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O modelo de pesquisa utilizado para desenvolver este trabalho foi inspirado em um estudo desenvolvido na Europa, o Research Network on Gender Politics and the State (RNGS)13. Trata-se de um estudo colaborativo focado na influência que os movimentos de mulheres exercem nas decisões de políticas públicas e nas formas de representação substantiva e descritiva das mulheres. Seu foco não são países, mas processos de policy-making em democracias pós-industriais. O modelo da RNGS, ou modelo de Feminismo Estatal, foi desenvolvido a partir de teorias de representação política, de políticas públicas, do neo-institucionalismo e dos movimentos sociais.

Neste modelo, as categorias das teorias de representação democrática e dos movimentos sociais foram sintetizadas em tipologias criadas para mensurar as variáveis estudadas. A pergunta de pesquisa é: “até que ponto e sob quais circunstâncias tipos diferentes de agências de políticas para as mulheres providenciam vínculos (linkages) eficazes e necessários para os movimentos de mulheres alcançarem respostas substantivas e procedimentais do Estado?”. O sucesso entre agências de políticas para as mulheres e os movimentos foi identificado e mensurado na pesquisa através da análise de debates políticos tanto em termos de participação quanto de resultados.

O RNGS é um projeto focado na influência que os movimentos de mulheres exercem nas decisões de políticas públicas. O modelo busca combinar as preocupações teóricas do feminismo com as da teoria democrática. A pesquisa mostrou que, ao longo de 30 anos, os movimentos de mulheres agiram em aliança com as agências de políticas para as mulheres que apóiam suas demandas e conseguiram obter sucesso em expandir sua representação política, tornando as democracias pós-industriais ainda mais democráticas.

Segundo Joni Lovenduski (2008), pesquisadora integrante do RNGS, o estabelecimento de agências de políticas para as mulheres mudou a forma como os movimentos de mulheres – incluindo o feminista – avançavam em suas demandas porque, em princípio, as agências trouxeram a possibilidade de influenciar a agenda. Elas seriam capazes de incrementar o acesso das mulheres ao Estado, situando a participação das mulheres no processo político de tomada de decisão e inserindo objetivos feministas na política pública. Ainda segundo as premissas adotadas no RNGS, as agências de políticas para as mulheres se inteiram dos interesses dos movimentos de mulheres fazendo alianças com atrizes centrais, em especial alianças com o movimento feminista (movimento

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Ver LOVENDUSKI, Joni (2008) “State Feminism and Women´s Movements”, West European Politics. Vol.31, Nos 1-2, 169-194, January-March 2008. Ver também Research Network on Gender Politics and the State online, disponível em http://libarts.wsu.edu/polisci/rngs.

forma, perceberíamos uma crescente especialização de militantes feministas, com a proliferação de ONGs (organizações não-governamentais) e a institucionalização de suas formas de atuação

O sucesso entre agências de políticas para as mulheres e os movimentos foi identificado e mensurado na citada pesquisa através da análise de debates políticos tanto em termos de participação quanto de resultados. Para testar suas proposições, o RNGS examinou debates políticos em distintas áreas temáticas, em países similares, por um período em que as agências de políticas para as mulheres estavam em ação. Foram escolhidas cinco áreas para análise: aborto, prostituição, treinamento profissional, representação política e “assuntos quentes”, ou prioridades nos anos 1990. Monitorou-se cada debate para determinar como ele chegou à agenda pública, qual formato predominou e se o debate foi gendered, ou seja, se foram incorporados a ele conteúdos de gênero.

Os pesquisadores então determinaram se novos significados de gênero foram introduzidos no debate ou não, e quem foi o responsável pela inserção. O final de cada debate foi descrito (lei, relatório ou outro tipo de decisão) e, no curso do processo, muita atenção foi dirigida ao papel desempenhado pelas agências de políticas para as mulheres e pelo movimento de mulheres. Por fim, classificam-se as características do movimento, da agência e do ambiente político.

Para analisar o impacto do movimento de mulheres sobre o resultado, o modelo utiliza duas dimensões de respostas substantivas e aceitação procedimental tal qual proposto por Gamson14 e então o classifica em termos de uma tipologia de quatro categorias, como podemos ver na tabela abaixo:

IMPACTO DO MOVIMENTO DE MULHERES/ RESPOSTA ESTATAL

A política adotada e os objetivos do movimento coincidem? Sim Não As mulheres são envolvidas no processo político?

Sim Resposta dupla Cooptação

Não Preferência Sem resposta

Ou seja, quando o Estado aceita que as mulheres participem do processo e as mudanças políticas coincidem com as demandas feministas, temos uma “resposta dupla”. A “preferência” ocorre quando o Estado satisfaz a demanda sem envolver as mulheres no processo. Quando sua participação é permitida mas o Estado não acata a demanda, temos a “cooptação” como classificação. Quando não há participação nem atendimento de demanda, ficamos “sem resposta”.

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tipologia de quatro categorias baseadas em duas variáveis: se a agência milita pelas demandas feministas e se foi eficaz em mudar os moldes do debate de forma a coincidir com as demandas feministas. Desses pressupostos tiramos a tabela abaixo:

TIPOLOGIA DAS ATIVIDADES DAS AGÊNCIAS DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES

A agência milita pelos objetivos do movimento feminista?

Sim Não

A agência muda os moldes do

debate incorporando

“gênero”?

Sim Insider Não-feminista

Não Marginal Simbólica

A partir daí, analisam-se quais debates obtiveram sucesso, ou resposta dupla, qual a relevância do ambiente político, do movimento de mulheres e das agências de políticas para as mulheres no curso do debate e sua parcela de contribuição para o sucesso ou não.