5. ANÁLISE ECONÔMICA DOS DIREITOS SOCIAIS
5.9 ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL, À
5.9.2 Assistência Social
5.9.2.1 Benefício de prestação continuada
O Benefício de Prestação Continuada conta com um orçamento anual de
aproximadamente 42 bilhões de reais.
O Benefício de Prestação continuada da Assistência Social - BPC foi
instituído pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei
Orgânica da Assistência Social – LOAS, Lei nº 8.742, de 7/12/1993;
pelas Leis nº 12.435, de 06/07/2011 e nº 12.470, de 31/08/2011, que
alteram dispositivos da LOAS e pelos Decretos nº 6.214, de 26 de
setembro de 2007 e nº 6.564, de 12 de setembro de 2008.
O BPC é um benefício da Política de Assistência Social, que integra a
Proteção Social Básica no âmbito do Sistema Único de Assistência
Social – SUAS e para acessá-lo não é necessário ter contribuído com
a Previdência Social. É um benefício individual, não vitalício e
intransferível, que assegura a transferência mensal de 1 (um) salário
mínimo ao idoso, com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, e à
pessoa com deficiência, de qualquer idade, com impedimentos de
longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os
quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
com as demais pessoas. Em ambos os casos, devem comprovar não
possuir meios de garantir o próprio sustento, nem tê-lo provido por
sua família. A renda mensal familiar per capita deve ser inferior a ¼
(um quarto) do salário mínimo vigente.
A gestão do BPC é realizada pelo Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome (MDS), por intermédio da Secretaria
Nacional de Assistência Social (SNAS), que é responsável pela
implementação, coordenação, regulação, financiamento,
monitoramento e avaliação do Benefício. A operacionalização é
realizada pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Os recursos para o custeio do BPC provêm da Seguridade Social,
sendo administrado pelo MDS e repassado ao INSS, por meio do
Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS).
Atualmente são 3,6 milhões (dados de março de 2012) beneficiários
do BPC em todo o Brasil, sendo 1,9 milhões pessoas com deficiência
e 1,7 idosos.175
O benefício divide opiniões a respeito de sua essência:
Uma primeira posição, sustentada pelos que defendem uma reforma
substancial nas regras do BPC, ancora-se no argumento de que a
existência do benefício, desvinculado da necessidade de qualquer
contribuição à Previdência Social geraria um desestímulo à
contribuição previdenciária, principalmente para trabalhadores mais
jovens e menos qualificados, que ganham salários próximos ao SM.
Sustentaria este argumento o pressuposto de que um conjunto de
trabalhadores poderia passar um período significativo de sua vida
produtiva afastado do setor formal da economia em decorrência da
perspectiva do recebimento de um benefício assistencial no futuro.
Contra o BPC, argumenta-se ainda que, dada a pressão sob os
gastos públicos, nenhum benefício não contributivo deveria ter o valor
de um SM. Nesse sentido, defende-se que este público deveria ser
atendido pelo PBF, voltado aos grupos mais pobres da sociedade.
Uma segunda posição ressalta a importância do benefício para a
efetivação do princípio da segurança de renda no campo da proteção
social. Nesse sentido, a implementação dos benefícios monetários
assistenciais às populações em situação de pobreza alinha o Brasil a
outros países de maior nível de bem-estar, garantindo um efetivo
patamar de proteção social aos segmentos vulneráveis por idade ou
deficiência. Em defesa do BPC lembra-se, de um lado, que este não
substitui as coberturas propiciadas pela política previdenciária. Esta
oferece cobertura a um conjunto amplo de riscos sociais – e não
apenas o que se refere à velhice –, muitos deles operando inclusive
durante a vida economicamente ativa dos trabalhadores. No entanto,
as altas taxas de desfiliação previdenciária no Brasil não parecem ter
sido impactadas pelo aparecimento deste novo programa.
[...]
Tanto os grupos impossibilitados de participar ativamente do mercado
de trabalho quanto os que se mantiveram incapazes de filiar-se a um
175 De acordo com:
<http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficiosassistenciais/bpc/beneficio-de-prestacao-continuada-bpc> Acesso em 02 setembro 2015
programa de natureza contributiva são reconhecidos como portadores
de um direito a uma renda de manutenção, identificada ao SM
quando atestada, por idade ou incapacidade, a impossibilidade do
exercício do trabalho e a inexistência de rendimentos que assegurem
a subsistência. A natureza desta cobertura tampouco se confunde
com a função de complementação de renda realizada pelo PBF. Ao
contrário do BPC, o PBF não está associado à comprovação de
limitação para participação no mercado de trabalho, mas apenas à
ausência de uma renda considerada mínima."176
O BPC é uma efetiva manifestação dos ideais de solidariedade que
devem estar presentes na sociedade. Com relação aos idosos, a iniciativa
privada, pela lógica, não teria incentivo para substituir o benefício estatal
considerando a diminuta contribuição que poderia dar, em tese, alguém pouco
qualificado e esvaído das forças físicas. Porém, a fim de não fazer um exame
economicamente míope do benefício, há que se atentar para a mudança de
incentivos provocada durante o gozo das condições de trabalho. Como vimos,
o BPC sofre acusações de incentivar a evasão das contribuições
previdenciárias. Considerando a possibilidade de receber com o BPC o mesmo
que se receberia pelo sistema previdenciário que é de base contributiva,
tem-se um aumento do custo de oportunidade em adentrar à previdência social
pública.
Ainda que não se possa descartar a inexistência desse tipo de
comportamento, é fato que não há ainda qualquer estudo que dê indícios de
sua ocorrência. Inclusive é possível extrair que a observada formalização do
mercado de trabalho, bem como o aumento no nível de contribuição de
trabalhadores sem carteira assinada sobrevindo concomitantemente à
expansão da concessão do BPC demonstraria que a tese do incentivo ao
comportamento imprevidente, se existente, não seria vigorosa.
Mais visíveis, no entanto, são as alterações de incentivo observadas
com relação aos deficientes. Ainda que se ressinta de um estudo aprofundado
a respeito da dimensão de sua frequência, é fato que o BPC tem sido apontado
como responsável por um considerável afastamento de deficientes do mercado
176 Boletim de Políticas Sociais - Acompanhamento e Análise. “Políticas Sociais:
acompanhamento e análise - Vinte Anos da Constituição Federal”. IPEA - Volume 1, nº 17.
Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/politicas_sociais/bps_17_vol001_comp
leto.pdf> 205-206 p. Acesso em 02 setembro 2015
de trabalho. Tendo a obrigação legal de contratar uma porcentagem de
deficientes, muitas empresas não conseguem atingir a cota alegando o
desinteresse em trabalhar por parte dos deficientes. Esses, zelosos da
consequência de perderem o BPC por atingirem um ganho superior ao fixado
para a concessão do benefício optam, então, por permanecerem não
trabalhando. Tal alegação é partilhada mesmo por representantes de
deficientes.
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