• Nenhum resultado encontrado

Revisão Bibliográfica

CVD oxidativo

2.4.7 Biomateriais e CVD

Modificações na superfície, proporcionadas pela técnica CVD, são de suma importância no desenvolvimento e aperfeiçoamento dos materiais. Em Engenharia Tecidual, esta ferramenta (CVD), vem ganhando destaque na síntese e obtenção de polímeros para aplicações médicas. Inúmeras motivações, visando alcançar as propriedades desejadas dos biomateriais, podem ser citadas, tais como: imobilização de biomoléculas na superfície; adesão e crescimento celular; interações entre o material e o sangue, incluindo a trombogenicidade; lubrificação; propriedades elétricas (ou isolante ou condutora); resistência ao desgaste e resistência à corrosão, entre outros. Portanto, a técnica CVD facilita a incorporação de grupos funcionais, como COOH, aminas (NH2), epóxi (C2H3O) e hidroxilas

(OH). Ácidos carboxílicos e aminas são onipresentes em aminoácidos e, especialmente, relevantes para aplicações biomédicas [Alf et al., 2010].

A retenção de grupos funcionais orgânicos nas camadas dos polímeros CVD, fornece sítios químicos específicos para a fixação da superfície de moléculas bioativas e nanopartículas inorgânicas. Isto permite um controle sistemático sobre as propriedades da superfície, como molhabilidade, lubrificação e aderência. Acrescenta-se ainda que, alguns grupos funcionais conferem a capacidade de criar superfícies responsivas [Alf et al., 2010].

A camada da superfície deve ser a mais fina possível, sem degradadar ou erodir pelo ambiente biológico [Ratner, 2004]. Para atender esta necessidade, recobrimentos por deposição química a vapor (CVD), de materiais poliméricos, bem aderidos e ultra-finos, podem ser aplicados a praticamente qualquer substrato à temperatura ambiente, visando aplicações no campo da Engenharia Tecidual [Kumar, 2006]. Esta técnica, (CVD), tem sido usada com sucesso para sintetizar diferentes homopolímeros, copolímeros aleatórios e alternados, além de produzir superfícies ultra-hidrofóbicas, hidrofílicas, quimicamente resistentes e hidrogéis [O’Shaughnessy et al, 2007; Tenhaeff et al, 2007; Mao & Gleason, 2004]. Em bioimplantes, a pureza dos filmes poliméricos é de fundamental importância para a obtenção das características desejáveis, tal como condutividade elétrica e resistência à fratura. Aditivos normalmente exigidos para a realização de filmes uniformes e as impurezas contidas na solução polimérica podem ser responsáveis por falhas em testes de biocompatibilidade. Além disso, certos monômeros podem ser mais facilmente polimerizados através de métodos CVD.

Recobrimentos altamente hidrofílicos, por exemplo, hidrogéis poliméricos possuem grande vantagem em ser sintetizado pela técnica CVD. Implantes biomédicos, normalmente, devem possuir características semelhantes ao tecido natural que será substituído, o que reduz o índice de rejeições e, consequentemente, maior biocompatibilidade. Hidrogéis são polímeros tridimensionais, reticulados, que possuem a capacidade de inchar sem se dissolver. Em alguns casos, exige-se, dos mesmos, maior grau de reticulação, a fim de melhorar suas propriedades mecânicas e difusionais (transporte de nutrientes). Em processos convencionais de polimerização em solução, como camada-camada, pulverização, etc, a formação de ligações cruzadas, exige, frequentemente, etapas adicionais [Tenhaeff & Gleason, 2009]. Tal requerimento, contudo, pode ser controlado durante o processamento destes polímeros utilizando a técnica CVD. Tenhaeff & Gleason (2009) sintetizaram hidrogéis de poli [maléico anidrido-co-dimetil acrilamida-co-di (etilenoglicol) divinil éter] (poliMaDmDe) utilizando a técnica iCVD. O estudo demonstrou uma melhora na taxa de inchamento dos filmes depositados [Asatekin et al., 2010].

Baxamusa et al., (2008) reportaram a síntese de filmes finos de hidrogéis de poli (2-hidróxietil metacrilato) (PHEMA) utilizando a técnica foto CVD (piCVD). Segundo autores, os hidrogéis mostraram-se promissores como recobrimentos na proteção de sensores para aplicações biológicas. A técnica de iCVD de PHEMA, por outro lado, tem fornecido superfícies não citotóxicas para o crescimento de células humanas, o que leva a evidências de um processo “limpo”, sem arraste de monômeros ou iniciadores não reagidos durante a deposição dos filmes [Asatekin et al., 2010; Bose & Lau, 2009].

2.4.8 Conclusão

Em busca da integração entre células, fatores bioquímicos e materiais, visando substituir tecidos doentes ou danificados ou servir como suporte ao crescimento de células e liberação de drogas, a associação entre a Engenharia Tecidual e a técnica CVD demonstram resultados satisfatórios. O método de deposição química a vapor aumenta a capacidade de modificação da superfície de materiais poliméricos em relação às técnicas tradicionais. Hidrogéis de PHEMA, por exemplo, têm tido grande sucesso na modificação de suas propriedades para fins biomédicos.

Embora o custo do processo CVD possa ser relativamente alto, dependendo de outras etapas da produção, as características finais obtidas pelos biomateriais fornecem compensação econômica. Polímeros são sintetizados com espessura controlada,

funcionalidade química e conformalidade. Além disso, CVD tem vantagens quanto a impactos na segurança e ambientais, vista a ausência de solventes ou voláteis.

Entender o mecanismo da reação, a cinética e a termodinâmica do sistema, contudo, é de fundamental importância, uma vez que fornece subsídios para o controle do sistema. Isto torna possível obter materiais com propriedades controláveis e ajustáveis. No futuro próximo, acredita-se que polímeros CVD encontrarão novos caminhos para aplicação em Engenharia Tecidual.

Agradecimentos

UNICAMP, INCT-BIOFABRIS e FAPESP pelo suporte à pesquisa e apoio financeiro.

Referências

Alf, M. E., Asatekin, A., Barr, M. C., Baxamusa, S. H., Chelawat, H., Ozaydin- Ince, G., Petruczok, C.D., Sreenivasan, R., Tenhaeff, W. E., Trujillo, N.J., Vaddiraju, S., Xu, J., Gleason, K. K. (2010) , “Chemical Vapor Deposition of Conformal, Functional, and Responsive Polymer Films”. Adv. Mater., 22, 1993-2027.

Asatekin, A., Barr, M. C., Baxamusa, S. H., Lau, K. K. S., Tenhaeff, W., Xu, J., & Gleason, K. K. (2010), “Designing polymer surfaces via vapor deposition”, Mater. Today, 13(5): 26-33.

Baxamusa, S. H., Montero, L., Dubach, J. M., Clark, H. A., Borros, S., & Gleason, K. K. (2008), “Protection of Sensors for Biological Applications by Photoinitiated Chemical Vapor Deposition of Hydrogel Thin Films”, Biomacromolecules, 9(10): 2857-2862. Baxamusa, S. H. & Gleason, K. K. (2009), “ Initiated chemical vapor deposition of polymer films on nonplanar substrates”, Thin Solid Films, 517(12): 3536-3538.

Baxamusa, S. H., Im, S. G., & Gleason, K. K. (2009), “ Initiated and oxidative chemical vapor deposition: a scalable method for conformal and functional polymer films on real substrates”, Phys.l Chem. Chem. Phys., 11(26): 5227-5240.

Bccresearch. (2012), Disponível em : http://www.bccresearch.com/report/thin- layer-desposition-cvd-smc027g.html. Acesso 28/06/2012.

Bose, R. K. & Lau, K. K. S. (2009), “ Initiated CVD of Poly(2-Hydroxyethyl Methacrylate) Hydrogels: Synthesis, Characterization and In-vitro Biocompatibility”, Chem.

Vap. Deposition, 15(4-6): 150-155.

Bose, R. K. & Lau, K. K. S. (2011), “Initiated chemical vapor deposition of poly(2-hydroxyethyl methacrylate) hydrogels”, Thin Solid Films, 519(14): 4415-4417.

Chan, K. & Gleason, K. K. (2005a), “ Initiated CVD of Poly(methyl methacrylate) Thin Films”, Chem. Vap. Deposition, 11(10): 437-443.

Chan, K. & Gleason, K. K. (2005b), “ Initiated Chemical Vapor Deposition of Linear and Cross-linked Poly(2-hydroxyethyl methacrylate) for Use as Thin-Film Hydrogels”,

Langmuir, 21(19): 8930-8939.

Chan, K., Kostun, L. E., Tenhaeff, W. E., & Gleason, K. K. (2006), “ Initiated chemical vapor deposition of polyvinylpyrrolidone-based thin films”. Polymer, 47(20): 6941- 6947.

Chen, G., Ushida, T., & Tateishi, T. (2002), “ Scaffold Design for Tissue Engineering”, Macromol.Biosci., 2(2): 67-77.

Choy, K.L. (2003), “ Chemical vapour deposition of coatings” , Progress in Materials Science, 48,57–170.

Comsol. (2011a), “Boat reactor for low pressure chemical vapor deposition”. Solved with COMSOL Multiphysics 4.2a.

Comsol. (2011b), “ Chemical vapor deposition of GaAs”. Solved with COMSOL reaction engineering lab 3.5a.

Fortin, J. B., Lu, T. (2003), “ Chemical Vapor Deposition Polymerization: The Growth and Properties of Parylene Thin Films, Springer.

Gretz, R. D., and Hirth, J. P. (1967), “Nucleation and Growth Process in CVD, in CVD of Refractory Metals Alloys and Compounds , Am. Nuclear. Soc., Hinsdale, Ill, 73–97.

Griffith, L. G. (2000), “Polymeric biomaterials”, Acta Mater., 48(1): 263-277.

Gupta, M. & Gleason, K. K. (2006), “ Large-scale initiated chemical vapor deposition of poly(glycidyl methacrylate) thin films”, Thin Solid Films, 515(4): 1579-1584.

Hess, D. W., Jensen, K. F. (1989), “Microelectronics Processing: Chemical Engineering Aspects”, Am. Chem. Society, Washington DC, 221.

Im, S. G. & Gleason, K. K. (2007), “Systematic Control of the Electrical Conductivity of Poly(3,4-ethylenedioxythiophene) via Oxidative Chemical Vapor Deposition”, Macromolecules, 40(18): 6552-6556.

Jardini, A.L., Lunelli, B.H., Martinez, G. A. R., Lasprilla, A. J. R., Passos, M.F., Maciel, A. A. W., Silva, J. V., Maciel, R. (2010), “ Computer-Aided Tools For Modeling And Simulation In The Biomaterials Production”. The 6th Latin American Congress of Artificial

Organs and Biomaterials, Gramado, Rio Grande do Sul.

Kern, W., and Ban, W. S., (1987), “Chemical Vapor Deposition of Inorganic Thin Films”, Thin Film Processes, (J. L. Vossen andW. Kern, eds.), Academic Press, New York, 257–331.

Kumar, C. S. S. R. (2006), “Tissue, Cell, and Organ Engineering” , Wiley-VCH, Weinheim.

Lau, K. K. S. & Gleason, K. K. (2006a), “ Initiated Chemical Vapor Deposition (iCVD) of Poly(alkyl acrylates):  A Kinetic Model”, Macromolecules, 39(10): 3695-3703.

Lau, K. K. S. & Gleason, K. K. (2006b), “ Initiated Chemical Vapor Deposition (iCVD) of Poly(alkyl acrylates):  An Experimental Study”, Macromolecules, 39(10): 3688- 3694.

Lau, K. K. S. & Gleason, K. K. (2008), “ Initiated chemical vapor deposition (iCVD) of copolymer thin films”, Thin Solid Films, 516(5): 678-680.

Mao, Y., Gleason, K. K. (2004), “ Hot filament chemical vapor deposition of poly (glycidil methacrylate) thin films using tert-butyl peroxide as an initiator”, Langmuir, 20, 2484.

Martin, T. P., Lau, K. K. S., Chan, K., Mao, Y., Gupta, M., Shannan O'Shaughnessy, W., & Gleason, K. K. (2007), “ Initiated chemical vapor deposition (iCVD) of polymeric nanocoatings”, Surf. Coat.Technol., 201(22–23): 9400-9405.

Martin, T. P., Chan, K., & Gleason, K. K. (20080, “ Combinatorial initiated chemical vapor deposition (iCVD) for polymer thin film discovery”, Thin Solid Films, 516(5): 681-683.

Pan, Y. V., Wesley, R. A., Luginbuhl, R., Denton, D. D., Ratner, B. D. (2001), “Plasma Polymerized N-Isopropylacrylamide: Synthesis and Characterization of a Smart Thermally Responsive Coating”, Biomacromolecules, 2, 32.

O’Shaughnessy, W. S., Mari-Buye, N., Borros, S., Gleason, K. K. (2007), “ Initiated Chemical Vapor Deposition of a Surface-Modifiable Copolymer for Covalent Attachment and Patterning of Nucleophilic Ligands”, Macromol. Rapid. Commun, 28, 1877– 1882.

Parker, T. C., Baechle, D., & Demaree, J. D. (2011), “ Polymeric barrier coatings via initiated chemical vapor deposition”, Surf. Coat. Technol., 206(7): 1680-1683.

Pierson, H.O. (1999a), “Principles, Technology, and Applications”. Handbook of chemical vapor deposition (CVD). 2nd. Cap.2: Historical Fundamentals of Chemical Deposition, 36-58.

Pierson, H.O. (1999b), “Principles, Technology, and Applications”. Handbook of chemical vapor deposition (CVD). 2nd. Cap.5: CVD process and equipment, 108-144.

Pryce, L. H. G., Caulfield, J. A., & Gleason, K. K. (2001), “ Perfluorooctane Sulfonyl Fluoride as an Initiator in Hot-Filament Chemical Vapor Deposition of Fluorocarbon Thin Films”, Langmuir, 17(24): 7652-7655.

Rahaman, M. N. & Mao, J. J. (2005), “Stem cell-based composite tissue constructs for regenerative medicine”, Biotechnol. Bioeng., 91(3): 261-284.

Rastogi, A. C. & Desu, S. B. (2005), “ Thermal chemical vapor deposition of fluorocarbon polymer thin films in a hot filament reactor”, Polymer, 46(10): 3440-3451.

Ratner, B. D. (2004), “Biomaterials Science: An Introduction to Materials in Medicine”, Elsevier Academic Press, San Diego.

Teare, D. O. H., Barwick, D. C., Schofield, W. C. E., Garrod, R. P., Beeby, A., & Badyal, J. P. S. (2005), “Functionalization of Solid Surfaces with Thermoresponsive Protein- Resistant Films”, J.Phys.Chem. B, 109(47): 22407-22412.

Tenhaeff, W. E. & Gleason, K. K. (2007), “ Initiated chemical vapor deposition of perfectly alternating poly(styrene-alt-maleic anhydride)”, Surf. Coat. Technol., 201(22–23): 9417-9421.

Tenhaeff, W. E. & Gleason, K. K. (2008), “Initiated and Oxidative Chemical Vapor Deposition of Polymeric Thin Films: iCVD and oCVD”, Adv. Funct. Mater., 18(7): 979-992.

Tenhaeff, W. E. & Gleason, K. K. (2009), “ Crosslinking of copolymer thin films by initiated chemical vapor deposition for hydrogel applications”, Thin Solid Films, 517(12): 3543-3546.

Vedula, R., Kaza, S., Desu, S. B. (2003), “Chemical Vapor Deposition, ASM International”, Mater. Park, 2000.