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5. Determinação do Ácido Fórmico em Urina de Trabalhadores de uma Fábrica Produtora de Formaldeído

5.3 Desenvolvimento de um Método e Determinação do Ácido Fórmico na Urina

5.3.6 Resultados e Discussão

5.3.6.4 Grupo Controlo versus Grupo dos Trabalhadores

quando comparados a um grupo que não estivesse exposto às mesmas condiç

grupo dos trabalhadores entre 3

homog

veis de ácido fórmico na urina do grupo ontrolo e do grupo de trabalhadores (Figura 35).

O principal objectivo deste trabalho era verificar se a exposição durante a produção de formaldeído, dos trabalhadores de uma unidade fabril produtora de formaldeído, se traduzia em níveis urinários de ácido fórmico significativamente superiores

ões.

Os grupos foram constituídos por 31 voluntários e 30 trabalhadores. Como já referido, as concentrações de ácido fórmico na urina do grupo controlo variaram entre 4,78-16,73 mg/L, com uma média de 8,94 ± 2,92 mg/L e do

,40-25,94 mg/L, com uma média de 17,14 ± 5,41 mg/L.

O grupo controlo não apresentou uma distribuição normal ao contrário do grupo de trabalhadores. Tal pode-se dever, em parte, à variabilidade da excreção urinária de ácido fórmico, como já referido, e ao facto do número de elementos do grupo controlo, apesar de diversificado, não ser o suficiente para representar a população em geral. Por outro lado, o grupo dos trabalhadores foi um grupo que apresentou características mais

éneas e que é sujeito a condições de exposição ao formaldeído semelhantes. A análise dos resultados foi realizada através do teste não paramétrico de "Mann Whitney", mostrando que existem diferenças estatisticamente significativas (p<0,0001) com um intervalo de confiança de 95% entre os ní

c

Controlo vs Trabalhadores

Cont rolo 30 20 10 0 Amo stra C o n cen tr ão A F ( m g /L )

Como já referido, os níveis basais urinários de ácido fórmico apresentam alguma variabilidade, tendo sido referidas médias na ordem de 12,5 mg/L,8 13,0 mg/L,58 20 mg/L57 e 21 mg/L.28,50 O grupo controlo apresentou uma concentração urinária de ácido fórmico média de 8,94 mg/L, um pouco abaixo dos valores mencionados nos estudos anteriores. O grupo dos trabalhadores, por sua vez, apresentou uma concentração média urinária de ácido fórmico de 17,14 mg/L, valor significativamente superior à média encontrada para o grupo controlo e superior para alguns dos valores referência descritos nos estudos que discriminavam valores urinários para o ácido fórmico.

Existem vários factores, acima mencionados, que interferem nos valores urinários de ácido fórmico excretado e que na maioria dos casos são impossíveis de controlar.

Os resultados obtidos indicam que provavelmente os limites de exposição ao formaldeído definidos não são suficientes para que não sejam encontradas diferenças entre os níveis urinários de ácido fórmico entre um grupo não exposto e um grupo exposto ao formaldeído a valores abaixo dos 0,3 ppm.

Também ainda não é clara qual a relação entre as concentrações de exposição ao formaldeído e os níveis de ácido fórmico urinários resultantes dessa exposição e quais os efeitos adversos para a saúde daí resultantes.

Mais estudos que abranjam um maior número de trabalhadores e mais estudos que possam esclarecer a partir de que valores urinários de ácido fórmico se pode associar a existência de toxicidade são fundamentais.

O grupo dos trabalhadores apresentou uma concentração média urinária de ácido fórmico de 16,59 mg/L para exposições a formaldeído abaixo de 0,3 ppm, limite de exposição definido. É estatisticamente superior ao da população controlo deste estudo, mas será prejudicial para a saúde dos trabalhadores? Será realmente importante reduzir o VLE/CM do formaldeído de 0,3 ppm38 para um valor inferior? Será que os níveis urinários mais elevados de ácido fórmico implicam um maior risco de cancro da nasofaringe, que se deve mais aos efeitos locais após absorção do formaldeído antes deste ser metabolizado? E os efeitos adversos do ácido fórmico originado pelo formaldeído, podem ser negligenciados?

Ficam muitas questões por responder, mas a informação obtida deste estudo não deve ser negligenciada e sim aproveitada tendo consciência dos limites da sua aplicação. De facto os trabalhadores em questão excretaram mais ácido fórmico via renal do que a população controlo do estudo.

Convém também por último referir que as comparações realizadas entre os vários parâmetros analisados quanto ao grupo controlo e ao grupo de trabalhadores, em separado, não permitem retirar conclusões definitivas, tendo sido apenas efectuadas para se adquirir uma melhor compreensão dos resultados obtidos. Nenhum dos parâmetros

analisados no grupo controlo (sexo, hábitos tabágicos e idade), grupo que não apresentou uma distribuição normal, revelou ser estatisticamente diferente, ao contrário do grupo dos trabalhadores, grupo que apresentou uma distribuição do tipo normal e que em cinco dos parâmetros avaliados, apresentou diferenças em três, nomeadamente idade, número de anos de trabalho e hábitos tabágicos, este último contrariando o que seria de esperar.

6. Conclusão

O principal objectivo deste trabalho foi determinar o ácido fórmico em urina de trabalhadores de uma fábrica produtora de formaldeído, com vista a verificar se realmente este composto pode ou não auxiliar a avaliação de exposições ao formaldeído.

Perante os resultados obtidos a partir do estudo realizado nas condições descritas, pode-se então concluir:

1. A determinação do ácido fórmico em urina pode e deveria ser utilizada na avaliação de exposições ao formaldeído, tendo em consideração que foram encontradas diferenças estatisticamente significativas com um intervalo de confiança de 95% (p<0,0001), nas concentrações urinárias de ácido fórmico entre o grupo controlo (8,94 ± 2,92 mg/L) e o grupo de trabalhadores expostos ao formaldeído (17,14 ± 5,41 mg/L), que excretaram mais ácido fórmico.

2. Os resultados obtidos após a análise do grupo de trabalhadores quanto aos parâmetros da idade e do número de anos de serviço na empresa, reforçam igualmente a constatação de que o controlo dos níveis de ácido fórmico na urina de um trabalhador mais idoso e/ou mais antigo, exposto ao formaldeído permitiria controlar e prevenir os efeitos adversos que poderiam surgir nesse indivíduo resultantes da ocupação laboral, pois verificou-se que há uma correlação positiva entre os níveis urinários de ácido fórmico, quer com a idade, quer com o tempo de serviço, parâmetros geralmente associados.

3. Apesar de não ser possível afirmar se o VLE actualmente definido é ou não suficiente para assegurar a saúde dos trabalhadores, pode-se constatar que o mesmo não é suficiente para que não se verifiquem diferenças na excreção de ácido fórmico entre populações expostas e não expostas ao formaldeído. Como o formaldeído é um composto que carece de um biomarcador viável que permita avaliar se as medidas de prevenção, nomeadamente o VLE, são efectivamente eficazes, a medição do ácido fórmico em urina de indivíduos expostos no local de trabalho seria uma medida a considerar.

4. Este trabalho demonstra que a quantificação de um biomarcador de exposição do formaldeído, como o ácido fórmico, em amostras biológicas de indivíduos expostos em ambientes ocupacionais, permitiria conhecer e controlar melhor a exposição efectiva dos trabalhadores a este composto e logo actuar no sentido de prevenir efeitos nefastos, nomeadamente os cancerígenos, que como já foi observado apresentam uma maior probabilidade de ocorrer com exposições a níveis superiores e mais prolongadas.7

5. Apesar do uso do ácido fórmico como biomarcador já ter sido avaliada noutros trabalhos, no geral50,58,71 e quanto a exposições a outros compostos como o metanol53,54,73 e o formato de metilo,55 ao próprio ácido fórmico28 e até ao formaldeído,52,56 este estudo inova pela determinação do ácido fórmico na urina de trabalhadores expostos ao formaldeído de uma fábrica produtora deste composto.

6. O formaldeído não parece ser um dos compostos cujo uso tenha de ser erradicado, apenas necessita, tal como para outro qualquer tóxico que a sua dose não o torne num veneno, reservando as suas aplicações para o que é realmente necessário e nunca descuidando dos cuidados e deveres que a sua utilização implica de forma a assegurar sempre a saúde de quem o utiliza e de quem o produz.

7. A avaliação de um biomarcador do formaldeído através da análise de urinas de indivíduos expostos, não através de simulações de condições de exposição, mas após exposição no seu genuíno local de trabalho, estudo realizado, permitiu então dar um primeiro passo que demonstra que vale a pena apostar em mais estudos nesta área, que no futuro signifiquem o assegurar da saúde ocupacional de trabalhadores.