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BRASIL Teledensidade da telefonia móvel a cada cem habitantes por unidade

Além disto, a teledensidade introduz o usuário da telefonia móvel ao mercado dos aplicativos de celular, importantes mercadorias informacionais que compõem o circuito espacial da informação sobre o indivíduo. Na medida em que estes dispositivos são definidos como objetos técnicos rastreadores, como já debatido no capítulo anterior, ao território é agregada novas camadas de dados e portando, atribui-se novas qualidades às datasferas locais.

O crescimento do acesso à internet sugere uma maior dinâmica que fomenta a implementação de novas empresas informacionais em uma diversidade maior de centros urbanos, e amplia a produção de informação sobre o indivíduo, comprometendo os usuários com os novos sentidos rastreadores que a internet promove. Desta forma, o que verificamos ao longo deste período é a consolidação da internet como sistema técnico fundamental para a implementação de novos aconteceres no território e na costura de novas solidariedades, contudo mediados pelas interfaces com a datasfera.

Importantes manchas de alta conectividade são encontradas na Região Concentrada, sobretudo em São Paulo. Consequentemente denota-se a ampliação do uso individual da internet, introduzindo novos agentes nos circuitos espaciais de informação sobre o indivíduo. Porém, no Nordeste brasileiro também se observa um importante crescimento da conectividade e a criação de zonas em que a introdução da internet se deu com intensidade.

Para além da distribuição espacial da conectividade da internet, observamos outras características do usuário brasileiro de internet. O Comitê Gestor da Internet publicou, em 2016, resultados da pesquisa TIC Domicílios para o ano de 2015, na qual estabelece um panorama do uso doméstico da internet no país. Leva-se em consideração que os destaques a seguir consideram variadas formas de acesso à internet, considerando não apenas o acesso domiciliar, e incluindo também acessos ocasionais e esparsos no tempo. Destacamos, resumidamente, algumas informações:

1) Em 2015, apenas 56% das pessoas com renda igual ou inferior à 1 Salário Mínimo acessavam a internet. O acesso à rede também esteve presente para 62% das pessoas que recebiam entre 1 e 2 Salários; 72% das pessoas com renda entre 2 e 3 Salários; 81% com renda entre 3 e 5 salários; 89% entre 5 e 10 salários e; 94% dos domicílios de famílias cujas rendas ultrapassavam os 10 salários mínimos.

2) Em 2016, os principais usuários da internet eram os jovens com idades entre 16 e 24 anos. 93% da população encontrada nesta faixa etária a usavam, seguidos por 84% da população entre 10 e 15 anos; 87% também entre as pessoas de 25 a 34 anos; 76% da população com entre 35 e 44 anos; 54% entre 45 e 59 anos e 24% entre a população com idade superior à 60 anos.

3) Apenas 11% da população considerada analfabeta utiliza a internet. 56% das pessoas que possuem até o ensino fundamental são usuárias, assim como 89% daqueles que finalizaram o ensino médio. Por fim, o uso da internet é verificado entre 97% das pessoas que finalizaram o ensino superior.

4) 72% dos moradores de áreas urbanas utilizavam a internet, enquanto que 48% dos moradores da zona rural a utilizavam. Além disso, 74% da população economicamente ativa do país eram usuárias, assíduas ou ocasionais, assim como 58% da população inativa.

5) A pesquisa considerou também a população de objetos técnicos rastreadores presente nos domicílios brasileiros, como os computadores de mesa, presente em 22% dos domicílios brasileiros, os notebooks (29%), tablets (17%) e consoles de jogo (18%)

6) No que concerne o uso da internet em função dos dispositivos utilizados, constatou-se que 93% dos usuários de internet utilizam o telefone celular, enquanto 57% dos usos da internet são feitos a partir do computador.

7) A presença das SmartTVs e dos consoles de jogos como meio de acesso à internet também é percebida, e desta forma podemos considerar a introdução desigual, no território, destes objetos técnicos rastreadores. Enquanto 11% dos usos da internet realizados na internet são feitos através de consoles de jogos, no Nordeste este uso se aproxima dos 3%, contra 6% no Norte, 8% no Sul e 9% no Centro Oeste e no sudeste?. A presença da SmartTV como dispositivo de uso da internet também é mais frequente no Sudeste (20% dos usuários da internet afirmam utilizar a internet pela SmartTV) e no Centro-Oeste (24%), enquanto que no Sul este tipo de uso alcançava os 18% dos usuários, no Nordeste 12% e no Norte 8%.

O panorama acima descrito sugere que, para além das desigualdades regionais encontradas no acesso à internet no país, outras desigualdades são detectadas. O circuito

espacial de informação sobre o indivíduo tem, como matéria prima fundamental, as informações individuais e os rastros individuais de uma população sobretudo jovem e de classe média/classe média alta. De certa forma, esta configuração condiciona o arrendamento informacional das informações individuais a nichos de mercado que consideram, primordialmente, o potencial de consumo destas faixas etárias e de renda.

Além disso, coincide que estes mesmos grupos populacionais estão mais intimamente conectados com a internet, sobretudo quando verificamos uma maior diversidade de dispositivos conectados. A população jovem e a população mais rica está, em síntese, conectada permanentemente, e sendo rodeadas por uma diversidade mais ampla de objetos técnicos rastreadores. Com isto, cria-se a contradição de que, ao mesmo tempo que se conectam, se transformam em matéria prima para a produção dos circuitos espaciais que se investiga nesta pesquisa.

Podemos constatar que as parcelas mais ricas e rodeadas de objetos técnicos rastreadores estão principalmente distribuídas nas manchas do território brasileiro em que a conectividade é mais densa. Então, também inferimos que esta expansão, bastante concentrada em nichos populacionais, mas diversificadas nas formas de seu uso, se apresentam como fatores locacionais fundamentais para a atuação de novas empresas informacionais, tanto no que concerne à produção de informação banal, quanto à utilização da internet para fins estratégicos.

Na medida em que este novo perfil de uso da internet no território nacional se consolida, abre-se terreno para a constituição de novas empresas e formas de exploração da informação sobre o indivíduo. A etapa de distribuição do circuito, então, adquire novos contornos.

3.3 - Novas dinâmicas da distribuição da informação sobre o indivíduo no Brasil

A ampliação do volume do fluxo de dados, sobretudo através de um conjunto populacional com maior poder de consumo, garante maior perenidade e frequência no uso da internet, além de consolidação do consumo de informações tecnicamente sofisticadas. Diferentemente do período anterior, no qual encontrávamos ainda uma relativa intermitência do uso da internet no território brasileiro, o usuário da internet encontra-se agora mais permanentemente conectado, o que permitiu o desenvolvimento de formas de rastreamento das informações individuais ainda mais sofisticadas, incrementando novos modelos de negócios a partir da internet e fomentando novos arrendamentos informacionais a partir de seu uso.

A análise da etapa de distribuição de informação sobre o indivíduo é, ao mesmo tempo, a construção de uma aproximação a respeito da produção de informação banal e da ofertas de serviços oferecidos através da internet. Lembramos aqui, seguindo o modelo de entendimento proposto de Bolaño (2000), que uma empresa produtora de informação banal (no caso do autor, refere-se à produtos culturais) é produtora simultânea de dois tipos de informação: a mercadoria cultural propriamente dita, oferecida ao consumidor; e a mercadoria-audiência, oferecida às empresas.

Quando consideramos este modelo à luz dos circuitos espaciais da informação banal, consideramos, então, que as empresas produtoras de mercadorias culturais, notícias, aplicativos de celular e outros tipos de informação banal são, ao mesmo tempo, receptoras das informações individuais de seus consumidores, e as armazenam e as revendem, principalmente, sob a forma de espaços publicitários, ou as utilizam internamente para a utilização dos setores de marketing e planejamento empresarial.

Mapa 19 – BRASIL - Distribuição de Portais, Provedores de Conteúdo e Outros serviços de Informação na Internet por Município Brasileiro - 2016. Fonte: Anatel, 2018 / RAIS, 2016 / IBGE, 2010.