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4.1 O MERCADO DE BITCOINS

O Bitcoin tem atraído a atenção das pessoas mais como uma forma de investimento do que de fato para suprir necessidades de transações. Ao invés de ser utilizado como moeda, o Bitcoin tem sido alvo de especulações levando a altas valorizações em seu preço. Assim como outras moedas, o Bitcoin é negociado em mercados alternativos de câmbio, onde investidores negociam Bitcoin contra dólares americanos ou outras moedas nacionais como o Euro ou o Iene.

Alguns dos principais mercados alternativos de câmbio para se trocar Bitcoins são BitStamp1, BitX2, Coinsecure3 e BTCChina4 e assemelham-se às bolsas de valores e casas de câmbio, onde pessoas podem negociar a moeda virtual contra moedas nacionais. Desse modo, qualquer indivíduo pode realizar a conversão de determinadas moedas nacionais por Bitcoins.

Com o aparecimento das Bitcoins, tem havido uma tendência de utilização de criptomoedas digitais, que vêm sendo aceitas por cada vez mais pessoas e negócios em geral (MOIA e HENRIQUES, 2014).

O Bitcoin entra no mercado pela posse do indivíduo que a minerou, o qual 1 https://www.bitstamp.net 2 https://www.bitx.co 3 https://coinsecure.in 4 https://www.btcc.com

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tem a necessidade de vendê-la para suprir seus custos de mineração ou auferir lucros. Ele pode desse modo vender suas moedas virtuais diretamente para outro indivíduo ou utilizar do serviço de terceiros (tais como BitStamp ou BTCChina acima citados), para converter os seus Bitcoins em outras moedas nacionais.

De acordo com (SILVA, et al., 2011), o Bitcoin apresenta algumas particularidades, das quais se destacam: o seu valor monetário é livremente definido pelo mercado; baixa liquidez; bastante suscetível a ataques especulativos; não é emitida por nenhum governo; proporciona transações online de forma rápida, barata (com quase nenhum custo) e segura; permite transferências para qualquer lugar do mundo sem precisar confiar em um terceiro (por exemplo, banco central) para realizar a tarefa; o usuário custodia o seu próprio saldo, isto é, o usuário é depositante e depositário ao mesmo tempo; possui oferta limitada rígida em 21 milhões de unidades, a ser atingida gradualmente no futuro (NAKAMOTO, 2009).

A liquidez do mercado de Bitcoin está crescendo gradativamente. Segundo dados do BitCoinity.org5, operações envolvendo valores próximos a um milhão de dólares podem ser efetuadas instantaneamente sem ocasionar fortes alterações no preço das Bitcoins cotadas em dólar.

Apesar de pequena em comparação com moedas nacionais, a liquidez do mercado de Bitcoin já se mostra alta o suficiente para suprir a maioria das conversões do cotidiano dos indivíduos, fazendo com que a conversão entre a Bitcoin e moedas nacionais seja algo simples e rápido, dependendo do país em o indivíduo estiver localizado.

O mercado de Bitcoins ainda é incipiente no Brasil se comparado com outros países. Como no cenário atual minerar Bitcoins se tornou uma operação muito cara para o usuário comum, pois requer grande poder computacional, cada vez mais os usuários se utilizam sites de compra e venda de Bitcoins para adquirir a moeda. Mas no Brasil isso pode ser um risco para o usuário, pois embora as transações em Bitcoins sejam anônimas, pois cada pessoa só é identificada pelo seu endereço Bitcoin, a compra e venda de Bitcoins pode ser rastreada, pois para se

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cadastrar nos sites brasileiros de compra e venda um CPF ativo é necessário. O usuário não sabe de quem está comprando os Bitcoins ou para quem está vendendo, mas a empresa intermediária tem isso registrado. Além disso, como as transações são feitas via depósito ou transferência bancária, isso torna possível o rastreamento das operações realizadas.

Da mesma forma, ainda que a compra e venda de produtos e serviços com Bitcoins não seja tributada no Brasil, uma vez que a moeda não é regulada, a compra e venda de Bitcoins é. Para fins tributários, Bitcoins devem ser declarados como bens, pelo seu valor de aquisição, sempre que este for superior a 5 mil reais. Além disso, quando se obtiver lucro na venda do equivalente a mais de 35 mil reais em Bitcoins em um único mês, esse ganho de capital deve ser tributado em 15% até o último dia útil do mês seguinte à transação. Ou seja, para a Receita Federal, comprar e vender Bitcoins é considerado um investimento com possível ganho de capital a ser tributado.

Ainda não existem regras específicas de tributação desse tipo de operação, mas o não cumprimento dessas regras tributárias pode ser considerado crime de sonegação fiscal, que está sujeito às punições de multa e até prisão.

A falta de regulação também faz com que as transações feitas por meio de Bitcoins, mesmo com outros países, não possam ser punidas. Mas ao ficar à margem da Lei, o usuário do Bitcoin está assumindo um risco. A compra e venda de produtos e serviços em Bitcoins não tem o respaldo do Código de Defesa do Consumidor, nem do Código Civil, sendo baseada unicamente numa relação de confiança com alguém protegido pelo anonimato. Assim, se seus Bitcoins forem roubados, por exemplo, você não terá a quem recorrer.

Diz o Banco Central do Brasil em seu comunicado nº 25.306, de 19 de fevereiro de 20146: “ainda que possam ser adquiridos com o uso de reais (como ocorre com qualquer mercadoria na economia nacional), os instrumentos denominados de “moedas virtuais”, a exemplo dos Bitcoins, não são denominados

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Disponível em:

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em reais, adotando uma unidade de conta própria. De qualquer forma, no atual cenário normativo, não há legislação aplicável aos instrumentos conhecidos como moedas virtuais. Sendo assim, o eventual comprador dos Bitcoins está assumindo, por conta própria, o risco de adquirir algo sem respaldo regulamentar”.

Apesar da falta de regulação, alguns governos já começam a reconhecer o Bitcoin. Em agosto deste ano, por exemplo, o Departamento de Finanças da Alemanha autorizou o uso da moeda digital em transações financeiras privadas. Para usar o Bitcoin naquele país, as empresas devem agora solicitar permissão da Autoridade de Supervisão Financeira Federal, que não classifica a Bitcoin como uma moeda real, mas sim como uma unidade de conta (WILTGEN, 2013).

Em março de 2013, o Financial Crimes Enforcement Network (FinCEN), um órgão do governo americano que combate crimes financeiros, emitiu um relatório sobre moedas virtuais centralizadas e distribuídas e seu status legal. Moedas digitais e outras formas de pagamento, incluindo o Bitcoin, foram consideradas “moedas virtuais”, por não estarem sob a autoridade de nenhum governo específico. Desta forma, o FinCEN eximiu usuários americanos de Bitcoin de quaisquer obrigações legais referentes à moeda, por considerar que o Bitcoin não ser por ele regulado. No entanto, assim como no Brasil, o órgão determinou que quaisquer partes que emitam moedas virtuais devem obedecer à legislação específica caso vendam sua moeda virtual em troca da moeda nacional, buscando evitar a lavagem de dinheiro.

4.2 BITCOIN X PAYPAL

O sistema do Bitcoin pode parecer similar a outros serviços de transferências financeiras online existentes, como o PayPal ou o PagSeguro no Brasil, porém a mecânica por trás de seu funcionamento é totalmente diferente devido a sua natureza descentralizada.

sistema de pagamentos eletrônicos baseado em provas criptográficas em vez de confiança, que permitisse que duas partes interessadas em fazer transações diretamente façam-nas sem a necessidade de um intermediário confiável (NAKAMOTO, 2008), diferente do que ocorre com o PayPal ou, no Brasil, com o PagSeguro.

O PayPal, não é uma moeda autônoma, o serviço prestado por eles fornece uma forma rápida de efetuar compras ou receber pagamentos pela internet em determinadas moedas nacionais de fato, mas todo o seu sistema é desenvolvido para funcionar como um acquiring bank, ou seja, funcionam como uma instituição financeira que processa pagamentos entre vendedores e compradores, o que de fato se mostrou um avanço em relação às transações via internet por oferecer um método mais rápido e prático que a utilização de cheques e boletos bancários. Porém, o sistema de transações é realizado de forma centralizada, ou seja, o PayPal é o responsável pela intermediação e execução dos pagamentos entre os negociadores. Assim toda a mecânica de funcionamento do sistema recai na necessidade de confiança de que o PayPal irá realizar a transação e não incorrerá em problemas de solvência que podem inviabilizar o negócio (Paypal Safety and Security, 2016).

Ao contrário, o Bitcoin atua de forma descentralizada, pois seus usuários estão distribuídos ao redor do mundo contribuindo para a execução das transações, tudo isso funcionando através de mecanismos computacionais e criptografia, evitando assim a necessidade de depender da confiança em um único terceiro para a realização da transação. Mesmo assim outros fatores acabam afetando e levando a períodos de alta volatilidade em seu valor, por se tratar de uma moeda virtual e não somente um serviço de intermediação.

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