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ORIGEM E DINÂMICAS QUE INFORMAM SUA TRAJETÓRIA

5.1. Breve panorama sobre o SENAI Pernambuco

Como já mencionamos em capítulos anteriores, o Departamento Regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial em Pernambuco figura como um dos mais antigos do país e está, como os demais, institucionalmente subordinado ao Departamento Nacional. Foi criado em 16 de abril de 1943 em Recife, em função da existência, desde 1939, da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE), na época, liderada por Joseph Turton Jr. A FIEPE é a entidade representativa dos sindicatos patronais de diversos segmentos industriais pernambucanos e uma das signatárias que originou a CNI (Confederação Nacional da Indústria) (LOPES, 1992). Além das outras quatro representações estaduais, de caráter administrativo e executivo do SENAI instalados no Centro-Sul em 1943, o SENAI-PE foi o primeiro Departamento Regional instalado no Nordeste, e teve como primeiro diretor regional José Milton de Pontes, o qual permaneceu no cargo até 1947.

Referências históricas dão conta que o SENAI Pernambuco, em seus anos iniciais, foi o responsável direto pela instalação, manutenção e condução das unidades da entidade, para além de sua base territorial, nos estados da Paraíba e Alagoas, situação essa só modificada com a posterior instalação de Departamentos Regionais nesses respectivos estados86. Enfrentando dificuldades semelhantes a outras unidades do SENAI do país, notadamente no que se refere à contratação de professores e à inscrição dos primeiros alunos, além dos problemas de infra-estrutura, o SENAI-PE passou, ainda em 1943, através de acordos de colaboração, ao funcionamento provisório dos primeiros cursos noturnos de soldadores, limadores e torneiros mecânicos, em instalações de escolas públicas, uma das quais a Escola Técnica do Recife. As primeiras turmas, que à época totalizaram 449 matrículas, assim funcionaram por cerca de um ano e meio, até a inauguração em 25 de outubro de 1944 da primeira Escola construída pelo SENAI Pernambuco (SENAI-PE, 2009). Tratava-se da Escola de Aprendizagem Joseph Turton Jr, localizada no bairro de Areias na cidade de Recife, assim denominada a partir de 1946, em homenagem póstuma ao industrial do ramo alimentício, presidente da FIEPE e do Conselho Regional do SENAI Pernambuco. Pelo menos nas primeiras décadas, essa foi a mais importante unidade da instituição no estado, confundindo-se com a própria história do Departamento Regional ali instalado. Nesse espaço ministraram-se os cursos centrados nos ofícios estratégicos, tal como ocorria em outras

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O Departamento Regional do SENAI de Alagoas foi criado em 1948. Já o Departamento Regional do SENAI da Paraíba só foi criado em 1953, apesar do funcionamento desde 1949 da Escola de Aprendizagem de Campina Grande e Escola SENAI de Rio Tinto ligada a Companhia Têxtil de mesmo nome (LOPES, 1992).

unidades da rede SENAI que se constituíam, cursos como marcenaria, tornearia e serralharia. Algum tempo depois, iniciaram-se os cursos de ajustagem, caldeiraria e mecânica de automóveis, na área de metal-mecânica, além da instalação de cursos em novas áreas como eletricidade, eletrônica, gráfica, alfaiataria e tecelagem. A mais antiga Escola do SENAI-PE, a partir de 1968, recebeu a denominação de Centro de Formação Profissional Joseph Turton Jr., denominação que perdurou até recentemente, quando de sua transformação em Escola Técnica (SENAI-PE, 2009).

Figura 11. Imagens de prédios do SENAI Pernambuco em Recife

Foto à esquerda atual sede do Departamento Regional do SENAI-PE; foto à direita Centro de Formação Profissional Joseph Turton Júnior (bairro de Areias). Fonte: imagens s/d disponíveis em » www.pe.senai.br « Acesso em 16 de fevereiro de 2009

Uma segunda unidade foi inaugurada em 1959 no bairro de Santo Amaro em Recife, o Centro de Formação Profissional Manoel de Brito, destinada a receber os cursos de mecânica de auto, tornearia e ajustagem, que funcionavam no CFP Joseph Turton Jr. Com tal iniciativa, e durante as décadas de 1960 e 1970, o SENAI-PE iniciava a paulatina transferência de cursos e especialização de suas unidades em determinados ramos e áreas do segmento industrial, muito embora mantivesse uma estrutura de oferta de cursos suficientemente amplos para o atendimento das necessidades das indústrias, por meio da preparação de mão-de-obra adulta e na condição de jovens aprendizes, justamente nas qualificações de manutenção e reparo.

O resultado desse processo de expansão e modificação foi o surgimento de novas escolas, uma delas destacando-se como de referência para o Sistema SENAI, o Centro Regional de Treinamento Têxtil – CERTTEX, em funcionamento desde 1967 no bairro do Bongi, também em Recife, que se colocou como uma unidade especializada e sintonizada com a vocação da indústria têxtil, presente não só em Pernambuco, mas no Nordeste (SENAI- PE, 2009). Mais tarde, em 1983, essa unidade foi transferida para seu atual endereço, na cidade de Paulista, região metropolitana, onde passou a denominar-se mais recentemente de

Escola Técnica SENAI Paulista Domício Velloso da Silveira. Seguindo a tendência das experiências de interiorização das ações do SENAI Nacional, o SENAI-PE inaugurou, em 1974, no bairro de Mangabeira em Recife, o Centro Roberto Egydio de Azevedo, espaço destinado à gerência de todas as unidades móveis do SENAI para o estado de Pernambuco.

Assim, além da incorporação de novas áreas industriais destinadas ao atendimento das demandas do mercado local e da preparação de mão-de-obra em localidades onde não existiam escolas fixas, o SENAI-PE nas décadas seguintes cuidou da criação de novos Centros de Formação Profissional, tanto em Recife, no bairro de Água Fria – com a Escola Engenheiro Austriclínio Côrte Real, destinada à cadeia produtiva da construção civil –, como na cidade de Cabo de Santo Agostinho – com a Escola SENAI Francisco Adrissi Ximenes Aguiar (SENAI-PE, 2009). Mas, sobretudo, o SENAI-PE iniciou de modo mais enfático ações de interiorização com a criação em Petrolina, inicialmente, em 1980, da Escola Euclydes Figueiredo para a área de metal-mecânica e, depois, em 1992, com a Escola SENAI Mário David Andreazza, que por quase uma década foi conhecida como Centro Regional de Tecnologia de Alimentos, sendo voltada para as demandas do Vale do São Francisco. Recentemente, após reforma, ambas as escolas passaram por um processo de fusão, constituindo uma única unidade na cidade. Araripina, região do estado com forte atuação na área de extração mineral e beneficiamento de gesso, também foi escolhida como cidade, em 1991, para implantação de uma unidade fixa do SENAI, o Centro de Formação Profissional Sebastião Lesse de Figueiredo Lins. Em 2005, o SENAI-PE inaugurou uma de suas últimas escolas na cidade de Garanhuns, a Escola SENAI Eurídice Ferreira de Melo destinado ao oferecimento de cursos em diversas áreas.

De acordo com as fontes documentais consultadas e com as informações obtidas em campo com gestores da entidade, o SENAI-PE declaradamente vem estabelecendo algumas projeções futuras, notadamente a de ser reconhecido como provedor de inovação em soluções

tecnológicas e educacionais para a indústria pernambucana e região, visão convertida nas

metas de ampliação da sua infra-estrutura, face ao cenário socioeconômico constituído em Pernambuco nos últimos anos, ou seja, com o início da instalação do Complexo Portuário e Industrial de Suape, o Estaleiro Atlântico Sul, a Refinaria Abreu e Lima, a Ferrovia Transnordestina e a Fábrica de Automóveis Fiat (FIEPE, 2009). Afim de atender às demandas geradas por tais empreendimentos de grande dimensão, o SENAI-PE já aponta para a construção, nos próximos anos, de novas escolas, na área da indústria ferroviária e da construção civil, na cidade de Jaboatão dos Guararapes, uma obra orçada em 7 milhões de

reais, e outra escola dentro do complexo industrial e portuário de Suape, com investimento de 5 milhões de reais mobilizados pela empresa Petroquímica Suape, em função de suas necessidades de qualificação para o setor têxtil de fibras sintéticas. Também se cogita a instalação de novas escolas nas cidades de Escada e Ipojuca.

Nos anos mais recentes, a área de serviços educacionais vem passando por transformações. Como se constatou, apesar de não oferecer cursos superiores de graduação ou pós-graduação87 , o SENAI Pernambuco vem atuando na promoção de qualificação profissional em dois níveis educacionais, através de oferta de cursos pagos e gratuitos, sob diversos títulos, em 16 áreas industriais diferentes. Neles se enquadram os cursos de nível

básico de formação inicial e continuada, destinados a jovens e adultos, desempregados ou

empregados com vínculos formais ou informais, tais como, os 76 cursos de qualificação

profissional básica, os 33 cursos de aprendizagem industrial básica 88 , destinados exclusivamente a jovens entre 14 e 24 anos, e os 299 cursos de aperfeiçoamento profissional (SENAI-PE, 2009).

Além desses, e demarcando uma tendência de crescimento nos últimos anos89, o SENAI-PE também vem oferecendo90 diferentes habilitações de cursos técnicos de nível

médio, submetidos à autorização e controle do Ministério da Educação. De acordo com os

documentos consultados, são 20 habilitações oferecidas: cursos técnicos em administração empresarial, alimentos, automação industrial, edificações, eletromecânica, eletrônica, eletrotécnica, gestão de processos industriais (gesso), logística, manutenção automotiva, produção de moda, química, redes de computadores, refrigeração e climatização, segurança do trabalho, sistemas à gás, soldagem, telecomunicações, têxtil e vestuário; os quais vêm funcionando de forma: (1) Gratuita, no período diurno, para jovens até 21 anos e que estejam matriculados na primeira ou segunda série do ensino médio; (2) Gratuita, no período noturno, para jovens até 24 anos e que tenham concluído o ensino médio; e (3) Paga, sendo cobrada

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Até o momento em que se deu a pesquisa de campo, o SENAI-PE anunciava e aguardava a publicação da portaria do MEC para implantação em 2011 de seu primeiro curso superior, 80 vagas para Tecnologia Mecatrônica, com mensalidade estimada em 600 reais, a funcionar na Escola SENAI Santo Amaro (Manoel de Brito) em processo de transformação em Faculdade de Tecnologia do SENAI Pernambuco.

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Uma das mais importantes modalidades historicamente oferecidas pelo Sistema SENAI com carga horária variável entre 400 e 800 h/a. Para uma descrição detalhada dessas modalidades de cursos oferecidos pelo SENAI atualmente Cf. a parte final do Capítulo III.

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Pode-se perceber no SENAI-PE, nos últimos cinco anos, um crescimento do número de matrículas ofertadas para os cursos técnicos. Por exemplo, para o ano de 2007 foram ofertadas 679 vagas gratuitas, e 340 vagas privadas, totalizando 1.019 vagas em cursos técnicos. Para o ano letivo de 2011, esse número saltou para o total de 2.392 vagas todas na modalidade de curso gratuito para jovens de 14 a 24 anos (SENAI-PE, 2011b).

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A oferta de cursos técnicos, conforme se constatou pela análise dos editais de seleção publicados pelo SENAI-PE, não se dá de modo regular. É de acordo com a avaliação periódica de suas metas de gratuidade, número de matrículas e conclusões, que se dá a definição de quais títulos de curso são abertos à seleção de novas turmas, de modo que não necessariamente os 20 cursos estejam disponíveis para a escolha da população jovem de 14 a 24 anos de Pernambuco (SENAI-PE, 2011b).

uma mensalidade, estando abertos ao público em geral ou fechados para trabalhadores com ensino médio concluído e que estejam vinculados às empresas conveniadas, funcionando em horários flexíveis (SENAI-PE, 2010a). Segundo a base de dados disponível no site do Departamento Nacional, o SENAI-PE registrou em 2010 um total de 34.860 matrículas em todas as modalidades, sendo 5.211 matrículas (veteranos e novatos) nos cursos técnicos de nível médio, o que representa 14,95% da oferta e 29.590 matrículas, 84,88%, em cursos de formação inicial e continuada de trabalhadores (SENAI, 2011).

Já no que se refere aos serviços técnicos e tecnológicos, em 2010, o SENAI-PE realizou 1.145 atendimentos, dos quais, 11,27% foram serviços de criação e aprimoramento de novos

materiais, equipamentos, produtos, processos e sistemas, o que está bem acima do percentual

nacional do Sistema SENAI, para tal modalidade de serviço, na casa do 1,94%. Também merece destaque o serviço de consultoria, que consiste no provimento de soluções técnicas para problemas empresariais de gestão, qualidade e produtividade, que no Departamento de Pernambuco responderam por 51,35% dos atendimentos, também bem acima dos 8,29% apresentados pelo conjunto dos Departamentos Regionais. Outra linha de atuação considerável são os serviços laboratoriais realizados pelo SENAI-PE para empresas nas áreas de alimentos, água, microbiológica, microscópica, análises físicas e químicas de têxteis, construção civil e gesso, registrando 36,51% do total dos serviços técnicos e tecnológicos para aquele ano (SENAI, 2011).

Para a consecução de suas ações diretas, o Departamento Regional de Pernambuco, em 2010, contou com uma receita total de 74,5 milhões de reais, dos quais, cerca de 43 milhões (58%) foram de transferência da contribuição compulsória feita pelo Departamento Nacional. Esse recurso vem sendo usado, em parte, na manutenção de sua atual infra-estrutura, composta por 23 unidades móveis e 10 unidades fixas, todas transformadas de Centros de Formação Profissional em Escolas Técnicas, distribuídas em oito cidades pernambucanas, cinco delas localizadas na Região Metropolitana do Recife, três no Agreste e duas no Sertão (SENAI-PE, 2009).

Entre 2001 e 2008, essa infra-estrutura sofreu um processo de ampliação e modernização, com obras de reformas ou mesmo construção e instalação de novas escolas, tais como as Escolas Técnicas de Garanhuns, Santo Amaro, Petrolina, Cabo de Santo Agostinho, Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe, o que mobilizou um investimento em torno de 40 milhões de reais, oriundos do Departamento Nacional (FIEPE, 2009).

Como se pode notar na figura 12, o SENAI-PE dispõe de duas unidades situadas no Agreste Pernambucano que se propõe atualmente ao atendimento das demandas do Pólo de Confecções. Trata-se do SENAI Caruaru, a unidade mais antiga naquela região, e do SENAI Santa Cruz, ali instalado mais recentemente. A elas nos dedicaremos com maior detalhe a partir de agora, tentando localizar-lhe o contexto de surgimento, suas principais transformações e dilemas, assim como seu papel desempenhado enquanto agente de qualificação profissional e de assessoria empresarial, na interação com a dinâmica histórica e atual daquele espaço social local em que se encontra inserido.

Figura 12. Esboço da distribuição espacial das Unidades SENAI Pernambuco

Fonte: elaboração própria (2011)

5.2. Origem do SENAI Caruaru e de seu modo de atuação voltado para as