• Nenhum resultado encontrado

3.4 Biocombust´ıveis

3.4.2 Biocombust´ıveis no setor mar´ıtimo

Em 2012, por meio de seis estudos de caso, a consultoria britˆanica Ecofys avaliou o potencial de utiliza¸c˜ao de biocombust´ıveis no setor mar´ıtimo europeu [59].

Num primeiro momento, de acordo com crit´erios de (i) disponibilidade, (ii) custo, (iii) maturidade tecnol´ogica e (iv) compatibilidade t´ecnica, foram elencados oito combust´ıveis que, em princ´ıpio, poderiam ser utilizados para propuls˜ao de navios. Na tabela 3.3, mostra-se a compatibilidade de cada um deles com os diferentes tipos de motores utilizados no setor mar´ıtimo [59]. A cor verde indica que a combina¸c˜ao motor-combust´ıvel ´e vi´avel, enquanto a cor vermelha aponta uma combina¸c˜ao con- siderada imposs´ıvel. A cor amarela indica incertezas ou restri¸c˜oes na utiliza¸c˜ao do biocombust´ıvel no motor em quest˜ao. Note-se que ´e poss´ıvel utilizar ´alcoois (bio- etanol e biometanol) em motores diesel (apenas de alta velocidade), com algumas adapta¸c˜oes. J´a ´oleos de pir´olise, geralmente muito viscosos, adaptam-se melhor a motores de baixa velocidade [59].

Tabela 3.3: Matriz de compatibilidade t´ecnica entre biocombust´ıveis e motores Fonte: [59]

Faixa de velocidade

Biocombust´ıvel Alta M´edia Baixa

´

Oleo vegetal direto (SVO) Sim Sim Sim

Biodiesel Sim Sim Sim

´

Oleo vegetal hidrotratado (HVO) Sim Sim Sim

Biog´as Sim Sim Sim

Bioetanol Sim N˜ao N˜ao

Biometanol Sim N˜ao N˜ao

Dimetil ´eter (DME) Sim Sim Sim

Bio-´oleo de pir´olise N˜ao Sim Sim

A partir da tabela 3.3, selecionaram-se seis casos pr´aticos para uma an´alise mais completa [59], conforme detalhado a seguir.

1. Uso de biodiesel para substitui¸c˜ao de MGO em embarca¸c˜oes com motores de baixa e m´edia velocidade (caso de pequenos cargueiros, rebocadores, etc.). 2. Uso de dimetil ´eter para substituir MGO em todo tipo de navio cargueiro. 3. Uso de ´oleo vegetal direto (SVO) para substitui¸c˜ao de HFO em motores de

baixa velocidade (cargueiros de todos os tamanho).

5. Uso de bioetanol em motores de alta velocidade (auxiliares ou principais) em navios de curta distˆancia, navios-tanque de etanol ou para produ¸c˜ao de eletri- cidade em navios de passageiro e de cruzeiro.

6. Utiliza¸c˜ao de bio-´oleo de pir´olise em motores de baixa velocidade (todos os tamanhos de cargueiros).

Concluiu-se que, de um ponto de vista de integra¸c˜ao t´ecnica, pequenas porcenta- gens (at´e 20%) de biodiesel em blends com MGO e a substitui¸c˜ao completa de HFO por ´oleo vegetal direto constituem os caminhos mais promissores para a introdu¸c˜ao de biocombust´ıveis no setor mar´ıtimo, sobretudo por quest˜oes ligadas `a compatibi- lidade com os motores atualmente utilizados e `a forma¸c˜ao de uma cadeia log´ıstica [59].

Em rela¸c˜ao ao etanol, a principal limita¸c˜ao relaciona-se ao fato de os motores utilizados em navios serem do tipo Diesel. Apesar de haver produ¸c˜ao de bioetanol em grandes volumes em diversas partes do mundo e de os custos de integra¸c˜ao do setor com portos parecerem administr´aveis, tal combust´ıvel adapta-se melhor `

a utiliza¸c˜ao em motores de ciclo Otto. Al´em de seu reduzido n´umero de cetano e pequeno poder calor´ıfico, o etanol ´e corrosivo e possui baixa lubricidade. Todos esses fatores desencorajam seu emprego em motores de igni¸c˜ao por compress˜ao. As rotas de produ¸c˜ao de dimetil ´eter e biog´as s˜ao tecnologias em ascens˜ao e as quantidades de mat´eria-prima s˜ao, atualmente, limitadas pela biomassa dispon´ıvel [59].

Conforme ser´a detalhado `a frente, nos cen´arios de biocombust´ıveis desenvolvidos no cap´ıtulo 4, considerou-se a introdu¸c˜ao de ´oleo vegetal direto em motores principais e de biodiesel em motores auxiliares.

Cap´ıtulo 4

Metodologia de Cenariza¸c˜ao das

Emiss˜oes de Navios Petroleiros

No cap´ıtulo 2, discutiu-se a grande relevˆancia das emiss˜oes do transporte mar´ıtimo internacional e seu potencial de crescimento nas pr´oximas d´ecadas, en- quanto no cap´ıtulo 3, avaliou-se a possibilidade de mitiga¸c˜ao dessas emiss˜oes (tanto por meio de medidas que j´a est˜ao em curso como por novas a¸c˜oes, como a introdu¸c˜ao de biocombust´ıveis no setor).

Neste cap´ıtulo, prop˜oe-se uma metodologia para avalia¸c˜ao quantitativa do refe- rido potencial de mitiga¸c˜ao, baseada na cria¸c˜ao de cen´arios de emiss˜oes a partir do arcabou¸co te´orico apresentado anteriormente. A ideia dessa cenariza¸c˜ao ´e quantificar os ganhos trazidos por cada medida mitigadora em rela¸c˜ao a uma certa referˆencia, constru´ıda segundo uma perspectiva Business as usual.

A metodologia ´e desenvolvida especificamente para navios-tanque de petr´oleo bruto1, tendo a escolha dessa categoria sido motivada por sua grande importˆancia comercial e pelo fato de tal classe de embarca¸c˜oes se prestar justamente ao transporte de petr´oleo, o que dialoga com o aspecto ambiental estudado nesta disserta¸c˜ao, j´a que se trata de uma commodity energ´etica de grande protagonismo na quest˜ao das mudan¸cas clim´aticas, sendo o pr´oprio bunker um de seus derivados.

Cabe ressaltar, no entanto, que a metodologia aqui apresentada pode facilmente ser adaptada ao com´ercio de outros produtos, como gr˜aos, min´erio de ferro, carv˜ao ou mesmo mercadorias transportadas em porta-contˆeineres, de modo que se avalie o potencial de mitiga¸c˜ao do transporte mar´ıtimo internacional como um todo.

Este cap´ıtulo est´a estruturado consoante o fluxograma da figura 4.1, que revela os diferentes passos do procedimento metodol´ogico.

1Ou seja, petroleiros de ´oleo cru. A partir deste ponto, referimo-nos a essas embarca¸oes

Figura 4.1: Fluxograma do procedimento metodol´ogico Fonte: Elabora¸c˜ao pr´opria com base em figura de [69]

O desenvolvimento da metodologia parte de uma proje¸c˜ao do com´ercio interna- cional de petr´oleo por via mar´ıtima, cujas hip´oteses s˜ao descritas na se¸c˜ao 4.1. Em seguida, busca-se caracterizar as diversas rotas mar´ıtimas associadas a esse com´ercio do ponto de vista de navios utilizados, portos de referˆencia e distˆancias envolvidas (se¸c˜ao 4.2). Na se¸c˜ao 4.3, apresentam-se as premissas relativas ao sucateamento e renova¸c˜ao da frota. A modelagem energ´etica para elabora¸c˜ao de um cen´ario de re- ferˆencia ´e explorada na se¸c˜ao 4.4. Finalmente, na se¸c˜ao 4.5, explicam-se as altera¸c˜oes efetuadas no cen´ario de referˆencia para a cria¸c˜ao de seis cen´arios alternativos.

4.1

Proje¸c˜ao do trade mar´ıtimo de petr´oleo