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3. Percepção Visual como Elemento de Conforto

3.2. Suporte Teórico: À Teoria da Gestalt

Os pesquisadores alemães Max Wertheimer, Wolfgan Kohler e Kurt Koffka, no início do século XX formaram a Escola Gestalt11, formulando algumas leis da Psicologia de percepção organizacional que ordenam o surgimento da imagem visual, afirmando que não se pode ter conhecimento do todo através das partes e, sim, das partes através do todo e que só através da percepção da totalidade o cérebro pode perceber, decodificar e assimilar uma imagem ou um conceito.

A Teoria da Gestalt afirma que o cérebro age no processo da percepção e seus elementos constitutivos agrupando de acordo com as características que possuem entre si. O fenômeno da Percepção acontece através da decomposição e imediata recomposição das partes em relação ao todo.

As Leis da Gestalt são a pregnância da forma que é a capacidades de perceber e reconhecer as formas, onde cada elemento é percebido em sua forma mais simples.

O grau de simplicidade – modo como se organizam os elementos e a estrutura que define o lugar e a função de cada detalhe do conjunto - afeta a percepção, quanto mais simples a forma mais fácil de ver por sua vez, as formas mais complexas levam mais tempo para

50 serem entendidas, esse conceito é muito usado na criação gráfica, pois exige um alto grau de pregnância na sua forma essencial, pois um de seus objetivos é ser reconhecida seja qual for o contexto.

A Pregnância aplicada a arquitetura imprime a forma com o sentido de massa ou volume tridimensional e tem como propriedades o formato (contornos que delimitam a figura ou forma), o tamanho, a textura, a cor, a posição, a orientação e a inércia visual. A simplicidade em termos perceptivos mantém a estrutura da composição, pois articula um número mínimo de elementos. A percepção e a compreensão de uma composição dependem da maneira como se interpreta a interação visual entre os elementos positivos (figuras ou edificações) e negativos (plano de fundo ou contexto onde a edificação esta inserida). A Pregnância aplicada à Iluminação mostra que a iluminação sobre os objetos ou um espaço facilita ou dificulta a delimitação das formas, conforme mostrado na Ilustração 9 do Rose Center For Earth and Space, em Nova Iorque. Independentemente de serem iluminados por fonte natural ou artificial, a facilidade na compreensão dos elementos depende de sua simplicidade, quanto mais simples mais tendem a se separar como entidades (formas) independentes.

(a) (b)

Ilustração 9 - Rose Center For Earth and Space, Nova Iorque. a) iluminação natural prejudica a percepção da

forma; b) iluminação artificial evidencia a forma.12

Segundo Lima (2010), os princípios de organização perceptual são: a proximidade, onde o ser humano tende a enxergar elementos que estão mais próximos uns dos outros como um único elemento; e a semelhança: baseia-se em objetos com a mesma característica visual

51 como o formato, a cor, a textura e o tamanho, a igualdade de uma dessas características é um fator mais forte de organização que a proximidade do elemento.

Dessa forma, os conceitos de proximidade e semelhança aplicada à Arquitetura se complementam, pois a repetição de elementos forma grupos e criam um padrão harmonioso à edificação. Nesse sentido, esses elementos não precisam ser idênticos, mas para serem agrupados precisam ter um denominador comum para que pertença a mesma família (tamanho, forma ou características) (Ching, 1999).

A forma mais simples de repetição é um padrão linear de elementos redundantes. Os elementos não precisam ser perfeitamente idênticos, entretanto para serem agrupados de uma maneira repetitiva podem ter apenas um traço ou um denominador comum, permitindo que cada elemento seja individualmente único e ainda assim, pertença à mesma família – tamanho, formato, característica de detalhes (Ching, 1999).

Os elementos geram o ritmo em uma composição que pode-se estabelecer uma hierarquia ou manter o mesmo grau de importância. Observando a Ilustração 10, apesar das chaminés da La Pedreira não serem exatamente iguais, a proximidade às agrupam, pois possui proporção e hierarquia em relação ao próprio edifício, assim como a semelhança dos pilares do Supremo Tribunal Federal (Ilustração 11) fazem com que a repetição dos elementos com a mesma característica visual levem a uma percepção em grupo criando padrões rítmicos e intervalos em sequência.

Ilustração 10 - Agrupamento dos elementos por proximidade - Chaminés da La Pedreira, Espanha.13

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Ilustração 11 - STF - Supremo Tribunal Federal.14

O princípio da continuidade descreve a preferência por contornos contínuos e sem quebras, onde toda unidade linear tende a se prolongar na mesma direção e com o mesmo movimento. Aplicada à arquitetura os elementos arquitetônicos em sua direcionalidade não são interrompidos ou seccionados, conforme apresentado na Ilustração 12, não se veem ornamentos que rompem a direcionalidade. A fachada quando interpretada em sua forma mais simples, no plano horizontal branco, tem sua estabilidade rompida por um corte proveniente de suas aberturas horizontais (janelas).

Ilustração 12 - Fachada principal da Villa Savoye, Le Corbusier, 1928.15

O princípio é o mesmo aplicado a capela de St Basilt, onde em sua fachada principal o plano vertical completamente liso e branco, sem elementos decorativos tem sua estabilidade rompida por uma fenda próximo a um dos cantos – uma abertura ligeiramente dobrada forma o acesso principal a edificação (Ilustração 13).

14 Fonte: http://www.flickr.com/photos/rbpdesigner/5716797852/- Disponível em 26/06/2011. 15 Fonte: http://www.bomestaremcasa.com.br/?p=281 - Disponivel em 26/06/2011.

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Ilustração 13 - Fachada principal da Chapel od St. Basilt, University of St.Thomas, Philip Johnson e Alan

Ritchie Architects.16

Aplicada a iluminação, parte-se do princípio que a luz não muda sua trajetória por si só, mas intensifica elementos e dinamiza movimentos, exprimindo continuidade. Essa dinâmica de movimento com a luz, alternando entre os padrões de cores: amarelo, verde, azul e rosa, criando uma continuidade através das cores e do movimento pode ser vista na iluminação da ponte Akashi-Kaiakyo, projetada por Motoko Ishii (Ilustração 14).

Ilustração 14 - Iluminação da Ponte Akashi Kaikyo, Japão.17

O princípio do fechamento é aplicado quando procuramos ver uma figura completa mesmo quando parte da informação está faltando. Aplicada a arquitetura é possível visualizar o contorno do edifício mesmo sem haver fechamento da forma. O projeto do Centro Cultural Jean Marie Tjibaou, concebido pelo arquiteto italiano Renzo Piano, traduz a idéia de algo inacabado, conforme apresentado na Ilustração 15. Nele, suas 10 unidades em forma de

16 Fonte: http://www.m759.net/wordpress/?s=%22April+7%22 - Disponível em 26/06/2011.

17 Fonte: http://www.orangesmile.com/travelguide/afoto/most-beautiful-bridges.htm - Disponível em

54 concha estão agrupadas de três em três, todas com tamanhos e funções diferentes, construídas com tecnologia moderna, em madeira laminada colada, estruturada por tubos de aço inoxidável.

Ilustração 15 - Conjunto Jean-Marie Tjibaou Cultural Centre, localizado Austrália na Ilha de New Caledonia,

Nouméa.18

Na Ilustração 16, o projeto do Centro Wexner em Columbus, Ohio, tem sua estrutura semelhante a um castelo descontruído, com a intenção de passar por inacabado, com partes de sua volumetria subtraída passam a ideia de fechamento. O fator do fechamento é importante na formação dessa unidade, pois a sensação do visual da forma pela continuidade numa ordem estrutural definida agrupa os elementos de maneira à constituir uma figura completa, exaltando um fator importante de instigação e atração visual, aliado a soluções obtidas com sutileza promovendo o refinamento formal.

Ilustração 16 - Fachada principal Wexner Center in Columbus, Ohio.19

18 Fonte: http://neilatavaresgeleiageral.blogspot.com/2009/08/uma-obra-de-arquitetura-de-cair-o.html -

Disponível em 26/06/2011.

55 Importante não confundir a sensação do fechamento sensorial, de que trata a lei da Gestalt, com fechamento físico, contorno dos elementos.

Aplicada a iluminação, apresenta-se de duas formas diferentes, a luz do dia se apresenta exatamente como é, já à noite a iluminação artificial destaca as qualidades da edificação, ao realçar e enfatizar suas partes relevantes e não o todo da edificação, permitindo ao observador ter uma plena noção da forma. Usar a iluminação como meio de insinuação do formato da arquitetura é a maneira mais comum de aplicar o princípio do fechamento, contrastando, tonalidade, cor e intensidade da luz, permitindo mesmo em parte ao observador ter boa noção da forma do todo.

A iluminação da ponte Kuokkala, na Finlândia, os pilares e um trecho lateral da viga são iluminados, permitindo a descontinuidade da forma, mas os trechos iluminados são elementos suficientes para nossa mente compor a estrutura, a direção, seu começo, meio e fim, conforme apresentado na Ilustração 17, o contraste através da presença de luz e a sombra, a uma variação de tons, dá a impressão de movimento, nesse caso é vital para a criação de um todo coerente, intensificando o significado da figura.

Ilustração 17 - Iluminação da Ponte Kuokkala Bridge. 20

A Gestalt coloca que a visão não é um registro mecânico de elementos, mas sim a captação de estruturas significativas (Arnheim, apud Cunha, 2004). Farina, apud Cunha (2004), completa, usando os princípios da psicologia, para dizer que o mundo percebido por qualquer indivíduo é, em grande parte, um mundo resultante das experiências adquiridas em lidar-se com o meio ambiente.

20 Fonte: http://www.visitfinland.com/web/guest/finland-guide/where-to-go/lakeland/municipalities/detail/-

56 A cor pode criar ilusões, influenciar diretamente o espaço e criar efeitos diversos, como monotonia ou movimento e, com isso, diminuir ou aumentar a capacidade de percepção, de concentração e de atenção.

Segundo Hall (1977) o aparelho sensorial do homem insere-se em duas categorias que podem ser classificadas em receptores à distância (aqueles que se relacionam com o exame de objetos distantes – os olhos, os ouvidos e o nariz) e receptores imediatos (os empregados para examinar o mundo de perto – o mundo do tato, as sensações que recebemos da pele, membranas e músculos). O ser humano percebe o mundo simultaneamente através de todos os seus sentidos, o que resulta em uma grande quantidade de informações potencialmente disponíveis.

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