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BREVE HISTÓRICO DO SISTEMA PRISIONAL FEMININO NO BRASIL

3 HISTORICIDADE DO CÁRCERE FEMININO

3.1 BREVE HISTÓRICO DO SISTEMA PRISIONAL FEMININO NO BRASIL

Na antiguidade as penas de privação de liberdade, ainda não eram comuns, sendo substituídas por flagelos corporais, penas infamantes ou até pena de morte. Até fins do século XVII e início do século XVIII, a prisão serviu como depósito para contenção, custódia e tortura do réu, que tinha de esperar em condições sub-humanas a celebração de seu julgamento ou sua execução. Contudo, nas diferentes etapas de evolução da punição até o século XVIII, pode-se encontrar certos resquícios de pena privativa de liberdade e de princípios humanísticos de correção. Os crimes femininos do século XVI eram muitos diversos dos que temos na época moderna, pois a punição era mais objetivada para reprimir as amantes de membros do clero, as alcoviteiras, as prostitutas, entre outras. (OLIVEIRA, 2006)

Anteriormente ao descobrimento, já entre os índios já existia punição para infrações cometidas que apesar de não ter uma uniformidade, predominava a punição coletiva, sendo regras passadas de geração em geração, baseada nas tradições místicas dos povos. Nas terras brasileiras, no período colonial introduziram-se as normas da metrópole lusitana, não se ocupando com as particularidades locais. Todavia preocupando Desde os estudos iniciais que identificavam a genealogia da prisão de mulheres no Brasil, é observado um grande laço entre o discurso moral e religioso e as formas de recolhimento destas mulheres em conflito com a lei, onde se destacam acusações de prostituição e práticas de feitiçarias, pois tais atitudes femininas não condiziam para os padrões de comportamento que lhes eram esperados. (SANTOS, SANTOS 2016).

No Sec. XIX, na Europa, com o objetivo de disseminar nas pessoas das detentas um sentimento de valorização pessoal e alimentar os valores domésticos femininos, desenvolvendo o conhecimento em atividades do lar e da família, procurando resgatar o sentimento de comportamento dominado e subserviente aos maridos e aos pais como na Holanda, Amsterdã, em 1645. Os alvos desta reeducação eram mulheres prostitutas, mulheres embriagadas, criminosas, etc. Na França, por

volta do ano de 1863 teve início a construção do primeiro empreendimento destinado exclusivamente para a detenção de mulheres. (ARTUR 2011)

No Brasil, o governo intencionando dar regulamentações às normas prisionais e visando organizar e regulamentar o sistema carcerário institui medidas das quais destacamos o Regime de Correições. Em 1934 foi criado o Fundo e Selo Penitenciário, com objetivo de arrecadação para financiar o sistema e construir estabelecimentos. Até o ano de 1940, nenhuma norma exigia ou regulava a prática de separação em selas, espaços ou estabelecimentos específicos, entre mulheres e homens no sistema carcerário, todavia a prática comum era o encarceramento em separado. Apenas com o advento do Código Penal de 1940, em seu parágrafo 2º, foi determinada a separação entre mulheres e homens, onde estabelecia o cumprimento da penas, por mulheres em estabelecimento especial e na falta deste, ficavam sujeitas a trabalho interno. (Lima,1983)

Inicialmente a prisão feminina vislumbrava a segregação da mulher criminosa da mulher prendada, submetendo as primeiras a um local em separado, para a purificação, pois a mulher era considerada sexo frágil, de personalidade dócil e delicada, sendo a criminosa portadora de comportamento anormal, fugindo de sua natureza. Dentro dessa perspectiva a prisão feminina serviria para reconduzir a mulher novamente a desempenhar os papéis femininos socialmente idealizados, voltadas à domesticação da mulher e à vigilância de sua sexualidade (TRAJANO,2014). O aprisionamento visava tornar as desviadas novamente dóceis, obedientes às regras sociais, buscando as habilidades de prendas domésticas e cuidados com os filhos. Tentava-se transformar as mulheres pecadoras e criminosas em mulheres aperfeiçoadas, passando a ser novamente voltadas ao universo do bom comportamento. Voltadas às práticas domésticas, as mulheres delinqüentes estariam preparadas a retomar o seio social e o berço familiar e caso não fossem casadas poderiam seguir vida religiosa (Soares e Ilgenfritz 2002, p. 58)

No Brasil, a prisão feminina, em seu início estava principalmente vinculada a questões morais ou religiosas, por ameaçarem a ordem moral da época, tendo destaques as prisões ocorridas por fundamentos e acusações de prostituição, bruxaria. (Gonçalves, 2017).

No período do Brasil colônia, o encarceramento feminino ocorria em locais onde a maioria dos presos era composta por homens, quase não havendo espaços reservados às mulheres. Nesta época da história pátria, não existia normativas ou orientações regulamentares que praticasse a divisão dos homens e mulheres em ambientes prisionais, sendo as detentas passivas aos ditames das autoridades locais, que também indicavam os recursos de subsistências na prisão.

Naquela época, os objetivos principais da prisão era a recondução do delinquente ao padrão social, em decorrência o cerceamento da liberdade, para que este valorize-a e passe a seguir as leis, não eram alcançados, pois os presidiários e presidiárias eram amontoados em estabelecimentos prisionais, sem haver a preocupação com as peculiaridades de cada gênero (ARTUR 2011).

Em outra vertente, as pessoas responsáveis pela carceragem, não recebiam treinamento técnico para atuar em ambientes carcerários, tendo as mulheres que muitas vezes negociar sua subsistência, com o pagamento ocorrendo por meio de favores sexuais (ARTUR, 2011).

No Estado brasileiro, apesar de verificarmos o aprisionamento de mulheres em locais separados dos homens, desde os idos de 1900, só após os anos 1940 é que passou existir uma norma que assim determinasse, com o novo código penal no seu art. 29 § 2º, e de processo penal de 1940. De mesmo modo, ocorrem determinações na Lei de contravenções penais de 1941.

Aponta-se como a primeira instituição feminina, o Instituto Feminino de Readaptação Social, em Porto Alegre de 1937. No Estado de São Paulo, na data de 11/08/1941 o Decreto-Lei 12116 dispunha sobre a criação de presídios de mulheres, tendo esta unidade, sido inaugurada em 21/04/1942, tendo este ficado sob a tutela das freiras da Congregação do Bom Pastor D’Agers até a data de 1973. A mesma congregação administrou a Penitenciária Feminina da Capital Federal criada no Rio de Janeiro, até 1955.(Lima 1983).

Em 1942, surge no Rio de Janeiro, a sua primeira penitenciária feminina e para afastada do pensamento masculino a promiscuidade, localizou-se bem longe deste. Dirigido por freiras, eram concedidas apenas duas opções para o retorno ao

meio social, sendo casadas retornariam convívio com a família e nos casos das que não tinham marido ou possuíam vocação para o casamento, seguiriam a vocação cristã religiosa, tornando-se freiras. (Gonçalves, 2017).

O presídio que em 1955 fora criado para abrigar 60 mulheres delinquentes e que posteriormente fora adaptado para 120 vagas, já recebia 2200 mulheres. Com a superlotação, as freiras que administrava o presídio, não reunião condições de manter o controle da situação. (Gonçalves, 2017)

Diante da interpretação de Soares e Ilgenfritz (2002, p. 57). A separação entre homens e mulheres nas unidades prisionais, teria como prioridade trazer paz nas prisões masculinas e evitar a promiscuidade, separando as mulheres também pelo tipo de crime cometido, idade e condição e estágio jurídico do processo, não tendo como objetivo principal a promoção da condição de dignidade ao cárcere. Em outro sentido a prisão feminina deveria atender ao papel de domesticar as mulheres ditas rebeldes, que fugiram a sua natureza dócil e doméstica (Lima 1983).

Ao se separar a mulher denominada criminosa em um ambiente isolado dos homens buscava-se, antes de tudo, certa purificação para as pecadoras, reafirmando uma visão discriminadora de gênero, que pregava que a mulher era o sexo frágil.

Como um dos objetivos das primeiras prisões para as mulheres brasileiras, havia uma intenção de vigilância sobre sua sexualidade, esperando-se restaurar a parte doméstica da mulher, sua docilidade e seu pudor.

Os estabelecimentos prisionais femininos eram administrados pelas religiosas, em especial as freiras a partir de um acordo com o Estado. As atividades eram relativas às missas, aà execução de trabalhos domésticos e manuais e ainda havia restrições de vestimentas menos adequadas à mulher recatada. As religiosas eram responsáveis pela alimentação, higiene, instrução profissional, ensino religioso e educação primária, bem como a educação doméstica das detentas, sendo as casas de detenção assemelhadas a internatos. As freiras encontravam-se subordinadas ao Estado, em especial ás secretarias de justiça, respondendo ao Conselho Penitenciário. (Santos, Santos, 2016).

O Estado, na medida em que as mulheres foram se tornando mais independentes e passaram a se equiparar aos homens, foram mais duramente reprimidas quando acusadas de práticas delituosas, tanto pelo poder judiciário quanto pela polícia, pois se passou a prender as mulheres sob a acusação de vadiagem, sendo uma forma disfarçada das autoridades limparem as ruas da atividade de prostituição. (Oliveira, 2006).