• Nenhum resultado encontrado

4. Exposições Ocupacionais a Tóxicos

4.3 Exposição Ocupacional ao Formaldeído

4.3.2 Monitorização do Formaldeído em Ambientes Ocupacionais

4.3.2.2 Biomonitorização do Ácido Fórmico

O ácido fórmico, tal como o formaldeído, apresenta aspectos positivos e negativos como biomarcador de uma exposição ao formaldeído.

O ácido fórmico também é um intermediário do metabolismo normal,2 por exemplo do metabolismo endógeno de aminoácidos, de bases purinas e pirimidinas,50 e mais uma vez a sua produção não é específica do formaldeído, pois a ingestão e o metabolismo de precursores, como o metanol, halometanos, como o diclorometano, acetona e outras substâncias que após metabolizadas formam produtos com um carbono, incluem o ácido fórmico nas suas vias metabólicas, contribuindo para a sua excreção urinária.9,10,50,51

Existem mais dados disponíveis quanto à utilidade do ácido fórmico como biomarcador, do metanol53,54 e do formato de metilo,55 por exemplo, além do formaldeído56, do que este composto, dados que contudo, não abonam a favor do uso do ácido fórmico como biomarcador. A aplicação da excreção do ácido fórmico na urina como parâmetro para a monitorização biológica da exposição por inalação ao formaldeído é então discutida de modo controverso.52

Foram já expressas opiniões de que o ácido fórmico na urina não é um biomarcador útil para a exposição humana pois o nível basal médio na urina de sujeitos não expostos varia consideravelmente, em ambas as situação, intra e inter individualmente7 e de que também não é um parâmetro apropriado para a monitorização biológica de exposições ao formaldeído a baixos níveis.50

Um estudo de Boeniger (1987) que avaliou o uso do ácido fórmico na urina como indicador biológico de exposição ao formaldeído refere que a presença de uma pequena quantidade de ácido fórmico endógeno na urina humana é normal, valor que se pode elevar devido ao metabolismo de formaldeído, possibilitando o uso deste conhecimento como ferramenta na monitorização de exposições. Existem factores que podem alterar a extensão de eliminação do ácido fórmico na urina e logo que podem afectar o seu uso como indicador. Alguns desses factores não foram ainda devidamente avaliados, mas podem ser a ingestão de certos alimentos, o estado nutricional e a exposição ao fumo do cigarro. Estudos cinéticos prévios cujas variáveis nem sempre foram controladas, não permitiram chegar à conclusão se a variabilidade encontrada se deve a uma variação individual ou se a esses mesmos factores não controlados. Não se esclarecendo quais os factores responsáveis pela variação que normalmente se verifica nos níveis de ácido fórmico na urina, o seu uso como indicador biológico torna-se questionável.56

Apesar de estarem sujeitos a interferências, os níveis basais normais de ácido fórmico na urina de humanos podem atingir 20 mg/L, sendo que valores na ordem dos 30 mg/L são considerados elevados.57

Num estudo que analisou a excreção do ácido fórmico na urina, a fim de determinar possíveis factores que influenciem a sua excreção fisiológica, a concentração média do mesmo na urina de 70 pessoas não expostas foi 14,1 mg/g creatinina (1,2- 278,7 mg/g creatinina). Verificaram-se diferenças estatisticamente significativas nas concentrações de ácido fórmico entre mulheres grávidas ou não e entre crianças e adultos. No decurso do dia, foi observado que a excreção do ácido fórmico na urina de indivíduos não expostos, sofre flutuações consideráveis inter e intra individuais, tal como foi observado em algumas pessoas após análise da urina colhida com intervalos de 3 horas. Para além das diferenças na formação de ácido fórmico endógeno, um importante factor influente é provavelmente a ingestão de alimentos com elevadas quantidades de ácido fórmico ou seus precursores. Os níveis de ácido fórmico nas amostras de urinas da manhã em 3 dias consecutivos variaram por um factor de quase três.28,52

Noutro estudo, que também determinou o ácido fórmico em urina humana, a sua concentração mediana em adultos saudáveis não expostos ocupacionalmente, com idades compreendidas entre os 20-80 anos (n=94) foi 12 mg/L. A média foi 21 mg/L e os valores variaram entre 1-190 mg/L. Fumar e os hábitos dietéticos não influenciaram a excreção de ácido fórmico na urina, mas a idade foi positivamente correlacionada com o aumento das concentrações.28,50

A exposição ao formaldeído foi monitorizada num grupo de 35 estudantes de medicina veterinária que frequentaram durante 3 semanas consecutivas aulas de anatomia, nas quais trabalharam extensivamente com tecidos conservados em formalina, tendo sido expostos a baixas concentrações de formaldeído. A concentração média do nível basal de ácido fórmico na urina dos indivíduos antes das aulas foi de 12,5 mg/L, valor que variou consideravelmente tanto intra como inter individualmente (2,4-28,4 mg/L). Nenhuma alteração significativa na concentração foi detectada durante o período de 3 semanas de exposição ao formaldeído a uma concentração aérea inferior a 0,4-0,5 ppm (0,5-0,61 mg/m3). Segundo a IARC, e tendo em consideração o estudo referido, a monitorização biológica da exposição ao formaldeído através da avaliação do ácido fórmico urinário, não parece ser um método adequado para os níveis de exposição referidos.8

Foi igualmente realizado um estudo em estudantes de medicina (n=30) que durante um curso de dissecação anatómica foram expostos a uma curta mas intensiva exposição por inalação ao formaldeído, tal como nos trabalhadores de um laboratório de anatomia patológica (n=8), de forma a observar a evolução da excreção do ácido fórmico na urina durante a semana de trabalho com uma exposição contínua ao formaldeído a cerca de 0,5 ppm.Nos grupos expostos ao formaldeído, não foi detectado um aumento significativo na concentração de ácido fórmico na urina em comparação com os níveis

anteriores à exposição, tal como no caso da exposição curta mas intensiva (0,32-3,48 ppm), cuja média prévia à exposição de 6,5 mg/g creatinina (intervalo central 50%: 3,5- 14,2 mg/g creatinina) passou para 6,0 mg/g creatinina após a exposição (intervalo central 50%: 4,4-10,9 mg/g creatinina). No curso da exposição contínua ao formaldeído (0,03- 0,83 ppm) durante uma semana de trabalho verificou-se um aumento contínuo na mediana de 8,7 até 22,3 mg/g creatinina, uma alteração contudo não significativa devido ao reduzido número de casos investigados. Não foi detectada uma correlação linear entre as alterações individuais na excreção urinária do ácido fórmico e as concentrações de formaldeído na zona de respiração determinadas por amostras de ar individuais.52

O “Institut National de Recherche et de Sécurité”, para a prevenção de acidentes de trabalho e doenças profissionais, refere que o valor de referência do ácido fórmico urinário na população em geral é inferior a 23 mg/g creatinina.51

A Tabela 18 resume as concentrações urinárias de ácido fórmico em humanos sem exposições associadas, apresentadas nos estudos anteriores. As concentrações médias variaram entre 12,5-21 mg/L e 7,7-15mg/g creatinina.

Tabela 18. Concentrações urinárias humanas de ácido fórmico “normais” Concentração de ácido fórmico Fonte

8 12,5 mg/L 58 13,0 mg/L 57 20 mg/L 28,50 21 mg/L 52 6,5 mg/g creatinina 28,52 14,1 mg/g creatinina 51 23 mg/g creatinina