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Em 1938, sob a gestão de Getúlio Vargas, foi criado o Conselho Nacional do Petróleo – CNP com o objetivo de regulamentar e encontrar petróleo no Brasil. Foi a primeira iniciativa de regulação do setor petrolífero pelo Estado brasileiro, visando estabelecer um ponto final em um conflito entre empresas privadas e grupos técnicos do Estado (principalmente em setores militares), em torno da exploração do petróleo no Brasil. A legislação criada previa a nacionalização de todas as atividades já em curso (basicamente, pequenas refinarias) e o controle do governo sobre todos as atividades da indústria do petróleo, deixando claro a sua opção estatizante.

Um dos problemas enfrentados pelo CNP foi a falta de pessoal qualificado, com conhecimento geológico sobre o território brasileiro. Em 1953, a Petrobras começa suas atividades, assumindo algumas características do CNP, principalmente em relação à influência política e nacionalista, buscando afirmar o Brasil como um país rico em petróleo. Nesse sentido foram realizados investimentos na criação de cursos nas áreas de Geologia e Engenharia do Petróleo, formando profissionais que vieram a contribuir para a geração e constituição da área das Geociências no Brasil num novo patamar de institucionalização e profissionalização (PEYERL, 2014).

A Petrobras foi criada em 1953 no governo de Getúlio Vargas com o slogan "O petróleo é nosso", através da Lei 2.004, de 3 de outubro de 1953, estabelecendo o monopólio da União sobre:

I – a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e outros hidrocarbonetos fluídos e gases raros, existentes no território nacional; II – a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;

III – o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados de petróleo produzidos no País, e bem assim o transporte, por meio de condutos, de petróleo bruto e seus derivados, assim como de gases raros de qualquer origem.

I – por meio do Conselho Nacional do Petróleo, como órgão de orientação e fiscalização;

II – por meio da sociedade por ações Petróleo Brasileiro S. A. e das suas subsidiárias, constituídas na forma da presente lei, como órgãos de execução (BRASIL, 1953).

A Petróleo Brasileiro S.A. já recebeu como acervo uma produção de 2.700 barris diários (SIMÕES, 2007). Para avaliar as possibilidades de encontrar petróleo no Brasil, foi contratado (apesar da grande repercussão negativa), o geólogo estadunidense Walter K. Link, antigo funcionário da Standard Oil Company, para coordenar o Departamento de Exploração da recém-fundada empresa. Sua função, junto com diversos outros técnicos também norte-americanos, seria a de preparar um relatório sobre as melhores possibilidades de ocorrência de petróleo no Brasil, mas ao fim de seis anos à frente do Departamento de Exploração, Link podia exibir, além de grande volume de conhecimentos acumulados acerca das bacias sedimentares brasileiras, apenas descobertas adicionais no Recôncavo e a promessa, ainda a ser continuada, da bacia Sergipe-Alagoas. O chamado ―Relatório Link‖ concluiu que existia pouco petróleo em terra no país e que o Brasil não teria condições de ser autossuficiente (DIAS & QUAGLINO, 1993).

Segundo esses autores, após crescer rapidamente até 1959, a participação da produção brasileira de petróleo no total consumido estacionou em valores pouco superiores a 40%, vindo a declinar após 1962. O programa de exploração precisava ser revisto. Com o final do contrato e o pedido de demissão de Link, um novo relatório, preparado pelos geólogos brasileiros Pedro de Moura e Décio Oddone, veio a questionar as conclusões pessimistas anteriores, a partir de considerações quase estritamente metodológicas: o propósito de Link, de descobrir campos gigantes, já de há muito se sabia problemático no país: não seria correto, pois, voltar o programa exploratório principalmente para esse objetivo, mas sim, detalhar o estudo das áreas já reconhecidas como produtoras.

No campo das diretrizes de exploração. tornava-se cada dia mais claro que um sucesso corno a descoberta de Carmópolis não Iria se repetir nas bacias terrestres e que o avanço para a fronteira disponível - a plataforma submarina - dependeria de urna maior agressivldade gerencial. Além disso. esse avanço

dependeria ainda de um grande esforço de capacitação nas áreas de engenharia. suprimento e geofísica.

A Petrobras, então, investiu muito em tecnologia, à medida que as novas escolas de Geologia formavam novos quadros nacionais. No final dos anos sessenta, a produção já chegava a 100 mil barris diários, mas voltou-se para a exploração no mar. Em 1968, foi descoberto petróleo no litoral de Sergipe. Em 1974, foi descoberto petróleo na Bacia de Campos, no campo de Garoupa. A Petrobras se transformou em uma empresa especialistas em exploração de petróleo em águas profundas (SIMÕES, 2007) e a descoberta de petróleo no pré- sal aconteceu em agosto de 2006, no poço Lula (então denominado RJS-628A, na bacia de Santos, (BARROS, SCHUTTE, PINTO, 2012:35). As primeiras estimativas indicavam entre 5 e 8 bilhões de barris de petróleo, (COUTANT, 2015). E em novembro de 2007 foi anunciada oficialmente a descoberta (SCHUTTE, 2012) (COUTANT, 2015).

Getúlio Vargas pagou com sua vida a ousadia de estabelecer o monopólio estatal do Petróleo, como deixou explicitado em sua Carta Testamento, endereçada ao povo brasileiro logo antes de seu suicídio, na data de 24 de agosto de 1954:

(...) A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.

Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre, não querem que o povo seja independente (...).

(...) Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história. (grifo do autor).

Talvez até devido a essa medida extrema, ao apoio popular e ao seu caráter desenvolvimentista, o monopólio da Petrobras permaneceu intocado mesmo durante o período da ditadura civil-militar, cuja

Carta de 1967 caracterizou-se pela defesa do ativismo estatal e constitucionalizou esse monopólio, apesar de permitir a participação de empresas estrangeiras na exploração. Os contratos de risco adotados por Ernesto Geisel em 1975 levaram a um período de indefinição sobre o mesmo monopólio, já que o de execução ainda era da Petrobras, mas empresas de fora puderam explorar, o que provocou polêmica sobre a constitucionalidade disso. (TROJBICZ, 2014:57)

Apesar dessas polêmicas, o monopólio foi confirmado na ―Constituição Cidadã‖ de 1988 que, em seu Artigo 177, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira -, Capítulo I - Dos Princípios Gerais da Atividade Econômica – estabelece:

Art. 177. Constituem monopólio da União:

I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos;

II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;

III - a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores; IV - o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem;

V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos radioisótopos cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob-regime de permissão, conforme as alíneas b e c do inciso XXIII do caput do art. 21 desta Constituição Federal.

§ 1º A União poderá contratar com empresas estatais ou privadas a realização das atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo, observadas as condições estabelecidas em lei. (BRASIL – CF, 1988). .