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■ PROJETOS DE IMPACTO RÁPIDO: A EXPERIÊNCIA DO

2. BREVE HISTÓRICO

Os projetos de impacto rápido foram criados em 1991 pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) na Nicarágua. Esses projetos apresentavam duas características básicas: participação comunitária e a realização de obras em pequena escala e de rápida implementação, com uma única alocação de recursos. O objetivo principal desses projetos de ajuda humanitária era a assistência às necessidades imediatas dos repatriados e deslocados internos na Nicarágua ( UN, 2004c; 2013a ).

Essas características foram bem aceitas pelos doadores das Nações Unidas e amplamente difundidas pelo ACNUR, tornando-se a espinha dorsal das práticas de reintegração na década de 1990. Com o passar do tempo, os QIPs passaram das pequenas obras comunitárias para um meio termo entre o alívio das necessidades básicas e imediatas e o desenvolvimento a longo prazo (UN, 2003).

Ademais, os projetos de impacto rápido mostraram-se altamente visíveis aos olhos da comunidade apoiada, gerando efeitos imediatos e aumentando a confiança da população local na missão da ONU. Oficialmente, no renomado “Brahimi Report”6, os QIPs passaram a ser implementados como mais uma ferramenta no processo de paz, e não mais como ajuda humanitária (UN, 2000a).

A estreita relação entre QIPs e a manutenção da paz e estabilidade foi afirmada no relatório, emitido em 2000. O relatório recomendava que todas as missões de paz deveriam possuir a capacidade de demonstrar uma diferença na vida das pessoas, para ajudar a estabelecer a credibilidade na missão, especialmente durante suas primeiras fases. O financiamento para projetos de impacto rápido foi, no entanto, estendido além desses

6 A/55/305–S/2000/809: Report on the Panel on United Nations Peace Operations (UN, 2000a).

estágios iniciais (UN, 2000a; 2000b; 2004a; 2004b; 2013a), viabilizando a implementação de QIPs em diversas missões de manutenção da paz.

Em resposta à Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) A/RES/60/266 (UN, 2006a) e em conformidade com as diretrizes gerais da AGNU sobre QIPs (UN, 2007b); o Secretariado da ONU emitiu em 2007, por meio do Departamento de Operações de Manutenção da Paz e do Departamento de Apoio às Atividades no Terreno ( DPKO/

DFS53), uma diretiva sobre projetos de impacto rápido (UN, 2007c; 2013a). Diretrizes subsidiárias sobre QIPs foram emitidas em 2009 (UN, 2009a; 2013a) e a mais recente regulamentação oficial sobre QIPs (UN, 2013a) foi publicada em 2013, após revisão substancial em 2011.

2 . 1 Diretrizes do DPKO/DFS

53 Acrônimos em inglês para Department of Peacekeeping

As diretrizes do DPKO/DFS sobre projetos de impacto rápido os

definem como “projetos de pequena escala, rápida implementação, em benefício da população. Tais projetos são utilizados pelas operações de manutenção da paz das Nações Unidas para estabelecer e construir a confiança na missão, em seu mandato e no processo de paz, melhorando dessa forma o ambiente para uma implementação eficiente do mandato” (UN, 2013a, p. 3, tradução do autor). Correspondentemente, os projetos devem ser divulgados durante toda execução e após conclusão satisfatória ( UN, 2013a ).

Os projetos de impacto rápido podem abranger uma ampla gama de atividades, variando segundo a área de enfoque e segundo as comunidades abrangidas, o que inclui, entre outros: “projetos de infraestrutura básica, fornecimento de equipamentos, geração de empregos a curto prazo,

programas de capacitação não recorrentes, e a realização de atividades relacionadas à construção da confiança” (UN, 2013a, p. 4, tradução do autor).

As diretrizes afirmam que os projetos de impacto rápido não são executados como ajuda humanitária ou assistência ao desenvolvimento a longo prazo; nem são eles recursos programáveis que possam ser contados para implementar tarefas do mandato (UN, 2013a). Embora possam complementar essas atividades, seu principal objetivo é auxiliar o processo de paz, construindo a chamada “confiança pública” (UN, 2007c).

Os projetos devem ser concebidos e selecionados conforme os seguintes critérios, (inclusive se implementados por meio do fortalecimento das capacidades e da credibilidade de atores locais, como autoridades locais ou ONGs): (1) contribuir para a aceitação das tarefas do mandato pela população ou apoiar a credibilidade da missão, demonstrando progresso onde falta confiança; (2) contribuir para a construção de confiança no processo de paz, inclusive demonstrando os primeiros dividendos da paz e da estabilidade à população considerada; e (3) contribuir para melhorar o ambiente para uma implementação eficiente do mandato em apoio à missão, inclusive por meio da assistência às necessidades imediatas das populações. (UN, 2013a).

De acordo com sua última definição, QIPs devem ser altamente visíveis, de pequena escala e de baixo custo, com a finalidade de beneficiar a população dentro de um curto espaço de tempo, com um orçamento máximo para projetos individuais de USD 50.000,00, e com tempo de execução inferior a seis meses. Os projetos devem ser natureza não recorrente e não devem impor aos beneficiários encargos financeiros

imprevistos ou exigências materiais inviáveis. Da mesma forma, devem ser sensíveis a potenciais riscos à população, incluindo riscos de conflito e de impacto ambiental (UN, 2013a).

Selecionados de maneira transparente e imparcial, os projetos de impacto rápido devem ser implementados em consulta às autoridades locais e com a participação das comunidades, quando apropriado. Nesse sentido, agências relevantes das Nações Unidas devem ser consultadas, a fim de não duplicar os esforços da Equipe das Nações Unidas no País (UNCT54) e de outros atores. Finalmente, os QIPs devem ser sensíveis a questões de gênero, etnia, idade e vulnerabilidade, seguindo o princípio de primum non nocere55 na sua implementação (UN, 2013a).

Ao passo que as diretrizes estabelecem que a implementação de projetos de impacto rápido permanece, em última instância, sob a autoridade geral do Chefe da Missão, “QIPs podem ser executados pela missão, agências da ONU, outras organizações internacionais, organizações não governamentais [...] organizações locais, autoridades locais, instituições do governo e do estado” (UN, 2013a, p. 6, tradução do autor). Todos estes atores, incluindo o componente militar da missão, não necessariamente precisam, no entanto, executar o projeto diretamente. O ator que deseja implementar um determinado QIP pode identificar uma

54 Acrônimo em inglês para United Nations Country Team.

55Normalmente traduzido como “acima de tudo, não faça mal”,

o princípio afirma que, dado um problema existente, pode

ser melhor não intervir, ou mesmo não fazer nada,

do que correr o risco de causar mais mal

do que bem. O princípio relembra que é preciso

considerar o possível efeito colateral que qualquer intervenção

empresa contratada para que forneça diretamente bens ou serviços para o projeto (UN, 2013a).

Por último, as diretrizes do DPKO/DFS salientam que as missões devem elaborar suas próprias diretrizes específicas, tendo em conta as “prioridades para o foco geográfico e temático, [...] a natureza única e o mandato da missão, [...] o plano [geral da missão] e estratégias mais amplas de sensibilização da comunidade” (UN, 2013, p. 4, tradução do autor).