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Breve histórico da indústria da moda no Brasil e no Rio de Janeiro

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.5 Breve histórico da indústria da moda no Brasil e no Rio de Janeiro

De acordo com Favero (2014), a indústria têxtil e de vestuários possui mais de 200 anos de atividades no Brasil. A autora aponta a importante distinção entre a indústria têxtil, a de vestuários (assinalada como a de confecções) e a cadeia da moda. Favero (2014) corrobora Kontic (2007), quando este destaca que as duas primeiras, embora alcancem alguma relativa representatividade na produção industrial brasileira (indústrias de transformação), encontram-se em processo de decadência, desde o processo de abertura comercial, a partir da década de 1990.

41 Esse complexo industrial cresceu e desenvolveu-se como no resto do mundo, dentro do paradigma de produção fordista. Favero (2014) explicita a trajetória de como a indústria têxtil brasileira foi duramente impactada pelos efeitos do mundo globalizado e o paradigma pós-fordista de produção. Vale ressaltar que tal indústria é responsável pelo beneficiamento e produção das fibras, fiação, tecelagem, malharia e acabamentos, os quais vão ser transformados em peças e produtos vestuários pelas indústrias de confecções.

No mesmo sentido, Kontic (2007) avança e observa a emergência da indústria da moda, notadamente, vinculada às atividades relacionadas ao desenvolvimento criativo de produtos, em que ganham destaque o papel do design. Com efeito, Santos (2014) chama a atenção para o surgimento dos cursos e faculdades de design de moda, a partir dos anos 2000. Para a autora, tal fato configura-se como resposta ao processo de reestruturação e iminente crise competitiva da indústria têxtil nacional, enfatizando que a moda e o design seriam atividades criativas intimamente relacionadas (e próximas) ao mercado. Para a autora, a moda é guiada pelo design, inclusive porque sua principal característica é, antes de qualquer coisa, o aspecto funcional: vestir.

A moda é considerada uma criação funcional porque sua produção destina-se a uma função prática claramente definida, qual seja, vestir. Ainda que possa ser utilizada para outros fins pelos usuários – ostentação, proteção, religiosidades –, a criatividade envolvida no processo de criação destina-se à produção de um objeto feito para ser utilizado como vestuário, seja na forma de roupas, calçados ou acessórios. Esta diferenciação tem como objetivo distinguir estas criações daquelas que não possuem uma função prática tão clara: este é o caso das artes visuais, por exemplo. Um quadro pode até ser utilizado para decoração de um ambiente, mas não é explicitamente reconhecido um objetivo funcional em sua criação. (SANTOS, 2014, p.10)

A partir dos anos 1990, imbricado ao processo de abertura comercial e à maior presença de produtos de vestuários importados, como observa Peixoto (2005), iniciou-se o processo em que a moda começa a ganhar destaque e reconhecimento, como principal fator de competitividade dos produtos de vestuários nacionais. Assim, Santos (2014) destaca que os poucos cursos de bacharelado de moda no Brasil, que não eram regulamentados, passaram a ser, graças a uma portaria do Ministério da Educação (MEC), vinculados às faculdades de Design Industrial. Assim sendo, surgem, no início dos anos 2000, os cursos de bacharelado em Design de Moda.

A questão central, percebida por Kontic (2007), é que a grande chegada de produtos importados forçou os negócios locais a buscarem estabelecer diferenciação por meio do design, de estratégias de marketing, bem como a criação de uma identidade

42 (conceito) para os produtos nacionais. Até aquele momento (mercado ainda fechado), a principal estratégia da produção nacional era o da imitação, quando muito, inspiração, das/nas referências internacionais. Com a abertura, inicia-se a busca pela identidade da moda nacional, que levasse ao surgimento dos produtos com características brasileiras no mercado.

Nessa linha, a organização das semanas de moda, notadamente a São Paulo Fashion Week, no final dos anos 1990 (portanto, recente), e a consolidação de um calendário de produção de eventos pelo país (São Paulo e Rio de Janeiro), catalisam as bases de formação do produzir moda, com produtos que expressassem a cultura brasileira, os aspectos simbólicos da identidade nacional. Kontic (2007) destaca que a organização de um calendário de semanas de moda permitiu o estabelecimento da indústria da moda brasileira.

Nesses eventos, são apresentadas as coleções, os designers (estilistas) encontram-se com a imprensa especializada, também trocam conhecimento e observam as tendências projetadas nas peças e produtos das demais marcas. É, no fundo, o lugar que permitiu que os negócios locais de moda se projetassem para o exterior, voltando- se para a inserção da moda brasileira no mercado internacional, a partir do desenvolvimento de coleções e produções de desfiles com a temática brasileira. Favero (2014) acrescenta outro elemento que teria contribuído para o desenvolvimento da indústria da moda nacional: os shoppings centers. Para a autora, a evolução da moda brasileira foi reflexo da melhoria gradual e lenta na condição socioeconômica da população e, nesse mesmo processo, houve a expansão dos shoppings centers ao longo dos anos de 1990 e 2000. Com isso, criou-se o mercado de moda para as classes médias urbanas, que se soma aos tradicionais comércios de rua, populares ou de luxo, presentes nas grandes cidades.

As marcas de moda passaram a investir em design, marketing e estratégias de comunicação com os seus públicos. No entanto, a autora pondera que não há consenso se as produções brasileiras, de fato, teriam rompido com a prática de imitação ou adaptação das coleções estrangeiras, ou se, ainda hoje, a moda brasileira é permeada pelas referências propagadas pelas grandes marcas globais. De qualquer maneira, embora não haja consenso para esse tema, há sim indicativos de que, a partir dos anos de 1980, e sobretudo as décadas seguintes, a indústria de moda brasileira tenha encontrado alguns nichos de mercado e neles se consolidado (FAVERO, 2014; SANTOS, 2014; KONTIC, 2007). Exemplos são a moda praia e algumas marcas que

43 expressassem a cultura, símbolos e o estilo (modo) de vida brasileiros das grandes cidades.

Com efeito, esses trabalhos convergem para a ideia de que a indústria da moda nacional seria mais bem representada pela indústria de moda do Rio de Janeiro, que reuniria marcas que expressassem, sobretudo, produtos de moda praia ou um estilo de vida praiano-urbano, com identidade singular, com um design próprio. Ainda na perspectiva da singularidade das marcas de moda no Brasil e, particularmente, no que se refere ao recorte regional do Rio de Janeiro, Pereira (2010) apresenta que a indústria da moda brasileira encontra escalabilidade e dinamismo no mercado paulista. Entretanto, as marcas cariocas, notadamente a experiência e trajetória da empresa carioca Osklen (estudo de caso do trabalho do autor), representam (melhor) a identidade da moda nacional.

Na visão do autor, o caso da empresa Osklen seria símbolo da tendência da moda brasileira, a partir dos anos de 1990, em que se sobressai o papel dos diretores de estilo e criação e o processo de design das coleções. A mudança é a maior integração da gestão da marca, quando os negócios de moda passaram a estabelecer suas coleções e produtos, de maneira articulada ao posicionamento de mercado adotado. Pereira (2010, p.151) define a identidade da moda da empresa como um “(...) contexto de criação totalmente referenciado na ideia de brasilidade urbana no encontro da natureza e da cidade. ”

A seguir, discutem-se os impactos dos processos de reestruturação produtiva e a competitividade da moda no Rio de Janeiro, atualmente, a partir da revisão e análise da literatura.

2.6 Reestruturação produtiva e a competitividade da indústria da