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Borer (2013a, 2013b, 2014): estruturando o significado

CAPÍTULO 5. A derivação do significado: mapeando o domínio da interpretação

5.3 O estado da arte: propostas para derivar o significado

5.3.3 Borer (2013a, 2013b, 2014): estruturando o significado

Borer (2013a, 2013b, 2014) compartilha com as propostas anteriormente apresentadas a intuição de que o sentido, ou Conteúdo, como a autora prefere chamar, deve ser calculado localmente e, dessa maneira, precisa ser definido através de domínios sintáticos bem delimitados. No entanto, diferentemente das propostas de Marantz (2001, 2007, 2013) e de Arad (2003), o domínio que licencia a interpretação não-composicional no sistema desenvolvido em Borer (2013a, 2013b, 2014) não é definido pelos formadores derivacionais

y 3 x y 2

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que são, de maneira geral, exatamente os elementos que ocupam posições de categorização no modelo da Morfologia Distribuída, por exemplo. Na verdade, a barreira para a interpretação não composicional no sistema desenvolvido pela autora é o segmento mais baixo de uma projeção estendida5. A proposta da autora se desenvolve dentro do modelo Exoesqueletal

(XS), que se caracteriza pela ideia central de que todas as propriedades gramaticais são computadas com base na estrutura sintática (cf. BORER 2003, 2005a, 2005b, 2013). Esse modelo compartilha com a MD a rejeição da ideia de um léxico gerativo capaz de formar estruturas e, nesse sentido, também no modelo XS, o sistema computacional, ou seja, a sintaxe propriamente dita, é responsável pela formação de palavras, sintagmas ou mesmo de sentenças.

É interessante lembrar que o modelo XS traz como primitivos da derivação sintática raízes e functores. As raízes são objetos desprovidos de quaisquer propriedades formais, enquanto os functores, por sua vez, nomeiam funções sintáticas ou semânticas que se mantêm constantes a cada uma de suas instanciações.

Mais especificamente, os functores se dividem em duas diferentes categorias: os functoresCategoriais (C-functors) e o os functores Semânticos (S-functors). Os primeiros dividem o espaço categorial, no sentido de que eles projetam um nó lexical, ao mesmo tempo que definem a categoria de seu complemento. De maneira concreta, o sufixo -ation do inglês, por exemplo, é um formador de nomes que toma como base uma forma verbal. Nesse sentido, dentro do sistema XS, -ation é, na verdade, um C-functor que projeta um nome e que define o seu próprio complemento como algo equivalente a um verbo.

Os chamados S-functors, por sua vez, estão envolvidos no processo de valoração dos nós funcionais, que estão tipicamente ligados às projeções funcionais. Nesse sentido, D, por exemplo, é um nó semanticamente valorado (pelo S-functor THE do inglês) na projeção estendida dos nomes, enquanto T é um nó semanticamente valorado (pelo S-functor PASSADO, por exemplo) na projeção estendida do verbo. Os segmentos da projeção estendida definem, coletivamente, a categoria de seu complemento. Assim, um elemento no domínio de c-comando de um nó D é categorialmente equivalente a um nome, no mesmo sentido em que um elemento no domínio de c-comando de um núcleo T é categorialmente equivalente a um verbo.

5 A projeção estendida (cf. GRIMSHAW, 1991) é uma unidade que consiste de um núcleo lexical e de toda projeção funcional erguida sobre essa projeção lexical.

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No modelo XS, o componente responsável pela atribuição de significado é chamado de Enciclopédia. Mais especificamente, a Enciclopédia faz buscas nas representações sintáticas e o conteúdo não-composicional emerge como resultado de uma única busca enciclopédica que engloba mais de um nó sintático, mas não atribui a cada um deles significado independente. A implementação do sistema conta com dois pontos centrais identificados abaixo:

(i) A atribuição de conteúdo é opcional, o que significa ser possível que uma busca enciclopédica não retorne significado algum, sem que isso comprometa a derivação;

(ii) Segmentos de projeção estendida são barreiras para as buscas enciclopédicas e, nesse sentido, quando eles entram na derivação, as sequências que não receberam conteúdo algum não poderão ser recuperadas.

Para visualizar a articulação do sistema de atribuição de significado desenvolvido em Borer (2013a, 2013b, 2014), vamos ilustrar o funcionamento da proposta através da discussão dos dados do inglês abaixo sistematizados:

(15) Buscas enciclopédicas e atribuição de conteúdo no modelo Exoesqueletal

Tabela 18 – buscas enciclopédicas no modelo Exoesqueletal

(Adaptado de Borer, 2014, p. 86)

Utilizando os termos do modelo XS, podemos dizer que o formativo -(s)y é um C- functor que projeta um adjetivo e que define o seu complemento como um nome. Assim sendo, as bases na primeira coluna, apesar de coincidirem com as raízes correspondentes, são equivalentes a nomes, quando se encontram no domínio do C-functor em questão.

Nessa linha de raciocínio, em (15a) a busca enciclopédica que tem como alvo a forma de base não retorna conteúdo algum, uma vez que as formações sturd e flim não podem ser pareadas com qualquer conteúdo listado no inglês. Por outro lado, as formas correspondentes

Base Conteúdo Forma

Derivada Conteúdo

a. sturd, flim Sem conteúdo listado sturdy, flimsy STURDY, FLIMSY b. bulge, boss BULGE, BOSS bulgy, bossy Sem conteúdo listado c. blood, flake BLOOD, FLAKE bloody, flakey BLOODY, FLAKEY

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derivadas, ou seja, as formações sturdy ‘resistente’ e flimsy ‘inconsistente’, quando alvo de uma busca enciclopédica, são pareadas com sucesso com um conteúdo enciclopédico listado. É importante ressaltar que a interpretação resultante dessa busca enciclopédica não pode ser composicional, uma vez que, como vimos há pouco, a base não retorna conteúdo independente. A emergência da interpretação não-composicional é explicada pelo fato de que o significado é computado com base em uma busca enciclopédica que retorna significado para o todo da forma derivada e não para as partes que as constituem.

Um exemplo oposto a esse pode ser encontrado em (15b). Nesse caso, a busca enciclopédica que tem como alvo a forma de base bulge ‘protuberância’ ou boss ‘chefe’ pode ser pareada com conteúdo enciclopédico, enquanto as formas derivadas correspondentes não podem fazê-lo. Crucialmente, o fato de as formas derivadas não possuírem conteúdo não impede a derivação sintática de prosseguir. Como resultado da atribuição de significado ocorrida na busca enciclopédica que tem como alvo a base, qualquer conteúdo que vier a emergir da forma derivada deverá ser obrigatoriamente composto pelo conteúdo listado da base somado à contribuição do sufixo qualquer que ela seja.

Por fim, os casos em (15c) são mais complexos, uma vez que a base - categorialmente equivalente a um nome quando no domínio de formativo -(s)y - e a forma derivada correspondente podem ser ambas pareadas com conteúdo enciclopédico listado. Conforme enfatizado pela autora, as formas derivadas são ambíguas entre o sentido composicional e o sentido não-composicional. Dessa maneira, a formação derivada bloody pode ser composicionalmente interpretada como ‘sangrento’ ou pode ser pareada com a significação de ‘maldito, infame’, em sua interpretação não-composicional. Da mesma forma, flakey pode ser interpretado composicionalmente – significando em flocos’ – ou não-composicionalmente – significando ‘impertinente, petulante’.

A interpretação composicional é derivada da seguinte maneira: a busca enciclopédica que tem a base como alvo é pareada com conteúdo listado e, consequentemente, esse sentido é carregado ao longo de toda a derivação. No que diz respeito ao sentido não-composicional, uma vez que o conteúdo é opcional, é possível que nenhum conteúdo seja atribuído às bases propriamente ditas, mas sim à forma derivada como um todo na próxima busca enciclopédica. Em linhas gerais, no sistema proposto pela autora, a atribuição de significado é dependente da estrutura sintática e se dá através de um mecanismo de busca enciclopédica, cujo alvo são domínios sintáticos localmente definidos. A atribuição de conteúdo é opcional;

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no entanto, uma vez atribuído, o significado deve ser carregado ao longo da derivação. Por fim, estruturas que não são pareadas com conteúdo não poderão ser resgatas, uma vez que nós funcionais de projeções estendidas entrarem na computação sintática.

5.4 Os dados não-composicionais de diminutivo e aumentativo do PB: uma perspectiva

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