BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO
Em 1893, ano de nascimento de Maria Lamas, sai o decreto que regulamenta o
trabalho das mulheres e das crianças nas indústrias, a licença de parto e a criação de
creches nas empresas.
48No ano seguinte, dá-se a reforma do ensino secundário de Jaime
Moniz com a valorização da vertente humanista.
49Em 1900 a população continental do país apresentava o número de 5 016 267
habitantes, dos quais a população urbana atingia 32,4% e a rural 67,6%. Os Açores
contabilizavam 256 291 habitantes e a Madeira 150 570. No início do século XX, o
número de operários industriais não ultrapassava os 85 600, dos quais, 45 000 eram
homens.
Em 1905, é criada a Liga da Educação Nacional e em 1906, no início da ditadura
de João Franco nasce o primeiro liceu feminino, Maria Pia, por decreto de Eduardo José
Coelho.
No ano fatídico de 1908, mais precisamente a 1 de Fevereiro acontece o
regicídio de D. Carlos I e do príncipe D. Luís Filipe. A 6 de Maio do mesmo ano é
aclamado rei D. Manuel II, quando se contabilizam, em Lisboa, 3398 pobres.
Em 1909 é formada a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, apesar de
ainda no ano seguinte o número das suas adesões não ultrapassar as cinco centenas.
50Em 1910 apenas estão construídos pouco mais de 3000 quilómetros de vias-
férreas, sendo 58% de companhias particulares em que a CP detém 1172 quilómetros. A
rede de estradas contabiliza 16000 quilómetros.
5148 In Natividade Monteiro, Maria Veleda, Lisboa, Comissão para a Igualdade e Direitos da Mulher, 2004, p.10.
49 Id., ibid.
50 In Pedro Ramos de Almeida, História do Colonialismo Português em África, Lisboa, Estampa, 1979, p.53.
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No país há 552 escolas primárias, com cerca de 6000 professores, mas 702 das
3918 freguesias, o que representa 17,5%, não têm qualquer escola. Há 32 liceus, com
8691 alunos e 510 professores. Há 8 creches e nenhuma maternidade.
A Revolução de 1910 foi precedida de um intenso período de propaganda. A luta
contra o analfabetismo e a promessa de amplo desenvolvimento das instituições
educativas faziam parte da ideologia da República. Triunfante, o regime incluiu o
ensino entre as primeiras preocupações. A reforma de 1911, com António José de
Almeida resultou da congregação de muitos esforços. Entretanto, a colagem de alguns
monárquicos que tinham passado ao campo republicano, e a discordância em relação a
aspectos de fundo e de forma, conduziram ao afastamento voluntário de João de Deus
Ramos e de João de Barros. O último travaria uma polémica na imprensa com o próprio
ministro, cujo nome ficaria ligado à reforma.
Enquanto João de Deus Ramos consagrou a maior parte da sua actividade ao
prosseguimento da obra de seu pai, o pedagogo e poeta João de Deus, deve-se a João de
Barros uma acção muito intensa e continuada de doutrinação e acção administrativa no
Ministério da Instrução.
João de Barros defendeu energicamente a laicização do ensino, de acordo com o
ambiente anticlerical da Primeira República, como condição prévia da libertação das
energias populares e a sua orientação no sentido das realidades nacionais.
A luta contra o analfabetismo, o desenvolvimento da educação infantil e
primária, o incremento do ensino técnico-profissional, não poderiam fazer esquecer a
necessidade da educação moral, da educação cívica e da educação artística. O ensino
deveria ser integral.
52A presença feminina
53na maçonaria é bastante posterior à Constituição de
James Anderson (1679-1739)
54de 1723. O Maçom tinha de ser um cidadão na plena
posse dos seus direitos cívicos, capaz de assegurar os seus deveres para com a
sociedade. Sendo uma sociedade iniciática, e para mais excomungada, a documentação
51 Idem, p.60.
52 Cf. Rogério Fernandes, João de Barros – Educador Republicano, Lisboa, Livros Horizonte, Lisboa, s. d., p 24.
53 Fernando Marques da Costa, A Maçonaria Feminina, Lisboa, Editorial Vega, s. d., p. 43.
54 James Anderson, mestre de uma loja maçónica em Londres, escreveu uma história dos Maçons, que foi publicada em 1723, como Constituição dos Maçons Livres, mas que ficou conhecida como a Constituição de Anderson, tendo sido o primeiro livro maçónico impresso nos Estados Unidos da América. A segunda edição, em 1798, foi traduzida em diversas línguas.
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não abunda para determinados períodos da sua história e em muitos mesmo não chegou
a produzir-se por temor das perseguições. É o que se passa nas duas primeiras décadas
do século XIX. Contudo, é nesse período que se parece verificar a primeira iniciação
feminina. Diz Rodrigo Felner que Andrade Corvo, iniciado no ano de 1814, viria a ter
uma fulgurante carreira maçónica até 1817, ano em que trai o movimento liberal, sendo
um dos denunciantes de Gomes Freire de Andrade, teria persuadido a viscondessa de
Juromenha a entrar para a maçonaria, precisamente, em 1814, tendo em atenção a
grande intimidade com os centros de decisão nesse difícil período da regência inglesa. A
loja Restauração de Portugal, de que as senhoras dependiam era uma loja da velha
guarda fundada em 1867.
Só em 1904 é que voltam a aparecer lojas de Adopção. Em França, Louise
Michel (1830-1905) foi iniciada em 1901. Em Portugal, em 1910 aparecem duas lojas
novas de adopção: a Humanidade, filial da Comércio e Indústria e a 8 de Dezembro, a
filial da Fernandes Tomás. A actividade das senhoras dentro da maçonaria não é alvo de
grandes registos.
Mas a intensa campanha política anti-monárquica e a importância do contributo
de grandes vultos feministas, faz com que os ideais de emancipação, face à tutela das
lojas masculinas, e de igualdade de direitos e representação junto das diversas
hierarquias maçónicas, ganhe pouco a pouco terreno até se tornar realidade, por decreto
de 8 de Abril de 1907. As senhoras passam então a pertencer a lojas femininas
independentes, tal como as masculinas, com representação própria em todas as
instâncias do poder electivo. A maçonaria feminina portuguesa adianta-se assim 38 anos
às primeiras lojas femininas independentes formadas no pós II Grande Guerra.
A loja Humanidade, presidida por Ana de Castro Osório, evolui normalmente
dentro da hierarquia maçónica até receber, a 6 de Junho de 1909, Carta Patente de
Soberano Grande Capítulo de Cavalheiros Rosa Cruz. Abandonando o Grande Oriente,
a loja trabalhou no mundo profano, durante sete anos, pela emancipação da mulher sob
todos os pontos de vista, principalmente, moral e civil. Sofrem, apesar disso, um
enfraquecimento. Eram em 1913, um grupo de vinte, que se encontra sete anos depois
reduzido a oito elementos.
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Eis alguns dos nomes de mulheres que faziam parte da loja Humanidade
55:
Carolina Ângelo, Aurora de Castro Gouveia, Amélia Trigueiros, Vitória Pais Madeira,
Angélica Porto, Domingas Larazy Amaral. Há ainda Adelaide Cabete, Maria da Luz
Pereira, Aurora Fernandes da Silva, Fábia Ochôa e Elisa Lima.
Em 1935, é criado o Curso de Serviço Social
56, identificado com a Igreja
Católica, cuja criação se deve ao Patriarcado de Lisboa. Um dos cursos de Educadora de
Infância
57existentes na capital, criado em meados da década de cinquenta, contando, na
sua direcção, com um elemento feminino conotado com a Igreja Católica – quer porque
possuíam a chancela de destacados membros do meio – o caso do curso de Artes e
Decoração, não da Escola de Belas Artes, mas de uma Fundação
58privada – estas
opções constituíam na realidade prolongamentos das estruturas de enquadramento a que
as jovens do meio mais elevado da sociedade estavam submetidas desde o início da sua
socialização, representando, no conjunto destas mulheres, o tipo de habilitação mais
comummente atingida.
Estes cursos ofereciam uma reconhecida respeitabilidade no funcionamento e na
frequência, oferendo ainda a sua total ou quase total feminilização.
As três grandes áreas frequentadas pelas meninas da elite eram as seguintes:
-as letras;
55 A título de curiosidade reproduzimos de seguida, os nomes simbólicos de algumas mulheres maçónicas, referentes à Loja Carolina Ângelo do GOLU, em 1920: Ana de Castro Osório – L. da Fonseca Pimentel; Antónia Bermudes – Filipa de Vilhena; Clandina Machado – Marquesa d‘Alorna; Antónia Barroso Vitorino – Hida Liz; Eliza Breia – Mariana de Lencastre; Anita Gaspar – Catarina de Atayde; Ana Castilho – Brites de Almeida; Olímpia Soares – Joana d‘Arc; Amélia Romão de Freitas – Madame Roland; Júlia Antunes Franco – Brites de Moura; Beatriz Esmeraldo – Eva; Beatriz Lemos – Clemence Roger; Vitória Pais Madeira – Liberdade; Mariana Silva – Mariana de Lencastre; Ermelinda da Silveira - Inês Perez; Angélica Porto – Madame Roland; Domingas Lazary Amaral – Heloísa d‘Abelard; Emília Santos – Antónia Puside; América Trigueiros de Sampaio – Madame Roland; Romana Moreira - Clemence Roger; Laurentina Pires - Angelina Vidal; Vitória Gomes – Chike de Lamshrade; Palmira Ferrão – Judith; Maria Coelho – Heloísa; Júlia Azevedo – Ninon; Paulina Costa – Brites de Almeida; Cármen Segui – Colombie; Regina Oray – Charlote Corday; Emília da Conceição – Liberdade.
56 Nascido em 1935 sob os auspícios do Patriarcado, este curso recebe quatro anos depois o seu reconhecimento oficial e, em 1961, é-lhe dada equivalência a curso superior. O seu lançamento parece ter obtido o apoio do meio, já que desde a sua fundação, até 1944 irá funcionar sob a direcção, respectivamente, da Condessa de Rilvas e da Condessa de Almoster. In Ernesto Fernandes «Elementos para uma cronologia do Serviço Social em Portugal», Intervenção Social, 2-3, pp. 143-148.
57 O projecto da «Escola de Educadoras de Infância», nasce em 1954, mas a sua criação oficial data de 1959. Diário do Governo, IIIª série, 4 de Novembro de 1959.
58 Criada em 1953, a Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva abre o seu curso de Artes Decorativas (decoração de interiores) quatro anos depois, neles prestando colaboração, não apenas professores nacionais, mas também frequentemente personalidades nacionais e estrangeiras de destaque no mundo das artes, conferindo aos seus cursos um grande prestígio entre as classes altas. In António Alçada Baptista, Fundação Ricardo de Espírito Santos Silva, Museu – Escola de Artes Decorativas, Lisboa,
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-a assistência e a protecção, tarefas a que há muito se dedicavam as mulheres do
meio mais alto, sob a forma de beneficência;
-dactilografia;
-estenografia;
-puericultura;
-floricultura.
Na nota introdutória da Estatística da Educação, em 1943, há uma
congratulação com o presente volume que inaugura a publicação da nova estatística da
Educação em Portugal. O presente volume entra ao serviço da Nação e na história da
estatística portuguesa. Trata-se de uma obra completa que abarca todos os graus de
ensino desde o menor ao mais elevado.
Em 1940, o ensino português englobava o Ensino Infantil, o Ensino Primário
Elementar, o Ensino Liceal e o Ensino Técnico e Profissional.
Havia também o Ensino Elementar e Complementar que compreendia as Escolas
Comerciais e Industriais, as Escolas Práticas de Agricultura, as Escolas de Enfermagem
e o Serviço Social. O Ensino Médio dividia-se em Institutos Comerciais e Agrícolas.
No que concerne o Ensino Artístico consideravam-se duas vertentes: Música e
Teatro e Belas Artes. O Ensino Normal não tinha divisões. Já o Ensino Superior
subdividia-se nas seguintes vertentes: Ensino Universitário Geral, Faculdades de
Ciências, Faculdades de Direito, Faculdades de Letras, Faculdades de Medicina,
Faculdades e Escolas de Farmácia, Faculdades de Engenharia, Escola de Medicina
Veterinária, Instituto Superior de Agronomia, Instituto de Ciências Económicas e
Financeiras, Instituto Superior Técnico, Escola Superior Colonial e Ensino Militar e
Naval.
Assim, em 1940/41 havia 10 429 estabelecimentos de ensino oficial, no
continente e nas ilhas. No continente havia 10 294 no ensino primário, das quais 7 768
eram escolas e 2 526 eram postos escolares. Nas ilhas Angra do Heroísmo, Horta, Ponta
Delgada e Funchal havia 504 escolas e 129 postos escolares.
É de notar que, enquanto no Porto havia 827 escolas e 197 postos escolares, em
Lisboa havia 424 escolas e 153 postos escolares.
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No que se refere ao ensino liceal havia um total de 43 no continente e ilhas,
sendo tudo dentro das unidades à excepção de Lisboa, com uma dezena. O Porto
apresentava apenas 6 liceus.
O Ensino Elementar e Complementar apresentava um total de 55 escolas, Ensino
Médio, 8 escolas, o Ensino Artístico, 5 escolas e o Superior 21, distribuídas por
Coimbra, com 5, Lisboa, com 12 e Porto, com 4.
No que se refere aos estabelecimentos de ensino particular autorizados havia um
total de 526, distribuídos da seguinte forma: 19 no infantil e primário, um no infantil,
primário e liceal, 226 primário, 173 primário e liceal, 56 primário, liceal e técnico, 7
primário e técnico, 27 liceal, 5 liceal e técnico e 14 técnico, com incidências
maioritárias em Lisboa e Porto.
Em 1940/41 havia um total de 693 473 alunos, sendo os rapazes 410 926 deste
total. Deste total 620 923 andavam no oficial e 72 550 no particular, sendo os rapazes
do oficial 345 243 e no particular 44 557. No ensino liceal oficial havia 15 877 alunos,
sendo os rapazes 10 044. No ensino particular liceal havia 16 445 sendo os rapazes 8
713. No ensino técnico profissional elementar e complementar havia um total de 36
285, rapazes eram 26 692, no oficial. No particular havia 2 087 alunos, sendo os rapazes
1 516. No ensino médio oficial eram 3 532, onde mais uma vez os rapazes estavam em
maioria com 3 197 alunos.
No ensino artístico oficial havia 1 016 sendo aqui a maioria composta por
raparigas, havendo apenas 420 rapazes, no particular 878, rapazes 128. No ensino
superior oficial havia 9 321 sendo os rapazes 7 552 em número superior.
No ensino infantil no número total de 1 334, dos quais 588 rapazes e 746
raparigas, mais uma vez em, número superior.
Numa outra vertente, relativamente ao que se passava no mundo feminino,
Abúndio da Silva (1874-1914) considera em 1912, que ― as soldadas das nossas criadas
aumentaram extraordinariamente nestes últimos quinze anos: qualquer rapariga, que
começa a fazer a sua aprendizagem, ganha hoje tanto como dantes ganhava uma criada
feita, boa cozinheira, activa e cuidadosa. Em Lisboa, a soldada média de uma criada
deve computar-se em 5$000 reis mensais, no Porto em 4$000 reis, e nas terras de
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província […] uma boa criada ganhava, há 20 anos, dez mil reis por ano, e hoje
qualquer delas, por menos perita que seja, ganha 1$500 a 1$800 reis por mês.
59Para Abúndio da Silva
A mulher foi feita para a maternidade e para as alegrias e trabalhos do lar doméstico: é esta a regra geral. Mas se se dá o caso de a mulher não ter lar, de não poder formá-lo ou de se desfazer o que tinha? E se esse lar, mercê das condições económicas, exige que a mulher o alimente também, trabalhando fora dele como o homem? A mulher é uma pessoa, e como tal assiste-lhe o direito de escolher livremente e de seguir a sua vocação. As profissões femininas que devemos aconselhar, aquelas em cujo favor urge, pelos modos mais variados, criar uma corrente no mundo feminino, são as profissões em que as mulheres aproveitam as aptidões características do seu sexo. O centro da actividade feminina é a maternidade e as tarefas a esta anexas: dirija-se, pois, essa actividade para os trabalhos da mãe, da educadora, da dona de casa, para todos aqueles misteres que a mulher fará bem e que nós, os homens, faremos, se não mal, pelo menos pior do que ela. Procure a mulher aquelas carreiras nas quais se supre a insuficiência das mães: escolas profissionais, escolas de ensino doméstico, escolas maternais e de educação.60
Nesta época, ―a mulher operária não [era] uma excepção na sociedade
contemporânea, [era] a regra.‖
61Ao discorrer sobre a função social da mulher, Abílio Barreiro
62, em 1912, dizia
que ―os admiráveis estudos de Darwin sobre a selecção sexual mostram como, na
espécie, a fêmea tem geralmente uma representação biológica muito mais importante
que a do macho.‖
63Era generalizada a opinião sobre o papel da mulher na sociedade:
Desde a puberdade até à menopausa, durante toda a vida sexual que compreende a juventude e a idade adulta, sem dúvida a melhor parte da vida somática, a natureza a cada momento lhe lembra rudemente a sua função de mãe: É primeiro o desabrochar da vida sexual, a puberdade, alargando-lhe a bacia, avultando-lhe os seios, suavizando-lhe a voz, mas fazendo-se acompanhar também quase sempre dum cortejo de modificações de ordem patológica, algumas vezes indeléveis até à menopausa, outras vezes persistindo mesmo toda a vida; a anemia, a histeria, as enxaquecas, para não citar senão as mais conhecidas, fornecem inúmeros exemplos dessa ordem. E entre essas duas idades críticas, geralmente dos 12 aos 45 anos, ainda mesmo nos casos normais, o fluxo catamenial, uma vez em cada mês lunar, lhes chama ainda a atenção para a função específica. Em suma, na patologia das mulheres, as doenças ginecológicas concorrem
59 Abúndio da Silva, Feminismo e Acção Feminina (Cartas a uma Senhora), Braga, Editores Cruz & Cª, 1912, pp. 345-346.
60 Idem, pp. 81-84. 61 Idem, p. 89.
62 Abílio Barreiro, O Feminismo (Principalmente no Ponto de Vista do Ensino Secundário), Porto, Tipografia da Empresa Literária e Tipográfica, 1912. Neste livro, dedicado às suas cinco irmãs, Abílio Barreiro refere de um modo sumário a história da mulher no mundo. Abílio Barreiro fez uma visita de estudo pela França, Suíça e Alemanha do sul tendo em vista os efeitos da alimentação nas doenças, tendo visitado vários sanatórios.
63 Abílio Barreiro, O Feminismo (Principalmente no Ponto de Vista do Ensino Secundário), Porto, Tipografia da Empresa Literária e Tipográfica, 1912, p. 11.
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com uma enorme percentagem para essa onerosa prerrogativa da maternidade. Finalmente as dores violentas a que nenhuma parturiente escapa, as exigências do «post-partum» reclamadas pela natureza, os cuidados do purpúreo, inclusive do aleitamento, impostos pela boa higiene, são outros tantos laços que a prendem dolorosa, mas em geral gostosamente aos seus filhos.64
Letourneau (1835-1902) observa que ―a evolução social, que se vem operando
desde o matriarcado das sociedades primitivas até à família actual, transportou
lentamente a mulher «de besta de carga e animal doméstico até às condições sucessivas
de escrava, de serva, de sujeita e de menor», suavizando-lhe gradualmente a vida, mas
sem jamais a arrancar do lar.‖
65Num enaltecimento das mulheres, Abílio Barreiro destaca Madame Curie, no
descobrimento do rádio, Paula Lombroso que tem notáveis estudos psicológicos sobre a
criança; e entre nós Carolina Michaëlis, Angelina Vidal, Maria Amália Vaz de
Carvalho, Ana de Castro Osório e Olga de Morais Sarmento.
66No que concerne à educação da mulher no ensino secundário, Abílio Barreiro
considera que o plano de estudo deve ser orientado para ―o governo da casa, educação
dos filhos e o auxílio do marido‖, porque são «aplicações verdadeiramente úteis e de
resultados imediatos» que um ensino primário não pode, de modo algum, satisfazer
completamente.
67Abílio Barreiro considera que a ―educação deve aproveitar aos vários estratos
sociais e não apenas às classes mais altas.‖
68Para este estudioso,
A educação em comum deve aspirar a um carácter tanto quanto possível homogéneo, tal como a educação dos homens, a fim de que as privilegiadas da sorte aprendam a render o devido preito às qualidades morais e intelectuais das suas companheiras, únicas qualidades que, sobre a base da modéstia, podem estabelecer legitimamente o merecimento das pessoas. A verdadeira instrução deve ser profundamente educativa e, como tal, não pode pesar sobre a humildade dos pobres, nem servir de pedestal ao orgulho dos ricos.69
No início do século XX, foram criadas as Escolas Profissionais e «Ménagères»,
as Escolas Normais da Ciência Doméstica, com cursos especiais, muito difundidas no
64 Abílio Barreiro, op. cit., p. 14.
65 Citado por Abílio Barreiro, in O Feminismo (Principalmente no Ponto de Vista do Ensino Secundário), Porto, Tipografia da Empresa Literária e Tipográfica, 1912, p. 16.
66 Abílio Barreiro, op. cit. p. 38. 67 Idem, p. 41.
68 Idem, p. 43. 69 Id., ibid.
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estrangeiro, e que Louis Frank (? -?)
70, no seu livro L’Éducation Domestique des Jeunes
Filles ―dá notícia muito desenvolvida, mostra como lá fora se vai tomando a sério este
assunto.‖
71Na École des Mères de Madame Moll-Weiss (1863-1946)
72ensina-se não
somente a higiene e as leis da economia doméstica, os cuidados aos doentes, a
puericultura e a pedagogia fisiológica, o direito usual, o papel da mulher na família e na
sociedade, mas também a preparar uma alimentação racional adaptada ao estado de
saúde e de doença, ou seja como se tira melhor partido de todos os recursos para
administrar a casa com economia e inteligência, enquanto nos Estados Unidos já se
ensinava Economia Doméstica nas Faculdades.
73Em 1902, numa conferência internacional para a profilaxia da sífilis e das
doenças venéreas, em Bruxelas, sob proposta de Louis Frank, aprovou-se a seguinte
moção:
A conferência emite o voto de que o problema da educação racional e progressiva das questões de ordem intersexual, no ponto de vista higiénico e moral, seja posto junto dos instituidores e educadores da juventude em todos os graus. Uma comissão é nomeada para estudar a redacção dum tratado que, inspirando-se das brochuras existentes, servirá de indicação para este ensino e permitirá a sua vulgarização em todos os países.74