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2 POLÍTICA DE SEGURANÇA CIDADÃ EM ALAGOAS

2.1. Contexto da Violência Urbana em Maceió

Alagoas é um Estado com uma área de 27.767,7 km², o segundo menor da federação, com 102 municípios, uma população estimada de 3.143.338 habitantes, dos quais 73,6% nas áreas urbanas. Alagoas foi um Estado marcado historicamente pelo domínio secular do regime do coronelismo9 exercido pelas oligarquias locais, característico da região Nordeste do Brasil

(CASTRO, 2007). O Estado apresenta ainda índices econômicos desfavoráveis, colaborando apenas com 0,7 do Produto Interno Bruto - PIB nacional, além de registrar o menor Índice de Desenvolvimento Humano - IDH do país, marcando 0,677 em 2005.

Com um panorama social também não muito favorável, Alagoas apresenta a maior taxa de analfabetismo da federação – 24,3% em 2010. Maior taxa de mortalidade infantil do país – 46,4 crianças mortas por mil nascidas vivas até um ano de idade em 2009, tendo como principal causa problemas estruturais como higiene e saneamento, típicos de regiões subdesenvolvidas. Alagoas conta com apenas 21,4% dos domicílios com acesso a esgoto e água canalizada e possui a menor taxa de expectativa de vida brasileira – 67,6 anos em 2009.

Maceió foi fundada em 1839 e contrapõe a imagem de cidade paradisíaca com os dados negativos de violência e índices alarmantes de homicídios, principalmente envolvendo os jovens. A capital possui uma área de 510.655 km², com uma população estimada, segundo o IBGE, em 932.748 habitantes (2010), classificada como a décima sétima capital mais populosa do país, sendo 46,8% desta população masculina e 53,2, feminina. Maceió integra ainda com mais dez municípios a chamada Região Metropolitana de Maceió, totalizando aproximadamente 1.160.393 habitantes. A cidade apresenta uma taxa de urbanização da ordem de 99,75%, com um Índice de Desenvolvimento Humano de 0,739. Segundo o Programa das Nações Unidas para o

9 Termo brasileiro usado para definir a complexa estrutura de poder que definiu o sistema político do país, durante a

República Velha. Era representado por lideranças no plano municipal, exercido com hipertrofia privada (a figura do coronel) sobre o poder público (o Estado), e tendo como carecteres secundários o mandonismo, o apadrinhamento, a fraude eleitoral e a desorganização dos serviços públicos.

Desenvolvimento (PNUD) da Organização das Nações Unidas, a incidência da pobreza atinge mais da metade de sua população alagoana – 58,37 (IBGE, 2012).

Segundo o último senso do IBGE, 2010, Maceió apresenta uma população específica de jovens entre 15 a 19 anos estimados em 83.840 e de 20 a 24 anos o número de 87.040 habitantes, parcelas que juntas significam aproximadamente 19% do total da população e quase que totalmente residente em área urbana, cerca de 99,9%.

Numa simples análise deste panorama, percebe-se que existe um terreno fértil e propício ao conflito e delito. Porém fundamental esclarecer que o propósito da presente pesquisa não é relacionar as condições sociais desfavoráveis da maioria da população maceioense com a violência, ou seja, miséria por miséria em hipótese alguma poderá ser associada com altos índices de criminalidade e violência.

Os destaques dos índices sociais se tornam necessários para externar as condições de vulnerabilidades que são impostas aos cidadãos alagoanos. Com uma capital caracterizada por áreas periféricas carentes de ações do poder público e uma injusta concentração de renda, o Estado de Alagoas é aquele com a menor renda domiciliar per capita, com a maior proporção de indivíduos abaixo da linha da pobreza e a quinta maior desigualdade de renda do país (CERQUEIRA, 2013, p. 224).

O autor reconhece que as condições econômicas desfavoráveis, isoladamente, não são suficientes para justificativa dos altos índices de criminalidade, mas entende que estes indicadores negativos colocam a população de menor renda em uma condição maior de vulnerabilidade. A evolução da violência em Maceió, caracterizada pelos altos índices de homicídios ocorridos na última década, 2000/2010 expõe principalmente a juventude, que segundo dados do Mapa da Violência publicado pelo Instituto Sangari, saltou de 724 para 2.084 registros em 2012.

Tentar entender tal evolução obriga uma análise muito mais ampliada e com certeza um estudo aprofundado, que despenderia um período de tempo razoável. Este trabalho se prende a buscar de referências numa tentativa de colaborar com as discussões e colocações existentes,

visando ao entendimento pontual dentro das diversas análises sobre a política de segurança pública praticada na capital alagoana.

Ao propor uma discussão sobre a violência urbana e suas possíveis soluções, torna-se imprescindível identificar o campo de discussão que será problematizado. Neste ponto estabelecemos parâmetros para nortear o caminho em busca de respostas teóricas. Costa (2003), por exemplo, classifica a violência como o fermento da inquietação do cotidiano e destaca como conclusão do estudo elaborado sobre a questão da violência urbana no Brasil:

Violência contra a pessoa; violência no trabalho; violência no trânsito; violência da escola e da cultura; violência das discriminações; violência nos esportes; violência nos serviços de saúde; violência policial; violência contra o patrimônio. A listagem poderia prosseguir, obrigando-nos a constatar que a violência invadiu todas as áreas da vida de relação do indivíduo: relação com o mundo das coisas, com o mundo das pessoas com seu corpo e com sua mente (DANIEL apud COSTA, 2003, p. 11).

Já para Souza (2005), violência é um termo que tem sido usado como referência para uma multiplicidade de ações e de agentes, presente em todos os espaços urbanos do nosso cotidiano, destacando:

Violência do Estado, violência da mídia, violência da exclusão social, violência de certos rituais, violência dos atos criminosos – roubos, sequestros, assassinatos -, violência do trabalho infantil, violência na infância, violência contra a mulher, violência nas relações cotidianas, violência dos pequenos gestos, violência presente na constituição do psiquismo (2005, p. 27).

O autor chama atenção para o fato de que a generalização do termo “violência” produz o risco de uma banalização dos seus efeitos, tornando equivalentes experiências extremamente diferentes, confundindo o que é de ordem da constituição das relações humanas, identificando como a positividade da violência e, da ordem do abuso. Concluindo que a disposição para a violência é algo próprio de todos nós (SOUZA, 2005, p. 29).

Analisando os mapas sobre violência no Brasil publicados anualmente pelo Instituto Sangari e pelo Fórum Brasileiro de Segurança/Ministério da Justiça, nota-se que a evolução da violência em Maceió é crescente. Segundo a reportagem publicada em 24 de março de 2013 no jornal impresso e no site da Folha de São Paulo “Capital mais violenta do país, Maceió (AL) tem áreas proibidas”, em Maceió, no primeiro semestre de 2012, chegou-se a registrar, durante um

fim de semana, marcas absurdas de 20 (vinte) homicídios. Nos últimos dez anos, a cidade assistiu a uma explosão no número de homicídios sem precedentes no Brasil.

Cerqueira (2013) analisando a violência em Alagoas, consequentemente Maceió, conclui que não existe uma situação generalizada de criminalidade, mas chama atenção pelo registro das taxas exageradas de homicídios como único fator destoante dos demais estados da Federação, “[...] há uma verdadeira epidemia de homicídios, mas não de agressões nem de crimes economicamente motivados” (CERQUEIRA, 2013, p. 224). O autor entende que existe a necessidade do envolvimento da sociedade nas questões e problemas de segurança pública, para corrigir e monitorar ações dos governos, exigindo a viabilização de canais de integração:

[...] a falta de comunicação efetiva da sociedade com o Estado permitiu a reprodução de instituições de segurança pública opacas, onde a falta de transparência, além de facilitar a corrupção policial, foi o elemento que fez recrudescer inúmeros mitos. Entre estes mitos, destaque-se a ideia de que a tragédia da segurança pública não tem solução, pois o que se podia fazer já foi feito, afinal já aumentamos o número de viaturas e o efetivo policial (CERQUEIRA, 2013, p. 216).

O autor aponta várias conclusões sobre o crime e a violência em Alagoas, sobretudo na região Metropolitana de Maceió. Destacamos aquelas que de alguma forma está vinculada à prevenção primária, portanto, possível de envolvimento e participação social para sua redução. Vejamos:

[...] 7) A prevalência de roubos e furtos no estado não difere da média das outras Unidades Federativas, o que indica não haver um problema de explosão generalizada do crime em Alagoas.[...]

9) O baixo status socioeconômico das vítimas sugere que a altíssima taxa de vitimização letal tem mais a ver com o resultado de conflitos interpessoais ou a consequência do negócio das drogas que com a consequência de crimes economicamente motivados.[...] 11) A prevalência de drogas psicoativas ilícitas e de bebidas alcoólicas tem crescido a partir dos idos de 1999, junto com os homicídios.[...]

16) A violência associada às drogas advém em grande parte dos efeitos sistêmicos ocasionados pela existência do mercado ilícito desta.[...]

19) Para além das medidas preventivas de cunho situacional, o foco da política pública de prevenção deve ser o jovem, sobretudo aqueles em situação de maior vulnerabilidade socioeconômica.

20) Um objetivo imediato deve ser o aumento da frequência escolar e a diminuição da evasão escolar dos jovens.

21) Os programas devem focar o estabelecimento de novos projetos pessoais e oportunidades de crescimento e de visibilidade social para o jovem.

22) Programas direcionados aos jovens envolvendo cultura e esporte são cruciais. 23) Programas de apoio e orientação familiar também têm se mostrado custo-efetivo, segundo várias experiências internacionais.

24) Além da questão do jovem, há que se formular programas focados na violência contra a mulher, contra menores e contra a violência racial e homofóbica (CERQUEIRA, 2013, p. 236).

Com o objetivo de enxergar uma justificativa para níveis tão expressivos de homicídios na capital alagoana, conforme demonstrado no gráfico abaixo da Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS), o autor classifica os fatores causais da violência e do crime em Alagoas com base em evidências documentadas em inúmeros artigos destacando a difusão de armas, drogas e álcool como potenciais elementos motivadores da dinâmica dos homicídios no Estado na última década, em particular na capital Maceió (CERQUEIRA, 2013, p. 229).

Mapa 1: Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) registrados nos bairros de Maceió/2012.

Fonte: Secretaria de Estado da Defesa Social de Alagoas, novembro de 2013.

Daniel Cerqueira conclui propondo um plano integrado capitaneado pelo município, baseado em ações de prevenção primária com efetiva participação social, fundamentado nas inúmeras experiências nacionais e internacionais que fizeram diminuir o crime nas cidades.

O autor destaca a necessidade do comprometimento político de todas as instituições públicas em especial as que compõem o sistema criminal, o envolvimento de todos os segmentos sociais (cidadãos) e principalmente um método capaz de agregar e sistematizar a participação efetiva da comunidade (CERQUEIRA, 2013, p. 238), ou seja, fazendo uma relação com nosso trabalho, procedimentos próprios da polícia comunitária que possibilita o envolvimento popular pelos Conselhos de Segurança como verdadeiros espaços públicos de discussões10.

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