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2.4. OS ASPECTOS SOCIOLÓGICOS DO TRABALHO NO MUNDO MODERNO

2.4.2 Breve histórico sobre a organização

A organização científica do trabalho surge com o modo capitalista de produção no início do séc. XX. Todavia, já no sec. XIX o modo de produção capitalista já possibilitava o acúmulo de riquezas em grande escala, sobretudo em países como a Inglaterra, que era o expoente e baluarte de desenvolvimento industrial deste período. Com isto, pode-se entender que as organizações públicas e produtivas de hoje foram sendo engendradas no séc. XIX (LAPASSADE, 1983, p. 41).

As organizações, ainda no século XVIII, não passavam de um aglomerado de maquinaria e pessoas (GORZ, 1980, p. 41). A mudança basicamente foi de alguma melhora dos artefatos, realizada pelos próprios artesões, e a reunião de pessoas para trabalharem juntas num mesmo ambiente, num determinado número de horas com um salário fixo ou remuneradas pela quantidade de peças produzidas. Em virtude de não haver uma classe trabalhadora com uma cultura operária, visto que, em maioria os egressos nas indústrias eram provenientes da agricultura, da extração de minérios e do trabalho domiciliar, os donos das organizações tinham muitos problemas: a evasão, o absenteísmo em massa e a dificuldade no manejo da maquinaria. Portanto, não se controlava a produção. Neste ponto, houve algumas iniciativas em prol da organização do trabalho. Mas, estas iniciativas, principalmente, dos donos dos meios de produção, afirmaram-se somente um século depois, quando trabalhadores e patrões observaram que não podiam contar com a mão invisível do mercado para resolverem seus problemas. “A

questão era que nem os patrões nem os trabalhadores reconheciam completamente as regras deste jogo ou o que elas significavam. Isto era devido em parte ao fato de elas serem irreais. Assim mesmo os trabalhadores mais abertos aos incentivos salariais só o são até o ponto em que a seguridade social, o conforto no trabalho, o lazer, etc., competem com o dinheiro” (HOBSBAWM, 2000, p. 399).

O jogo referido acima é o que concretamente ocorre no cotidiano, ao contrário do que é posto na filosofia do mercado, isto na metade do sec. XIX. “Os trabalhadores aprenderam a considerar o trabalho como uma mercadoria a ser vendida nas condições historicamente peculiares de uma economia capitalista livre [...]” (HOBSBAWM, 2000, p. 400). No entanto ainda não utilizavam critérios econômicos, mas julgavam as disputas a partir do costume peculiar à sua atividade laboral, oferecendo o trabalho justo para o tempo justo de acordo a sua moral. Do mesmo modo os patrões aprenderam a utilizar a mão-de-obra oferecendo o menor incentivo possível para obter a maior produtividade.Todavia, os conflitos e acidentes de trabalho permearam esta aprendizagem e a formação das relações de trabalho no modo de produção capitalista (HOBSBAWM, 2000, p. 420).

Na Grande Depressão, na década de 1930, o aprendizado de patrões e empregados foi completado, estabelece-se relações de trabalho no capitalismo dos países em processo de industrialização. “Os trabalhadores começaram a exigir o que o tráfego podia suportar e, onde tinham alguma escolha, a medir o esforço pelo pagamento. Os patrões descobriram maneiras genuinamente eficientes de utilizar o tempo de trabalho dos seus trabalhadores (“administração científica”)” (HOBSBAWM, 2000, p. 401). Solidificam-se, afinal, novos aspectos sociológicos que caracterizam as relações entre capital e trabalho.

Enquanto a industria inglesa e de outros países europeus seguidos dos Estados Unidos afirma-se, os produtos manufaturados, da América Central e Latina são solapados, mas não sem uma intervenção política e, por vezes, armada (GALEANO, 1986, p. 189)5.

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Londres vivia o princípio de uma longa festa; Napoleão tinha sido definitivamente derrotado alguns anos atrás, e a era da Pax Britannica se abria sobre o mundo. Na América Latina, a independência soldara perpetuamente o poder dos donos da terra e dos comerciantes enriquecidos, nos portos, à custa da antecipada ruína dos países nascentes. As antigas colônia espanholas, e o Brasil também, eram mercados ávidos para os tecidos ingleses e as libras esterlinas a tanto por cento[...].

A economia britânica pagava com tecidos de algodão os couros do rio da prata, o guano e o nitrato do Peru, o cobre do Chile, o açúcar de Cuba, o café do Brasil. As exportações industriais, os fretes, os seguros, os juros dos empréstimos e os dividendos das inversões alimentariam ao longo do século XIX, a pujante prosperidade da Inglaterra. [...]

As indústrias domésticas, precárias e de muito baixo nível técnico, surgiram no mundo colonial, a despeito das proibições de metrópole e conheceram um auge, nas vésperas da independência, como conseqüência do afrouxamento dos laços opressores da Espanha e das dificuldades de abastecimento que a guerra européia provocou. Nos primeiros anos do século XIX, as oficinas estavam ressuscitando, depois dos mortíferos efeitos da disposição

No Brasil6, como nas Américas, exceto Estados Unidos e Canadá, os acontecimentos não foram diferentes do que pontua GALEANO. “Tudo isso desemboca em choques e em contradições que se aprofundam. A segunda metade do século XIX é pontilhada de casos e de crises” (SODRÉ, 1988, p. 168). Foi na segunda metade do século XIX que o aparelho do Estado cresce no Brasil, com os seus dividendos superiores a receita, em boa parte para alimentar os gastos com a administração do Estado. Então, recorre-se aos empréstimos internacionais fornecidos principalmente pela Inglaterra. Nasce o Estado brasileiro em boa parte de sua forma atual e o seu funcionalismo.

Pode-se presumir, neste caso, que as organizações do atual estágio do capitalismo e o Estado, foram engendradas no século XIX. Data, com efeito, neste século a vinculação das descobertas técnicas com os conhecimentos científicos. Neste mesmo período, ocorre o aprofundamento sobre o conceito de trabalho promovido por Marx a partir do próprio Hegel (MARCUSE, 1998). As organizações fundamentam seu processo de produção em determinada concepção sobre o homem e ao fim sobre o trabalho na existência humana.

Observa-se que muitas das características atuais estiveram em desenvolvimento neste período. Incluso o papel do Estado e a situação de países como o Brasil com suas industrias deficientes em termos competitivos com as transnacionais, e suas dívidas públicas.