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1. Diospyros kaki L (Dióspiro)

1.3 Biodisponibilidade dos compostos fenólicos

Embora seja verdade que à presença de compostos bioactivos na dieta estão ligados aos benefícios acima mencionado, a sua repercussão na saúde humana depende principalmente do estado bioquímico em que se encontram quando atingem a corrente sanguínea e consequentemente, os tecidos. O próprio processo digestivo leva a uma série de mudanças nos macro e micronutrientes condicionando sua bioacessibilidade e biodisponibilidade final (Parada et al. 2007).

A bioacessibilidade inclui toda a sequência de eventos que ocorrem durante a transformação digestiva do alimento em material que pode ser assimilado pelo corpo, a absorção/assimilação pelas células do epitélio intestinal e, por último, o metabolismo pré-sistémico (tanto intestinal como hepático) (Fernandez-Garcia et al. 2009).

34 A biodisponibilidade (que engloba os eventos referentes à biacessibilidade e os da bioatividade) dos compostos da dieta em geral, e os fitoquímicos em particular, está dependente da quantidade consumida, da sua estabilidade digestiva, da sua libertação da matriz alimentar e a eficiência da passagem trans-epitelial. O melhor caminho para determinar os benefícios decorrentes da ingestão de alimentos e da sua biodisponibilidade, consiste em submeter o produto à digestão gastrointestinal in vivo, apesar de todos os inconvenientes éticos, médicos, financeiros e períodos longos de tempo de observação, especialmente quando se refere a humanos (Heras et al. 2017)

O estudo dos mecanismos de absorção, distribuição, metabolização e eliminação (ADME) é fundamental para compreender os efeitos observados (Manach et al. 2004; Yoon et al. 2005).

A absorção e o metabolismo dos constituintes alimentares que possuem grupos fenólicos são determinados pela estrutura química, grau de glicosilação/acilação, conjugação com outros grupos fenólicos, tamanho da molécula, grau de polimerização dos compostos e sua solubilidade. A grande diversidade deste grupo de compostos e o facto de existirem em matéria vegetal como uma mistura complexa de compostos fenólicos, levantam grandes dificuldades ao estudo da biodisponibilidade e efeitos biológicos associados (Bravo 1998).

A estrutura química dos compostos fenólicos determina ainda a velocidade e o grau de absorção intestinal e a natureza dos metabolitos em circulação no plasma (Scalbert et al. 2000). Devido à sua hidrofilia, os flavonóides glicosilados penetram a membrana celular com dificuldade (Chen et al. 2017). Os flavonóides agliconas e flavonóides glicosilados são absorvidos no intestino delgado, contudo são rapidamente transformados em derivados metilados, glucoronidados ou sulfurados (Das et al. 1969).

Muitos flavonóides da dieta provaram ser potentes agentes antioxidantes em modelos in vitro mas é menos provável que in vivo ocorra uma atividade antioxidante semelhante. Como já mencionado, após a ingestão, os flavonóides sofrem biotransformação no intestino delgado e no fígado (deglicosilação, oxidação, conjugação, metilação) e também no intestino grosso (clivagem do anel, quebra de ligações duplas, descarboxilação). Consequentemente, pouco do flavonóide ingerido pode ser detetado no plasma após a ingestão, sendo os seus metabolitos os predominantes na circulação sistémica e nos tecidos. Os metabolitos de flavonóides têm uma capacidade antioxidante mais baixa do que as moléculas ingeridas e, além disso, alguns deles (metabolitos com fração livre de catecol e/ou grupo hidroxilo livre na posição C-3) mostraram poder ter efeitos pró-oxidantes (aumento na produção de radicais peróxido de hidrogénio e anião superóxido) (Prochazkova et al. 2011), o que nos leva a pensar que os potenciais efeitos benéficos estarão dependentes das doses ingeridas.

35 Estudos de biodisponibilidade em humanos mostraram que as quantidades de compostos fenólicos encontrados intactos na urina variam de composto fenólico para composto fenólico (Scalbert et al. 2000).

Considerando a complexidade dos processos de transformação metabólica e absorção dos compostos fenólicos e os aspetos ainda pouco compreendidos da biodisponibilidade, continua a ser premente responder a questões como: que dose de compostos fenólicos deve ser tomada? Quais as alterações metabólicas pós-absorção que tornariam os compostos fenólicos mais bioativos? Como a maioria dos estudos que demonstram os efeitos benéficos dos compostos fenólicos são in vitro, doses semelhantes nos animais produzirão efeitos similares? (Rahman et al. 2006).

As proantocianidinas são compostos fenólicos com estruturas poliméricas que poderão ser absorvidas, como comprova a deteção de formas triméricas em soro de rato (Serra et al. 2010), podem sofrer reações de metilação, glucoronidação e sulfatação (Blade et al. 2010) ou podem não ser absorvidas e exercer efeitos locais no trato gastrintestinal neutralizando compostos oxidantes e carcinogénicos, ou ser metabolizadas por microrganismos do cólon produzindo ácidos carboxílicos hidroxilados (van't Slot et al. 2009).

Durante a digestão no intestino delgado, as proantocianidinas de elevado peso molecular, podem formar complexos com proteínas, amido e enzimas digestivas incluindo pectinase, amilase, lipase, protease e β-galactosidase (Chung et al. 1998), resultando na formação de complexos menos digestíveis. As interações são do tipo ligações por pontes de hidrogénio, interações hidrofóbicas, eletrostáticas e covalentes, originando compostos menos solúveis e a acessibilidade a enzimas também diminui (Goel et al. 2005). Cerca de 95% das proantocianidinas são libertadas da matriz alimentar pela ação de enzimas bacterianas no intestino grosso (Saura-Calixto et al. 2007).

No entanto, acredita-se que as proantocianidinas podem exercer os seus efeitos biológicos de duas maneiras diferentes: (i) como uma estrutura complexa não absorvível, com propriedades de ligação que podem produzir efeitos locais no trato gastrointestinal (antioxidante, eliminação de radicais, antimicrobiana, antiviral, antimutagénica e efeitos antinutricionais), ou (ii) como proantocianidinas absorvíveis (provavelmente de baixo peso molecular) e metabolitos absorvíveis a partir da fermentação colónica de taninos que podem produzir efeitos sistémicos em vários órgãos (Haslam 1996).

Outros autores sugerem que as proantocianidinas podem exercer as suas propriedades biológicas de três formas diferentes: (i) por complexação com iões metálicos; (ii) por meio de atividades de antioxidantes e eliminação de radicais; ou (iii)

36 através da sua capacidade para complexar com outras moléculas, incluindo macromoléculas, tais como proteínas e polissacarídeos (Haslam 1996).

Muito pouco se sabe sobre os efeitos biológicos dos metabolitos microbianos das proantocianidinas. Esta questão precisa ser abordada no futuro próximo para se entender a significância destes compostos. O seu tempo de permanência na circulação do ser humano é muito mais longo do que no caso de metabolitos hepáticos derivados diretamente dos compostos fenólicos de plantas (Seeram et al. 2006). Assim, podem ter um papel importante na prevenção das doenças crónicas (Serrano et al. 2009).

Com base nos resultados obtidos, Lee e os colaboradores (2008) sugerem que o efeito antioxidante das proantocianidinas do dióspiro pode ser estimado para um consumo de cerca de 50g/dia no caso de adultos com peso corporal de 60 Kg (Lee et al. 2008).

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