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CAPÍTULO II – SISTEMAS EDUCATIVO PORTUGUÊS E FINLANDÊS

2. Sistema Educativo português

2.2 Breve contextualização da educação em Portugal

Portugal é marcado por diversos acontecimentos sociais, desde a nível da esfera política à económica, que condicionam o desenvolvimento da sociedade e nos permitem refletir sobre a evolução do sistema educativo.

Na Idade Média, o ensino em Portugal assumia um caráter religioso, competindo aos mosteiros, e a algumas escolas, ensinar a ler, a escrever e a contar. Em 1288 surge a primeira universidade, intitulada “Estudo Geral”, com a sua origem em Lisboa e mais tarde fixada em Coimbra em 1537. Neste período destaca-se a criação de colégios que têm como uma das principais funções a preparação para a universidade. O ensino superior perde autonomia, passando a estar sujeito à autoridade real. O século XVIII é marcado pela concorrência entre a igreja e o Estado no que se refere ao ensino, aos poucos foram reunidas condições para um sistema educativo cada vez mais dirigido, controlado e financiado pelo Estado (Sistema Educativo Nacional de Portugal, 2003).

Marquês de pombal, Ministro do rei D, José I, foi o responsável por importantes reformas no ensino. A criação da Aula do Comércio e da Diretoria Geral dos Estudos resulta numa série de medidas que permitiram a reforma geral do ensino superior em 1772. A criação do imposto “subsídio literário” que tinha por fim o financiamento das despesas na educação, a reforma no ensino universitário com vista à sua modernização e o avanço no ensino científico, com a criação das Faculdades de Medicina e Matemática constituem alguns exemplos das importantes medidas de Marquês de Pombal que se tornaram inéditas em toda a Europa. “No reinado seguinte, o de D. Maria I, o ensino volta às mãos dos religiosos e grande parte do ensino do ensino elementar e médio é ministrado nos conventos” (Sistema Educativo Nacional de Portugal, 2003: 17).

Com a implantação do liberalismo em Portugal surgiu a Constituição e novas medidas com vista a melhorar o país. A educação tornou-se uma das prioridades, onde foram feitas diversas mudanças, sobretudo ao nível do ensino primário: “ (…) é o caso do decreto intitulado ‘Regulamento Geral da Instrução Primária’ que, em 1835, consubstancia a primeira grande reforma do regime constitucional” (Sistema educativo Nacional de Portugal, 2003: 18). A reforma permitiu a formalização do currículo escolar com a introdução de disciplinas no ensino primário, a criação de liceus, Escolas do Ensino Superior e do Conselho Superior da Instrução Pública. Em 1884 sucede-se uma segunda reforma no ensino “ (…) a qual divide a instrução primária em dois graus e organiza as Escolas Normais de formação de professores” (Sistema educativo Nacional de Portugal, 2003: 18). A criação de um Ministério

da Instrução Pública, de Escolas Femininas, comerciais, industriais e de desenho industrial permitem a qualificação de professores para outro tipo de ensino, o que levou a abertura de concursos internacionais.

O ano de 1894 foi importante para a educação, foram criadas escolas dedicadas ao ensino primário, bem como para adultos e alunos com necessidades especiais. A reforma no ensino secundário constitui um importante momento na história do ensino em Portugal que permitiu “ (…) uma nova visão no ensino liceal, o sistema de classes substitui o de disciplinas e o ensino é organizado num curso geral de cinco anos, seguido de mais dois que constituem o ensino complementar” (Sistema educativo Nacional de Portugal, 2003: 19). A implantação do liberalismo constituiu um período importante para a reestruturação do país, a sociedade depara-se com um reforço do papel da escola, a educação é encarada como um direito que o Estado deverá conceber aos cidadãos: “A educação deve ser universal, aplicar-se a todos os cidadãos. O Estado deve garantir o mínimo de educação para todos” (Barreto, 1999: 255).

Com a instauração da República são aplicadas importantes medidas com o objetivo de melhorar o sistema educativo português que se encontrava atrasado em relação à Europa, com elevados níveis de analfabetismo. “A educação e o ensino irão ser indelevelmente marcados pela República, proclamada a 5 de Outubro de 1910” (Sistema educativo Nacional de Portugal, 2003: 19). A situação em que o país se encontrava levou à necessidade de novas reformas para os diferentes graus de ensino, que proporcionaram melhorias significativas. O ano de 1911 é marcado pela criação dos primeiros Jardins-Escola e das Universidades de Lisboa e Porto.

Nos anos sessenta, os baixos níveis da educação levam a repensar na educação e a uma avaliação profunda da situação em que se encontra, por parte do Estado, com vista à alteração das políticas. Sucedem-se medidas como o aumento da escolaridade obrigatória para seis anos, sendo que aqueles que desejem prosseguir os estudos após quatro anos e a aprovação no exame têm acesso aos liceus ou ensino técnico. Em 1973 no seguimento do projeto do Sistema Escolar e as Linhas Gerais da Reforma do Ensino Superior, é aprovada a lei que “ (…) permite uma nova reforma do sistema educativo e que, pela primeira vez, introduziu o conceito de democratização no âmbito de um regime político nacionalista e conservador” (Sistema educativo Nacional de Portugal, 2003: 22).

A partir de 1964/65 a política de expansão do sistema educativo associado à reforma de Veiga Simão, bem como a extensão da obrigatoriedade escolar foram fatores importantes para a evolução do Sistema Educativo. Na década de setenta, o significativo crescimento da

natalidade no pós-guerra, foi igualmente um fator pertinente para o aumento da população escolarizada (Tavares, 1991).

Após o golpe militar de 1974 que permitiu repor o Estado democrático, surge uma nova organização da sociedade, novas políticas e prioridades: “ (…) Apesar dos conflitos sociais e dos debates ideológicos próprios de um período revolucionário, desenham-se consensos quanto ao papel da educação no desenvolvimento económico e na modernização do país” (Sistema educativo Nacional de Portugal, 2003: 22). O empenho e participação social no repensar do ensino facilitaram as transformações neste setor, sobretudo a nível dos conteúdos da aprendizagem nos diferentes graus de ensino, onde se sentiu a maior alteração. No ensino primário “ (…) elimina-se o regime de transição da primeira para a segunda fase de aprendizagem e são progressivamente extintos todos os cursos complementares do ensino preparatório (…) ” enquanto no ensino secundário lança-se o 8º e 9º ano de escolaridade do curso geral unificado. Em 1980 surge o 12º ano de escolaridade com o objetivo de “ (….) constituir o ciclo terminal do ensino secundário e a função de ano vestibular para o ingresso no ensino superior” (Sistema educativo Nacional de Portugal, 2003: 24).

Nas últimas décadas a educação em Portugal sofreu inúmeras mudanças, no que se refere ao número total de alunos no período de 1969 a 1999 os registos são positivos, apresentando um aumento significativo em todos os graus de ensino. Devido à queda acentuada da natalidade: “O número de crianças nos dois primeiros ciclos do ensino básico até ao sexto ano está em diminuição marcada: se hoje, estão matriculados, nesses graus, cerca de 900.000 alunos, esse valor era, há dez ou quinze anos, superior a 1.400.000 alunos” (Barreto, 1999: 52). Enquanto o número de alunos no ensino secundário disparou, assim como no ensino superior após a Revolução de 1974.

Os deveres e as obrigações do Estado relativamente à educação estão firmemente ancorados: “O direito à educação está constitucionalmente consagrado, legalmente protegido e culturalmente enraizado, havendo apenas grandes diferenças sociais quanto ao método e à qualidade do cumprimento desses deveres” (Barreto, 1999: 264). A sociedade portuguesa e o Estado encontram-se fortemente centralizados a nível económico, político, social e administrativo: “A história recente das relações entre o poder central e as comunidades locais revela a gradual e quase permanente sobreposição do Governo e da Administração nacional aos municípios” (Barreto, 1999: 126).

Nos últimos anos são frequentes os debates sobre a educação e o sentimento de insatisfação predomina perante as sucessivas reformas, na tentativa de melhorar o sistema educativo, sem sucesso: “Este sentimento de mal-estar remonta ao diagnóstico, formulado no

final dos anos 60, da existência de uma ‘crise mundial da educação’, que deve ser entendida como uma crise da escola” (Canário, 2005: 59). Apesar dos esforços para garantir uma maior qualidade de vida às populações, os serviços parecem ser insuficientes e de baixa qualidade em relação às necessidades acrescidas. Como é o caso das creches ou jardim-de-infância que apresentam lugares disponíveis insuficientes em relação à procura.