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Jean Antoine Félix Dissandes de Monlevade nasceu na França, no ano de 1789. Oriundo de uma família nobre, concluiu o curso de engenharia de minas na Escola Politécnica de Paris, em 1812. Embora seu nome fosse Jean Antoine, optamos por utilizar, neste trabalho, a “versão aportuguesada” do mesmo: João Antônio de Monlevade. Essa escolha foi feita por razões históricas, uma vez que o próprio Jean adotou o nome João por ser mais facilmente pronunciado no Brasil. Mesmo documentos oficiais como o registro de nascimento de seus filhos e a correspondência que envia ao presidente da província, em 1853, foram assinados como João Antônio Monlevade. A formação de Monlevade não se limitava, todavia, à engenharia de minas, tendo conhecimentos nas áreas de mineralogia e geologia. Sua experiência de trabalho, na França, resume-se ao Corpo de Engenheiros Militares (Corps Royal Des Mines). Em 1817, como relata Passos (1973), Monlevade conseguiu uma permissão do seu superior para efetuar a viagem ao Brasil participando de uma comissão do governo francês para estudar os recursos minerais do Brasil.

Monlevade chegou ao Brasil em 14 de maio de 1817, conforme o Registro de Estrangeiros do Arquivo Nacional: “Jean Antoine Félix Dissandes de Monlevade, francês, 28 anos, estatura regular, barba regular, sobrancelhas cerradas e olhos azuis - vai para Minas e

leva consigo dois escravos”.2 Morou em Caeté, MG, onde montou uma pequena indústria de beneficiamento de ferro, tendo percorrido várias comarcas e distritos mineiros, como São João Del Rey, Vila Rica, Sabará, Caeté e São Miguel do Piracicaba. Em 1818, Monlevade associa-se ao capitão Luiz Soares de Gouveia para erguer em Caeté um alto-forno para a produção de ferro. O êxito da fábrica tornou seu nome conhecido, sendo o mesmo indicado para orientar a exploração da galena de Abaeté, promissora fonte de prata e chumbo. Durante o período em que trabalhou na galena de Abaeté, Monlevade conheceu João Batista Ferreira de Souza Coutinho, o Barão de Catas Altas, proprietário das famosas minas de Gongo Soco. Esse encontro foi importante para o futuro do engenheiro, pois, anos depois, o mesmo celebraria matrimônio com uma das sobrinhas do Barão, D. Clara Sophia de Souza Coutinho.

Em São Miguel do Piracicaba, nosso personagem tinha uma amizade, já de longa data, com o médico Ildefonso Gomes de Freitas, que, após sua formação, no Rio de Janeiro, foi para Paris fazer estudos de aperfeiçoamento. Nesta viagem pela Europa, Ildefonso conheceu Monlevade e os dois iniciaram uma amizade que duraria por várias décadas, influenciando em certa medida o rumo que Monlevade tomaria após sua chegada em Minas Gerais.

O pai de Ildeofonso, o capitão João Gomes de Abreu e Freitas, era dono da Fazenda Itajuru. A dita fazenda e seu proprietário são conhecidos dos leitores devido aos relatos de viajantes que estiveram em Minas Gerais, no século XIX, pois tanto o naturalista Saint-Hilaire como o russo Langedorff estiveram hospedados em Itajuru. Tal fato é evidenciado no relato de Saint-Hilaire (1938), onde menciona um encontro com Monlevade no momento que este último chegava à casa do capitão João Gomes de Freitas com uma carta de recomendação escrita pelo filho do dito capitão. A proximidade de Monlevade com Ildefonso o aproximou também de seu pai, o capitão Gomes.

Durante o período que trabalhava no projeto da galena de Abaeté, Monlevade torna-se vizinho do capitão João Gomes ao comprar algumas terras a poucas léguas abaixo do Arraial de São Miguel. Neste local, Monlevade iniciou a construção dos edifícios que comporiam a fazenda. A região já possuía fábricas de ferro, inclusive outro filho do capitão Gomes de Freitas, José Joaquim Gomes de Freitas, fabricava ferro para atender às necessidades locais. A sua fábrica de ferro era composta por uma forja catalã e uma usina que beneficiava o ferro fundido produzido. Monlevade investiu em equipamentos ingleses, consolidando a fábrica como uma das mais prósperas e duradouras do Império através da mistura de seu conhecimento e inspeção permanente das atividades e da aquisição e treinamento de

2 Arquivo Nacional (A. N.). Registro de estrangeiros 1808-1822. Ministério da Justiça e negócios interiores. Col. 423- livro 01, fls. 6 (v).

trabalhadores escravos, os grandes responsáveis pelas rotinas da fabricação de ferro e mercadorias dele derivadas. Produzia enxadas, foices, machados, alavancas, ferraduras, cravos, martelos, freios para animais, moendas para engenhos de cana, entre outros itens. Além das atividades com o ferro, a fazenda incorporava atividades agrícolas, principalmente, para o sustento dos escravos e da propriedade de forma geral.

Em 4 de janeiro de 1827, na Matriz de Caeté, Monlevade casou com Clara Sophia de Souza Coutinho, com quem teve dois filhos: João Pascoal de Monlevade e Mariana Sophia de Monlevade. O filho permaneceu no Brasil até sua morte, já a filha viajou para a França após seu casamento e faleceu na Europa. Ao que tudo indica, a fragilidade da saúde de sua filha foi um dos motivos para que, em 1847, João Monlevade tenha proposto ao Governo da Província de Minas Gerais e, posteriormente, ao Governo Imperial a venda de sua fábrica. O Governo brasileiro, todavia, recusou o negócio e Monlevade continuou no Brasil, em Minas Gerais, à frente de seus negócios até a morte, em 1872 (ver Anexo D.1).

Após sua morte, aos 83 anos, a fábrica ficou sob os cuidados de sucessivos administradores, incluindo o filho e herdeiro, até que foi vendida para a Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros (1891), empresa fundada por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.