• Nenhum resultado encontrado

RISCOS DE SEGURANÇA E AO MERCADO

5.1 PRINCIPAIS FALHAS OCORRIDAS

Desde 2009 quando surgiu, a Bitcoin passou por vários problemas decorrentes de falhas no software ou por problemas de segurança. (SHUBBER, 2014)

Em agosto de 2010, foi descoberto que o bloco 74638 continha uma transação que criava mais de 184 bilhões de Bitcoins para dois diferentes endereços. Isso ocorreu por causa de um possível overflow não previsto e, portanto, não tratado. Uma nova versão foi publicada corrigindo o problema em algumas horas após a descoberta. A block chain teve de ser bifurcada, não sem que algumas transações tenham sido perdidas e consideradas inválidas. A transação incorreta não pertence mais à cadeia mais longa que, portanto, é a atualmente usada na block

chain (Bitcoin, 2010).

Em junho de 2011, uma falha de segurança no mercado líder de trocas de Bitcoins - chegou a ter 80% do mercado - Mt. Gox fez com que o valor nominal da Bitcoin nesse site de trocas caísse para apenas um centavo de dólar de forma fraudulenta, depois que um hacker supostamente usou as credenciais de um auditor do site para ilegalmente transferir uma grande quantia de Bitcoins para si mesmo. Em minutos o valor foi corrigido para o valor normal de negociação, mas contas com o equivalente em quase 9 milhões de dólares foram afetadas (MT. GOX, 2011; JASON, 2011).

Em outubro de 2011, cerca de duas dúzias de transações apareceram na

block chain enviando cerca de 2.609 Bitcoins para endereços inválidos. Como não

havia chaves privadas que pudessem ser geradas ou associadas a esses endereços, essas Bitcoins ficaram perdidas para sempre. O cliente Bitcoin padrão é capaz de verificar esse erro e rejeitar essas transações inválidas, mas os nós na rede não, expondo uma falha no protocolo (BITCOIN TALK FORUM, 2011).

Em março de 2013, a versão 0.8 do Bitcoin Core foi lançada e se mostrou incompatível com as versões anteriores. A versão 0.8 permitia que blocos de um tamanho maior que o que a versão 0.7 podia tratar. Com metade da rede atualizada e a outra metade ainda na versão anterior o risco era de duas block chains surgirem e assim dois livros-razão Bitcoin passarem a coexistir. Mais uma vez a comunidade de desenvolvedores alertou e a rede foi forçada para retroagir para a versão 0.7 enquanto o problema era resolvido. O desastre foi evitado por pouco. (SHUBBER, 2014; LEE, 2013)

Em fevereiro de 2014, um documento informando sobre uma estratégia de solução de crise envolvendo novamente o site de trocas de Bitcoins Mt, Gox foi vazado na Internet em um blog conhecido no meio das moedas virtuais, o Two-Bit

Idiot. O documento informava que o site estava praticamente falido, tendo perdido

744.408 Bitcoins ou US$ 350 milhões na época. O documento sugeria que o site vinha sofrendo ataques de maleabilidade de transação por vários anos, em que alguém consegue trocar a identificação única das transações antes delas serem confirmadas na rede Bitcoin. Essa mudança torna possível que alguém finja que a transação não ocorreu. Esse erro foi corrigido na versão 0.8 do Bitcoin Core, mas não impediu o prejuízo dos usuários, pois a entidade de regulação financeira do Japão, onde a empresa funcionava não interviu no assunto pois não era de sua responsabilidade tratar de moedas digitais e o diretor da empresa acabou preso. O caso ainda está na justiça japonesa (RIZZO, 2014; BRADBURY, 2014; COINDESK, 2016).

39

5.2 EVASÃO FISCAL

É notória a preocupação dos governos de diversos países com o uso das moedas virtuais para fugir de impostos e fiscalização.

O Banco Central do Brasil em (Banco Central do Brasil, 2014) indica que “... esses instrumentos virtuais [as criptomoedas] podem ser utilizados em atividades ilícitas, o que pode dar ensejo a investigações conduzidas pelas autoridades públicas. Dessa forma, o usuário desses ativos virtuais, ainda que realize transações de boa-fé, pode se ver envolvido nas referidas investigações”.

O professor de direito da Universidade da Flórida, EUA, Omri Marian, especialista em legislação tributária, defende que o Bitcoin e outras criptomoedas, poderiam se tornar um “super paraíso fiscal” para sonegadores (CARALUZZO, 2014). Segundo ele, a inabilidade do governo em monitorar as transações realizadas com Bitcoins e outras criptomoedas podem significar que cada vez mais pessoas fujam do sistema tributário por esse caminho. Entretanto, assim como a Suíça mudou suas leis e tornou mais transparente o seu sistema financeiro, fazendo com que um grande movimento de transferência ocorresse para outros paraísos fiscais, na América Central e Caribe, o mesmo pode ocorrer com o Imposto de Renda americano (IRS), que pode mudar suas regras. Hoje o IRS considera os Bitcoins da mesma forma que a Receita Federal Brasileira, ou seja, Bitcoins devem ser declarados como bens, pelo seu valor de aquisição.

Como ainda é um mercado muito novo e os governos nacionais têm se mostrado muitas vezes lentos em regulamentar as criptomoedas, vai depender muito da evolução desse mercado e da quantificação dessa evasão de impostos para que ocorram mudanças nessas normas, o que representa um risco considerável aos usuários de criptomoedas a médio ou longo prazo.

6 CONCLUSÃO

As criptomoedas são moedas virtuais, softwares de código fonte aberto que usam o sistema de rede peer-to-peer (ponto a ponto) e a Internet, fazendo intenso uso de criptografia e processamento distribuído para garantir sua segurança e funcionamento.

O surgimento da primeira criptomoeda, o Bitcoin se deu devido à necessidade de um sistema de pagamentos eletrônicos baseado em provas criptográficas em vez de confiança, que permitisse que duas partes interessadas em fazer transações diretamente pudessem fazê-las sem a necessidade de um intermediário confiável, de forma independente inclusive de sistemas bancários e dos bancos centrais nacionais, sem qualquer outro tipo de autoridade central.

Segundo (WEBER, 1995), “caracterizar um sistema inseguro é fácil, porém não existe uma metodologia capaz de provar que um sistema é seguro. O sistema será considerado seguro se não foi possível, até o momento atual, determinar uma maneira de torná-lo inseguro”. Dessa forma, a Bitcoin precisa ser bem administrada, ter um ambiente seguro e ser protegida de vários riscos. Uma maior confiabilidade nas moedas criptográficas poderia ser obtida por meio de uma análise mais detalhada nos protocolos de segurança das moedas e dos clientes, eliminando-se as vulnerabilidades e conquistando a maior confiança das pessoas.

Embora a Bitcoin seja vista como uma das mais bem desenvolvidas moedas virtuais, principalmente quando são analisadas as questões operacionais, como em toda ferramenta nova, vários problemas sérios ocorreram, arranhando sua credibilidade. Ainda assim a Bitcoin sobreviveu a esses eventos e vem crescendo no mercado. Desse modo, como fenômeno tão novo e tão tecnológico, ainda é desconhecida a proporção que a experiência da Bitcoin e das criptomoedas pode tomar, uma vez que seus períodos de adesão massiva ocorreram em períodos curtos de tempo e há grande resistência no meio à regulação estatal.

41

ainda não ocorreu, portanto ainda é uma incógnita o que poderá acontecer com o sistema bancário quando este conhecimento se disseminar mais e caso as pessoas optem pelo custo reduzido das transações descentralizadas, dispensando o sistema bancário.

De qualquer modo, a adoção da Bitcoin tem mostrado dois lados: por não ser regulamentada e não usar qualquer meio oficial, pode facilitar a vida de pessoas, especialmente onde as liberdades individuais estão tolhidas, mas esta mesma falta de regulamentação também estimula o seu uso para fins escusos e ilegais, tais como contrabando, venda de drogas e lavagem de dinheiro.

A ação e adaptação dos governos têm sido lentas tanto para reconhecer como para regulamentar o uso das criptomoedas, embora muitos estudos a respeito estejam em andamento. A medida que o volume de transações aumenta, fazendo também aumentar de forma considerável a evasão fiscal, a probabilidade de uma taxação governamental efetiva das operações envolvendo Bitcoin e outras criptomoedas será maior, podendo prejudicar consideravelmente sua rentabilidade e negociação, mas isso pode trazer maior segurança e melhor fiscalização.

Desse modo, por enquanto, o que tem prevalecido no mercado é o grande uso especulativo das moedas virtuais, muito mais do que seu uso propriamente dito como meio de pagamento em transações cotidianas. Será necessário aguardar os próximos anos para verificar se seu uso efetivamente se popularizará, terá maior importância econômica, com maior interesse público e melhorias técnicas, de modo a minimizar os atuais riscos inerentes à sua operação e a se ter uma melhor garantia de seu funcionamento.

Documentos relacionados