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4.4 Cen´ ario de referˆ encia

4.4.4 Resistˆ encia ao avan¸co e propuls˜ ao

De posse das informa¸c˜oes cujo levantamento foi exposto na subse¸c˜ao 4.4.1 e levando-se em conta as hip´oteses apresentadas na se¸c˜ao 4.4.2, passou-se `a etapa de elabora¸c˜ao de um modelo de resistˆencia ao avan¸co e propuls˜ao.

Resistˆencia ao avan¸co

A fim de estimar a potˆencia efetiva de reboque PE, recorreu-se a um modelo

simplificado de resistˆencia ao avan¸co [119], de acordo com o qual a potˆencia efetiva pode ser decomposta em trˆes parcelas:

PE = PF + PW + PA, (4.13)

sendo PF a potˆencia associada `a resistˆencia friccional (ou seja, a resistˆencia em ´aguas

calmas), PW, a potˆencia correspondente `a resistˆencia das ondas e PA, a potˆencia

associada `a resistˆencia do ar (mais detalhes a respeito do c´alculo da resistˆencia ao avan¸co de uma embarca¸c˜ao s˜ao explorados no anexo A).

Resistˆencia friccional No caso de grandes navios mercantes, a parcela friccional ´e aquela que mais contribui para a resistˆencia ao avan¸co total [17]. ´E calculada por meio da equa¸c˜ao 4.14,

PF =

ρ CF S v3

2 , (4.14)

em que ρ ´e a massa espec´ıfica da ´agua do mar (1029 kg/m3 [120]), C

F, o coeficiente

de resistˆencia friccional, S, a superf´ıcie molhada do casco e v, a velocidade da embarca¸c˜ao. O coeficiente de resistˆencia friccional ´e dado pela equa¸c˜ao 4.15 [121],

CF =

0, 075

(log Re − 2)2, (4.15)

em que Re ´e o n´umero de Reynolds do escoamento, dado por

Re = vLW L

ν , (4.16)

em que LW L ´e o comprimento na linha d’´agua (por hip´otese, igual a 103 % do

comprimento entre perpendiculares Lpp [17]) e ν, a viscosidade cinem´atica da ´agua

do mar (1,14 mm2/s [122]).

Geralmente, a superf´ıcie molhada ´e determinada com o aux´ılio de programas computacionais para c´alculos hidrost´aticos. No entanto, para uma estimativa r´apida e relativamente acurada desse valor, existem algumas equa¸c˜oes simples, tais como a f´ormula de Mumford [123],

S = 1, 025 ∇

D + 1, 7 LW L D 

. (4.17)

No ˆambito deste trabalho, utilizou-se uma adapta¸c˜ao da equa¸c˜ao de Mumford espec´ıfica para graneleiros e navios-tanque (equa¸c˜ao 4.18) [123].

S = 0, 99 ∇

D + 1, 9 LW L D 

(4.18)

Resistˆencia de ondas Conforme explicado anteriormente, PF corresponde `a

potˆencia que o casco deve vencer para que o navio se locomova a uma dada ve- locidade v em ´aguas completamente calmas. Na pr´atica, somam-se `a resistˆencia friccional outras resistˆencias de diversas naturezas (detalhes no anexo A), as quais representamos, no presente caso, por meio da potˆencia de ondas PW e da potˆencia do

ar PA. Ao contr´ario do que ocorre com a potˆencia friccional, os valores de PW e PA

dependem do fator clim´atico: a resistˆencia adicional ´e muito mais significativa numa tempestade do que numa condi¸c˜ao amena [17]. Dada a complexidade do assunto e a dificuldade de determinar condi¸c˜oes clim´aticas t´ıpicas de acordo com cada rota e tendo em vista o car´ater global da modelagem, optou-se por dividir o percurso de todas as rotas de acordo com a seguinte l´ogica [124]:

• durante 70% do tempo, os navios percorrem ´aguas calmas, ou seja, h´a ausˆencia de ondas e a resistˆencia do ar ´e devida apenas ao movimento do navio; • durante 30% do tempo, os navios enfrentam mau tempo, representado por

ondas28 de 4,0 m e vento de proa de 14,0 m/s.

Dessa forma, para cada embarca¸c˜ao, PW e PA assumem, cada qual, dois valores

diferentes, um para o trecho calmo e outro para o trecho com condi¸c˜oes mais severas. A potˆencia de ondas ´e calculada por meio da equa¸c˜ao 4.19,

PW = ρ g CW  H1/3 2 2 BW L2 ω LW L (v + u), (4.19)

em que ρ ´e a massa espec´ıfica da ´agua do mar, g, a acelera¸c˜ao da gravidade, CW,

o coeficiente de ondas, H1/3, a altura significativa de ondas (significant wave height,

SWH29), B, a boca na linha d’´agua, ω, a frequˆencia angular das ondas e u, a velocidade das ondas com rela¸c˜ao ao navio, dada por

28Altura significativa de ondas.

29Em engenharia oceˆanica e oceanografia, a altura significativa de ondas, igual `a m´edia da

altura do ter¸co superior das maiores ondas individuais presentes, ´e tradicionalmente utilizada como parˆametro representativo de um certo estado de mar [125].

u = v + ω

k cos β, (4.20)

em que k ´e o n´umero de onda (k = 2π/λ) e β ´e um ˆangulo definido de tal forma que β = 0 corresponda a ondas de proa. Assumiram-se os seguintes valores para o comprimento de onda e para o per´ıodo [126]:

• λ = 40 m • T = 20 s

Resistˆencia do ar A express˜ao da potˆencia correspondente `a resistˆencia do ar ´e

PA=

ρA CA SA (v + uA)2

2 v, (4.21)

em que ρA´e a massa espec´ıfica do ar (ρA= 1, 225 kg/m3 [127]), CA, o coeficiente de

resistˆencia aerodinˆamica (por hip´otese, igual a 0,9 [17]), SA a ´area da superf´ıcie do

navio contra a qual o vento sopra e uA, a velocidade do vento (conforme mencionado

anteriormente, uA = 0 na condi¸c˜ao de ´aguas calmas e uA = 14 m/s na condi¸c˜ao de

mau tempo).

Cabe ainda explicar o m´etodo utilizado para estima¸c˜ao do valor de SA. A ´area

SA corresponde `a superf´ıcie do navio acima da linha d’´agua submetida `a press˜ao

dinˆamica do vento. Conforme explicado, considera-se vento frontal e assim, SA ´e

aproximadamente igual `a ´area vermelha da figura A.3. Dado que a altura da linha d’´agua at´e o topo da embarca¸c˜ao ´e da mesma ordem de grandeza do calado, optou-se por estimar tal ´area por meio da multiplica¸c˜ao de B por D.

Figura 4.13: Parte a´erea e parte submersa da se¸c˜ao transversal de um navio Fonte: Elabora¸c˜ao pr´opria com base na figura de [17]

Propuls˜ao

Conforme explicado anteriormente, o output do modelo de resistˆencia ao avan¸co ´e uma potˆencia de reboque, ou seja, uma potˆencia efetiva PE. Naturalmente, tendo

em vista as perdas mecˆanicas do sistema propulsivo, a potˆencia PB efetivamente

demandada pelo motor ´e sempre superior a PE [17]. Assim, pode-se dizer que

PB=

PE

ηT

, (4.22)

sendo ηT a eficiˆencia total do sistema propulsivo, que pode ser decomposta em

diversos fatores (equa¸c˜ao 4.23).

ηT = ηH η0 ηR ηS (4.23)

Na equa¸c˜ao 4.23, ηH representa a eficiˆencia de casco, η0, a eficiˆencia em ´aguas

abertas, ηR, a eficiˆencia rotativa relativa e ηS, a eficiˆencia do eixo, cujos significados

s˜ao abordados no anexo A. A eficiˆencia de casco ´e dada pelo quociente

ηH =

1 − t

1 − w, (4.24)

em que w ´e o coeficiente de esteira e t, o coeficiente de redu¸c˜ao da for¸ca propulsora. Na pr´atica, o c´alculo do valor de ηT ´e complexo, uma vez que a eficiˆencia varia de

acordo com a velocidade e com as condi¸c˜oes de navega¸c˜ao [17]. Contudo, no contexto deste estudo, por meio do qual n˜ao se pretende analisar um navio em particular, mas a frota mundial de petroleiros, supˆos-se que o uso de valores t´ıpicos bastaria para atingir razo´avel acur´acia.

O coeficiente de esteira foi estimado a partir da equa¸c˜ao [128]

w = −0, 05 + 0, 50 CB, (4.25)

em que CB´e o coeficiente de bloco. O coeficiente de redu¸c˜ao da for¸ca propulsora foi

estimado por meio da equa¸c˜ao [129]

t = 0, 60 w, (4.26)

ou seja, como uma fra¸c˜ao do pr´oprio coeficiente de esteira. As eficiˆencias ηR e ηS

variam dentro de faixas bastante restritas e, assim, foram consideradas constantes (ηR= 1, 03 e ηS = 0, 99) [17].

A eficiˆencia em ´aguas abertas η0 foi determinada com base na figura 4.14,

considerando-se a faixa “navios-tanque de grande porte”.

Figura 4.14: Eficiˆencia de ´aguas abertas como fun¸c˜ao do coeficiente de avan¸co Fonte: Elabora¸c˜ao pr´opria com base em figura de [17]

Na tabela 4.21, mostram-se os resultados da modelagem de resistˆencia ao avan¸co e propuls˜ao para cada categoria de navio, de acordo com as condi¸c˜oes de carga e de clima.

Tabela 4.21: Resultados da modelagem energ´etica

Viagem de ida (com carga) Viagem de volta (em lastro) D(m) ∇(m3) P E/PB(MW) D(m) ∇(m3) PE/PB(MW) ´ Aguas calmas Panamax 14,1 77.998 3,16/6,77 13,3 43.984 2,48/5,31 Aframax 14,7 114.288 3,72/9,18 13,6 63.267 2,82/6,95 Suezmax 16,1 163.218 4,75/11,6 13,9 90.331 3,58/8,72 VLCC 22,0 341.688 8,74/24,5 20,0 186.197 6,58/18,5 Mau tempo Panamax 14,1 77.998 3,86/8,27 13,3 43.984 3,18/6,80 Aframax 14,7 114.288 4,68/11,6 13,6 63.267 3,78/9,33 Suezmax 16,1 163.218 5,92/14,4 13,9 90.331 4,75/11,6 VLCC 22,0 341.688 10,8/30,4 20,0 186.197 8,68/24,4