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Quando se volta para o passado das bibliotecas, o objetivo é a compreensão do presente. Por isso, conhecer sua história, e as tecnologias que influenciaram essa história, nos possibilita averiguar que as bibliotecas estão sempre se reinventando, modernizando sua comunicação, produtos e serviços, em sintonia com o meio externo.

De acordo com Morigi e Souto (2005, p. 191), as BUs surgem no período entre a Idade Média e o Renascimento. A princípio elas estavam ligadas às ordens religiosas, porém, no decorrer do tempo, começam a ampliar seu conteúdo temático além da religiosidade.

Esse fato caracterizou-se como o início de um novo momento para os povos do Ocidente: os livros extravasam o âmbito da religiosidade e avançam por outros territórios temáticos, em paralelo ao desenvolvimento das universidades. Oxford e Sorbonne foram as pioneiras e tiveram grandes bibliotecas. (FERREIRA, Sarah, 2010, p. 16).

A partir do século XVI tem-se o Renascimento, a ciência começa a se desenvolver impulsionada pelo descobrimento de terras além-mar. Nesse contexto, a BU ganha feições democráticas e de apoio à atividade de pesquisa científica.

Segundo Sousa (2009, p. 11), como na Europa, no Brasil as BUs “surgem a partir dos acervos de bibliotecas de ordens religiosas, como é o caso das bibliotecas dos jesuítas, que usavam seu acervo no apoio às suas atividades de ensino.”

Um grande impulso é dado com a Reforma Universitária de 1968, uma vez que a obrigatoriedade da existência de BUs estava instituída no processo. Além disso, autoridades da área educacional passam a investir no setor, melhorando as condições das BUs brasileiras. (CARVALHO, 2004, p. 84-5; PONTES; SANTOS, 2011).

Apesar de lentamente, mudanças começam a aflorar no âmbito das bibliotecas e tem-se a concepção da biblioteca moderna.

A biblioteca moderna rompeu os laços com a Igreja católica, estendendo a todos os homens a possibilidade de acesso aos livros, com isso precisou se especializar para atender as necessidades de cada leitor ou comunidade, deixando de ser passiva, deslocando-se

até o leitor, buscando entendê-lo e trazê-lo para a biblioteca. (MARTINS,7 2001 apud MORIGI; SOUTO, 2005, p. 192).

Dentro de um novo contexto de avanços e descobertas tecnológicas, que se consolidam no século XX, os recursos audiovisuais surgem com força uma vez que trabalham com o resultado a combinação de três elementos: imagem, som e palavra. A informação deixa de estar estritamente ligada ao livro e passa a ser acessível por meio de variados suportes (CD-ROMs, DVDs, internet etc.). Percebe-se, com isso, o fim do predomínio do livro que, até o século XIX, reinou absoluto como forma dominante, e formalmente aceita, de transmissão do conhecimento.

Tem-se o advento do computador que, aliado à criação da internet, trouxe alterações na rotina de trabalho do bibliotecário, no acesso às informações pelo usuário e no processo de comunicação e interação entre os bibliotecários e seu público.

“Pela internet circula um volume de informações muito maior do que as bibliotecas contêm, podendo tornar os livros e revistas menos utilizáveis como fonte de informação para estudantes, pesquisadores e o público em geral.” (FERREIRA, Sarah, 2010, p. 28).

Assim, a importância da BU não se resume, somente, ao seu acervo interno, mas à sua capacidade de prover acesso para além das possibilidades de sua coleção impressa. (MARCHIORI, 1996, p. 4). A biblioteca, independentemente do suporte do documento e localização, passa a ser reconhecida por sua capacidade de acessar, recuperar, comunicar e intercambiar informações, agregando valor ou até viabilizando pontos de acesso nos quais o próprio usuário poderá, por meio de seu equipamento portátil, utilizar o sistema da biblioteca para acessar a informação. (CARVALHO, 2004, p. 28).

Surgem novos paradigmas, por causa do desenvolvimento das TICs muda-se o conceito central da biblioteca, do acesso ao acervo para o acesso à informação.

Para Sarah Ferreira (2010), altera-se, também, o perfil do usuário. Os estudantes de hoje são membros de uma geração digital e esperam maior interação, como, por exemplo, entrar em contato com o bibliotecário através de recursos da internet. Assim, a BU precisa reconhecer o usuário como ponto central no

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MARTINS, Wilson. A palavra escrita: história do livro, da imprensa e da biblioteca. 3. ed. São Paulo: Ática, 2001.

planejamento e gerenciamento das atividades e, a partir desse reconhecimento, passar, realmente, a considerá-lo no desenho de produtos e serviços.

Saber com exatidão qual é o público a que serão oferecidos serviços de informação, como desafio profissional, é tarefa mais complexa e vai muito além do domínio das técnicas de localização e busca. [...] De pouco adianta ter um acervo perfeitamente organizado se entre ele e o público-alvo não existir sintonia permanente. (MILANESI, 2002, p. 84).

Na sociedade contemporânea, com a introdução das TICs, as bibliotecas passam a ter seus serviços automatizados, atendimento on-line, obras digitalizadas, acesso a catálogos bibliográficos e bases de dados on-line, serviços de comutação com outras bibliotecas, documentos em formato eletrônico (MORIGI; SOUTO, 2005, p. 193-4), trabalhos cooperativos em rede, novas formas de comunicação baseada na tecnologia digital e consórcios entre bibliotecas para a otimização e a potencialização de recursos e produtos informacionais.

A imagem da biblioteca como “depósito de livros”, com feição de templo sagrado, detentora única do saber, já não existe, assim, cria-se novas relações, em que o poder de armazenar, organizar, acessar e disseminar informações em suportes não está mais nas mãos, exclusivamente, dos bibliotecários, mas de todos que tenham acesso à internet.

“No passado a busca pelo conhecimento restringia-se às fontes disponibilizadas pelas bibliotecas [...]” (MORIGI; SOUTO, 2005, p. 194). Na atualidade, existe a internet – com uma quantidade infinital de informações disponíveis –, onde o usuário ganha autonomia no processo de busca da informação. Não é mais totalmente dependente da BU.

Nesse contexto, surgem novos conceitos de biblioteca: a eletrônica,8 a digital9 e a virtual.10 Elas diferem da biblioteca tradicional, que baseia toda a sua coleção tendo o papel como o principal suporte de registro da informação.

8 “Biblioteca electrónica: es aquella que cuenta con sistemas de automatización, que le permiten

una ágil y correcta administración de los materiales que resguarda, principalmente em papel. Así mismo, cuenta com sistemas de telecomunicaciones que le permitirán acceder a su información em formato electrónico, de manera remota o local. Proporciona principalmente catálogos y listas de las colecciones que se encuentran fisicamente dentro de um edificio.” (MARTÍNEZ EQUIHUA, 2007, p. 14).

9“Biblioteca digital: estas bibliotecas tienden a digitalizar sus colecciones y adquirirán información en

formatos electrónicos, magnéticos y discos ópticos, y en alguns casos ya no tendrán información registrada en papel [...]” (MARTÍNEZ EQUIHUA, 2007, p. 14).

10 “Biblioteca virtual: es aquella que permite acceder a la información desde puntos remotos, sin

As três bibliotecas possuem características diferentes; em síntese, pode-se dizer que a biblioteca eletrônica oferece somente acesso on-line às referências das informações disponibilizadas na biblioteca tradicional; já a biblioteca digital possibilita o acesso on-line a textos completos; por sua vez, a biblioteca virtual simula o ambiente da biblioteca, nos dispositivos eletrônicos, por meio da tecnologia de realidade virtual.

Delineia-se a biblioteca do século XXI, conhecida como “biblioteca 2.0” ou “biblioteca híbrida”, por ser um espaço com serviços e produtos, simultaneamente, físicos e digitais, em que as TICs passam a ser a base da relação com o usuário.