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UMA BREVE ANÁLISE SOBRE A PREVIDÊNCIA PRIVADA NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM O CAPITAL FINANCEIRO

3. CAPÍTULO II: REFLEXÕES SOBRE A CONTRARREFORMA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

3.2. UMA BREVE ANÁLISE SOBRE A PREVIDÊNCIA PRIVADA NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM O CAPITAL FINANCEIRO

Ao longo da história, o sistema capitalista conservou suas bases fundamentais de sustentação, como a propriedade privada dos meios de produção, a extração de mais-valia e o estado. Porém, o capital dos dias atuais é marcado por diversas metamorfoses que operam no fundo público através da financeirização da economia, no encolhimento das políticas sociais, no processo de reestruturação produtiva e na gestão do trabalho. Todavia o foco dessa análise é a instituição da previdência privada, por isso não analisaremos todos os processos que permeiam o capital na atualidade.

Observa- se que a previdência privada é um instrumento para a realização do capital financeiro ou do capital portador de juros. A retomada do capital financeiro nos dias atuais é uma estratégia do sistema capitalista para sair da crise e para obter lucratividade, trata-se da fusão entre o capital industrial e o bancário. Nesse sentido, “[...] uma vez estabelecido o

imperialismo, um número reduzido de grandes capitalistas (industriais e banqueiros) concentram nas suas mãos a vida econômica do país [...]” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 181).

Desta forma, cresce a superacumulação e a concentração de riquezas, o que tende a provocar crises e recessão no mundo. Os países da periferia são forçados a abrir suas economias para os investimentos externos e nesse processo muitas indústrias nacionais fecham as portas, gerando desemprego para a população local.

Além disso, aumenta-se a taxa de juros, expandindo o déficit da balança comercial desses países. Cresce o capital especulativo financiado pelos juros que os países periféricos pagam pelas dívidas contraídas com os organismos internacionais. Os pagamentos dos juros causam escassez de recursos para investimentos por parte dos Estados nacionais em políticas sociais que beneficiariam principalmente a classe trabalhadora, o que agrava mais ainda a “questão social”.

Os rentistas e os possuidores de capital fictício (ações, cotas de fundos de investimentos, títulos de dívidas públicas) extraem ganhos sobre valores frequentemente imaginários e só descobrem isso quando, nas crises do ‘mercado financeiro’ papéis que, à noite, ‘valiam’ X, na bela manhã seguinte passam a valer -X, ou, literalmente, a não ‘valer’ nada [...] (NETTO; BRAZ, 2008, p. 232).

Com o desenvolvimento do capital financeiro, uma parte dos capitalistas passou a depender exclusivamente dos juros oriundos da ciranda financeira, são os rentistas que não investem no setor produtivo da economia. Netto e Braz (2008, p. 232) confirmam que houve um “[...] brutal crescimento do capital fictício. Entende-se por capital fictício “as ações, as obrigações e os outros títulos de valor [...]”. O capital contemporâneo apresenta um crescimento especulativo baseado no processo de financeirização da economia. Além disso, o capital fictício espalha a instabilidade na economia dos estados nacionais, principalmente porque o capital volátil tem a “[...] capacidade de arruinar inteiras economias nacionais especialmente através de sua ação sobre o mercado de divisas” (NETTO; BRAZ, 2008, p.233). A retirada de limites impostos ao capital para a concretização de seu objetivo fundamental, que é o lucro, é outra característica do capital financeiro que visa o controle dos mercados; no mundo são aplicadas contrarreformas regressivas que visam à redução de direitos da classe trabalhadora.

Nessa configuração o capital realiza através do Estado a contrarreforma da Previdência Social brasileira, e favorece à instituição da previdência privada (GRANEMANN, 2006). A instituição da previdência privada implica no desmonte da Previdência Social e na abertura de um importante espaço para os negócios lucrativos do capital. A ideologia difundida pelo capital

para legitimar a previdência privada consiste em levar muitos trabalhadores a poupar para obter uma aposentaria que complemente a pública. Todavia, os recursos que os trabalhadores investem na previdência privada, nada mais são do que parte do seu trabalho necessário transferido ao capital para alimentar a ciranda financeira.

De acordo com Granemann (2006), a previdência privada organiza-se em diversos países através de Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) e de Entidades Abertas de Previdência Complementar (EAPC). As Entidades Fechadas de Previdência Complementar ou fundos de pensão são organizadas por um grupo de empresários ou através da junção de várias empresas de um mesmo conglomerado ou setor produtivo. Fazem parte também dos fundos de pensão a previdência complementar instituída pelos Estados para proteger os trabalhadores aí empregados, bem como os fundos criados por entidades de classes profissionais ou de setor. Já as Entidades Abertas de Previdência Complementar são acessíveis a qualquer pessoa física, ofertadas por bancos, seguradoras e entidades de previdência.

Observa-se que os trabalhadores que contribuem para a previdência privada só conseguem ter uma aposentadoria mais robusta, ou seja, mais alta do que a aposentadoria paga pela Previdência Social quando complementam com os benefícios oriundos da Previdência Pública.

Se deixarem de receber a previdência social as médias pagas pela previdência privada não seriam significativamente mais elevadas para o conjunto dos trabalhadores com aposentadorias em fundos de pensão do que são os benefícios pagos pela previdência pública. Dito de modo diverso, o eventual sucesso da previdência privada somente se constitui se existir a solidariedade da previdência pública: a previdência privada em si mesmo não tem como produzir aposentadorias na média muito mais elevadas do que o faz a previdência social (GRANEMANN, 2006, p. 37).

Nesta perspectiva, a previdência privada é uma excelente parceira do capital financeiro. A especulação financeira é uma forma que o capital encontrou para obter gigantescas somas de dinheiro oriundas da mais-valia retirada dos trabalhadores. O capitalismo avança no processo de internacionalizar os mercados, as economias, a produção e aprofundar ainda mais o desenvolvimento desigual e combinado entre os países.

Nesse sentido, a previdência privada encaixou-se bem na ciranda financeira do capital, pois arrecada grandes somas de dinheiro para serem aplicadas nos negócios lucrativos do capital.

Granemann (2006) destaca que o capital reconheceu que parte do seu lucro (mais- valia) é destinada ao Estado objetivando formar o fundo público. Com tal reconhecimento o

capital realiza contrarreformas nas políticas sociais, dentre as quais a Previdência Social tem lugar privilegiado, devido à quantidade de recursos que é capaz de mobilizar e também para que as diversas modalidades de previdência privada possam prosperar é indispensável reduzir a eficiência da previdência pública.

No bojo dessas mudanças que ocorrem na Previdência Social são apresentados muitos desafios para o Serviço Social, principalmente porque o projeto de seguridade social incluído na Constituição Federal de 1988 tem sido descontruído pela política neoliberal instituída pelo capital no país, situação que exige dos assistentes sociais posicionamento crítico e a elaboração de um novo fazer profissional em conjuntura adversa aos direitos sociais.

3.3. MATRIZ TEÓRICO-METODOLÓGICA DO SERVIÇO SOCIAL NA PREVIDÊNCIA