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2 MOLDURA CONSTITUCIONAL DO DIREITO FUNDAMENTAL À ASSISTÊNCIA

3.2 O benefício assistencial de prestação continuada – BPC

3.2.4 Beneficiários: controvérsias, riscos e desafios

O artigo 20, § 3º, da Lei Orgânica da Assistência Social considera incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa, a família cuja renda mensal per capita seja inferior a um quarto do salário-mínimo; ou seja, cuja renda mensal bruta familiar dividida pelo número de seus integrantes seja inferior a ¼ do salário mínimo.

A renda mensal bruta familiar, de acordo com a redação dada pelo Decreto nº 7.617/11 é a soma dos rendimentos brutos auferidos mensalmente pelos membros da família composta por salários, proventos, pensões, pensões alimentícias, benefícios de previdência pública ou privada, seguro-desemprego, comissões, pro

labore, outros rendimentos do trabalho não assalariado, rendimentos do mercado

informal ou autônomo, rendimentos auferidos do patrimônio, Renda Mensal Vitalícia e Benefício de Prestação Continuada, lembrando que a inteligência do art. 34 do Estatuto do idoso, prevê que valor do BPC concedido ao idoso não será computado no cálculo da renda mensal bruta familiar para fins de concessão do Benefício de Prestação Continuada a outro idoso da mesma família.

A comprovação da renda familiar mensal per capita deverá ser feita mediante Declaração da Composição e Renda Familiar, em formulário instituído para este fim, assinada pelo requerente ou seu representante legal, confrontada com os documentos pertinentes, ficando o declarante sujeito às penas previstas em lei no caso de omissão de informação ou declaração falsa.

É preciso que os componentes da família do requerente sejam comprovados mediante a apresentação de um dos seguintes documentos: a) carteira de trabalho e previdência social com as devidas atualizações; b) - contracheque de pagamento ou documento expedido pelo empregador; c) guia da Previdência Social - GPS, no caso

de Contribuinte Individual; ou d) extrato de pagamento de benefício ou declaração fornecida por outro regime de previdência social público ou previdência social privada.

O membro da família sem atividade remunerada ou que esteja impossibilitado de comprovar sua renda terá sua situação de rendimento informada na Declaração da Composição e Renda Familiar.

Compete ao INSS e aos órgãos autorizados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, quando necessário, verificar junto a outras instituições, inclusive de previdência, a existência de benefício ou de renda em nome do requerente ou beneficiário e dos integrantes da família.

Na seara jurídica, a concessão do BPC, principalmente em relação ao critério de renda estipulado pelo legislador para efeito de concessão do referido benefício, sempre foi bastante controvertida, posto que, se encontra situada em rota de colisão com a política orçamentária, em importância ao montante gasto pelo Estado com a concessão e manutenção de tal benefício.

O Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC) atendeu a 3,8 milhões de beneficiários em 2012, sendo 2,0 milhões de pessoas com deficiência e 1,8 milhão de pessoas idosas, exigindo um aporte de recursos da ordem de R$ 28,5 bilhões. Além disso, os beneficiários vêm sendo inseridos no CadÚnico e adquiriram direito à Tarifa Social de Energia Elétrica (TSEE). As pessoas com deficiência, beneficiárias do BPC, também contam com o BPC na Escola e o BPC Trabalho, iniciativas que visam ampliar a proteção e a inclusão social desse segmento.103

No relatório104 anual do Tribunal de Contas da União sobre as contas do Governo em 2013, este reforça que as funções Previdência e Assistência Social

103

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME. Relatório de Gestão do

exercício de 2012, apresentado aos órgãos de controle interno e externo como prestação de

contas ordinária anual a que esta Unidade está obrigada nos termos do art. 70 da Constituição Federal, elaborado de acordo com as disposições da Instrução Normativa TCU nº 63/2010, da Decisão Normativa-TCU nº 119/2012 e da Portaria –TCU nº 150, de 03 de julho de 2012. Disponível em: < http://www.mds.gov.br/acesso-a-informacao/processodecontas/ unidades-do- mds/secretaria-nacional-de-seguranca-alimentar-e-nutricional-sesan/relatorio-de-gestao-snas- 2012-final.pdf>.

104

O Relatório sobre as Contas do Governo de 2013 traz análises sobre aspectos chaves da estrutura de governança dos Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e da Previdência Social, especialmente no que tange aos chamados “mecanismos de porta de entrada” das políticas assistenciais e previdenciárias.

englobam programas e ações de Proteção Social, dentre esses, os programas temáticos de Previdência Social, do Fortalecimento do SUAS105 e do Bolsa Família:

Sustentabilidade Fiscal da Proteção Social106

Além de melhorias em suas estruturas de governança, tanto a Assistência Social como a Previdência Social devem se atentar à sua sustentabilidade fiscal. No âmbito da Assistência Social, o PBF107, que iniciou em 2004 com 3,6 milhões de famílias, alcançou em 2013 o quantitativo de 13,5 milhões de famílias, pagando benefícios no valor total de aproximadamente de R$ 2 bilhões/mês e R$ 24 bilhões/ano (TC 013.804/2013-8 e Data Social 2.0/ Sagi/MDS). Já em relação ao BPC, que em 2012 atendeu a 3,8 milhões de beneficiários, exigindo um aporte de recursos da ordem de R$ 28,5 bilhões, verificou-se o aumento das concessões judiciais do benefício, bem como a existência de propostas de alterações legislativas que poderão ter impacto fiscal importante (TC 024.813/2013-3 e TC 015.938/2013-1).

Nos Relatórios de Informações Sociais108 do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, são lançados dados por Estado e cidades. Para ilustrar o trabalho, segue abaixo relatório com o universo do BPC no Estado de Minas Gerais e na Cidade de Uberlândia, por ser considerado um Município de porte Grande:

MINAS GERAIS Data: 14/08/2014

Horário: 14:48:53

Relatório de Informações BPC/RMV

Área Territorial do Estado 586.528 km²

População Censo 2010 19.597.330

BPC - Benefício de Prestação Continuada - (Período 06/2014)

Beneficiários Valor Mensal Acumulado

Pessoa(s) com deficiência 224.530 R$ 162.012.008,47 R$ 959.817.948,24

Idosos 172.688 R$ 124.803.195,07 R$ 742.775.565,84

RMV - Renda Mensal Vitalícia - (Período 08/2013)

Beneficiários Valor Mensal Acumulado

Pessoa(s) com deficiência 21.657 R$ 14.632.122,77 R$ 105.255.664,58

105

O Sistema Único de Assistência Social (Suas) é um sistema público que organiza, de forma descentralizada, os serviços socioassistenciais no Brasil.

106

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Ficha-Síntese sobre as Contas do Governo da República. Exercício de 2013. Disponível em: <http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/portal/ docs/ 1/2646843.PDF>. Acesso em 14 jul. 2014. “Relatório sobre as Contas do Governo de 2013 traz análises sobre aspectos chaves da estrutura de governança dos Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e da Previdência Social, especialmente no que tange aos chamados “mecanismos de porta de entrada” das políticas assistenciais e previdenciárias.”

107

PBF é a sigla do Programa Bolsa Família. 108

MINAS GERAIS. Relatórios de Informações Sociais Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria de Avaliação e gestão da Informação - SAGI. Disponível em: <http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/index.php>. Acesso em 02 ago 2014.

Idosos 5.359 R$ 3.630.811,34 R$ 27.007.918,53

UBERLÂNDIA (MG) Data: 14/08/2014

Horário: 16:01:40

Relatório de Informações BPC/RMV

Área Territorial do Município 4.116 km²

População Censo 2010 604.013

Porte do município segundo estimativa populacional 2009 Grande

BPC - Benefício de Prestação Continuada - (Período 06/2014)

Beneficiários Valor Mensal Acumulado

Pessoa(s) com deficiência 6.288 R$ 4.533.869,32 R$ -

Idosos 8.511 R$ 6.146.728,34 R$ -

RMV - Renda Mensal Vitalícia - (Período 06/2014)

Beneficiários Valor Mensal Acumulado

Pessoa(s) com deficiência 472 R$ 340.997,80 R$ -

Idosos 162 R$ 117.288,00 R$ -

Em breve analise, percebe-se que os números apresentados são significativos e refletem no tamanho do orçamento destinado ao Programa. No campo das políticas públicas, a questão orçamentária revela-se, portanto, como de especial importância, em razão de que todo projeto a ser desenvolvido pelo Estado demanda investimento. Assim o cumprimento das políticas públicas carece, como ponto de partida, do conhecimento da forma pela qual o orçamento é elaborado e executado. Sem uma correta compreensão do funcionamento do ciclo orçamentário qualquer discussão em torno da elaboração e cumprimento das políticas públicas tende a se revelar absolutamente inócua, posto que dificilmente, poderia ser efetivada sem recursos para tanto.

Deste modo, a questão relacionada à concretização dos programas assistenciais, neles, se incluindo o BPC, tem desaguado no Judiciário, como movimento voltado para a essencial implementação de políticas públicas, sobretudo daquelas relacionadas à concretização dos direitos sociais, que traz ao foco de discussão uma forma de administração do que se pode denominar justiça distributiva109.

109

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução Edson Bini. 3. ed. Bauru-SP: Edipro, 2009. p. 1132a. A justiça distributiva, segundo a concepção filosófica de Aristóteles, se presta a promover

proporcionalmente a divisão de todos os bens públicos como a honra, a riqueza, e demais ativos que pertencem à comunidade política, entre aqueles que por seus méritos façam jus a divisão, de modo a prevalecer o equilíbrio. A justiça distributiva está calcada na ideia de divisão que revela a