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Breve revisão de trabalhos que analisam alterações nos parâmetros da

A literatura nacional, bem como internacional, sobre alterações nas regras de concessão dos benefícios dos sistemas de previdencia social, versam ora sobre os impactos fiscais que estas podem ter, ora sobre os impactos redistributivos, dificilmente integrando ambos os lados da questão.

Giambiagi et. al. (2004) faz um diagnóstico dos problemas remanescentes após a segunda reforma da previdência, e sugere uma série de medidas que poderiam conter o déficit do Sistema, entre elas a idade mínima para aposentadoria por tempo de contribuição, aumento do tempo de contribuição das mulheres e desvinculação do piso ao salário mínimo. Zylberstajn, Afonso e Souza (2005) simulam, com dados da PNAD 2001, qual seria o custo de transição do modelo previdenciário atual para um sistema universal, com alíquota única sobre os rendimentos dos trabalhadores, benefício máximo equivalente a três salários mínimos, considerando fórmula de cálculo dos benefícios que estimule tanto a formalização, quanto maior justiça atuarial. Os autores concluem que apesar do alto custo envolvido (superior a R$2,95 trilhões, distribuídos ao longo do tempo), estes seriam compensados pelos benefícios trazidos com a nova estrutura do Sistema. Em outro trabalho, Afonso, Souza e Zylberstajn (2006) estimam, com metodologia similar ao primeiro trabalho e dados da PNAD 2004, os impactos fiscais de variações no valor do salário mínimo, na idade mínima de aposentadoria e no tempo mínimo de contribuição de homens e mulheres, além do tempo gasto para que as novas regras possam de fato entrar em pleno vigor. Giambiagi et. al. (2007), a partir da metodologia desenvolvida nos trabalhos de Zylberstajn et. al. (2005) e Afonso et. al. (2006), e do conjunto de propostas colocadas em Giambiagi et. al. (2004), analisam os efeitos fiscais de alterações

de regras de concessão de benefícios da Previdência Social, com dados da Pnad 2005, atestando, mais uma vez, pela necessidade de se proceder com uma nova reforma da Previdência para reduzir o crescimento do déficit e da dívida atuarial. Com relação ao efeito de reformas no nível de renda dos beneficiários, Beltrão e Pinheiro (2005) analisam os efeitos da eliminação das aposentadorias que estivessem abaixo das idades de 55, 60 ou 65 anos, para ambos os sexos, e das pensões por morte dadas às mulheres entre 20 e 50 anos de idade, e eliminando o menor entre dois benefícios dados a um mesmo beneficiário. A análise do impacto da eliminação dos benefícios é feita para grandes grupos etários (0-14, 15-59, 60+), para 20 quantis da população, segundo a renda familiar per capita, para os anos de 1982, 1992 e 2002 e entre as populações rural e urbana. Os resultados mostram a importância nos benefícios previdenciários no alívio da pobreza familiar e o aumento da importância dos benefícios na renda das famílias entre 1982 e 2002, (principalmente, as da zona rural). A eliminação das aposentadorias e das pensões acarreta impactos crescentes na renda per-capita de famílias no tempo, sendo maiores para aquelas nos maiores quantis de renda. Os impactos são também mais significativos nas famílias situadas na zona rural, comparativamente com a zona urbana.

No mesmo tipo de simulação, com substituição dos valores observados em um determinado período, sem o uso de projeção populacional, Tafner (2007b) redistribui entre os pobres de 2004, o valor economizado com pensões e aposentadorias deste ano, caso as pensões seguissem as regras aplicadas na Itália (viúvas recebem 60% do valor da aposentadoria do falecido caso não haja criança no domicílio – respeitando o valor do piso previdenciário, 80% se houver uma criança e 100% com duas ou mais crianças) e caso houvesse redução de 20% do valor excedente das aposentadorias que ultrapassassem dez salários mínimos, adicionada de 40% do excedente a 20 salários mínimos35. Com o repasse para os indivíduos mais pobres36 de R$680 milhões/mês, economizado

35

O autor propõe redução do valor das aposentadorias para os atuais aposentados, à despeito da regra do direito adquirido dos beneficiários.

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nas pensões, e R$1.349 milhões/mês nas aposentadorias, haveria redução de 3% no número de pobres do país, com grande impacto no aumento da renda destas pessoas. O autor conclui que, com o mesmo volume de recursos, é possível atingir maior redistribuição de renda e redução da pobreza, através de outros mecanismos que não a Previdência Social. Apesar de a Previdência ter grande impacto positivo na renda das pessoas (pois sem os rendimentos previdenciários e assistenciais da Previdência, a pobreza seria maior), segundo o autor, é equivocado utilizá-la como instrumento redutor da pobreza, ou esperar que ela seja o instrumento mais eficaz neste sentido. Via de regra, a função de seguro social da Previdência está relacionada com o histórico contributivo dos beneficiários, e assim tratá-la como instrumento de distribuição de renda subverte sua primeira função. Além disso, apesar de atender também a população de baixa renda, a Previdência não é um programa focalizado nos mais pobres, por isso será menos eficiente que outros programas focalizados nos mais necessitados (Tafner, 2007, pag. 37 e 38; Tafner, 2007b, pags. 36 e 37).

O trabalho aqui proposto inova no sentido de combinar os dois tipos de análise e oferecer um resultado para avaliação do trade-off de cada uma das alterações usualmente propostas: efeitos na renda dos beneficiários e montante de redução potencial dos gastos. As análises focam na desigualdade de renda pelo ponto de vista de gênero, o que nem sempre é incorporado nos estudos, apesar das mudanças afetarem em maior número, as mulheres.