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Heloneida Studart, naseu em Fortaleza (CE) em 9 de abril de 1932 e faleceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ) em 3 de dezembro de 2007, foi cientista social e jornalista, dedicou grande parte de sua vida profissional à defesa da igualdade entre os sexos. E por isso, em 2006, chegou a figurar entre os nomes das mil mulheres indicadas pela Fundação de Mulheres Suíças para concorrerem ao prêmio Nobel da Paz. Escreveu vários livros, artigos e crônicas para jornais. No entanto, ficou mais conhecida por sua atuação enquanto deputada estadual na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) por cinco mandatos - 1978- 1983 (MDB); 1986-1990 (PMDB/PSDB/PT); 1990-1994 (PDT); 1994-1998 (PT); 1998-2001 (PT), mandato em que era suplente, assumindo em 2001 - durante os quais foi responsável por propor leis como a de número 2.648/1996, que buscava garantir o exame de paternidade para as mulheres de baixa renda, e a de número 4.103/2003, que obrigava as unidades públicas e conveniadas de saúde a realizar a cirurgia reconstrutiva de mama em mulheres que sofreram mutilações decorrentes de câncer. Também coube a ela em sua atuação legislativa a execução do projeto cultural Libertas quae sera tamem, direcionado para os alunos das escolas públicas do Estado do Rio de Janeiro, que consistia na apresentação de três peças teatrais sobre as lutas de libertação do povo brasileiro (Tiradentes, o Zé de Vila Rica; Bárbara do Crato e Frei

Caneca). Os atores eram alunos das escolas públicas do Morro da Babilônia e do Chapéu Mangueira. Heloneida também idealizou a criação da TV ALERJ que deveria tornar acessíveis aos cidadãos do estado do Rio de Janeiro os atos parlamentares. No entanto, não é sua trajetória parlamentar que se pretende investigar neste projeto, mas sim, como foi dito anteriormente, sua faceta enquanto romancista interessada no feminino.

Filha de Vicente Soares e de Edite Studart Soares, sobrinha-neta do historiador Barão de Studart. Descendia assim, pelo lado materno de um ramo da aristocracia inglesa e pelo lado paterno, dos Bezerra de Menezes, aos quais ela mesma definia como “intelectuais subversivos” (FERREIRA; ROCHA; FREIRE, 2001: 56) e a quem atribuía a convivência com uma realidade que ia além da “falsa aristocracia” da família de sua mãe. No entanto, ainda que Heloneida não deixe transparecer em seus escritos e falas, se a família paterna coube o “desmascarar da aristocracia”, pode-se atribuir ao seu tio-avô materno a aproximação com o mundo intelectual, uma vez que ele é considerado, ainda hoje, um dos nomes da historiografia cearense, tendo sido possuidor de um largo acervo histórico e uma

140 vasta biblioteca que, por vezes, Heloneida em suas entrevistas, deixa escapar a importância da mesma para sua incurssão no mundo dos livros.

A trajetória de Heloneida enquanto intelectual se iniciou no fim da década de 30 e início da de 40 quando passou a participar da Casa de Juvenal Galeno72, primeiro como

ouvinte das palestras e saraus (1936), e depois como membro da Ala Feminina73. No ano de

1941, como resultado de seus trabalhos na Casa de Juvenal Galeno, Heloneida passou a escrever crônicas para o jornal O Nordeste. Ainda neste ano, estudou escondida para um concurso no Ministério da Fazenda; aprovada, tornou-se um desgosto para a sua mãe por ser “a mulher que trabalha fora”.

Em 1943 nascia seu primeiro livro, A Primeira Pedra, o qual só seria publicado em 1952, quando a autora já se encontrava no Rio de Janeiro (RJ). Ainda no ano de 1952, trabalhando na biblioteca volante do Serviço Social da Indústria do Rio de Janeiro (SESI)74 e

levando livros para os conjuntos habitacionais da zona norte e do subúrbio carioca, conheceu Franz Orban, pai de seus seis filhos: Francisco, João, Juarez, Marcos, Vicente e Cristóvão. No ano seguinte publicou em Fortaleza, pela Editora da Casa De Juvenal Galeno, o livro de crônicas Naipes.

Seu próximo livro seria um romance, intitulado Diz-me Teu Nome, publicado em 1955, sendo premiado duplamente: Prêmio Orlando Dantas/Diário de Notícias e o Prêmio Júlia Lopes de Almeida da Academia Brasileira de Letras (FERREIRA; ROCHA; FREIRE, 2001: 57). No ano seguinte, foi trabalhar no jornal Correio da Manhã. Esta atuação na imprensa a aproximou ainda mais das lutas populares, acarretando sua filiação ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Seguem-se quase dez anos de silêncio literário durante os quais a escritora se entregou a uma intensa militância política. Em 1966, foi eleita presidente do Sindicato das Entidades Culturais (Senambra). Em março de 1969, Heloneida foi cassada e presa por fazer oposição ao regime militar brasileiro, perdendo assim o emprego em todas as redações de jornais e revistas, inclusive no SESI. No entanto, o cárcere lhe serviu de inspiração para os roteiros Quero Meu Filho e Não Roubarás, os quais seriam posteriormente gravados e exibidos pela emissora de televisão Rede Globo. Pertencem também a esta sua fase os romances: A Culpa (1963), Deus Não Paga Em Dólar (1968) e a Deusa Do Rádio E Outros

Deuses (1970).

72 VER ANEXO 4. 73 VER ANEXO 5. 74 VER ANEXO 15.

141 Seu retorno ao jornalismo ocorreu no início da década de 70, quando conseguiu emprego na revista Manchete. Em 1975 foi enviada pela revista para fazer a cobertura do Congresso Internacional da Mulher, no México. Ao retornar, participou da fundação do Centro de Desenvolvimento da Mulher Brasileira (CMB). Desta última experiência resultaram três ensaios que se difundiram como uma espécie de bandeira do movimento feminista brasileiro: Mulher, Brinquedo De Homem? (1969); Mulher Objeto De Cama e Mesa (1975) e Mulher, a Quem Pertence Seu Corpo? (1989). Ainda nos anos de 70, escreveu

China, O Nordeste Que Deu Certo (1977) e em parceria com Wilson Cunha o livro A

Primeira Vez à Brasileira (1977). Além desses, escreveu a peça teatral Homem Não Entra, que representou um marco para o teatro brasileiro por defender bandeiras relativas ao avanço das discussões sobre o lugar da mulher na sociedade brasileira (CUNHA, 2008:273-74).

Com o fim do regime militar brasileiro e a abertura política em 1982, relançou e publicou três romances históricos, os quais a própria autora intitulou de “Trilogia da Tortura”, e que contavam, não de forma direta, episódios do período do Regime Militar Brasileiro. São eles: O Pardal é Um Pássaro Azul (1975); O Estandarte Da Agonia (1981) e O Torturador

Em Romaria (1986). Seu último livro - Luiz, O Santo Ateu - foi escrito em 2006 e tratava de uma biografia em homenagem ao intelectual e dirigente comunista Luiz Inácio Maranhão Filho.

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