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4. A RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DAS EMPRESAS

4.1. BREVE HISTÓRICO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

A redefinição na dinâmica das relações entre Estado e mercado tem papel fundamental na construção de um mercado de produção e consumo que tenha como meta a sustentabilidade social e ambiental. Isto pressupõe que a gestão empresarial fundamenta-se na busca da harmonização entre crescimento econômico e desenvolvimento socioambiental, traduzido em uma nova visão da empresa quanto ao seu papel social que deve ser refletido na cultura gerencial, pautada pela ética e aplicada nos processos e relacionamentos da prática empresarial cotidiana. Nesse sentido a responsabilidade social empresarial significa uma gestão voltada para aperfeiçoar a qualidade das relações, na sua visão de negócios centrada na sustentabilidade de negócios a longo prazo, propiciando relações trabalhistas baseadas no respeito, na ética, na busca da equidade, nas relações de gênero e raça, adotando critérios justos na seleção de fornecedores e parceiros (GEHLEN, 20006)

A responsabilidade social das empresas pode ser entendida portanto, quando sua representatividade como

um conjunto de ações, normas e condutas de conteúdo social e/ou ambiental – realizadas tanto de forma obrigatória quanto voluntária -, desenvolvidas e divulgadas por empresas privadas e públicas, tendo a ética como pilar – honestidade, responsabilidade e busca de transparência -, visando tanto o interesse público – o bem comum e o bem-estar social -, quanto o interesse privado – a garantia de sobrevivência da empresa e o lucro a longo prazo. (TORRES, 2000, p.18).

A responsabilidade corporativa tornou-se evidente com o julgamento na justiça americana do caso de Henry Ford, presidente acionista majoritário da Ford Motor Company, e seu grupo de acionistas liderados por John e Horace Dodge, que contestavam a idéia de Ford. Em 1916, argumentando a realização de objetivos sociais, Ford decidiu não distribuir parte dos dividendos aos acionistas e investiu na capacidade de produção, no aumento de salários e em fundo de reserva para diminuição esperada de receitas devido à redução dos preços dos carros (TOLDO, 2002).

A Suprema Corte decidiu a favor de Dodge, entendendo que as corporações existem para o benefício de seus acionistas e que os diretores precisavam garantir o lucro, não podendo usá-lo para outros fins. A idéia de que a empresa deveria responder apenas aos seus acionistas começou a receber críticas durante a Segunda Guerra Mundial. Nesta época, diversas modificações aconteceram nos Estados Unidos.

Em 1953, aconteceu um outro caso com A. P. Smith Manufacturing Company versus seus acionistas, que contestavam a doação de recursos financeiros à Universidade de Princeton. Nesse período, a justiça estabeleceu a lei da filantropia corporativa, determinando que uma corporação poderia promover o desenvolvimento social.

Na década de 60, problemas sociais e suas possíveis soluções eram discutidos e as empresas americanas já se preocupavam com a questão ambiental, divulgando suas atividades no campo social. Em 70, começou a preocupação como e quando a empresa deveria responder por suas obrigações sociais. Nessa época, a demonstração para a sociedade das ações empresariais tornou-se extremamente importante (TOLDO, 2002).

A França foi o primeiro país do mundo a ter uma lei que obrigava as empresas que tivessem mais de 300 funcionários a elaborar e publicar o Balanço Social. Seu objetivo principal prende-se a informar ao pessoal o clima social na empresa, a evolução do efetivo; em suma, estabelecer as performances da empresa no domínio social. Este balanço, segundo o autor, é bastante paternalista, pois exclui os fatos econômicos dos fatos sociais (TINOCO, 2001).

Na década de 90, com uma maior participação de autores na questão da responsabilidade social, entrou em cena a discussão sobre os temas ética e moral nas empresas, o que contribuiu de modo significativo para a conceituação de responsabilidade social.

Destacam-se, no âmbito internacional, as normas British Standards -BS 8800 e Occupational Health and Safety Assessment Series -OHSAS 18001, que tratam de segurança e saúde no ambiente de trabalho. Além dessas, existem as normas AccountAbility -AA 1000 e Social Accountability 8000 (SA 8000), com foco na responsabilidade social corporativa. A norma SA 8000 merece uma atenção especial, entre outros motivos, pelo fato de que a obtenção e manutenção desse certificado prevê o envolvimento dos trabalhadores da empresa, bem como a participação de ONGs e sindicatos.25

Fundamentalmente, a Social Accountability 8000 visa aprimorar o bem-estar e as condições de trabalho no ambiente corporativo, a partir do desenvolvimento de um sistema de verificação que deve garantir o cumprimento das exigências contidas na norma e a contínua conformidade com os padrões estabelecidos.

direitos da criança e nas convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Para isso, a SA 8000 apresenta-se como um sistema de auditoria similar à certificação ISO 9000, é aplicável tanto nas empresas pequenas como nas maiores, que desejam demonstrar a quem possa interessar que lhes importa o bem-estar de seus funcionários.

Outras duas normas que possuem um aspecto bastante expressivo e mostram o empenho empresarial em contribuir para uma sociedade com qualidade de vida melhor para todos, são as normas já estabelecidas -ISO 9001 e 14001 -que correspondem à gestão da qualidade e a gestão ambiental.

A Responsabilidade Social no Brasil iniciou sua história em 1960, quando foi constituída a Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), com sede em São Paulo, iniciando assim uma pregação sobre responsabilidade social nos dirigentes das empresas.

Em 1977, ADCE organizou o 2º Encontro Nacional de Dirigentes de Empresas, tendo como tema central o Balanço Social da Empresa. Em 79, a ADCE passa a organizar seus congressos anuais e o Balanço Social tem sido objeto de reflexão.

25

KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Contabilidade ambiental . Relatório para um futuro sustentável, responsável e transparente. Disponível em: <http://br.monografias.com/trabalhos/contabilidade- ambiental/contabilidade-ambiental.shtml>. Acesso em: 12 fev 2006.

Em 1991, foi encaminhado ao Congresso um anteprojeto propondo publicação do Balanço Social pelas empresas, porém, não foi aprovado. Foi publicado pelo Banespa, em 1992, um relatório divulgando as suas ações sociais. Em 1993, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lançou a Campanha Nacional da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, com o apoio do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE), que constitui o marco da aproximação dos empresários com as ações sociais. Em 1997, Betinho lançou um modelo de Balanço Social e, em parceria com a Gazeta Mercantil, criou o selo do Balanço Social, estimulando as empresas a divulgarem seus resultados na participação social.

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é criado pelo empresário Oded Grajew, em 1998. O Instituto trabalha junto aos empresários e as causas sociais, com o propósito de disseminar a prática da responsabilidade social empresarial por meio de publicações, experiências, programas e eventos para os interessados na temática. Em 1999, a adesão ao movimento social se refletiu na publicação do seu balanço no Brasil por 68 empresas. No mesmo ano, foi fundado o Instituto Coca-Cola no Brasil, voltado à educação, a exemplo da fundação existente nos Estados Unidos desde 1984.

A Responsabilidade Social corporativa é um tema emergente. Através da mídia, revistas especializadas, ações de voluntariado e diversas políticas de gestão de recursos humanos, são destacadas as ações realizadas pelas empresas. Em 1998 o Instituto Ethos, tinha 11 empresas associadas; a partir daí este número passou para 143 em 1999; 287 ao final de 2000, e já atingiu 470 empresas associadas em 2000, que somam em torno de 900 mil funcionários, têm faturamento conjunto de R$ 240 bilhões, que representa 25% do PIB nacional. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul do País constatou que:

em 1998, as empresas (da região Sudeste) aplicaram R$ 3,5 bilhões em projetos sociais, o que corresponde a 0,6% do PIB regional do mesmo ano. Já os empresários da região Nordeste aplicaram em 1999, R$ 260 milhões ou 0,2% do PIB da região. No mesmo ano, o montante aplicado pelo empresariado do Sul foi de R$ 320 milhões ou 0,2% do PIB regional (GARCIA, 2003).

Segundo Dias (2006), muitas empresas globais já exigem a certificação da SA8000 de sua cadeia produtiva. No início de 2005, eram 492 empresas em 40 países que adotavam a norma de Responsabilidade Social Empresarial – RSE e no Brasil, havia 62 empresas certificadas.

Em virtude da diversidade de normas relacionadas com a Responsabilidade Social Empresarial, a Organização Internacional de Normalização (ISO) se viu na contingência de criar uma norma voltada para RSE que compatibilize os diversos critérios adotados com o objetivo de estabelecer

parâmetros comuns para todos os países, apresentando assim a nova norma ISO 26000 de Responsabilidade Social, que servirá (está em fase de apresentação) para estabelecer um padrão internacional para implementação de um Sistema de Gestão e certificação de empresas em torno da Responsabilidade Social.

A norma irá abordar os seguintes temas: meio ambiente, direitos humanos, relações de trabalho, governança organizacional, práticas empresariais justas, envolvimento comunitário/desenvolvimento social e questões dos consumidores. O Brasil foi o primeiro país a desenvolver uma norma dedicada à responsabilidade social.

O pioneirismo garantiu ao país um papel importante na elaboração de uma certificação internacional sobre o tema no encontro que abriu as discussões sobre os parâmetros da ISO 26000 que ocorreu em Salvador, em 2005. Lançada pela Associação Brasileira das Normas Técnicas (ABNT) no ano anterior, a norma 16001 leva em conta a participação da empresa no desenvolvimento da comunidade, a diversidade e o combate com o aprimoramento dos funcionários e a conformidade com as leis da concorrência (sem práticas desleais), entre outros.