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4 CONSTRUÇÃO DA DOCÊNCIA COMPARTILHADA

4.1 BREVE CARACTERIZAÇÃO DA ONG CASA DO ZEZINHO

De acordo com a caracterização oficial da ONG, a Associação Educacional e Assistencial Casa do Zezinho, fundada em 1994, é uma organização social sem fins lucrativos. Está situada no Parque Maria Helena, na zona sul de São Paulo, localizada no distrito do Campo Limpo, próximo ao bairro do Parque Santo Antônio e do distrito do Capão Redondo139. Anualmente, recebe, de segunda a sábado, cerca de 1.500 pessoas, dentre as quais a maioria crianças e jovens entre 6 e 21 anos, atendendo também adultos. Todos são envolvidos em atividades de educação, arte, cultura, formação geral e em oficinas de capacitação profissional.

Cabe apontar que a metodologia pedagógica utilizada denomina-se Pedagogia do Arco-

Íris, baseada nos quatro pilares da educação: Ser, Conhecer, Saber, Fazer. Assim, cada cor do

arco-íris remete a uma fase da vida da pessoa no processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, as crianças e os adolescentes de idades entre 6 e 13 anos são incorporadas ao Projeto

Aprender Brincando, distribuídos, conforme seu desenvolvimento, pelas cores do Arco-íris:

Violetas, Jeans, Mares e Rios, Matas, Solar. Já no Projeto Educação para o Século XXI, encontram-se as salas designadas como Oriente e Coração, atendendo adolescentes e jovens entre 14 e 21 anos, funcionando nos períodos da manhã e da tarde. Além disso, havia o Projeto

Vagalume que atendia jovens e adultos no período noturno, incluindo o cursinho pré-vestibular

e as oficinas profissionalizantes; e, por fim, aos fins de semana acontecia um projeto chamado

Arte e Cultura na Periferia aberto aos familiares dos articuladores e comunidade local.

Grande parte dos usuários chegava, por exemplo, ao espaço Oriente, uma das últimas séries (que corresponderia aos últimos anos do ensino fundamental II), com dificuldades de leitura e escrita, embora tivessem oficinas de língua portuguesa.

137 Referem-se como processo negociado as interlocuções entre o que estava proposto pelas Diretrizes Curriculares e aqueles temas que geravam interesse aos (as) alunos (as).

138 Disponível em: <http://www.casadozezinho.org.br/>. Acesso em: 05 jan. 2018.

139 Essa região é composta por aproximadamente 1,2 milhões de habitantes, local que já foi considerado um dos lugares mais violentos do mundo pela ONU e ficou conhecido como “triângulo da morte” devido ao alto índice de assassinatos por arma de fogo.

No entanto, a prioridade da ONG em relação a estes jovens, não era necessariamente a educação em seu estrito sentido, mas a educação, na perspectiva da ONG, era a ponte para o acesso à lógica trabalhista. A Casa do Zezinho compreendia que o caminho fosse a inserção dos usuários no mercado de trabalho, havendo uma espécie de escambo entre as empresas e a ONG, em que se trocava apoio financeiro por jovens trabalhando em qualquer função. Portanto, para melhor entender o lugar onde esses jovens moravam e circulavam, faz-se necessário uma breve caracterização do Distrito do Capão Redondo.

4.1.1 Formação do Capão Redondo

A área do Capão Redondo era conhecida como Guavirituba, nome indígena que se dá em razão da forma de ocupação circular na qual aqueles que se estabeleciam no local levantavam acampamento. A circulação dessas populações na região do Capão Redondo intensificou-se a partir de 1915, onde até então se praticava a pesca, a caça e o lazer já que era uma área rural com grandes fazendas e córregos com água limpa. A partir de 1950, inicia-se o processo de loteamento e a “chegada” de energia elétrica a fim de acompanhar o crescimento do mercado imobiliário, sendo, muitos desses espaços, solicitados por proprietários particulares.

Esse início de desenvolvimento social era parte do projeto de modernização local e estava dentro de uma política desenvolvimentista, que, ao mesmo tempo, prosseguia com uma política higienista em prol do branqueamento, empurrando a população negra para a periferia, sendo obrigada a trabalhar em locais distantes de suas moradias. Com o decorrer dos anos, verificou-se que, embora o progresso na região tenha trazido um número expressivo de empresas, bancos e projetos imobiliários, não houve uma melhoria da condição de vida da população negra. Esse abandono social era expresso nos altos índices de violência, assassinatos e desemprego dentro dos morros, becos e vielas, cuja aglomeração deu origem às extensas áreas ocupadas pelas favelas (CARRIL, 2006).

De acordo com Carril (2006), os grandes investimentos imobiliários eram direcionados à classe média, de modo que a implantação desses projetos habitacionais gerou o afastamento da população negra e pobre para locais desprovidos de infraestrutura e a região passou a ocupar o primeiro lugar no “ranking de favelização por distrito”. O adensamento populacional dessa região foi acompanhado por um intenso processo de favelização que não pode ser discutido sem

levar em consideração o aspecto negativo a ele associado. O negro morador da periferia passa a sofrer uma dupla exclusão – a racial e a econômica.

Na década de 1980, diversos movimentos sociais pressionaram o governo reivindicando financiamento e regulamentação de loteamentos ocupados anteriormente de forma irregular. Tais situações desencadearam algumas melhorias nessas regiões periféricas. Entretanto, essas regiões continuam a crescer de maneira irregular e desenfreada devido à chegada de mais moradores e do crescimento das famílias. Nesse sentido, a favela do “fundão” é um exemplo de bolsão de pobreza no convívio lado a lado com bairros da classe média alta e grandes empresas. Segundo Carril:

[...] a população foi sendo empurrada cada vez mais para espaços de miséria, levada à imobilidade espacial devido à falta de recursos financeiros até para pagar o transporte, numa tendência ao confinamento territorial. (sic) O afrodescendente vem sendo penalizado não apenas quanto à dificuldade de ingressar no mercado de trabalho, mas também por localizar-se em espaços segregados, de miséria e de escola pública sem investimentos. A baixa escolaridade e má qualificação profissional lhes restringem oportunidades no mercado de trabalho. Assim, cabe analisar quais têm sido as perspectivas, as formas de organização e de luta dessa comunidade no espaço urbano, sua expressão e seus significados. (2006, p. 145).

Desse modo, ainda em conformidade com a autora, o termo periferia refere-se às áreas localizadas em regiões mais distantes do centro da metrópole, que, de forma geral, caracterizam-se, em sua maioria, pela falta de infraestrutura. Assim, mergulhamos nesse cenário para realizarmos nossas pesquisas e a partir do olhar frente às necessidades juvenis é que construímos o método de estudo.