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Biologia reprodutiva de Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay (Orchidaceae: Spiranthinae): uma espécie protândrica polinizada por abelhas.

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Resumo

Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay apresenta hábito terrícola e ocorre em áreas de Cerrado e a Mata Atlântica, das regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil. Os estudos sobre a sua biologia reprodutiva e polinização foram desenvolvidos na Reserva Biológica Serra do Japi, no município de Jundiaí, e no Parque Estadual de Vassununga, no município de Santa Rita do Passa Quatro, estado de São Paulo. Mesadenella cuspidata possui inflorescência racemosa com flores espiraladamente dispostas. Suas flores, que são protândricas, apresestam coloração branca e exalam uma fragrância adocicada composta por 16 voláteis diferentes. Além disso, elas apresetam um nectário em forma de bojo formado pela união das sépalas laterais e o labelo que armazena 𝑋 = 1,43 ± 0,87 de néctar com uma concentração 𝑋 = 39,50% ± 5,98 de açúcar. O néctar produzido pelas suas flores é coletado por abelhas Augochlorella tredecim Vachal 1911, Osiris sp. Smith 1854 e Rhathymus friese Ducke 1907 que são seus polinizadores. Mesadenella cuspidata é autocompatível, porém não autógama. As flores submetidas à autopolinização manual resultaram em 66,6% de frutos e as subemtidas a polinização cruzada resultaram em 86,6% de frutos. A taxa de sementes potencialmente dos frutos provenientes destes tratamentos foi de 78,7% em autopolinização manual e 70,9% nos frutos de polinização cruzada. Em condições naturais, no ano de 2013 as flores resultaram em 74,1% de frutos e em 2014 a taxa de frutificação foi de 62,4%.

Palavras-chave: Spiranthinae, fragrâncias florais, polinizadores, forrageamento, autocompatibilidade.

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Abstract

Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay is terrestrial and accur in areas of Cerrado and Atlantic Forest, occurring in Southern, Southeastern, Central-western Brazil. The reproductive biology and pollination of this species were developed in the Biological Reserve of Serra do Japi, in the municipality of Jundiaí and Parque Estadual de Vassunga, in the municipality of Santa Rita do Passa Quatro. Mesadenella cuspidata possesses an apical raceme with flowers arranged in spiral. Its flowers are protandrous, have white coloration and emit a sweet fragrance composed of 16 different substances. Moreover, they a nectary- shaped bunt forms by the union of the lateral sepals and the lip that stores 𝑋 = 1.43 ± 0.87 nectar with 𝑋 = 39.50% ± 5.98 of sugar concentration. The nectar produced by the flowers is collected by bees Augochlorella tredecim Vachal 1911, Osiris sp. Smith 1854 and Rhathymus friese Ducke 1907 which are their pollinators. Mesadenella cuspidate is self- compatible, but not autogamous. Flower submitted to manual self-pollintion resulted in 66.6% of fruit and submitted to cross-pollintion resulted in 86.6% of fruit. The rate of potentially seed the fruit from these treatments was 78.7% in manual self-polination and 70.9% for cross-pollination fruits.

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Introdução

A subtribo Spiranthinae Lindl. compreende cerca de 40 gêneros e 470 espécies distribuídas quase que exclusivamente pelas Américas (Salazar 2003). Suas flores compartilham algumas características comuns em várias espécies como polínias divisíveis, e um nectário profundo em forma de bojo, formado pela união das sépalas e a base de labelo (Dressler 1993).

O néctar representa a principal recompensa produzida pelas flores de várias espécies desse grupo (Catling 1983, 1987, Catling & Catling 1991, Singer & Sazima 1999), e esse composto é importante para uma grande diversidade de animais como abelhas das famílias Halictidae, Megachilidae e Apidae (e.g. Singer & Sazima 1999, 2000), mariposas da família Noctuidae (e.g. Singer 2002), além de beija-flores das subfamílias Trochilinae e Phaethorninae (e.g. Darwin 1877, Singer & Sazima 1999, 2000).

O gênero Mesadenella Schltr. compreende cerca de 7 espécies amplamente distribuídas pelo Brasil. No estado de São Paulo, entretanto, ocorrem somente duas espécies, que são M. atroviridis (Barb. Rodr.) Garay e M. cuspidata (Lindl.) Garay. Mesadenella cuspidata apresenta habito terrícola, habitam o Cerrado e a Mata Atlântica, ocorrendo entre as regiões sul, sudeste, centro-oeste do Brasil (Barros et al. 2014).

A biologia da espécie é pouco compreendida e trabalhos envolvendo o gênero são escassos. Todavia, em relação aos polinizadores e sistema reprodutivo da espécie, abelhas Halictidae já haviam sido observadas visitando suas flores anteriormente por Pansarin & Pansarin (2010). E em dados não publicados, Singer (2002), documenta que as flores de M. cuspidata são protândricas. O presente estudo teve como objetivo estudar a biologia reprodutiva de Mesadenella cuspidata, analisando a sua fenologia e sistema reprodutivo, os mecanismos de polinização e protandria, o seu sucesso no desenvolvimento de frutos em

81 condições naturais, a taxa de sementes com embriões viáveis, além de analises sobre a composição química da fragrância presente nas suas flores.

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Material e Métodos

Área de estudos

Os estudos sobre a biologia reprodutiva de Mesadenella cuspista foram desenvolvidos na Reserva Biológica Serra do Japi, no município de Jundiaí, estado de São Paulo, cujas coordenadas geográficas são 23º15`S e 46º58`W aproximadamente; e no Parque Estadual de Vassununga, no município de Santa Rita do Passa Quatro, estado de São Paulo, cujas coordenadas geográficas são 21°41`S e 47°34`W aproximadamente. A Reserva Biológica Serra do japi é predominantementecoberta por florestas semidecíduas mesofíticas. A região é caracterizada por elevações que variam entre 700-1.300 m de altitude e temperaturas médias anuais de 15,7º C e 19,2ºC. A sazonalidade é bem marcada, com seca no inverno de abril a setembro e uma estação chuvosa de outubro a março. O Parque estadual de Vassununga é composto por seis glebas isoladas, que juntos totalizam 1732,14 ha. (Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo 1998). A cobertura vegetal predominante, com exceção da gleba Pé de Gigante (cerrado) é classificada como floresta estacional semidecidual (Veloso 1992). A região é caracterizada por altitudes com 760 metros. O clima predominante, segundo a classificação de Köppen (1948), é o Cwa, isto é, subtropical úmido, com verões quentes e chuvosos, invernos frios e secos com temperatura média de 22º C.

Estudos sobre fenologia

As observações sobre a fenologia foram realizadas sobre 10 indivíduos no município de Santa Rita do Passa Quatro interior do estado de São Paulo. Para cada indivíduo foi observado o desenvolvimento das inflorescências, botões e flores, o período de antese, a longevidade floral e a deiscência dos frutos. As observações foram realizadas durante oito expedições na população de estudo, entre janeiro de 2013 e abril de 2014.

83 Análise química dos compostos voláteis

Para a realização do headspace com microextração em fase sólida (HS-SPME) dos voláteis florais as flores foram colocadas separadamente em um frasco de vidro de 20 ml e submetidos a temperatura constante de 35ºC por 60 minutos. Durante esse período, a fibra de sílica fundida coberta com 10µm de polidimetilsiloxano (PDMS) (Supelco Inc., Bellefont, PA) foi inserida no frasco e exposta ao headspace floral.

A análise dos compostos voláteis foi realizada usando um cromatógrafo a gás acoplado a um espectrômetro de massa QP 2010 Shimadzu. Um detector de espectrometria com fonte de ionização por elétrons (EI-MS) foi operado sob a temperatura da fonte a 250ºC, uma corrente de emissão de 60 µA e uma energia de ionização de 70 e V. O tempo global de corrida foi registrado em modo de varredura completo (40-500 m/z de variação de massa) e uma proporção de leitura de 0.30 scan s-1. Os compostos foram dissolvidos termicamente da fibra SPME no injetor por 2 minutos a 250ºC, com modo de injeção em splitless. Esses compostos foram separados em uma coluna capilar DB-5MS (J & W Agilent) de 30 m x 0,24 mm, sendo a espessura do filme de 0,25µm, com He (79,7 kPa) como gás de arraste e fluxo de 1,3 ml min-1. A temperatura do GC se iniciou a 60ºC, e aumentou linearmente 30ºC por minuto até atingir 240ºC, durante 60 minutos.

Os dados de cromatografia foram analisados com o software GC-MS Solution e os compostos voláteis foram identificados com a biblioteca NIST 62, Wiley 7 e FFNSC 1.3, por comparação dos espectros de MS. Além disso, os índices de retenção de Kováts (KI) de cada composto foram calculados de acordo com a fórmula de Kováts (Robards et al. 1994). As áreas de cada pico das cromatogramas foram integradas para determinar a abundância relativa de cada composto.

84 Estudos sobre morfologia floral

Para a realização dos estudos sobre a morfologia floral, 30 flores frescas foram coletadas em seis indivíduos coletados previamente na população de estudo e mantido em cultivo em um orquidário. Suas estruturas foram medidas manualmente e analisadas sob um microscópio estereoscópico binocular utilizando um paquímetro. Foram observadas a forma, a simetria, o tamanho e o formato das peças florais, como pétalas, sépalas, labelo, coluna, antera e polinário. O material testemunho de Mesadenella cuspidata foi depositado no Orquidário do Laboratório de Biologia Molecular e Biossistemática de Plantas LBMBP (Laboratório de Biologia Molecular e Biossistemática de Plantas), FFCLRP USP

Universidade de São Paulo (http://splink.cria.

org.br/manager/detail?setlang=pt&resource=LBMBP).

Análises Histoquímicadas regiões produtoras de recursos

Para a realização dos testes histoquímicos, secções transversais do nectário foram obtidos à mão livre de flores frescas e submersos em reagente de Fehling (Purvis et al.1964).

Volume, concentração e produção de néctar

O volume e a concentração de néctar das flores de Mesadenella cuspidata foram medidos utilizando uma seringa Hamilton de 10 µl e um refratômetro de bolso com lente Carl Zeiss (Jena, Alemanha) (Sazima et al. 2003). Foram utilizadas 66 flores.

85 As observações para registros sobre o comportamento dos polinizadores, a frequência de visitas, os mecanismos de polinização e a captura dos polinizadores para posterior identificação foram realizados em 2013 e 2014. Durante o período de floração de 2013 as observações foram realizadas de 27 de janeiro a 03 de fevereiro. No período de floração de 2014 as observações foram realizadas de 05-18 de março. As observações foram realizadas no período entre 08:00 e 16:00 h, totalizando 104 horas. Durante o período de observações, dois indivíduos com flores intactas foram marcadas no final de cada dia e checadas na manhã seguinte para verificar a possível ocorrência de polinização noturna.

Para o registro dos polinizadores no campo, as fotos foram obtidas com uma câmera Nikon D80 D-SLR acoplada a uma lente Micro-Nikkor de 55 mm f2.8. Os detalhes dos polinizadores foram fotografados com um microscópio Leica Stereozoom S8 APO acoplado a um PC empregando IM50 Software de análise de imagem. Os insetos foram coletados utilizando uma rede entomológica, identificados e posteriormente depositados como vouchers na “Coleção Camargo” (RPSP) do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.

Sistema reprodutivo

Para a realização dos estudos sobre o sistema reprodutivode Mesadenella cuspidata, seis indivíduos foram submetidos a três tratamentos experimentais: autopolinização manual (n=30 flores), polinização cruzada (n=30 flores) e emasculação (teste para apomixia) (n=30flores), sendo polinizadas cinco flores para cada tipo de tratamento, de modo que cada indivíduo fosse submetido a todos os tratamentos manuais. Além disso, observações sobre autopolinização espontânea (n=30 flores) foram realizadas. Os indivíduos utilizados nos tratamentos e nas observações sobre autopolinização espontânea foram coletados na Reserva

86 Biológica Serra do Japi e mantidos em cultivo no orquidário (LBMBP), tendo em vista que a retirada de indivíduos da população do Parque Estadual de Vassununga pudesse acometer as outras análises.

Taxa de frutificação em condições naturais

As informações sobre a taxa de frutificação em condições naturais foram obtidas no Parque Estadual de Vassununga em março de 2013. Foram amostrados 30 indivíduos da população de estudo, contando-se o número de flores produzidas e a quantidade de frutos desenvolvidos.

Análise da viabilidade das sementes

Para a análise sobre a viabilidade das sementes, frutos deiscentes foram obtidos das polinizações manuais. Uma amostra de 200 sementes por frutos foi analisada sob um microscópio de luz. As sementes foram classificadas em viáveis e não viáveis de acordo com o desenvolvimento dos embriões, sendo consideradas não viáveis as sementes sem embriões ou com embriões rudimentares (Pansarin et al. 2008).

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Resultados

Mesadenella cuspidataéterrícola e apresenta folhas cuneiformes de coloração predominantemente verde a verde com maculas brancas, margem lisa e ápice agudo. Cada indivíduo produz uma inflorescência racemosa apical com flores espiraladamente dispostas. As flores de Mesadenella cuspidata se abrem nos meses de favereiro a abril, entre o verão e o outono e liberam uma fragrância adocicada nas horas mais quentes do dia que é composta por 16 voláteis diferentes que são: tetradecanol como mais abundante, apresentando uma porcentagem de área relativa de 38,78%, seguido por tridecanol com área relativa de 7,33%; pentacosano com 6,62%; tridecano com 5,72%; 1-tetradecanol com 5,52%; ácido octodecanóico com 5,18%; 3,11-tetradecadien-1-ol com4,84%; tridecan-1-ol com 3,82%; cis- 11-hexadecenol com 3,28%; 5-tetradecano com 2,77%; hexadecanal com 2,25%; ácido hexodecanóico com 1,93%; 9-tetradecenol 1,69%; dodecano com 1,4%; pentadecano e por ultimo, o menos abundante11-dodecenol com 0,93% (Fig. 1).

Suas flores são pediceladas e ressupinadas de coloração predominantemente branca e amarela na parte central e permanecem abertas por um período de 15 dias. Suas pétalas (𝑋 = 2,08 ± 0,26 x 4,61 ± 0,44) são falcadas, inteiramente brancas, com margem lisa e ápice agudo; a sépala dorsal mede 𝑋 = 2,21 ± 0,28 x 5,13 ± 0,61 apresenta coloração verde, margem lisa e ápice agudo; as sépalas laterais medem 𝑋 = 2,61 ± 0,28 x 6,58 ± 0,76 são falcadas, apresentam coloração verde e branca com margem lisa e ápice agudo; o labelo mede 𝑋 = 2,88 ± 0,53 x 5,96 ± 0,60 apresenta papilas, coloração branca e amarela com margem lisa e ápice agudo; a coluna (𝑋 = 1,1 ± 0,20 x 3,11 ± 0,38) apresenta coloração inteiramente branca com uma projeção no ápice; a antera (𝑋 = 0,53 ± 0,12 x 1,41 ± 0,18) apresenta coloração marrom; o polinário (𝑋 =0,53 ± 0,12 x 1,73 ± 0,33) é formado por duas polínias quebradiças, estipe e viscídio com a porção adesiva dorsal (Tabela 2).

88 As sépalas laterais fundem-se ao labelo em sua base para formar um nectário em forma de bojo que armazena em média 𝑋 = 1,43 ± 0,87 de néctar com uma concentração média de 𝑋 = 39,50% ± 5,98 de açúcar. O néctar é produzido e secretado por glândulas digitiformes que estão presentes sobre as margens do labelo em sua base (fig. 2A-B). A produção de néctar foi confirmada através dos testes histoquímicos, em cortes transversais do nectário (Fig. B)

Suas flores são protândricas e a fase masculina (doadora de pólen) e a feminina (receptora de pólen) é separada pela mecânica de abertura das flores no processo da antese. No estádio masculino, as flores ainda no início da antese apresentam uma forma tubular com uma abertura estreita com 𝑋 = 0,9 ± 0,05 mm diâm., período em que as flores não podem ser polinizadas, sendo possível somente a remoção do polinário através da abertura pelas abelhas (Fig. 1A-C-E). As flores permanecem na fase masculina por até 48 horas.

No estádio feminino as flores se encontram completamente abertas, apresentando uma abertura com 𝑋 =3,0 ± 0,03 mm diâm (Fig. 1B-D-F). Durante esta fase, as flores atuam como receptoras de pólen, podendo agir também como doadoras de pólen. A antese acontece durante um período de aproximadamente 72 h, até que as peças florais estejam completamente livres e o labelo com distensão completa em direção a base.

As flores de Mesadenella cuspidata foram visitadas e polinizadas por abelhas cleptoparasitas fêmeas do gênero Osiris Smith 1854 (Fig. 2C), abelhas Halictidae da espécie Augochlorella tredecim Vachal 1911 (Fig.2D) e por abelhas clapetoparasitas fêmeas da espécie Rhathymus friese Ducke 1907 (Fig. 2E). Além disso, abelhas operárias da espécie Plebeia droryana Friese 1900 (Meliponini) também foram observadas pilhando néctar em suas flores (Fig. 2F).

89 As abelhas iniciam suas visitas às flores de Mesadenella cupidata por volta de 09:30, se estendendo por até 14:00 h aproximadamente. As abelhas da família Halictidae visitam as flores aleatórimente. Diferentemente, as abelhas Osiris sp. e Rhathymus friese visitam as flores de forma sistêmica, apresentando um comportamento de forrageio em rota.Todas as espécies de abelhas na maioria das vezes visitaram uma ou mais raramente duas flores em um mesmo indivíduo, permanecendo nas flores de 5 a 10 segundos.

As visitas têm início com a abelha pousando sobre uma flor. Em seguida, introduz a glossa em seu interior para alcançar o nectário e acessar o néctar. Neste momento, as peças bucais das abelhas entram em contato com o viscídio do polinário, que fica aderido a superfície da estrutura, sendo removido sem a antera, que fica retida na coluna. A polinização ocorreu quando uma abelha carregando um polinário visitou uma flor no estádio feminino. As abelhas visitam as flores somente em dias ensolarados e quentes.

A espécie Mesadenella cuspidata é autocompatível, porém não autógama dependente de um polinizador. Nos tratamentos de emasculação e nas flores submetidas à autopolinização espontânea não houve desenvolvimento de frutos. As flores submetidas à autopolinização manual resultaram em 66,6% de frutos. E em polinização cruzada as flores resultaram em 86,6% de frutos. A taxa de sementes potencialmente viáveis nos frutos provenientes destes tratamentos foi de 78,7% em autopolinização manual e 70,9% nos frutos originados dos tratamentos manuais de polinização cruzada. Em condições naturais, no ano de 2013 os indivíduos em que as flores foram submetidas à polinização aberta resultaram em 74,1% de frutos e em 2014, 62,4% (Tabela 2).

90 Figura 1: Abundância relativa dos compostos voláteis detectados na fragrância floral de Mesadenella cuspidata, no município de São Simão, São Paulo.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 tetradecanol tridecanol pentacosano tridecano 1-tetradecanol acido octodecanóico 3,11-tetradecadien-1-ol trideca-1-ol cis-11-hexadecenal 5-tetradecano hexadecanal acido hexadecanóico 9-tetradecenal dodecano pentadecano 11-dodecenol Abundância relativa (%) C om post os vol át ei s

91 Tabela 1: Variação, Média (𝑋 ) e desvio padrão (DP) das estruturas florais de Mesadenella cuspidata no Parque Estadual de Vassununga, município de Santa Rita do Passa Quatro - SP.

Estruturas Comprimento (mm) Variação 𝑿 DP Largura (mm) Variação 𝑿 DP Pétalas 4,0-5,5 4,6 0,44 2,0-2,5 2,08 0,26 Labelo 5,0-6,5 5,96 0,60 2,0-3,5 2,88 0,53 Sépalas 6,0-7,5 6,58 0,76 2,5-3,0 2,61 0,28 Sépala dorsal 4,0-5,5 5,13 0,61 2,0-2,5 2,21 0,28 Coluna 2,0-3,5 3,11 0,38 1,0-1,5 1,1 0,20 Antera 1,0-1,5 1,41 0,18 0,5-1,5 0,53 0,12 Polinário 1,5-2,0 1,73 0,33 0,5-1,0 0,53 0,12

92 Figura 2:Protandria em flores de Mesadenella cuspidata. Vistas laterais, frontais e cortes longitudinais de flores em diferentes fases sexuais. A-C, Fase masculina (doadoras de pólen), em que a forma tubularda flor e abertura estreita evitam a polinização. B-D, Fase feminina, (receptoras de polén), em que as flores se encontram completamente abertas expondo o

93 estigma e permitindo o acesso. E, Corte lateral da flor na fase masculina. F, Corte lateral da flor na fase feminina.

94 Figura 3: Glândula produtora de néctar , flores e polinizadores de Mesadenella cupidata. A, Corte lateral da flor evidenciando uma glândula de néctar. B, Corte transversal das glândulas de néctar.C, Abelha do gênero Osiris polinizado. D, Abelha da família Halictidae

95 polinizando. E, Abelha daespécie Rhathymus friesepolinizando. F, Abelha operária da tribo Meliponini pilhando nectar.

96 Tabela 2: Resultados obtidos nos testes sobre o sistema reprodutivo de Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay: porcentagem de frutos desenvolvidos nos tratamentos manuais de polinização cruzada, autopolinização manual e em polinização aberta nos anos de 2013 e 2014; porcentagem de sementes potencialmente viáveis obtidas nos tratamentos manuais de polinização cruzada e autopolinização.

Tratamentos Flores Frutos Sementes

Autopolinização manual 30 20 (66,6%) 3151 (78,7%) Polinização cruzada 30 26 (86,6%) 3687 (70,9%) Emasculação 30 804 653 - 596 (74,1%) 408 (62,4%) - - - Polinização aberta (2013) Polinização aberta (2014)

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Discussão

Mesadenella cuspidataé uma erva terrícola com inflorescências apicais racemosas que apresentam flores dispostas de forma espiralada sobre a haste, comumente observada em outras espécies da subribo Spiranthiane (Dressler 1993). Suas flores são fragrantes e a fragrância é composta de tetradecanolcomo mais abundante, seguido por tridecanol, pentacosano, tridecano, 1-tetradecanol, ácido octodecanóico, 3,11-tetradecadien-1-ol, tridecan-1-ol, cis-11-hexadecenol, 5-tetradecano, hexadecanal, ácido hexodecanóico, 9- tetradecenol, dodecano, pentadecano e por último, o menos abundante 11-dodecenol. Nas plantas, esses terpenos apresentem diversas funções importantes, atuando como fitoalexinas, podendo agir como repelentes de insetos, agente na defesa contra herbívoros (Burt et al. 2004) ou na atração polínizadores (Dodson 1967, Knudsen 1993).

A fragrância tem um papel crucial na atração dos polinizadores às flores de muitas espécies de orquídeas (van der Pijl & Dodson 1966). No entanto, os polinizadores, geralmente, são atraídos as flores devido à combinaçães de cores e fragrâncias florais, associadas a algum tipo de recompensa alimentar como à própria fragrância, o pólen (Curry et al. 1991), às resinas(Davies et al. 2003), os lipídios (Mickeliunas et al. 2006), e o néctar (Singer 2002).

As flores de Mesadenella cuspidata são predominantemente brancas com amarelo e compartilham algumas características comuns em várias espécies da subtribo Spiranthinae como polínias divisíveis, e um nectário profundo em forma de bojo, formado pela união das sépalas e a base de labelo (Rasmussen 1982, Dressler 1993). O néctar presente em suas flores é secretado por duas glândulas presentes na base do labelo como observado nos testes histoquímicos, em cortes transversais do nectário. Tais estruturas são semelhantes às encontradas em espécies do gênero norte-americano Spiranthes (Catling 1983) e na espécie

98 Sauroglossum elatum (Singer 2002). Outra espécie que apresenta glândulas nectaríferas é Cleistes macrantha (Barb. Rodr.) Schltr. Nesta espécie, entretanto, o néctar secretado fica acumulado em um espaço que é delimitado por uma elevação da base da crista do labelo (Pansarin 2003).

As flores de Mesadenella cuspidata atraem abelhas do gênero Osiris, abelhas da espécie Augochlorella tredecim e abelhas da espécie Rhathymus friesei que as polinizam ao visitá-las em busca de néctar. Além disso, pequenas abelhas operárias da espécie Plebeia droryana são assíduos pilhandores de néctar em suas flores. Ao visitarem as flores, as abelhas recebem o polinário que fica aderido à superfície das peças bucais como observado em Erythrodes arietina (Rchb.f. & Warm.) Ames (Goodyerinae), uma espécie, que assim como Mesadenella cupidata também é polinizada por abelhas Osiris sp. (Singer & Sazima 2001a). No entanto, esse mecanismo tem sido observado em vários outros estudos envolvendo a biologia reprodutiva e os mecanismos de polinização de orquídeas da subtribo Spiranthinae, sendo observada a fixação do polinário nas superfícies de estruturas como clípio, premento e gálea, ou ainda sobre o bico de aves como beija-flores (Catling 1987, Catling & Catling 1991, Darwin 1904, Singer & Sazima 2001a, 2001b).

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