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Breve comentário sobre as alterações dos planos de carreira e sistema

3 A ADIN N° 215 E SEU JULGAMENTO

3.2 Breve comentário sobre as alterações dos planos de carreira e sistema

Conforme explanado no tópico anterior, a partir do julgamento da ADIN n° 2135/DF, foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal a redação do caput do Art. 39 da Constituição dada pela EC n° 19/1998, e restaurada a redação original desse dispositivo. Sendo assim, hoje, temos novamente a exigência expressa de instituição pelos diversos entes federados de planos de carreira para os servidores de suas respectivas Administrações Diretas, autarquias e fundações públicas.

Convém enfatizar que somente o caput do Art. 39 foi objeto da referida decisão da Corte Suprema, sob o fundamento de inconstitucionalidade formal, qual seja, inobservância do processo legislativo estabelecido no artigo 60, §2° da Constituição. Todos os demais parágrafos do Art. 39 permanecem com a redação que lhes deu a EC n° 19/1998, sem qualquer ressalva.

O vigente §1° do Art.39 da Constituição Federal exige que a fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório, pelo legislador de cada ente

federado, observe a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira, os requisitos para a investidura, e as peculiaridades dos cargos. O atual §2° do Art. 39, nitidamente inspirado no principio da eficiência, base da idéia de administração gerencial, exige que cada um dos entes federados mantenha escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos. A participação dos servidores nos cursos de aperfeiçoamento promovidos por tais escolas será um dos requisitos para a promoção na carreira. Poderão ser celebrados convênios ou contratos entre os entes federados, a fim de possibilitar a colaboração desses recursos orçamentários economizados em cada órgão ou entidade.

Aduz Alexandrino e Paulo (2009, p. 313):

Trata-se de regra salutar, uma vez que possibilita sejam estimuladas iniciativas internas de redução de despesas e de aumento de produtividade nos diversos órgãos e entidades, diferentemente do que costuma se verificar atualmente. De qualquer forma, será necessária a edição de lei, por parte de cada ente federado, que estabeleça o modo como ocorrerão.

Observa-se, portanto, que, embora a EC n° 19/1998 tenha suprimido do caput do Art. 39 a expressa menção a obrigatoriedade de criação de planos de carreira, as disposições por ela mesma introduzidas nesse artigo traduzem o nítido intuito de promover a profissionalização e aperfeiçoamento dos servidores públicos.

Da mesma forma, ao tratar de assuntos como padrões de vencimento e promoção na carreira, o texto constitucional deixa clara a necessidade de existência de planos de carreira (sem os quais não faz sentido falar em promoções ou em padrões de vencimento). (ALEXANDRINO; PAULO, 2009, p. 314).

Seja como for, qualquer dúvida que pudesse existir ficou superada com a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da citada ADIN, porquanto foi restabelecida a redação originaria do caput do Art. 39 da Constituição, voltando a exigência expressa de instituição pelos diversos entes federados de planos de carreira para os servidores de suas respectivas Administrações Diretas, autarquias e fundações públicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aplicando hoje o texto original do Art. 39, da CF, que introduziu o regime jurídico único para os servidores públicos, a doutrina debate a amplitude dessa expressão e a sua conciliação com as demais regras da CF. Vale lembrar que essa discussão já permeava o dispositivo quando de sua edição e nunca foi efetivamente resolvida, perdendo o sentido com o advento da EC n° 19/1998, reacendendo, com sua suspensão, a necessidade de enfrentar a polêmica.

Destaca-se a necessidade de se conciliar a aplicação do Art. 39 (prevê regime único) com o disposto nos Art. 51, inciso IV, 52, inciso XII, 61, §1°, inciso II, alínea “a”, e 114 que contemplam a existência de empregos nas pessoas jurídicas de direito público. Reconhece que a harmonia só é possível entendendo que o pretendido pelo Art. 39 não foi estabelecer a obrigatoriedade de um único regime jurídico para todos os servidores da Administração de direito público, mas impor que a União e suas entidades da Administração Indireta, e assim as demais ordens políticas, tenham nas suas respectivas esferas, uma uniformidade de regime para os servidores.

Não é possível que na Administração Direta se adote um regime e na sua autarquia outro regime, admitindo que as atividades básicas estejam sujeitas ao regime de cargo, enquanto algumas remanescentes, de menor importância, sejam exercidas sob regime de emprego.

Nesse raciocínio, o autor adverte que, apesar da possibilidade de se adotar o regime de emprego, a escolha não pode ser indiferente. Reconhece que, para os servidores das pessoas jurídicas de direito público, o regime normal, corrente, terá que ser o de cargo público, admitindo-se a escolha do regime celetista para certas atividades subalternas.

Assim não resta dúvida sobre o restabelecimento, ainda que prévio, do regime único para os servidores públicos, e o que parece mais ponderado é que a exigência determina a escolha de um só regime para a mesma ordem política, seja na Administração Direta ou na Indireta, o que não significa a obrigatoriedade do regime estatutário.

Vale ressaltar que não há uma definição quanto a total abrangência da expressão regime jurídico único, não tendo ainda nem a doutrina, nem a jurisprudência consolidado o posicionamento.

Também não está definida a situação dos entes que realizaram a mistura dos dois regimes, isto é, dos servidores do regime celetista que estão em ente que adota o regime estatutário, ou vice-versa. O Supremo Tribunal Federal, quando suspendeu o artigo 39 (que permitia o regime múltiplo), não enfrentou essas questões, deixando a problemática para ser enfrentada no julgamento de mérito da Ação Direta de Inconstitucionalidade.

Dessa forma, a situação encontra-se incerta até o julgamento definitivo da ação pelo STF. Para alguns é notório que a argüição da ADIN proposta é legal e moralmente aceita, haja vista, a violação formal do processo legislativo vigente. Contudo, há também dentro dessa mesma corrente, uma discussão no sentido de que, se constatado vício formal, toda a emenda deve ser obrigatoriamente suspensa e não parcialmente como fora feito. Já para outros a situação diz respeito à mera técnica de redação, o que não permite que o tribunal interfira em questões internas do órgão legislativo.

Em meio a essa discussão cremos que o mais coerente e sensato do ponto de vista jurídico é manter a subsistência de todos os atos praticados por entendermos que princípios e institutos como da segurança jurídica e do ato jurídico perfeito devem ser observados cabalmente, até porque, a discussão não está no mérito e sim na ausência de formalidade.

REFERÊNCIAS

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