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1.4.2 Acervos consultados em Lages

1.4.2.4 Biblioteca do Convento Franciscano São José

A residência dos franciscanos em Lages, instaurada no final do século XIX e elevada à categoria de Convento em 1902, possui uma biblioteca em que há grande número de livros, coleções de revistas, periódicos encadernados, documentos, manuscritos e fotografias. O acervo, um dos maiores da região serrana, não é aberto para pesquisadores. O acesso foi autorizado após contato pessoal com o Guardião do Convento, frei Luís Aliberti.

No momento das primeiras visitas, a biblioteca pareceu estar sem manutenção, quase abandonada. Não parecia possuir organização sistemática, e não foram encontrados fichas ou registros de catalogação. Tampouco havia sinais de que estivessem sendo feitos quaisquer procedimentos de conservação ou restauração do material.

A parte documental, especificamente, passou por um levantamento em 1995 (PEIXER et al., 1995), realizado junto ao acervo por profissionais do Setor de

Patrimônio e Memória, uma divisão do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal. Uma cópia do trabalho produzido na ocasião está presente na biblioteca. Já nas primeiras páginas deste material é possível ter-se uma idéia da raridade do acervo, que conta com documentação dos séculos XVIII, XIX e XX. Entre os documentos listados, há alguns relacionados tanto com o frei Bernardino quanto com atividades musicais sacras em geral. Porém, a falta de catalogação e fichamento destes documentos (ou mesmo de uma pessoa responsável que conhecesse detalhes do acervo) tornou praticamente impossível localizá-los nas estantes.5

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Alguns meses depois de terminada a pesquisa documental para este trabalho, tive notícia de que o acervo da biblioteca do Convento Franciscano São José foi submetido a um processo de catalogação e reorganização.

Ainda foram encontrados na biblioteca do Convento outros materiais que podem ser de interesse musicológico, os quais não estão listados no levantamento citado. Um deles é uma pequena coleção de partituras impressas (que se encontrava embrulhada por um pedaço de papel pardo, muito amassado, amarrado com um barbante), na maioria de repertório para banda ou orquestra, muitas delas escritas em alemão, datadas do final do século XIX e início do século XX. O outro é um conjunto de volumes encadernados contendo material sobre música, também escrito em alemão e datado da segunda metade século XIX.

As fontes pesquisadas no Convento Franciscano São José foram:

a) a REB — Revista Eclesiástica Brasileira, publicada pela Editora Vozes. Um exemplar de setembro de 1966, contendo uma coluna de Necrologia com a nota de falecimento do frei Bernardino Bortolotti, possui informações relevantes sobre a biografia do compositor;

b) a revista Vida Franciscana, periódico editado pela Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. No exemplar de junho de 1967 foi localizado um artigo de autoria do frei Silva Neiva abordando a trajetória da Ordem dos Frades Menores na região de Lages (NEIVA, 1967);

c) uma coleção fotográfica, que contém grande quantidade de imagens em que o frei Bernardino aparece (BCSJ1). As fotografias mostram cenas de atividades musicais, religiosas e educacionais. Encontrado por acaso junto a outros documentos avulsos de vários tipos, misturados e desorganizados, o álbum em que a curiosa coleção está reunida não traz qualquer tipo de registro escrito, seja na capa ou nas páginas iniciais, que identifique o volume ou indique à primeira vista o que ele é, ou para qual finalidade as fotos foram agrupadas. Da mesma forma, não há algo como uma assinatura, rubrica ou carimbo, que possa indicar quem era o seu organizador ou proprietário. Num exame mais atento, no entanto, é possível perceber que o volume foi meticulosamente organizado. Na maioria das fotografias frei Bernardino Bortolotti está presente, e as imagens, cuidadosamente identificadas e datadas por etiquetas datilografadas, estão dispostas em ordem cronológica, numa seqüência

que é coerente com os eventos biográficos do franciscano compositor. As fotos retratam não somente situações de formalidade da Igreja, mas também cenas cotidianas. É possível, portanto, que o álbum tenha sido um arquivo fotográfico pessoal, uma espécie de livro de memórias, do próprio frei Bernardino. A coleção estava abandonada sobre a mesa da biblioteca. Muitas páginas estão danificadas, há sinal de fotografias arrancadas, com algumas folhas rasgadas;

d) uma rara coleção da revista Música Sacra, reunida em encadernações de capa dura, que abrange os exemplares publicados entre os anos de 1941 e 1952 ininterruptamente, havendo ainda mais quatro números avulsos do ano de 1956. Por não existir catalogação deste material, no momento da chegada à biblioteca não havia como saber que o acervo o possui; ou seja, foi uma vertiginosa surpresa encontrar estes volumes por acaso dentro da biblioteca, exatamente no canto mais úmido e escuro da sala (pelo visto, o lugar preferido dos fungos, a julgar pelo estado das capas dos volumes encadernados). As páginas centrais da revista, que costumavam trazer um encarte contendo partituras, infelizmente estão ausentes na maioria dos volumes (exceto nos do primeiro ano), e parecem estar desaparecidos. Os suplementos musicais ficaram de fora da encadernação, provavelmente por terem sido removidos para uso em atividades práticas. A descoberta da coleção na biblioteca do Convento São José — no penúltimo dia de pesquisa — foi decisiva, e a revista Música Sacra constitui uma das fontes mais importantes para este trabalho.

O acervo da biblioteca dos franciscanos é de notável relevância, tanto para a musicologia histórica quanto para outras áreas de pesquisa. O material encontrado no local foi de importância determinante na fase final da pesquisa de fontes e abriu novas possibilidades para o presente estudo.

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