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Breve histórico da APEOESP

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Com as mudanças sociais e econômicas no final da década de 1960 surgem agentes sociais que, em âmbito mundial e nacional, reorganizam o cenário político. No Brasil isso é mediado pela ditadura militar que impossibilita, até meados da década de 1970, a manifestação aberta desta nova fonte de energias políticas no nosso território (Saif, 2007).

A fundação da APEOESP ocorreu em 1945, na cidade de São Carlos. Até o fim da ditadura militar está entidade foi marcada por uma política assistencialista, ou seja, não atuava como representante dos interesses corporativos e políticos do magistério paulista. No depoimento dos nossos entrevistados esta questão aparece com freqüência, “Durante a ditadura todos os sindicatos sofreram intervenção. A APEOESP e o CPP nunca foram referências para os trabalhadores da educação.”

(R). Esta situação teve fim com a irrupção dos movimentos de base que se insurgiam principalmente contra a precarização dos contratos de trabalho.

Entre os anos de 1977 e 1979 houve uma intensa agitação na base da categoria que acabou redundando na criação de dois grupos, o Movimento de União dos Professores (MUP) e ao Movimento de Oposição Aberta dos Professores (MOAP). Os dois movimentos tiveram origem na rede particular de ensino, mas logo começaram a atuar sobre o magistério público paulista. Um dos entrevistados que participou ativamente do movimento por outra direção do sindicato neste período reflete sobre a viabilidade de disputa em relação às Associações Docentes existentes naquele momento histórico: “Apesar das diferenças políticas, os grupos de oposição atuavam em unidade de ação em circunstâncias decisivas para o movimento dos professores naquele momento de transição.” (R). Foi assim com a iniciativa de organizar um abaixo-assinado com o objetivo de convocar uma assembléia para organizar os professores em torno de uma pauta de reivindicações.

A Assembléia dos Professores de maio de 1977 aprovou a criação de uma Comissão Aberta que tinha ampla participação da “base da categoria”. Para outro entrevistado os ataques sobre os salários e as condições de trabalho dos professores já começaram a se dar na década de 1960 com a ampliação da oferta de vagas na escola pública que não foram acompanhadas por investimentos necessários para sua efetivação: "Na década de 1980 tivemos avanços lindos, a questão do Estatuto do Magistério. Eu acho que esta Proposta Curricular foi totalmente arrebentada a partir do outro governo." (R). A Comissão Aberta realiza uma assembléia geral em agosto de 1978 com mais de dois mil professores, deflagrando a primeira greve sem a participação da Diretoria da APEOESP. A greve, que durou 24 dias, teve como principal reivindicação uma proposta de reajuste salarial (20%). A greve obteve apoio em todo o Estado e acabou vitoriosa mesmo com a repressão. Diante da postura entreguista da Direção do Sindicato o Comando Geral de Greve transformou-se na Comissão Pró-Entidade Única (CPEU). O próximo depoimento de um sindicalista, que também participou deste momento, faz a seguinte observação sobre a reorganização da APEOESP:

É parte deste grande ascenso do movimento sindical ou de recomposição do movimento operário que tem no Brasil e no mundo, que reuniu vários agrupamentos de esquerda e conformou uma tendência sindical ampla chamado MUP (Movimento pela Unificação dos Professores). [...] Boa parte do pessoal que estava no movimento dos professores vinha do movimento estudantil e já vinha com certa experiência, ou, como diria um intelectual, um “back graund” do movimento estudantil; o que facilitava, também, a ação do movimento dos trabalhadores em educação, que facilitou. (F)

Diante deste poderoso movimento a Diretoria utilizou todos os métodos para não perder o controle do sindicato: manobras regimentais e delação à repressão militar, entre outros. Mas não consegue deter o ressurgimento do movimento de base capitaneado pelos grupos oposicionistas. Este contexto político é marcado por um processo de início da insurgência de um setor da sociedade, principalmente dos estudantes, mas, assim mesmo, a ditadura mantinha um forte esquema repressivo. A pressão da base e o novo momento político impuseram a eleição para a nova Diretoria. Em janeiro de 1979 quatro chapas estavam prontas e registradas. Segundo o próximo depoimento:

Conseguimos ganhar a eleição em 1979. Passamos por um período muito difícil na época do Maluf que cortou a contribuição sindical. Caímos para 12 mil associados, tínhamos que pagar o carnezinho, causando uma quebra muito grande. Mas a parti daí fiquei como Conselheiro da Entidade e depois na Diretoria. (R)

A Comissão convocou uma assembléia para abril de 1979, na gestão de Paulo Maluf. Em conjunto com o funcionalismo público foi deflagrada em assembléia uma greve que se manteve por 39 dias. Após a realização da eleição a Chapa da CPEU só conseguiu tomar posse com Medida Liminar da Justiça, no dia 10 de maio de 1979. Ao final desta greve Paulo Maluf respondeu com mais arrocho salarial, desconto dos dias parados e atos de arbitrariedade. O maior deles foi o corte do repasse das mensalidades da APEOESP, apostando no enfraquecimento da entidade com a redução do número de sócios, assim:

Passamos por um período muito difícil na época do Maluf que cortou a contribuição sindical. Caímos para 12 mil associados, tínhamos que pagar o carnezinho, causando uma quebra muito grande. (R)

Mas a estratégia de eliminar o Sindicato pela via da asfixia financeira não vingou, logo nos anos 1980 a entidade conseguiu se fortalecer e impulsionar importantes mobilizações. Existia no interior do magistério - devido à interrupção dos

20 anos de Ditadura Militar - um profundo atraso político, desta forma se coloca como desafio impulsionar o desenvolvimento de uma consciência de classe dos professores que lhe permitisse reconhecer-se como trabalhador e desta forma desenvolver uma rede de solidariedade com as demais categorias.

Para você consolidar o Sindicato, você tem que ter uma mudança no comportamento do professor tem que se sentir trabalhador [...] A década de 1980 foi onde nós investimos violentamente na formação. Nós queríamos uma mudança de comportamento do professor que não se sentia trabalhador, “esse negócio de greve é para metalúrgico, para químico”. (R)

No início da década de 1990 a grande greve do magistério paulista foi a de 1993, contou com um número muito grande de participantes, ocupou a Assembléia Legislativa e enfrentou a truculência do governo Fleury. Em 1995 houve uma tentativa de greve, mas, o índice de participação foi pouco expressivo, menos de 30% da categoria. Em 1998, outro intento grevista, também não logrou altos índices de adesão, esta enfrentou uma estratégia governamental de contornos abertamente neoliberais no trato com as reivindicações, ou seja, disposta a derrotar o movimento para acabar de impor o projeto de privatização da escola pública.

Em 2000 houve uma importante greve com enfrentamentos de rua, acampamento em frente à Secretaria da Educação, resultando em quatro professores demitidos por enfrentarem a repressão do governo Covas e mais de 35 indiciados por serem testemunhas de defesa dos professores demitidos como forma de coibir até um direito básico para a ordem do Estado democrático capitalista. A grande conquista da greve de 2000 foi impedir a aplicação da Reforma do Ensino Médio. Em 2005, no dia cinco de outubro, diante da ameaça de demissão de 120 mil professores contratados. Houve uma reação contundente da categoria que reuniu mais de 30 mil professores na rua contra o Projeto de Lei n.º 26, paralisando a capital e obrigando o então governador Geraldo Alckmin a retirar o projeto da Assembléia Legislativa no mesmo dia da manifestação. Isso revelaria uma grande reserva de combatividade da categoria, apesar das grandes dificuldades que enfrentou durante a década de 1990. Segundo um dos depoimentos:

O sindicato continua com essa grande atuação em decorrência do seu gigantismo, é um sindicato que tem 150 mil filiados, em torno de seis mil Representantes de Escola, quase 700 Conselheiros Estaduais. É uma

Entidade que tem uma vanguarda, uma militância muito densa, muito forte. (N)

Em relação à maioria destas instituições estão voltadas mais para a questão cooperativista, não mobilizam, não têm cultura de grandes ações, a não ser o CPP na década de 1960 fez uma greve, mobilizaram [...] É a luta que conquista, temos ciência absoluta que é a mobilização da categoria. O processo de discussão com a categoria e, principalmente, uma discussão política. (R)

Para este entrevistado a APEOESP se diferencia das demais entidades não pela sua estrutura organizativa ou financeira, mas, principalmente, pelo nível de formação qualificada do ponto de vista político da sua “vanguarda”.

Nos anos 1990, a CUT passou a desenvolver uma estratégia de adaptação à ordem e de administração do capital de forma a garantir a governabilidade, aplicando o que se convencionou chamar de “social liberalismo”, ou seja, a aplicação de políticas que garantam ao capital, principalmente o financeiro, taxas de lucros exorbitantes, combinadas com políticas secundárias de contenção social, como a Bolsa Família e outros projetos.

A geração precedente enfrentou no campo da política educacional o tecnicismo já consolidado nos anos 1970, uma gestão claramente autoritária e repressora e uma escola apartada das camadas mais pobres da população trabalhadora. Esta realidade facilitou a unificação de todas as correntes que se opunham à Ditadura Militar em torno de bandeiras que eram sintetizadas pela democratização da escola e pela inclusão social.

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