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Brasília: o Plano Piloto de Lucio Costa

BRASÍLIA

3.1. Brasília: o Plano Piloto de Lucio Costa

O reconhecimento do sitio em que deveria pousar a capital da República juntamente com o edital já apontam p on tos basilares d o Plano Piloto pr op o s to p or Lucio Cos ta. Ademais, o es tudo teó rico do projeto urbanístico busca aprofundar a análise de elementos contidos no pró prio memorial descritivo de L. Cos ta, no seu Preâmbulo, bem como na leitura do projeto gráfico em si.

Antes de qualquer coisa, vale mencionar a chamejante observação levantada po r Carpintero , em sua Tese de Dou t o r ad o pela USP, quanto ao méto d o de tr abalho e à p ostur a d o urbanista que “recusa uma racionalidade car tesiana”1 8 1, e reconhece avanços na teo rias urbanísticas. Cos ta se pro p õe,

ainda no Preâmbulo1 8 2 d o seu relató rio d o Plano, a comparecer “como

simples maquisard d o urbanismo”.

Na interpretação desenvolvida em nota po r Carpintero1 8 3, maquisard

seria, ao se integrar o uso da palavra de o rigem francesa com seu uso na linguagem cor rente do Brasil, um termo sob o qual se au to definiria Costa como um “guerrilheiro do urbanismo, um combaten te independente”. Não se po de olvidar esta pos tu ra do au to r ao analisar-se sua obra.

Dessa forma, tem- se que exploro u as “possibilidades paisagísticas do lugar”, e lançou seu projeto a par tir da o cupação , ou seja, da forma de implantação da cidade. Define, Cos ta:

“[ . . . ] t r a t a - s e d e u m a t o d e l i b e r a d o de po s s e , d e u m ge s t o a i n d a de s b r a v a do r ,

180 CARPINTERO, Antonio Carlos Cabral. Uma outra brasilia. Revista ENT.BAU.DENK, Das Reisen und Die Architektur – Brasil,

Kassel: Universidade de Kassel, Nr 4, novembro 2003, p. 43-49.

181 CARPINTERO. CARPINTERO, Antonio Carlos Cabral e REIS FILHO, Nestor Goulart. Brasília: prática e teoria urbanística no Brasil,

1956-1998. Tese de Doutorado, FAU – USP. São Paulo, 1998, p. 113.

182 ’Compareço, não como técnico, mas como simples maquisard do urbanismo, que não pretende prosseguir no desenvolvimento da idéia

apresentada senão eventualmente, na qualidade de mero consultor. E se procedo assim, candidamente e porque me amparo num raciocínio igualmente simplório: se a sugestão é válida, estes dados, conquanto sumários na sua aparência, já serão suficientes, pois revelarão que apesar da espontaneidade original, ela foi intensamente pensada e resolvida [...]” (COSTA. Relatório. Preâmbulo)

n o s m o l d es d a t r a d i ç ã o col o n i a l . ”1 8 4

Retomando os ensinamento de Reis Filho, explica Carpintero quanto à implementação , fica clara a intenção d o grande urbanista de tirar da to p o g r afia o desenho da cidade:

“ E s s e v í n c u l o co m o s í t i o p od e s e r p e r c eb i d o n i t i d a m e n t e e m u m do s e s boços d e Lu c i o C o s t a o n d e po de - s e n o t a r a i n c l i n a ç ã o d a l i n h a co r r e s p o n d e n t e a o e i x o m o n u m e n t a l n a d i r e ç ã o d o e s p i gã o , d i s t i n t a d a q u e l a s u ge r i d a p e l a s m a r g e n s do l a go .

O ge s t o p r i m á r i o foi a l e i t u r a d a t o po gr a f i a , com o q u e Lu c i o C os t a fez m a n i f e s t a r - s e o e s p í r i t o d o l u g a r . ”

O triângulo onde foi implantada a cidade está contido entre os braços do futur o lago, tem a altura definida no divisor de águas d os d ois cór reg os e a base pela linha no sentido nor te- sul da represa d o rio Paranoá, passando aproximadamente sobre o p on to mais alto . O espigão desce em uma reta perpendicularmente às curvas de nível, na direção d o lago. Contud o , devido ao “promon tó rio1 8 5” é a linha de menor declive. De to d a a empena leste da

calota convexa é p ossível visualizá-lo: to da a formação d o sítio lhe confere uma serena monumentalidade.

No projeto , analisa Carpintero , Cos ta “prop ôs ainda, uma inversão po uco usual, coloco u o foco monumental de sua comp osição – a Praça dos Três P oderes – no ponto mais baixo d o espigão sobrelevada em ater r o; no cume lançou uma to r r e. O monumental é o sítio, o horizonte po r tr ás da Praça”1 8 6. Dessa forma, “acentuo u o relevo existente sem alterar a paisagem,

apenar”[sic].

Costa descreve a pr óp ria intenção nos primeiros itens do memorial descritivo:

“1.N a s c e u do ge s t o p r i m á r i o de q u e m a s s i n a l a u m l u g a r ou d e l e t o m a p os s e: do i s e i x os c r u z a n d o - s e e m â n g u l o r e t o , ou s ej a , o p r ó p r i o s i n a l d a c r u z ;

2.p r o c u r o u - s e de p o i s a a d a p t a ç ã o à t o p o gr a f i a l oc a l , a o e s co a m e n t o n a t u r a l d a s

184 COSTA, Lucio.Op.Cit., p. 118. 185 CARPINTERO. Op. Cit., p. 113.

186 CARPINTERO, ANTONIO CARLO CABRAL e REIS FILHO, NESTOR GOULART, Brasília: Prática e Teoria Urbanística no

á g u a s , à m e l h o r o r i e n t a ç ã o , a r q u e a n d o - s e u m d os e i x os a f i m d e co n t ê - l o n o t r i â n g u l o q u e d ef i n e a á r e a u r b a n i z a d a”1 8 7.

A apro priação do ter reno define a pro p os ta feita para a cidade, como enfatiza Carpintero , ao resumir que “a cidade nasceu pron ta, do terr en o, através da sensibilidade de Lúcio Cos ta que apenas lhe conferiu os valores simbólicos de nossa sociedade e nossa cultura”1 8 8.

Costa pro p ôs a cidade em to rn o de dois eixos perpendiculares, em uma cruz com os braços arqueados , no local que hoje é a Rod oviária urbana, ponto de encon tr o e passagem da população de to da a cidade. O primeiro Eixo Monumental foi lançado sobre o espigão , e o Eixo Rod oviário ( Eixão), ao longo das curvas de nível, de modo que “a meia encos ta, a cidade, contemplando a paisagem e o lago”, “na melhor técnica r od oviária”. O eixo de rolamento se desenvolve em curvas de nível próximas uma das ou tr as , na encosta da calota convexa.

Marcada a escala monumental principalmente nos elementos locad os ao longo do Eixo Monumental, o Eixo Rod oviário tem configuração diferenciada. Trata- se de uma r od ovia (federal) que galga ao centr o da cidade diretamente, na plataforma ro d oviária, como descrito aber tamente nos itens quatr o e cinco d o memorial descritivo. Esse complexo sistema de cruzamento de níveis p ode ser compreendido como barr oco1 8 9.

Ao longo de sua extensão, o Eixo Rod oviário é ladeado de “fileiras” de habitações verticais “organizadas em esquemas evoluídos de cidade- jardim”: as superquadras1 9 0. Assim, a cidade aflora como um padrão de

assentamento urbano largamente u tilizado no interior do Brasil, desde os primórdios da nossa nação: a cidade-de-beira-de- estrada"1 9 1.

187 COSTA. Op.cit., p. 119. 188 CARPINTERO. Op. Cit., p. 123. 189 CARPINTERO. Op. Cit. P. 124.

190 Não estamos tratando aqui do eixo da W3, cuja ocupação majoritária se deu por lojas de um lado e residências unifamiliares e edifícios

de até três pavimentos do outro.