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Como já bastante documentado na literatura nacional e internacional, as mulheres vêm avançando sua participação no mercado de trabalho, tanto no que se refere ao contingente que compõe a força de trabalho, quanto às ocupações que exercem e salários que recebem. No entanto, as diferenças de gênero ainda são grandes e, mesmo que coortes mais jovens não experimentem incompatibilidade do trabalho doméstico com a atividade econômica devido à maternidade, como ocorria em décadas passadas, o efeito da presença dos filhos e do cuidado com a família reduz as oportunidades de emprego e direcionam as mulheres para ocupações de pior qualidade, que oferecem jornadas de trabalho mais reduzidas, permitindo-lhes conciliar emprego e responsabilidades domésticas (Lavinas, 2005, p.32, citando Sorj, 2004).

No mercado de trabalho brasileiro, especificamente, a participação feminina vem aumentando desde a década de 60, e as mulheres que em 1950, correspondiam a 12% da população economicamente ativa, em 2003 já correspondiam a 43% do mercado de trabalho (Wajnman, 2006; Hoffman e Leone, 2004). Os GRAF.s 3 e 4 ilustram, respectivamente, o avanço no nível de atividade feminino em contraposição ao nível masculino, relativamente estável, e mostram que apesar dos avanços das mulheres no mercado de trabalho, a proporção de economicamente não ativas no país ainda é muito superior à dos homens. O GRAF. 5 mostra, por sua vez, que o nível de desemprego das mulheres aumentou em relação ao dos homens, chegando a 13% e 7%, respectivamente, em 2005. Barros, Corseuil, Santos e Firpo (2001) mostram com dados de 1996 a 1998, que o desemprego feminino era caracterizado por uma maior duração em relação ao masculino, sendo que as mulheres permaneciam em média 10,5 meses nesta condição, enquanto os homens permaneciam 6,9 meses.

GRAFICO 3: Nível de atividade dos homens, segundo os grupos de idade, em 1985, 1995 e 2005, Brasil 0 0,25 0,5 0,75 1 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80

Grupo de idade quinquenal

PE

A

/P

IA

1985 1995 2005

Fonte: IBGE- PNADs 1985, 1995 e 2005

GRAFICO 4: Nível de atividade das mulheres, segundo os grupos de idade, em 1985, 1995 e 2005, Brasil 0 0,25 0,5 0,75 1 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80

Grupo de idade quinquenal

PE

A

/PI

A

1985 1995 2005

GRAFICO 5: Evolução do desemprego, segundo sexo. Brasil, 1985, 1995, 2005 0% 5% 10% 15% 20% 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 Homens Mulheres

Fonte: IBGE- PNADs 1985, 1995 e 2005

Quando analisado o nível de informalidade dos ocupados (GRAF. 6), percebe-se a convergência do alto nível entre os sexos, de pouco mais de 50% da força de trabalho.

Gráfico 6: Evolução do nível de informalidade, por sexo. Brasil, 1985, 1995 e 2005 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 Homens Mulheres

Fonte: IBGE- PNADs 1985, 1995 e 2005

Alguns trabalhos também atestam a segregação sexual dos postos de trabalho, com as mulheres ocupadas se concentrando nos trabalhos ligados à prestação de serviços, que na média, recebem os menores salários entre todos os grupos de ocupações observados (Barros, Corseuil, Santos e Firpo,2001; Leme e Wajnman, 2001; Wajnman, 2006). O GRAF. 7 mostra a concentração de mulheres nos

serviços e a menor renda média deste grupo ocupacional em relação aos demais, em 2006.

Gráfico 7: Proporção de mulheres e renda média do trabalho principal, segundo grupos ocupacionais. Brasil, 2006

0 400 800 1200 1600 2000 0% 10% 20% 30% 40% Proporção de mulheres R$ mé d ia Dirigentes Forças Armadas

Profissionais das Ciências e das Artes

Técnicas de Nível Médio

Trab. Agrícolas

Serviços Administrativos Vendedoras

Produtoras de Bens e Serviços

Serviços

Fonte: IBGE- PNAD 2006

Wajnman (2006) mostra, com dados de 2003, que além de uma possível

segregação ocupacional entre os sexos21, com sobre-representação das mulheres

nas atividades ligadas à prestação de serviços (mais especificamente nas atividades domésticas, de serviços sociais, educação, saúde, alojamento e alimentação), elas estavam menos representadas que os homens nas posições de empregos assalariados (com e sem carteira de trabalho) e empregados por conta-própria, e se concentravam nos trabalhos domésticos, nos serviços públicos e no trabalho sem remuneração. Considerando trabalho precário aquele em que não há formalização da relação de trabalho através da carteira de trabalho, ou que não há remuneração pelo trabalho prestado, a autora indica que 38% das mulheres ocupadas (e 28% dos homens) se encontravam em postos precários de trabalho (Wajnman, p.86, 2006), com, possivelmente, menor proteção das leis trabalhistas.

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A segregação dos postos de trabalho entre os sexos já foi identificada em uma série de trabalhos como Lavinas (2001), Wajnman (2006), Barros, Corseuil, Santos e Firpo (2001).

A inserção diferenciada das mulheres no mercado de trabalho é acompanhada de diferenças salariais entre os sexos, embora essas diferenças se mostrem decrescentes ao longo do tempo. Os trabalhos para o Brasil indicam, entretanto, não ser a segregação ocupacional, nem os atributos produtivos (como a escolaridade ou número de horas trabalhadas) os fatores responsáveis pelo hiato salarial existente no Brasil. Barros, Corseuil, Santos e Firpo (2001) mostram que, com exceção do trabalho doméstico, há poucas evidências que atestem a pior remuneração em ocupações com maior concentração de mulheres, mas que diferenças existem dentro de todas as ocupações. Leme e Wajnman (2001) mostram que a escolaridade média feminina passou a ser maior que a masculina nas últimas décadas, indicando que, por este quesito, as mulheres deveriam ser consideradas mais produtivas do que os homens, recebendo maiores salários. As autoras decompõem o diferencial de rendimentos por sexos de coortes distintas, controlando por vários atributos pessoais, regionais e de produtividade, e atestam que, se os vários atributos não explicam os maiores rendimentos dos homens, tal diferencial seria, então, explicado pela discriminação por gênero existente no mercado de trabalho. A análise para duas coortes permitiu verificar, no entanto, que os diferenciais entre os sexos são decrescentes no tempo, e que a razão para tal redução teria sido a redução na discriminação. A existência de diferenciais de rendimento não explicado por características produtivas também é corroborado em Wajnman e Marri (2006), que decompõem as diferenças salariais entre homens e mulheres que são responsáveis pelo maior rendimento do trabalho do casal.

De todo o exposto acima, pode-se facilmente inferir que as mulheres ainda apresentam menor nível de atividade, maior nível e duração das taxas de desemprego, além de alta informalização das relações de trabalho e rendimentos médios inferiores aos masculinos. Se a sua capacidade contributiva ao sistema de Previdência Social é reduzida em relação aos homens, assim também será o valor médio dos seus benefícios. Neste sentido, quanto mais forte a relação entre contribuições ao longo da vida laboral e os benefícios de aposentadoria (tendência nas reformas dos sistemas de previdência social), maior será a probabilidade de reprodução das desigualdades do mercado de trabalho na velhice.

Por outro lado, como uma compensação pela menor, ou mais fragmentada, atuação no mercado de trabalho, ou como uma ação afirmativa na equiparação de direitos e condições, mulheres e homens recebem tratamentos diferenciados na Previdência Social brasileira, mais precisamente no âmbito das regras de aposentadoria (Silva e Schwarzer, 2002). Como será visto na próxima seção, mesmo com regras que compensem os diferenciais de atuação das mulheres no mercado de trabalho, os benefícios previdenciários auferidos por elas são inferiores aos dos homens. No contexto de uma possível reforma da Previdência, que tenha como objetivo estreitar a relação entre contribuições efetuadas e benefícios recebidos, é possível que as mulheres diminuam ainda mais o valor dos benefícios recebidos.