sofrem e choram! Alegres estejam suas almas, porque Deus as cumulará de bem-aventuranças.

Santo Agostinho(Paris, 1863)

No documento Portal Luz Espírita (páginas 66-68)