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2. Aspectos Gerais sobre Arquitetura Hospitalar

2.2. Breve Histórico

Segundo Góes (2004), o termo hospital vem da palavra hospitalidade, do latim, hospitalis, derivado de hospes (hóspede, viajante, peregrino), configurado inicialmente como um local de abrigo para viajantes, com o passar do tempo essas edificações agregaram mais dependências, passando a abrigar também pessoas enfermas.

Segundo Miquelin (1992), na antiguidade, os estabelecimentos hospitalares funcionavam como abrigos. Na Idade Média, a maioria dos enfermos procuravam mosteiros, locais em que tinham acesso a atenção especializada.

34 No início da era cristã, segundo Góes (2004), a terminologia mais usada era a latina. Vejamos:

• Nosocomium - Lugar para tratar doentes, asilo, enfermos. • Nosodochium - Lugar para receber doentes.

• Ptochotrophium - Asilo para pobres. • Poedotrophium - Asilo para crianças.

• Xenotrophium - Asilo de refúgio para viajantes estrangeiros. • Gynetrophium - Hospital para mulheres.

• Gerontokomium - Asilo para velhos.

• Hospitium - A Lugar onde os hóspedes eram recebidos, daí o nome de hospício para estabelecimentos que recebia enfermos pobres, incuráveis ou insanos.

Criados nesse período os três tipos de estabelecimentos que tiveram maior preocupação com os enfermos foram:

• Os Xenodochium3– Construções públicas que serviam de refúgio para os forasteiros. Mais tarde recebeu o nome de Hospitium.

• Os Lobotrophium4 – atendiam leprosos, portadores de doenças de pele e inválidos (aqueles que não tinham mais esperança de vida).

• Os Nosocomium5 – recebiam doentes e são os mais próximos do que hoje conhecemos de um hospital. Esse termo hospital – instituição de atenção a doentes - surgiu como uma tradução para o latim do termo grego Nosokhomeion.

Na Idade Média, segundo Miquelin (1992), a base formal dos edifícios hospitalares era uma nave com vãos maiores melhorando consideravelmente as condições de iluminação e ventilação.

3Xenus = estrangeiro, dexonai = receber. (Fonte: GÓES, Ronald de. MANUAL PRÁTICO DE ARQUITETURA

HOSPITALAR. Cidade de São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2004).

4 Asilo para leprosos e inválidos. (Fonte: GÓES, Ronald de. MANUAL PRÁTICO DE ARQUITETURA

HOSPITALAR. Cidade de São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2004).

5 Refúgio para abrigar enfermos. (Fonte: GÓES, Ronald de. MANUAL PRÁTICO DE ARQUITETURA

35 No Renascimento, inicia-se uma certa atenção a divisão ou mesmo à utilização de barreiras físicas, levando assim a se desenvolver plantas em forma de cruz, que permitiam uma separação dos doentes em alas distintas a partir de um pátio central, favorecendo a ventilação e a iluminação, tempos depois algumas variações surgiram em forma de “T”, “L” ou “U” e também em forma de quadrado, dependendo da capacidade de enfermos.

Os hospitais do Oriente apresentavam uma separação espacial (por sexo e grupo de patologias), já os do Ocidente eram ligados a ordens religiosas, mais interessadas em propiciar conforto e abrigo aos necessitados.

Segundo Toledo (2005), somente no Renascimento começou-se a diferenciar as patologias, surgindo a partir desse ponto a preocupação com a arquitetura hospitalar, a utilização do Partido arquitetônico em cruz com um pátio central (adequação da ventilação e iluminação). Com a evolução das cidades, surgiram doenças e desordem, resultando em novas adequações, sendo desenvolvida, então, a morfologia pavilhonar que é baseada na horizontalidade, espaçamento regular entre as edificações, facilitando a ventilação e a iluminação natural dos ambientes e poucos pavimentos, configuração essa que perdurou até o início do século XX, quando a tecnologia permitiu a construção de vários pavimentos, surgindo o sistema monobloco vertical.

Miquelin (1992) destaca as fases e os tipos mais representativos no processo de transformação histórica dos EAS e que foram referenciais importantes para a arquitetura, tanto estrangeira quanto brasileira:

• na Antiguidade, o uso de templos e pórticos; • na Idade Média, o uso da nave;

• na idade Moderna, o partido em cruz e o uso do claustro (pátio)

• evoluindo posteriormente para o modelo pavilhonar em blocos na Idade

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Ilustração 1 - Complexidade na história dos edifícios hospitalares (MIQUELIN, 1992).

Na Grécia Antiga, segundo Miquelin (1992), existiam três tipos diferentes de edifícios ligados a saúde: os públicos (Xenodochium), os privados e os religiosos. As hospedagens recebiam estrangeiros, casas modestas sem adaptações, outro local eram os templos - onde o tratamento era praticado por sacerdotes, neste caso, o doente iria só pra receber o tratamento mediante mensagens divinas.

O “Hospital Grego” era composto por um conjunto de edifícios, sendo ao mesmo tempo hospital, sanatório, centro de pesquisas médicas e teatro, a exemplo do templo da Ilha de Cós, conforme apresentado na Ilustração 2.

Ilustração 2 - Templo da Ilha de Cós, Grécia (MIQUELIN, 1992).

37 Para Antunes (1991), no Império Romano, existiam as Valetudinarias6, essas edificações se destacavam na cura dos enfermos e serviam de socorro e abrigo aos feridos, com seu formato quadrado dividido por um cruzamento de duas vias principais. A enfermaria romana foi a primeira onde os enfermos podiam passar a noite.

Segundo Miquelin (1992), o programa básico das Valetudinárias era formado por quatro elementos que se organizavam em torno de um pátio central quadrado ou retangular, sendo que três compartimentos ficavam ao longo de uma circulação, enquanto o quarto, a abrigar as funções de serviço e administração, localizava-se junto ao acesso principal, conforme apresentado na Ilustração 3.

Ilustração 3 - Elementos organizados em torno de um pátio central - Valetudinária de Vetera, Roma

(MIQUELIN, 1992).

A introdução do edifício pavilhonar inovou com a redução do número de leitos, a separação de doentes em pequenos grupos, a melhoria das condições de iluminação natural, a ventilação cruzada, evitando a estagnação do ar ao permitir as renovações e a separação dos serviços de apoio das áreas de internação em pavilhões intercalados, levando a flexibilidade e a previsão para ampliações e adequações futuras. Para Miquelin (1994), a flexibilidade está relacionada com a modulação e a padronização de espaços.

38 A anatomia7 do hospital pavilhonar reflete a preocupação de seus projetistas para garantir a proteção dos enfermos isolando áreas de internação e proporcionando uma integração com a natureza, reconhecendo a ação profilática dos raios solares e do contado direto com o meio ambiente.

A Ilustração 4 mostra os principais tipos mais utilizados atualmente – verticais e horizontais.

Ilustração 4 - Diferentes agrupamentos nas tipologias horizontais e verticais (GÓES, 2004).

Segundo Toledo (2002) arquitetos brasileiros usaram a morfologia da tipologia pavilhonar, passando desse modelo para o monobloco vertical, tipologia verificada na obra do engenheiro Luiz Moraes Júnior, primeiro especialista em edifícios laboratoriais e hospitalares. Ele construiu a Fundação Oswaldo Cruz, em Manguinhos, Rio de Janeiro. O monobloco vertical foi à tipologia mais utilizada pelos arquitetos modernistas brasileiros, conforme apresentado na Ilustração 5.

7 A palavra anatomia é tomada emprestada da medicina por Miquelin (1992), para descrever os diferentes

39 (a) (b)

Ilustração 5 - a) Fachada principal da Fundação Oswaldo Cruz; b) Perspectiva da Fundação Oswaldo Cruz,

campus de Manquinhos 8.

Em 1934, já adotando o partido monobloco vertical ao invés do pavilhonar, no edifício do Hospital da Brigada Militar de Recife, conforme apresentado na Ilustração 6, o arquiteto Luiz Nunes, projetou um conjunto constituído de três blocos, ora longitudinais, ora transversais de seis andares em estrutura de concreto armado (Ilustração 7).

Ilustração 6 - Partido monobloco verticalno Hospital da Brigada Militar de Recife (GÓES, 2004).

Ilustração 7 - Decomposição volumétrica do Hospital da Brigada Militar de Recife (GÓES, 2004).

40 A consolidação desse partido coincidiu com o surgimento dos procedimentos ativos mais eficazes de assepsia, colocando as barreiras físicas - introduzidas anteriormente pelo Partido pavilhonar - em segundo plano, identificando-o como mero suporte espacial para as práticas curativas.

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