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Os novos desafios do SENAI frente às mudanças nas relações de trabalho e na qualificação

MODALIDADES DE CURSOS OFERECIDAS PELO SENA

3.2. Os novos desafios do SENAI frente às mudanças nas relações de trabalho e na qualificação

No que se refere precisamente ao Sistema SENAI, esse agente coletivo passou a uma nova formatação institucional com alterações no seu padrão de atuação historicamente constituído, como veremos na seqüência. Frente às significativas transformações que se delinearam na passagem dos anos 1980 para os 1990, promoveu iniciativas no sentido de adequar-se à nova dinâmica no mundo do trabalho, impulsionada por fatores como: (1) os novos padrões de competitividade econômica impostos pelo processo de globalização; (2) as mudanças nos processos produtivos e nas relações de trabalho, com a amplificação da informalidade e da flexibilização no país; (3) além da alteração nos perfis de qualificação requisitados e, portanto, nas práticas de formação profissional a serem ministradas. Além disso, e ao mesmo tempo, o SENAI destacou-se como um dos articuladores dessas mudanças em âmbito nacional, especialmente como uma agência que vem assimilando e disseminando noções como competência, qualidade e produtividade.

Nesse sentido, pareceu extremamente atento e preocupado em resguardar sua posição social frente a esses desafios e aos novos agentes que entraram em cena, e que trouxeram a ameaça da perda de seu monopólio simbólico, de sua aura de excelência, construída na base de suas práticas e discursos reproduzidos até então. Especialmente nos anos 1990, passou cada vez mais a se relacionar com outros agentes coletivos, como mostrou a pesquisa sobre o

campo qualificação no Brasil, realizada por Lima (2005), e a esforçar-se em manter sua posição hegemônica caracterizada pela:

(1) proximidade real e proclamada com os sujeitos do campo produção; (2) soma da legitimação técnica com a legitimação política; (3) pela acumulação de capital quase ininterrupta em seus mais de sessenta anos de existência; (4) pela utilização deste capital de forma a reforçar permanentemente a marca SENAI; (5) pela complacência dos diversos governos em relação ao seu papel; (6) aura de excelência, competência técnica e capacidade de execução; e (7) pelo enorme volume de recursos e de estrutura espalhadas por todo o território nacional (LIMA, 2005, p.264).

Como se pode observar na figura 05, que se segue, o Sistema SENAI situa-se complexamente na relação com outros agentes públicos, privados ou híbridos, de caráter local e nacional. Tendo em conta sua posição, vem assumindo certo protagonismo em sua atuação, ora complementar, ora contraditória, frente: à rede de escolas técnicas federais (os atuais IFET - Institutos Federais de Educação Tecnológica); às escolas profissionalizantes e técnicas estaduais; às inúmeras escolas profissionalizantes privadas; às políticas públicas de qualificação profissional, em âmbito federal, estadual e municipal; às centrais sindicais dos trabalhadores (CUT, Força Sindical, etc.); às organizações empresariais nacionais e internacionais e às determinações legais advindas do Estado, por meio do Ministério do Trabalho e Emprego e do Ministério da Educação52.

Com base nessa composição, constituíram-se pressões internas e externas junto à instituição, tanto por parte dos segmentos do empresariado, como dos consultores dos organismos internacionais, no sentido de re-orientar seu modo de atuação, indicando-lhe o que estava ficando cada vez mais patente: a desatualização da instituição ante às novas condições do mercado, assim como a necessidade urgente de uma reforma interna (MORAES, 2000). Os novos desafios estavam lançados: assumir definitivamente uma postura de

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As supracitadas relações, que podem assumir combinações fluidas e complexas, contraditoriamente articuladas em determinadas circunstâncias, vêm sendo tratadas como relações de aliança ou, nos termos do próprio SENAI, de “parceria”, notadamente quando se referem às (1) demandas e interesses do mercado, consolidando sua filiação aos grandes grupos empresariais; (2) quando tratam de acordos de cooperação ou recebimento de financiamentos por parte de agências internacionais, ou ainda (3) quando representam captação de recursos financeiros oriundos do pagamento de serviços prestados, na forma de execução de políticas públicas de qualificação em nível estadual ou federal. Por outro lado, as relações estabelecidas pelo SENAI com os demais agentes coletivos podem ainda assumir o caráter apático, desconsiderando em suas linhas de ação, por exemplo, certas determinações legais impostas pelo Estado, através de suas normatizações, ou a determinadas demandas do mercado por qualificação, que são simplesmente ignoradas. Ao mesmo tempo, essas relações também se manifestam na base do conflito, como relações de oposição, visualizadas, em certo sentido, no trato do SENAI com as centrais sindicais dos trabalhadores, ou frente aos demais agentes privados, tais como, as inúmeras escolas privadas de qualificação tidas como potenciais concorrentes.

renovação permanente, repensando paradigmas e aperfeiçoando suas linhas de ação, para demarcar a “pronta adaptação às rápidas mudanças, evitando-se, assim, a petrificação de programas, em dissonância com os ritmos mais dinâmicos da conjuntura econômica” (SENAI, 2002, p.60). Desta forma, o SENAI trouxe para si a necessidade de “modernizar, aperfeiçoar e ampliar o Sistema, visando maiores ganhos de produtividade, elevação do nível de eficiência e intensificação do grau de eficácia” (SENAI, 2002, p.62).

Para tanto, o marco inicial desse movimento de reformas internas, que trouxe profundos desdobramentos em seu posicionamento e modo de atuação no campo da qualificação no país, foi, sem dúvida, a implantação de uma sistemática de Planejamento Estratégico, efetivado na esfera do Departamento Nacional do SENAI, com ajuda de seus Departamentos Regionais.

Figura 05. Disposição dos agentes coletivos com os quais o SENAI em âmbito nacional mantém relações

Fonte: Elaboração própria (2011).

Os resultados da mobilização e debates internos, desencadeados a partir de 1995, de amplos segmentos de gestores e técnicos de unidades de diversos estados, se materializaram no documento intitulado Plano Estratégico do Sistema SENAI 1996-2010, instrumento, esse, responsável por inaugurar definitivamente um novo modelo organizacional e de gestão executiva, pautando-se pela formulação de metas e redefinição dos objetivos da instituição, propondo uma maior sintonia com as condições do ambiente de negócios e cenários internos e externos, notadamente a partir do panorama desenhado pela globalização da economia e seu impacto na sociedade brasileira (SENAI, 1996).

Essa redefinição exigiu, de maneira complementar, um estudo de mercado, em que se identificaram ameaças, oportunidades e novos nichos de atuação, além de um diagnóstico dos pontos fracos e pontos fortes da instituição, iniciativa que possibilitou a projeção de ações estratégicas futuras de curto, médio e longo prazos. O documento previu, ainda, a adoção de indicadores padronizados para todo o Sistema SENAI, destinados ao controle e à auto- avaliação sistemática das ações executadas, de modo que se verificasse a sintonia que os projetos desenvolvidos mantêm com sua missão institucional, textualmente expressa nos seguintes termos:

Contribuir para o fortalecimento da indústria e o desenvolvimento pleno e sustentável do país, promovendo a educação para o trabalho e a cidadania, a assistência técnica e tecnológica, a produção e disseminação de informação e a adequação, geração e difusão de tecnologia (SENAI, 1996, p.08).

Nessa medida, o Planejamento Estratégico representou uma ruptura com o que se tinha realizado até então, ao incorporar definitivamente a lógica de atuação do SENAI enquanto

empresa, demarcando um esforço contraditório e ao mesmo tempo significativo de mudanças

na cultura institucional. Em síntese, como conseqüência, o SENAI vem ampliando e diversificando suas ações, tanto em âmbito nacional, como em suas diversas unidades locais, espalhadas pelo país. Além da sua atuação na área de qualificação profissional, de acordo com a atual estrutura do ensino brasileiro, através da promoção de cursos de diversas modalidades, uns gratuitos e outros privados, o SENAI passou a concentrar-se na venda de serviços técnico e tecnológico às empresas de micro, pequeno, médio e grande porte, por meio de consultorias.

Como se pode notar na análise documental, na tentativa de imprimir novas práticas e noções, o SENAI deparou-se com o contexto de rápidas e profundas mudanças na segunda metade da década de 1990, como já se salientou anteriormente, que lhe exigiu a mobilização de esforços no sentido de revisar seu Plano Estratégico. Revitalizando um processo iniciado cinco anos antes, o SENAI editou em 2000 seu Plano Estratégico Sistema SENAI: Revisão

2000-2010, com a nítida proposta de manter-se na trilha das chamadas maximização dos

resultados e elevação da qualidade dos serviços e produtos, na base da agilidade e flexibilidade às demandas do mercado e, assim, fortalecendo e desenhando, com maior nitidez, seu perfil institucional (SENAI, 2000b).

De fato, esse documento refletiu a preocupação da instituição com as referidas transformações que incidiam em seu ambiente de negócios, registrando precisamente a necessidade da revisão das escolhas estratégicas adotadas, principalmente em duas direções.

Primeiro no quesito aprimoramento da gestão, através da disseminação para o conjunto das unidades espalhadas pelo país, de uma cultura profundamente comprometida com a obtenção de resultados, através da redução de custos internos, ou seja, da eliminação de desperdícios e do uso racional dos recursos disponíveis. Segundo, no quesito orientação para o mercado, através da adoção de metas que enfatizaram uma postura pró-ativa da instituição frente à micro e pequena-empresas e à ampliação da atuação no segmento de informação e tecnologia (SENAI, 2000b).

Dando continuidade a esse mecanismo de adequação e planejamento, com vistas a atender às demandas do setor empresarial, mais recentemente o SENAI e os demais entes que compõem o Sistema Indústria traçaram, em conjunto, seu Plano Estratégico, para o período 2006-2010 (CNI, 2006). Nesse plano, mais precisamente, assinalaram-se algumas questões críticas para o SENAI, notadamente no que se refere às principais ameaças e fraquezas à manutenção de suas atividades, tais como, (1) o aumento da velocidade de obsolescência de seus equipamentos, que onera os investimentos em atualização tecnológica e aperfeiçoamento de docentes; (2) com as possibilidades de alteração nas fontes legais de receita e na autonomia de gestão; e (3) com aumento da concorrência no campo da qualificação profissional por parte de instituições públicas e privadas nos próximos cinco anos (CNI, 2006).

O documento ainda apontou para as oportunidades identificadas, potencializadas na medida em que o SENAI possa reverter alguns processos internos e trabalhar: (1) sua imagem diante do governo e da sociedade, aprimorando o trabalho de comunicação, para tornar-se reconhecido pela opinião pública como uma entidade vinculada à indústria; (2) o aprimoramento de suas diretrizes, tornando-as coesas em todos os estados; e a (3) consolidação de sistemas de informações gerenciais que apurem melhor os custos e gerem resultados padronizados, carência que dificulta a integração eficiente do Sistema (CNI, 2006).

A identificação desse quadro, por parte da direção do Sistema Indústria, promoveu certos ajustes que estão sendo realizados no SENAI, um deles, a redefinição de seu mapa estratégico, como se pode notar na figura 06, no qual se encontram indícios importantes para se perceber as intencionalidades e interesses que vêm balizando suas ações mais recentes.

Algumas das transformações mais significativas, que podemos elencar, derivadas desse amplo processo de metamorfose institucional, encontram-se na disseminação de práticas e discursos. Tanto no confronto com os demais agentes coletivos com os quais vem estabelecendo relações, como no âmbito de seus espaços formativos (salas de aula, laboratórios e oficinas) e nas rotinas administrativas, o SENAI vem adotando em âmbito

nacional, regional e local um novo léxico, que passou a combinar-se contraditoriamente, no cotidiano da instituição, com velhos termos. Mesclando-se às idéias de séries metódicas,

estudo dirigido, padronização, operário e posto de trabalho, em voga há mais de cinco

décadas, está a incorporação de palavras e idéias carregadas de novos sentidos – atreladas a novos interesses de classe – como, qualidade, produtividade, competitividade, competência,

empreendedorismo, desenvolvimento de soluções, oferta de produtos e serviços, parcerias, gestão por resultados etc. Muito mais que uma simples atualização terminológica, evidente na

análise dos documentos institucionais, esses elementos vêm representando uma nova postura assumida por este agente coletivo, em duas direções que se entrecruzam.

Figura 06. Atualização do mapa estratégico do Sistema SENAI

Fonte: adaptado a partir do documento CNI (2006)

Por um lado, está a reforma de seu consagrado modelo pedagógico. Nessa direção um primeiro movimento se processou ao constatar-se que o uso da metodologia de análise ocupacional, realizada pelo SENAI, tornara-se insuficiente para definição curricular dos cursos ofertados. Quanto mais as mudanças tecnológicas e organizacionais tornavam-se evidentes no mercado brasileiro, bem como o processo de flexibilização das relações de trabalho, mais esses processos impactaram nas relações de trabalho, com o desaparecimento de antigos ofícios e o surgimento de novas ocupações, assim como com a agregação de novos conteúdos às ocupações existentes, em ambos os casos trazendo novas exigências de

qualificação. Esse fato dificultava a rápida detecção e modificação dos cursos, tornando-os em pouco tempo desatualizados. A resposta a esse problema, por parte da instituição, foi a elaboração sistemática de estudos de prospecção de tendências de mercado.

Com as mudanças no mercado [se tornou] indispensável a reformulação do conceito de ocupação, base do planejamento educacional do SENAI. Se, tradicionalmente, ele é definido como um conjunto de postos de trabalho agrupados por semelhanças de suas tarefas principais, atualmente, a partir das novas demandas (...) por um trabalhador versátil (...) não mais formado para exercer qualificações fixas, o novo conceito de ocupação passa a ser entendido como: um conjunto de competências comuns mobilizadas no desempenho de atividades para a elaboração de um produto ou serviço (...) [Chega-se então, a idéia de] famílias ocupacionais, conceito mais abrangente que o de posto de trabalho (MORAES, 2000, p.88).

A redefinição da noção de posto fixo de trabalho industrial, típica do paradigma

fordista, levou o SENAI à reformulação de seu modelo pedagógico, alterando, além dos

currículos, aquilo que seria a mais importante metodologia de ensino da instituição, que se tinha reproduzido por mais de cinco décadas, ou seja, as Séries Metódicas de Oficina. A crise das SMO, metodologia referenciada num treinamento exacerbadamente instrumental, como se viu no capítulo II, significou para o SENAI, a partir de meados dos anos 1990, a necessidade de reestruturar todo seu material didático, atualizar seus equipamentos frente às inovações tecnológicas e requalificar seus docentes e técnicos, gerando uma nova dinâmica nas aulas teóricas e práticas de oficinas e laboratórios (MORAES, 2000).

Além disso, para o SENAI, o próprio conceito adotado de qualificação profissional, em sentido mais profundo, foi reelaborado, no momento em que passou a incorporar em seu discurso a noção de competência, em voga no país, como vimos, a partir das referências normativas de ensino básico e técnico, e das novas exigências de mercado. Nessa medida, a nova metodologia de ensino-aprendizagem passou a assentar-se no aspecto comportamental e individual das relações de trabalho, tal como a noção de competência sugere.

Sob a bandeira de uma qualificação “mais ampla, para trabalhos mais complexos”, o profissional formado sob o signo da competência seria justamente aquele que é capaz de mobilizar atributos técnicos próprios do saber fazer, e principalmente mobilizar capacidades comportamentais, como o saber ser, de modo a contribuir com a solução de problemas inusitados que ocorrem no ambiente de trabalho. Longe de assumir suas intencionalidades descompromissadas com uma formação emancipadora dos trabalhadores, os documentos do

SENAI enfatizam, a partir da noção de competência, um tipo de qualificação cada vez mais conectada à lógica e dinâmica do mercado, estando o futuro profissional habilitado, não só para a operação de máquinas, tal como no paradigma anterior, mas também para avaliar, criticar, propor e tomar decisões. Enfim, um profissional de subjetividade capturada, habituado pelas tão divulgadas capacidades de trabalho em equipe, pela capacidade de comunicação, assim como, pelo senso de disciplina e respeito às normas das empresas; os grandes eixos que fundamentam a flexibilidade do novo modelo (SENAI, 2008).

Consubstanciando a metodologia das competências está o ajuste dos conteúdos teórico- práticos, sua forma de integralização e carga-horária em cada curso ministrado, realizado a partir da organização curricular flexível através de módulos, os quais passaram a contrapor-se às disciplinas de formato tradicional. De acordo com os documentos do SENAI:

Além de permitir a atualização dos conteúdos programáticos de modo imediato, de acordo com a evolução e as exigências do mercado, a metodologia de Educação Profissional baseada em Competências oferece possibilidades mais flexíveis para a duração e o conteúdo dos cursos. A modularização dos cursos – permitida e reconhecida pela Lei de Diretrizes e Bases – facilita ao aluno obter certificações intermediárias, além de dar ao trabalhador autonomia para estabelecer seu roteiro de formação (SENAI, 2005, p.20).

O modelo pedagógico, assim dotado de maior flexibilidade a partir da re-significação do conceito de qualificação profissional, por meio da noção de competência, ao lado da flexibilidade para a construção de múltiplos e fragmentados itinerários formativos proporcionados com a estratégia curricular da modularização, pareceu mais adequado ao SENAI, sob o contexto da flexibilização das relações de trabalho, para atender em seus serviços de qualificação, decididamente dois públicos de perfis distintos, a saber: (a) cursos para os que estão inseridos no mercado de trabalho formal, ou seja, os trabalhadores da indústria na condição de jovens aprendizes ou trabalhadores adultos que necessitem de re- qualificação; (b) cursos para os desempregados ou os que se encontram inseridos na informalidade, tais como trabalhadores autônomos ou assalariados sem carteira (MORAES, 2000).

Por outro lado, assinala-se como outro importante canal de disseminação de práticas e discursos, derivados de todo esse movimento de reinvenção institucional promovido nos últimos anos, a partir do planejamento estratégico;

• O desenvolvimento de consultorias às empresas na área de gestão empresarial, processo produtivo, segurança no trabalho, e em meio ambiente;

• A venda de serviços laboratoriais (tais como ensaios e análises físico-químicos; serviços metrológicos de calibração de instrumentos e testes em materiais);

• A produção de pesquisa aplicada para indústrias (gerando-se o registro de patentes);

• A disseminação de informação tecnológica (através da elaboração e publicação de dossiês técnicos, estudos de mercado, e organização e realização de workshop, seminário e palestras);

• E a certificação de processos, produtos, e certificação profissional de trabalhadores. Configurando o que a entidade vem denominando de novas posições no mercado, as ações de venda de serviços educacionais e serviços técnicos e tecnológicos, vem alterando o modo de atuação da instituição, e isso é necessário se enfatizar, notadamente por representar uma estratégia de ampliação da base de receitas (SENAI, 2002). Na verdade, a contribuição fiscal compulsória53 vem sendo tratada como um impasse material para a manutenção e expansão da rede que lhe atrela às oscilações dos empregos industriais, ao ponto do SENAI passar a enfatizar a necessidade de assumir uma cultura empreendedora – que estimule a iniciativa e a aceitação dos riscos – para suas próprias ações, buscando sua auto-sustentação financeira (CUNHA, 2000; SENAI, 2000b). Definido como meta, desde o primeiro Plano Estratégico, a geração de fontes alternativas de receita se tornou, no decorrer de 10 anos, ao lado da distribuição e controle dos recursos para os Departamentos Regionais, uma das principais áreas de atenção da instituição.

Nesse sentido, o modo como os documentos institucionais vêm tratando o assunto, sob o rótulo de “vetor de negócios do SENAI”, enfatizando as referências de cunho privado de suas ações, nos parece emblemático:

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A Contribuição Fiscal Compulsória, como vimos no Capítulo II, é calculada em 1 % sobre o total da folha de pagamento mensal das médias e grandes empresas industriais do país, recurso atualmente recolhido pela Secretaria da Receita Federal e repassado ao Departamento Nacional do SENAI. Esse recurso soma-se a outras fontes para compor anualmente o orçamento da instituição, orçamento esse que está submetido à fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego e do Tribunal de Contas da União.

O negócio central do SENAI deve continuar a ser a educação para o trabalho, com ações diferenciadas conforme as necessidades dos clientes e com retração nas modalidades não demandadas ou com demanda declinante. Deverão, também, ser desenvolvidos os seguintes negócios complementares, sempre intimamente ligados à educação para o trabalho, como forma de mantê-la atualizada e dinâmica, e para propiciar a plena utilização dos recursos técnicos e tecnológicos disponíveis: assistência técnica e consultorias (SENAI, 1996, p.23).

Mais adiante, o documento refere-se:

O SENAI deve assumir uma postura essencialmente seletiva, concentrando recursos em pontos-chave, priorizando a superação das principais fraquezas e melhoria do posicionamento no seu ambiente de atuação e mercado, através de três linhas de