• Nenhum resultado encontrado

As exportações brasileiras apresentaram excepcional dinamismo nos primeiros anos do século vigente. Após uma década de expansão modesta, as vendas externas voltaram a expandir acima de sua média histórica e em ritmo superior ao crescimento das exportações mundiais. O vigor exportador neste período, além de atingir números recordes para a economia brasileira, foi mais do que suficiente para reverter os déficits comerciais e em transações correntes, tão latentes nos anos de 1990.

A tendência de desequilíbrios em conta corrente e baixo dinamismo das exportações começa a mudar em 1999. As exportações nos primeiros anos do século XXI cresceram significativamente e valores recordes auferidos. Em contraste com a década de 1990, o dinamismo exportador observado no período compreendido, mais especificamente, entre os anos de 2002-2006 foi mais do que suficiente para reverter os significativos déficits na balança comercial e na conta corrente do balanço de pagamentos.

As exportações brasileiras, a partir de então, alcançaram valores elevados tanto em relação à magnitude quanto aos indicadores convencionais de comércio. Em 1998 o valor exportado que havia registrado US$ 51 bilhões, em 2005 já se encontrava em US$ 118,3 bilhões, correspondendo a um incremento superior a 100% em 6 anos45.

O valor exportado, após registrar decréscimo de 6,1% no ano de 1999, seguiu crescendo a taxas positivas, inclusive maiores que as taxas das décadas de 1980 e 1990. No período compreendido pelos anos de 1999 a 2005, as exportações brasileiras cresceram a um ritmo médio de 13% ao ano, superior aos 4% registrados durante o decênio de 1990 e maior em três pontos percentuais relativamente à década de 1980 – anos de enorme esforço exportador.

As exportações brasileiras no período em foco elevaram-se em ritmo superior às mundiais. Enquanto as primeiras apresentaram aproximadamente um crescimento médio de 17% no período 2000-2005, as últimas contabilizaram 11%.

A despeito das magnitudes verificadas em relação às exportações brasileiras, ao analisar alguns indicadores convencionais de comércio também é possível

45 Estes dados referentes às décadas anteriores foram retirados do Banco Central do Brasil, na base

perceber o dinamismo exportador do período. Em 2003 o coeficiente exportado – medido pelas exportações em relação ao PIB, ambos em dólares – bateu seu recorde histórico. Como pode ser visto na tabela 3.1, as exportações atingiram 14,4% do PIB, sendo que o resultado mais próximo desse remete ao ano de 1984 (14,2%)46. Novamente, em 2004, este recorde foi alcançado, sendo que as

exportações passaram a representar 16% do PIB brasileiro.

A participação das exportações brasileiras no total mundial, em 2004, passou a superar 1% novamente, após dez anos situando-se abaixo desta marca. Em 2005 este indicador registrou 1,17%, apontando um ganho de participação das exportações brasileiras no share do comércio mundial (Tabela 3.1).

Em relação à corrente de comércio em proporção ao PIB47, também se verificou um crescimento bastante positivo. Este indicador de comércio que se situava em 13,8% do PIB em 1998 saltou para 24,1% em 2005, mais pelo aumento das exportações do que das importações.

Tabela 3.1 - Exportações e indicadores de comércio, de 1998 a 2005 (em bilhões de US$)

Ano Exportações (US$) Coeficiente exportado (%) Participação nas exportações mundiais (%) Crescimento das exportações brasileiras (%) Crescimento das exportações mundiais (%) 1998 51,1 6,5 0,95 -3,6 -2,4 1999 48 8,9 0,86 -6,1 3,7 2000 55,1 9,1 0,88 14,7 12,8 2001 58,2 11,4 0,97 5,7 -4,2 2002 60,4 13,1 0,96 3,7 4,6 2003 73,1 14,4 0,99 21,1 16,8 2004 96,5 16 1,08 32 21,4 2005 118,3 14,9 1,17 22,6 13,6

Fonte: Banco Central do Brasil e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Elaboração própria.

Analisar as exportações dentro da balança comercial também é útil para mostrar o dinamismo exportador recente. Pela tabela 3.2, visualiza-se que a mudança de patamar do valor das exportações foi a principal responsável pela

46 Ano de enorme esforço exportador. Os dados do coeficiente exportado são do Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).

reversão dos déficits comerciais da década de 1990. Se em um primeiro momento, as importações se reduziram contribuindo para o saldo comercial, após 2003, mesmo com o crescimento substancial das importações, o aumento das exportações foi mais do que suficiente para assegurar superávits na conta de comércio.

Mesmo em um contexto de crescimento das importações, a elevação das exportações assegurou a obtenção de expressivos superávits comerciais durante o período analisado. O déficit comercial que se situava em 0,84% do PIB, em 1998, se reverteu em sucessivos superávits após 2000. Em 2003 o saldo comercial já registrava quase 5% do PIB, sendo que nos dois anos posteriores resultados ainda mais positivos foram observados. Valores elevados da monta destes, nos últimos cinqüenta anos, foram observados em 1984 (6,9%), 1985 (5,91%) e 1988 (6,28%). Vale dizer que os resultados nestes três anos foram conseguidos não só por conta de um elevado esforço exportador como também por uma queda acentuada das importações na década de 198048 que se efetivou em substanciais superávits comerciais. A peculiaridade dos primeiros anos do século XXI é que os valores deste indicador foram alcançados mesmo em contexto de aumento das importações nos anos de 2003, 2004 e 2005.

Tabela 3.2 - Balança comercial e corrente de comércio, 1998 a 2005

Ano Exportações Importações comercial Saldo comercial/PIB Saldo Corrente de comércio 1998 51,1 57,7 -6,6 -0,84% 13,8 1999 48 49,2 -1,2 -0,23% 18,1 2000 55,1 55,8 -0,7 -0,12% 18,4 2001 58,2 55,6 2,6 0,52% 22,3 2002 60,4 47,2 13,2 2,86% 23,4 2003 73,1 48,3 24,8 4,89% 24 2004 96,5 62,8 33,7 5,58% 26,4 2005 118,3 73,6 44,7 5,62% 24,1 Fonte: Banco Central do Brasil e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Nota-se que houve um notável crescimento das exportações no período analisado. Além deste vigor exportador - que impressiona quando se atenta para os números e para os indicadores convencionais de comércio – ter restaurado os superávits comerciais após quase dez anos de déficits, houve uma espécie de ajustamento externo na economia brasileira. Este ajuste pode ser percebido pela

48 Os dados dos últimos cinqüenta anos foram retirados diretamente do site do MDIC

reversão dos déficits externos - entendido com o saldo em transações correntes - tão característicos da década de 1990. O último superávit em conta corrente, até então, datava de 1992.

Fica evidente o ajustamento externo puxado pelas exportações através do gráfico 3.1. Considerando que as transferências unilaterais foram desprezíveis e constantes ao longo do tempo, que a conta de serviços e rendas, apesar de ter oscilado um pouco, permaneceu relativamente estável em determinado patamar após 1999, e por último, o aumento das importações nos últimos três anos da série, percebe-se claramente a contribuição das exportações para a reversão do saldo em transações correntes, que passa a ser superavitário a partir de 2003, coincidindo com o período de maior aceleração do crescimento das exportações.

Gráfico 3.1 – Transações correntes, 1994 a 2005 (US$ bilhões)

-100000 -50000 0 50000 100000 150000 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 exportações importações serviços e rendas trans. Unilaterais conta corrente

Fonte: Banco Central do Brasil.

Observando os números e tendências das exportações brasileiras descritos acima, inferem-se mudanças significativas na dinâmica exportadora após o ano de 1999, ainda mais quando se compara esta fase recente das exportações com a década de 1990, período marcado por estagnação das exportações e fortes desequilíbrios comerciais. Pelos dados apresentados, tanto em relação à magnitude exportada quanto aos principais indicadores de comércio relacionados à exportação, a partir de 2002 consubstancia-se um boom exportador na economia brasileira.

O valor exportador atingiu patamares recordes e os coeficientes apresentados, quando não foram superiores aos registrados nos anos pretéritos se recuperaram a partir de então. O ritmo de crescimento das exportações brasileiras foi superior ao mundial. A participação das exportações no PIB ultrapassou seus valores históricos, pelo menos nos últimos cinqüenta anos, cujos dados das contas nacionais são mais fidedignos. O share brasileiro no comércio mundial voltou a ultrapassar a marca do 1% e a corrente de comércio atingiu valores bastante elevados. (completar este item com os determinantes do crescimento das exportações e uma análise da evolução dos preços).