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O regime de 1937 tratou de formar uma ampla opinião pública a seu favor, censurando os meios de comunicação e elaborando sua própria versão da fase histórica que o país vivia. A preocupação do governo Vargas nesse sentido vinha desde seus primeiros tempos, quando em 1931 surgiu o Departamento Oficial de Publicidade. Em 1934, foi criado no Ministério da Justiça o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural, que funcionou até dezembro de 1939. Nessa data, o Estado Novo constituiu o Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP. Diretamente subordinado ao Presidente da República, exerceu funções bastante extensas, atuando de forma definitiva na campanha anticomunista do Estado. Para Rodrigo Patto Sá Motta:

O aparato estatal tratou de organizar-se, a fim de estar em condições de cumprir a tarefa de “esclarecer” a população sobre os males do comunismo. Para este propósito foi significativa a criação do Departamento Nacional de Propaganda, que se tornou peça-chave na máquina de

comunicação do governo federal. O DNP, reestruturado e rebatizado de DIP em 1939, além de produzir e publicar peças de propaganda, distribuía seu material aos veículos de imprensa do país. Além disso, investiu esforços num veículo de comunicação ainda novo na época, e com um potencial extraordinário, o rádio. Notadamente a partir de 1937, no contexto de implantação do Estado Novo, as transmissões radiofônicas se tornariam importantes canais para divulgação de mensagens anticomunistas.75

Durante o Estado Novo a propaganda anticomunista não foi tão vigorosa como no período imediatamente posterior ao levante de 1935, ou como na fase de preparação do golpe. Mesmo assim, o anticomunismo foi um elemento fundamental para o assentamento ideológico da ditadura varguista. A afirmação do novo regime coincidiu com a consolidação do imaginário anticomunista na estrutura social brasileira, notadamente entre as classes médias e superiores. As representações do comunismo como inimigo da nação e a identificação das forças revolucionárias com as forças do mal foram enraizadas na sociedade, a ponto de poderem ser recuperadas posteriormente, quando novas conjunturas críticas apareceriam no Horizonte político.

Considerando a política externa, os anos 1930 acentuaram o declínio da hegemonia inglesa e a emergência dos Estados Unidos, sobretudo, a partir do momento em que as medidas do presidente Roosevelt, de combate à crise, começaram a surtir efeito. Ao mesmo tempo, surgia outro competidor no cenário internacional, a Alemanha nazista, que iniciava uma política de influência ideológica e de competição com seus rivais na América Latina. Neste contexto, o governo brasileiro adotou uma orientação pragmática, tratando de negociar com quem lhe oferecesse melhores condições e procurando tirar vantagem da rivalidade entre as grandes potências. Ao definir o conceito de eqüidistância pragmática, Gerson Moura afirma:

O processo político no Estado Novo reflete esse “empate” da luta política, que confere a Vargas um extraordinário poder no processo decisório. Ele se torna o árbitro das disputas que emanam das instâncias secundárias e mesmo das que ocorrem nas instâncias centrais de decisão. Seu método para tratar essas disputas consistia em aguardar

75 MOTTA, op. cit., p. 211.

que todos os ângulos das posições divergentes estivessem perfeitamente claros e em evitar decisões precipitadas, avaliando cuidadosamente as possibilidades inerentes a cada situação. O importante era manter, na medida do possível, a eqüidistância pragmática.76

Os Estados Unidos adotaram uma política combinada de pressão e cautela diante do avanço nazista. Roosevelt preferiu evitar medidas extremas que poderiam levar o Brasil ao alinhamento com Hitler ou a seguir um caminho nacionalista radical. Mesmo após a implantação do Estado Novo, saudado com entusiasmo nos países fascistas, a linha pragmática não se modificou. Apesar da pressão exercida por alguns setores das forças armadas, favoráveis a um relacionamento estreito com os alemães, ao nomear Osvaldo Aranha para o Ministério das Relações Exteriores, Getúlio Vargas não promoveu mudanças significativas em sua política externa. Sobre o real significado desta nomeação, Ricardo Seitenfus entende que:

Além da importância intrínseca do acontecimento, é preciso observar o modo como o novo ministro é investido de suas funções. Sua liberdade será total, já que se encontra em posição de força. Ele a utilizará então para aplicar uma política externa caracterizada, de um lado, por uma aversão profunda em relação à Itália e, principalmente, em relação à Alemanha e, de outro lado, por uma substancial aproximação com os Estados Unidos. O duplo sucesso, tanto o de Vargas, que a um só tempo elimina uma temível oposição e desarma as apreensões norte-americanas, quanto o de Aranha, que entra em posição de força no governo, condicionará toda a política externa brasileira durante a Segunda Guerra Mundial.77

A entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial em 1941 forçou um definitivo posicionamento de Getúlio Vargas. Ainda que o país tenha rompido suas relações diplomáticas com o eixo em 1942, o governo americano demorava a entregar encomendas de equipamento militar, pois considerava que boa parte da oficialidade nacional era simpatizante das nações inimigas. As indefinições foram superadas quando cinco navios mercantes brasileiros foram atacados por submarinos alemães, gerando grande pressão através de

76 MOURA, Gerson. Autonomia na Dependência: A Política Externa Brasileira de 1935 a 1942. Rio de

Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p. 108.

77

SEITENFUS, Ricardo. A Entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Porto Alegre: Edipucrs, 2000. p. 103.

manifestações por todo o país. O alinhamento do Brasil na frente antifascista se completaria em 1944, quando do envio de uma força expedicionária para lutar na Europa, a FEB. O retorno dos “pracinhas” em 1945 provocou grande entusiasmo popular, acelerando as pressões pela democratização.