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2 POLÍTICA DE SEGURANÇA CIDADÃ EM ALAGOAS

2.2 Alagoas e os Planos Nacionais de Segurança

2.2.3 Brasil Mais Seguro – Dilma

O novo plano federal de segurança pública do governo da presidenta Dilma Rousseff, o Brasil mais seguro, lançado em Alagoas, serviu para confundir as parcas experiências do PRONASCI ainda em execução no Estado, pois os técnicos responsáveis pelo planejamento e

execução do plano, tanto no nível estadual, quanto no municipal, não sabiam que plano federal seguir.

Durante entrevista, um técnico da Secretaria de Estado da Defesa Social de Alagoas (SEDS) faz toda referência ao plano “Brasil Mais Seguro” tentando expor observações específicas sobre procedimentos que direcionam para um envolvimento comunitário sem proceder qualquer menção ao PRONASCI que estabeleceu tal orientação, deixando claro, a latente falta de continuidade nas políticas de segurança pública estabelecidas, vejamos sua fala:

[...] nós, recentemente atuamos com o governo federal no programa “Brasil Mais Seguro”. A história desse “Brasil Mais Seguro” vem de um ano e meio para cá. A primeira coisa quando a gente começou discutir com a Secretária Nacional de Segurança Pública foi o fato de que Alagoas era o Estado e ainda é, o Estado com maior número de homicídios do país. É um motivo preocupante [...] então começou um diálogo para transformar Alagoas em um projeto piloto de um programa nacional [...] nós passamos um ano trabalhando, melhorando as estatísticas, deixando a estatística fiel. Em um ano nós cumprimos tudo que o Ministério da Justiça nos cobrou. E Alagoas recebeu esse projeto piloto. Começou efetivamente em julho do ano passado, 2012 (Entrevista do técnico da coordenadoria setorial de planejamento estruturante e da integração da Secretaria Estadual de Defesa Social de Alagoas, em 23 de abril de 2013).

O gestor municipal de segurança comunitária e cidadania de Maceió, também se confunde ao tentar explicar qual dos programas e linha política de segurança pública o Município deve seguir, ao ser indagado sobre a existência de projetos estabelecidos pelo PRONASCI e qual a situação de segurança pública da cidade, vejamos:

[...] na secretaria municipal de segurança encontramos dois convênios realizados com o governo federal do PRONASCI, eles começaram a serem executados na gestão atual, mas são voltados para coisas que não têm a ver com a política, simplesmente para questão de equipamentos e fardamentos da guarda. [...] Com relação ao plano „Brasil Mais Seguro‟, que foi implantado em primeiro lugar aqui em Maceió, há uma série de projetos como, por exemplo, “Craque, É Possível Vencer” e outras atividades na área social, onde o governo federal está financiando alguns programas, não com a nossa secretaria mas com outras. O caminho é por aí. O convênio exige a integração entre Estado e Município num contexto que se busque uma solução conjunta para as questões sociais (Entrevista do Gestor da Secretaria Municipal de Segurança e Cidadania de Maceió, em 16 de maio de 2013).

Percebe-se pelo desencontro e falta de continuidade entre os planos federais de segurança pública, que mesmo sendo do mesmo partido político, o processo de transição no governo federal entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, caracterizou-se por uma total falta de sintonia e continuidade nas políticas de segurança pública. Que de alguma forma

consolidou as previsões e preocupações externadas por Soares (2007), sobre o PRONASCI e sua efetividade:

Os méritos do PRONASCI são suficientes para justificar a esperança de que haverá avanços na segurança pública brasileira. Mas não parecem suficientes para justificar a esperança de que o país começará, finalmente, a revolver o entulho autoritário que atravanca o progresso na área, com sua carga de irracionalidade e desordem organizacional, incompatíveis com funções tão importantes, exigentes e sofisticadas, em uma sociedade cada vez mais complexa, na qual o crime cada vez mais se organiza, se nacionaliza e se transnacionaliza (SOARES, 2007, p. 96).

Paralelo às orientações estabelecidas no Plano Brasil Mais Seguro o governo de Alagoas lança o Programa Alagoas Tem Pressa, estabelecendo uma reorganização na estrutura da Secretaria de Defesa Social com metas, prazos e incentivos para os profissionais da segurança pública visando estancar as ocorrências dos CVLI registradas ano a ano, com a perspectiva de tentar reduzir a taxa de homicídios em Alagoas em 10 (dez) anos, estabelecendo uma projeção para o ano de 2022, uma taxa de 25,7 casos para um grupo de 100 mil habitantes.

Analisando as principais ações definidas no programa Brasil Mais Seguro, nota-se também que o Estado de Alagoas se aproxima efetivamente de uma política de segurança pública voltada essencialmente para concepções reativas, passando a focar unicamente ações das estruturas ostensivas de controle social com patrulhamento diário em busca de pessoas em atividades suspeitas, medindo sua eficiência pela quantidade de prisões, conforme bem esclarece o técnico da Coordenadoria Setorial de Planejamento Estruturante da Defesa Social responsável pela sua implantação:

Nós escolhemos Maceió e Arapiraca baseado nos números. Tudo que está sendo planejado, é importante registrar que o Estado de Alagoas, hoje, está trabalhando por gestão e por resultado. É uma gestão pública diferenciada. A maioria dos estados e o próprio país que hoje, com a presidente Dilma, está impondo e fixando a gestão de resultados. Os gestores, os técnicos, eles perseguem resultados. É uma política diferenciada com metas estabelecidas [...] já é possível mensurar os resultados positivos do “Brasil Mais Seguro”, bem como temos um registro diário informatizado de todos os homicídios e crimes violentos. Hoje é fiel. (Entrevista do técnico da coordenadoria setorial de planejamento estruturante da defesa social, em 23 de abril de 2013).

Pela colocação do Coordenador Setorial de Planejamento Estruturante da Defesa Social de Alagoas o principal resultado, apontado do Programa Brasil Mais Seguro no Estado, é a possibilidade de registro com total clareza dos homicídios e crimes violentos (CVLI) que acontecem na cidade, por meio de boletins informatizados.

Todos os enunciados da matriz de responsabilidade estabelecida no plano de trabalho e principais ações do “Brasil Mais Seguro” deixa claro a importância que o programa dá ao ressurgimento da tendência reativa típica da polícia tradicional, já comentada neste trabalho, em detrimento das experiências comunitárias, que enxergam as ações de prevenção primária com o envolvimento da sociedade civil durante todo o processo de planejamento e execução, uma política pública de segurança ideal para atenuação dos graves problemas de segurança que envolve a cidade.

Percebe-se que os novos programas federal e estadual abandonam a estratégia de intervenção preventiva primária, quando deixam de estabelecer qualquer linha de ação voltada para a juventude como oferecimento de condições e espaços de desenvolvimento capazes de inviabilizar o contato com a criminalidade e a violência, uma vez que segundo Cerqueira (2013) as estatísticas apontam ser o segmento social jovem o mais afetado, quer na condição de vítima ou algoz:

O perfil socioeconômico das vítimas de homicídios na Região Metropolitana de Maceió se assemelha de um modo geral aos das vítimas do Brasil, são predominantemente homens, jovens, em torno de 20 anos de idade, solteiros e de raça negra ou parda (CERQUEIRA, 2013, p. 219).

Para fundamentar tal opinião, destaca-se o fato do Programa Brasil mais seguro ter sido praticamente “imposto” pelos governos sem qualquer consulta ou participação comunitária prévia, colocando a sociedade na condição ínfima de mera coadjuvante sem qualquer contribuição possível, desprezando toda uma lógica de participação comunitária democrática que norteava o programa anterior.

Sobre a tendência reativa, o enunciado nº 3 da Matriz de Responsabilidade estabelecida nos planos de trabalhos das principais ações do Brasil Mais Seguro, que trata da implantação do policiamento ostensivo e de proximidade em áreas vulneráveis e atuação integrada das instituições de segurança pública, prevê como objetivo a melhoria da sensação de segurança pela promoção de ações integradas de atuação das polícias estadual e federal com reforço do

policiamento ostensivo através da Força Nacional de Segurança Pública12 para atuação conjunta com todas as instituições do sistema de Segurança do Estado de Alagoas.

Com relação à promoção de ações integradas, cabe esclarecer que a integração citada é específica e exclusiva aos órgãos oficiais integrantes das forças de segurança pública do Estado, que acontecerão no Grupo de Gestão Integrada – GGI, sem qualquer envolvimento ou participação da comunidade, destoando totalmente da prática procedimental de uma política participativa comunitária, ou seja, de uma política pública de segurança cidadã, conforme comentários anteriores neste trabalho e coerente à fala do diretor da Federação das Associações dos Moradores e Entidades Comunitárias de Alagoas, FAMECAL:

[...] nós enquanto lideranças comunitárias, somos usados como coadjuvantes ou bonecos na mão do Estado quando se trata de segurança pública. Somos convidados apenas para fazer número e aprovar os projetos que praticamente já estão definidos e precisa da comprovação que de alguma forma houve participação da sociedade. A federação tem orientado as lideranças comunitárias que não mais participe das reuniões com os representantes do governo federal, estadual ou municipal, quando sentirem essas condições, deixem imediatamente o local ou registre voto de repúdio a tal prática. (Entrevista do Diretor da FAMECAL em 15 de maio 2013).

Fato é que o Brasil Mais Seguro representa para o governo federal o programa de segurança pública que cabe aos governos estaduais seguirem, principalmente os menos dotados economicamente. Tanto que a exemplo de Alagoas também já aderiram ao plano os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e recentemente, em julho de 2013, nosso vizinho, o Estado de Sergipe, conforme noticiou o Ministério da Justiça.

Com a promessa de um novo processo de investimento na área da Segurança Pública, tendo como foco um planejamento e aplicação de recursos em áreas estratégicas, fortalecimento da inteligência policial, investigação criminal, perícia forense, Corpo de Bombeiros e policiamento ostensivo, o Brasil Mais Seguro prevê maior articulação entre os órgãos de segurança pública, porém sem qualquer referência voltada à participação da sociedade.

12 Contingente de servidores públicos mobilizável, de responsabilidade do governo federal, composto por integrantes das polícias federais e dos órgãos de segurança pública estaduais que tenham recebido, do Ministério da Justiça, treinamento especial para atuação conjunta nos Estados que tenham aderido ao programa de cooperação federativa prevista no Decreto Federal nº 5289 de 29 de novembro de 2004.

Numa análise entre os projetos estabelecidos e não acompanhados do PRONASCI e os recentes adotados pelo Programa Brasil Mais Seguro, em se tratando de uma orientação de segurança pública, tendo em vista a condição de análise prematura de ambos, percebe-se um misto entre política pública de segurança baseada numa filosofia comunitária e uma política se segurança pública imposta conjuntamente pelos governos federal e estadual, que de alguma forma confunde não só a comunidade, em seus possíveis espaços públicos disponíveis, como também as estratégias de ocupação das áreas tidas como violentas atendidas pelas Bases Comunitárias de Segurança.

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