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Em fins da década de 1930, pesquisas de opinião realizadas nos EUA mostravam que grande parte do publico estadunidense não concordava com um apoio mais incisivo de seu país ao Brasil. A pergunta era se os Estados Unidos deveriam ajudar o Brasil em caso de ameaça de uma potência inimiga. Em 1939, menos de 30% dos entrevistados declararam apoio a tal proposição e, em 1940, com a guerra já em andamento, apesar de uma leve mudança de opinião,

os simpatizantes dessa ajuda ainda somavam menos de 40%.39

Essas pesquisas serviram para demonstrar, mais que a insegurança dos estadunidenses às novas metas governamentais, um desconhecimento em relação àquela nação ao sul de seu país. Para que a Política da Boa Vizinhança de Roosevelt rendesse frutos, seria então necessário um processo de construção de um imaginário positivo, em seu próprio território, dos países dos

quais se queria conquistar para suplantar a imagem negativa – construída, em

muitos casos, pelo cinema. Convém ressaltar que a política da boa-vizinhança deveria, ao menos em tese, compreender um intercâmbio entre as nações, e, por isso, as idéias de amizade, cooperação e complementaridade entre as nações deveriam reinar em ambos os lados, ainda que, do lado estadunidense

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Essa era a explicação dada pelo comando do exército estadunidense durante as negociações para obter a autorização do governo brasileiro para tal. No entanto, como ficou evidente pouco tempo depois, a autonomia dos aviões da época não permitiam o vôo de ida e volta da travessia do atlântico sem reabastecimento, o que era ainda mais agravado pela necessidade de carregamento de armamentos e suprimentos. Nesse sentido, muitos historiadores questionam se tal informação já não era do conhecimento dos estrategistas estadunidenses, que buscavam nesse estacionamento de tropas outros interesses para além daquele divulgado. Cabe notar que a assinatura da cessão de bases aos Estados Unidos não estabelecia um prazo para término do acordo e subseqüente retirada das tropas bem como dava total autonomia para operação daquele exército nessas localidades, tornando-se mesmo uma extensão do território estadunidense em terras brasileiras.

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O OCIAA buscava desfazer as imagens presentes nos Estados Unidos de um Brasil pouco desenvolvido e de natureza selvagem. Contudo, essa idéia ainda se fazia presente mesmo na imaginação daqueles que deveriam construir uma nova vizi-dizibilidade do país vizinho. Tal fato fica explícito, como se verá a seguir, nos filmes que eram produzidos para a Boa Vizinhança, nos quais, quando se trata de Brasil, a natureza é o cenário de destaque.

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37 estivesse enraizada uma idéia de superioridade, o que pode ser percebido na leitura das produções do período. Veja-se esse artigo de Waldo Frank, especialista em assuntos latino-americanos, tendo publicado vários trabalhos elogiosos ao povo e cultura das “outras” Américas e que era defensor da união continental.

(...)

[Entre os intelectuais estadunidenses], a maioria não sabe sobre a América Latina. O povo não pode formar um juízo exato porque não sabe bastante para isso. Tem a intuição. O mais seria tudo novo para ele.

E confessa:

- Há vinte anos, acreditava-se que a América Latina apenas se compunha de povos onde havia revoluções. Aparecia nos jornais só quando havia guerras internas.

E revelando intenso jubilo:

- Isso, hoje, não é mais assim. Felizmente. Devo dizer ainda que os nossos artistas, entre eles pintores, sentiram principalmente a influência do México. Esse interesse caminha vertiginosamente para o Sul, porque a nossa mentalidade é bastante lenta para tomar conhecimento de fatos fora do país.

E conclui:

- É natural que assim seja. Apesar da intuição do destino comum das Américas, há entre elas profundas diferenças. É muito difícil aos norte-americanos, anglo-saxões, conhecer perfeita e rapidamente um Continente tão potencial como a América Latina.40

O documento acima apresenta alguns altos e baixos, revelando que os estadunidenses pouco sabiam a respeito dos vizinhos ao sul. Contudo, o ponto chave está no momento em que, após comemorar que essa “ignorância” estava mudando, o autor ressalta as diferenças entre as várias partes do continente

americano, afirmando advir dessa multiplicidade a dificuldade dos

estadunidenses, “anglo-saxões”, em conhecer perfeita e rapidamente um continente tão potencial. Primeiro o autor desculpa-se pelo desconhecimento de seu povo, mas logo depois justifica tal fato e mostra-se, ele mesmo, carregado de juízos valorativos para dizer o que era preciso ser desenvolvido: potencial, possuía em si o valor, mas que ainda não era... Havia questões que

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DP, 21/04/1942. Entrevista concedida por Waldo Frank, durante passagem pelo Recife. Este autor ficou conhecido como “o americano intranqüilo” devido à sua defesa da latinidade.

38 ainda precisavam ser despertadas e desenvolvidas. Quem sabe com um pouco de ajuda?!

Coube, então, à recém-criada agência de Rockfeller o dever de mudar essa imagem inadequada dos países da América Latina nos Estados Unidos, objetivando um efetivo sucesso das estratégias do governo Roosevelt. Para tanto, fez-se uso de diversas estratégias discursivas. Uma delas foi a filosofia da ameaça iminente do inimigo europeu, que representava um perigo à sobrevivência das democracias liberais e à fantástica vida de excessos que elas proporcionavam. Essa diplomacia do medo talvez não esteja tão longe de nós, em tempos atuais. No entanto, o esforço não se limitou às estratégias do “mundo das idéias”; atacou-se também no campo do apoio prático com vistas a se atingir o objetivo mais palpável, apoio este conseguido do governo brasileiro – ainda “indeciso” quanto ao seu lado no dividido jogo internacional, mas certo

da necessidade de vender seus produtos a um bom comprador – e também o

do capital privado estadunidense, incluindo a indústria cinematográfica de Hollywood.

Os funcionários do Office tinham a tarefa de analisar e corrigir todo o material a respeito dos países latinos em circulação nos Estados Unidos – e,

como se verá, também no sentido inverso – para que se pudessem eliminar os

entraves à maior aproximação dos países latino-americanos ocasionados por imagens e visões equivocadas a respeito dos países americanos que possuíam os estadunidenses. Foi com esse objetivo que o Coordenador solicitou ao Conselho de Educação de seu escritório que analisasse “as afirmações incorretas ou descuidadas sobre os países latino-americanos nos materiais

educativos usados nas escolas e colégios americanos”41

. Esse conselho, depois de um longo trabalho, apresentou um conjunto de quatorze recomendações a serem seguidas pelas escolas, editoras e bibliotecas com vistas a diminuir os equívocos e assim contribuir para a prosperidade da boa vizinhança. Partes dessas recomendações seguem transcritas.

1) As escolas e colégios deverão manter em suas bibliotecas e salas de trabalho uma grande quantidade de livros, coleções de

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SPA. Rio de Janeiro: A Manhã, 28 mai. 1944. Textos escolares estadunidenses sobre a América Latina.

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material gráfico e de películas cinematográficas referentes à vida e à história dos países latino-americanos.

2) Esse material educativo deve desempenhar na vida escolar um papel importante, que vise a (sic) formação de um conhecimento extenso da América Latina. Assuntos latino-americanos devem ser incluídos em todas as fases do ensino, salientando-se sua importância em relação à vida nacional dos Estados Unidos e o interesse cultural que neles reside.

3) Os editores de livros de leitura escolar e de outros materiais básicos educativos deverão reexaminar os livros e os materiais que hajam editado até agora, sob o critério que o relatório recomenda, afim de que seus textos sejam escoimados de incorreções.

4) Os manuscritos e originais de trabalhos que se relacionem com a América Latina, ora em vias de publicação, deverão ser submetidos pelos editores a educadores e intelectuais que sejam especialistas em assuntos latino-americanos.

5) As entidades encarregadas nas escolas e Universidades, da seleção de livros de leitura para o uso dos estudantes, deverão guiar-se pelo critério estabelecido pelo relatório, daqui para o futuro.

8) Especial cuidado deverá dispensar-se quanto ao trato de costumes e tendências culturais que possam contribuir para uma visão errônea da América Latina.

9) (...) Importância fundamental deverá ser sempre dada aos aspectos sociais e culturais, preferindo-se os fenômenos típicos aos acontecimentos excepcionais.

10) As semelhanças entre os povos da América Latina e o povo dos Estados Unidos deverão ser apontadas, não com o objetivo de se ocultarem diferenças porventura existentes, mas com a idéia de se indicarem bases para julgamento dos estudantes para a formação de conceitos relativos aos alicerces que criaram e manteem (sic) o entendimento entre os povos americanos. 11) Em numerosos graus do ensino, deverá ser aumentado o tempo

dedicado aos assuntos inter-americanos, principalmente no que toca à sua conexão cultural. Há obras de caráter geral, como livros de leitura e antologias, que podem fornecer base sólida para o desenvolvimento dessa política pedagógica. Livros desse gênero contribuem para que o estudante tenha uma visão ampla do setor que estuda.42

A conquista do capital simbólico como apoio às suas políticas garantiu ao OCIAA a parceria de empresas, como a NBC e a CBS, então as duas maiores referências no ramo de radiodifusão nas Américas, parceria esta estratégica, uma vez que o rádio era o meio de comunicação de massa mais eficaz naquele momento, e seria fundamental na divulgação do recado pretendido. No entanto, de acordo com o princípio liberal, não caberia ao Office a intervenção ou determinação do que seria veiculado, restando a ele apenas

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40 sugerir programas e mudanças na programação. Assim, a propaganda da boa vizinhança teria de ser adaptada ao que o público estadunidense já estava acostumado a ouvir.

Com o apoio do governo brasileiro, e também de algumas radio difusoras nacionais, que, em troca, recebiam treinamento do seu pessoal nos Estados Unidos, alguns programas nacionais passaram a ser transmitidos para as centrais da NBC ou CBS nos Estados Unidos e, de lá, retransmitidos para todo o território do Tio Sam. Exemplo desse intercâmbio está na reportagem abaixo.

Esteve, ontem, em trânsito por esta cidade, acompanhado de sua família, o Sr. Roberto Pompeu de Souza Brasil que acaba de ser convidado pelo Sr. Nelson Rockfeller, diretor do Escritório de Coordenação de Assuntos Inter-americanos (sic!), para colaborar nesse departamento à maneira do que sucedeu com os Srs. Júlio Barata Orígenes Lessa e Raimundo Magalhães Júnior, que recentemente estiveram também de passagem pelo Recife.

(...)

Diz-nos o Sr. Pompeu de Souza que essa oportunidade dada aos jornalistas brasileiros de conhecer os Estados Unidos, e mais ainda ali permanecerem um a dois anos vêm como viagem-prêmio. Coube- lhe a sorte de ser escolhido entre numerosos colegas da imprensa carioca.

- Há muito o que aprender na América – diz-nos. Em matéria de rádio-difusão, então, é de maior interesse essa viagem, porque nenhum jornal moderno pode dispensar uma estação emissora, haja visto o caso dos “Diários Associados”, que mantém duas estações no Rio e em São Paulo. (...)43

Diante da pressão crescente por uma decisão, e sem alternativas diante do cenário da guerra na Europa, Vargas optou por cortar relações com os países do Eixo e pelo alinhamento à Política da Boa Vizinhança. A partir daí, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão máximo da publicidade nacional no momento em questão, passa, não só a veicular a propaganda dos Estados Unidos em rede nacional, mas também a fornecer programas e idéias de imagens positivas nacionais às rádios yankees. O governo brasileiro chegou mesmo a veicular anúncios de alguns dos produtos nacionais, a exemplo do

café, durante a programação das rádios nos EUA.44

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DP, 13/03/1942.

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41 Um importante passo no processo de construção da imagem do Brazil foi dado em Nova Iorque ainda em fins da década de 30. Em abril de 1939 era

inaugurada a New York’s World Fair, evento que buscava mostrar ao mundo

ainda abalado com a Crise de 1929 e indeciso quanto ao futuro – tendo em vista

as tensões internacionais – uma dose das maravilhas de que eram capazes de

produzir as democracias liberais. Exibindo as últimas novidades em tecnologia, com instrumentos dos mais variados ramos, desde as inovações para ajudar ou até mesmo liberar a dona de casa de seus afazeres domésticos tradicionais, até as mais modernas invenções da aviação comercial, a feira buscava dar uma suave amostra do que seria o futuro, como já explicitava em seu tema: Building the World of Tomorrow, ou, em português literal, “Construindo o Mundo de Amanhã”.

Ao público que foi visitar a feira, o sentimento era de encanto, e, acima de tudo, esperança. De acordo com o testemunho de um visitante,

To go to this fair was to have your life changed forever. It was there that I was amazed by a device that measured the thickness of my hair, by a General Motors vision of 1960 (I asked my parents whether I'd still be alive at that distant time in the future), by mighty Railroads on Parade and Railroads at Work, by climbing up to look into the cockpit of a real airplane, by witnessing for the first time something called television; and I was chilled by the sight of a gas mask, as if I realized that here was a sign of what soon would dash or delay many of the hopes that THE FAIR expressed.45(destaque no original)

Nesse ambiente de sonhos e esperanças, onde “podia-se sonhar com o

futuro, mas vendia-se o presente”46

, o Brasil montou um pavilhão para expor os seus “apetrechos”, por mais estranho que parecesse, uma vez que possuía ainda muito pouco da tecnologia do “estilo de vida americano” para vender.

45 “Ir a essa feira era ter sua vida mudada para sempre. Foi lá que eu fiquei encantado por

dispositivo que media a fraqueza do meu cabelo; por uma visão dos anos 1960 proporcionada pela General Motors (eu perguntei aos meus pais se eu ainda estaria vivo naquele distante tempo futuro); por fantásticas ferrovias; em subir para olhar a cabine de um avião de verdade; em testemunhar pela primeira vez algo chamado televisão; e eu “gelei” ao ver uma máscara de gás, como se eu me desse conta de que ali estava um sinal do que logo iria acabar ou atrasar muitas das esperanças que A FEIRA expressava”. Testemunho anônimo. New York World’s Fair 1939-1940. Disponível para consulta em: http://www.websyte.com/alan/nywf.htm. Último acesso em 16/10/2008.

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Nossos produtos foram mostrados, fibras têxteis, resinas vegetais, madeiras das mais variadas (...), minérios (...), borracha (...), latas de palmito, peles de cabra e cabrito fabricados pelo Curtume Carioca Franco-Brasileiro, corned beef enlatado, goiabada em lata, roupas manufaturadas por indígenas, algodão, babaçu, oiticica, soja, sisal, castanha-do-pará e de caju. Era o que tínhamos para oferecer. Os americanos o futuro, e nós, o presente, nu e cru, sem nenhum complexo de inferioridade.47

A Feira foi um passo importante na divulgação da imagem do Brasil para o estadunidense ver. O pavilhão do Brasil projetado pelos arquitetos Lúcio Costa em parceria com Oscar Niemayer, funcionou como um pequeno Brasil dentro da maior cidade das Américas. No lançamento da pedra fundamental, em 16 de abril de 1939, ouviu-se o Hino Nacional Brasileiro seguido de um discurso do ministro da Indústria, Comércio e Trabalho, Waldemar Falcão, elogiando a Política da Boa Vizinhança. O evento foi transmitido para todo o Brasil e, graças à parceria do DIP com a NBC, também nos Estados Unidos.

A inauguração oficial do pavilhão, talvez por acaso, se daria no dia 07 de setembro de 1939. A partir daí, notícias e músicas do Brasil seriam mais freqüentes aos ouvidos estadunidenses. Dessa forma, a música brasileira e alguns de seus maiores expoentes do período seriam conhecidos no território do Tio Sam, em transmissões que eram quase sempre precedidas por uma breve introdução a respeito de aspectos da cultura ou de fatos históricos brasileiros ou ainda com o enaltecimento da amizade entre as duas nações. Seria através das transmissões de rádio que a música de Heitor Villa-Lobos e Francisco Mignone ecoou ao norte do Rio Grande, além de Romeu Silva e de Elsie Houston, a brasileira filha de pais estadunidenses, entre outros, que levariam a música brasileira para os EUA. Os dois últimos artistas chegariam mesmo a participar de um Festival of Brazilian Music, promovido em fins de 1940 pelo Museu de Arte Moderna (MOMA) de New York e transmitido para todo o país pela NBC e para o Brasil pelo DIP.

O pavilhão do Brasil na Feira de New York pode ser considerado uma vitrine do Brasil moderno, inclusive com três painéis de Portinari compondo o ambiente: Noites de São João, Jangadas do Nordeste e Cena Gaúcha. Além da estética do moderno que compunha o pavilhão, não poderia faltar a estética

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43 do exótico: com a fauna (entre as aves, flamingos) e a flora (a vitória-régia) que vieram da região amazônica, cedidas pelo Museu Emílio Goeldi, de Belém do Pará, para compor os jardins da mostra brasileira. No entanto, a maior atração brasileira nas terras anglo-americanas foi, sem dúvida, Carmem Miranda. Já conhecida nacionalmente e em alguns outros países da América do Sul por sua música e participações em filmes nacionais, Carmem seria convidada para a Broadway após um show realizado no Cassino da Urca em 1939.

Ao chegar aos EUA, a “embaixadora da Boa Vizinhança”, como alguns a chamariam posteriormente, iniciou suas apresentações com o espetáculo Streets of Paris. No entanto, passou a ser mais conhecida ao participar de famosos programas de auditório nas rádios estadunidenses, divulgando a música e a sensualidade da mulher brasileira.

No entanto, a audição não bastou ao público estadunidense. A sensualidade que transparecia de suas apresentações nos programas de rádio criou o desejo de visualizar aquela figura a que estavam acostumados a ouvir. Foi assim que iniciou a sua carreira de atriz internacional de garota propaganda do Brasil, que em “Serenata Tropical” protagonizou seu estrelato.

A figura de Carmem Miranda e a sua participação na Política da Boa Vizinhança permitem vislumbrar a imagem que os Estados Unidos tinham da América Latina. Por exemplo, por mais que o discurso da boa vizinhança pregasse uma imagem de complementaridade dos Estados Unidos com a América Latina, incluindo aí, o caso específico do Brasil, a participação de Carmem Miranda em filmes que davam pouco destaque às culturas dos países

da sub-região, mostra que a divulgação de uma imagética de uma “latinidade”

homogênea denota certo deslize, reproduzindo no discurso em formação alguns aspectos do imaginário já consolidados, como a aceitação tácita de que as nações latino-americanas acreditavam na prerrogativa da superioridade estadunidense.

Quase todos os filmes ambientados no Brasil tinham moças dançando samba-rumba, o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar... e muita gente falando uma língua parecida com galego italianizado.

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Para agradar ao público americano e mostrar a ele que os vizinhos do sul eram simpáticos, não era preciso mais que isso.48

É bem verdade que o escritório de Rockfeller, a exemplo do que fez na área da educação/editoração, buscou, também na arte cinematográfica, minimizar ao máximo esses deslizes, enviando, em viagens de reconhecimento pelas Américas, vários colaboradores, entre eles cientistas, jornalistas e cineastas e dando claras recomendações de que fossem observadas as particularidades das culturas locais dos países, para se evitar conflitos e casos

como o ocorrido na Argentina na exibição de “Serenata Tropical”49

. No entanto, nem sempre o inconsciente dos produtores conseguiu ser convencido ou mesmo mascarado, e a idéia que tinham dos países do subcontinente, deixavam transparecer.

De qualquer forma, a sétima arte cumpriu seu papel de informar ao público estadunidense quem eram seus vizinhos do sul.

Para os idealizadores e executores da Política da Boa Vizinhança, não importava a autenticidade da „cultura‟ das „outras Américas‟ difundida pelas duas maiores redes e pelos estúdios de Hollywood. O importante era que isso contribuía para obter o alinhamento do Brasil com o esforço de guerra dos Estados Unidos.50

Essa frente havia feito sensíveis avanços, e os estadunidenses estavam convencidos de sua boa vizinhança ao sul; vejamos agora como se deu a

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