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Breve síntese da evolução das relações capital – trabalho

3.4. Estado do Bem-Estar Social

3.4.1. Breve síntese da evolução das relações capital – trabalho

O declínio do Império Romano alterou profundamente o arranjo institucional da Europa ocidental.

O vácuo de poder tendeu a ser preenchido por um sistema de hierarquia feudal na qual o senhorio protegia e garantia acesso a terra à massa camponesa tendo, como contra- partida, pagamentos em trabalho, alimentos e fidelidade militar.

Costumes e tradição ditavam as relações sociais. Um sistema de leis gerais, suportado por autoridade central estabelecida, foi superado por sistema particularista de serviços e obrigações mútuas, sustentado na hierarquia feudal.

Contudo, os aumentos contínuos de produtividade, essencialmente na agricultura – base do sistema - criaram as condições para uma série de mudanças estruturais: aumento populacional, crescimento das vilas e início do processo de especialização rural-urbana que responderiam por contínuos ganhos de produtividade.

Crescimento econômico e especialização de trabalho contribuíram para o ímpeto do comércio de longa distância e contínuo estabelecimento de centros industriais, comerciais e o controle de capitalistas comerciantes.

Estavam estabelecidas as forças de desintegração do feudalismo medieval.

A elevação de preços guiada pelo contínuo aumento do consumo cooperou na ampliação do lucro e na sua contínua acumulação.

E. K. Hunt 43 defende que as principais fontes de acumulação de capital foram: o volume do comércio, o sistema industrial de produção, os cercamentos (e a crescente urbanização) e a grande inflação de preços que, por não equalizar os ganhos dos preços de mercadorias aos salários, responde tanto pela acumulação original como pela ampliação de desigualdades e submissão da massa trabalhadora.

Em rápida síntese, o modo de produção capitalista desestrutura o sistema feudal, inaugura período mercantilista de forte comércio e se estrutura, de modo mais definitivo, no período de da grande Revolução Industrial.

Surgem, no período, os primeiros esboços de modelos abstratos de funcionamento do sistema capitalista e das estruturas de relações sociais entre as classes já estabelecidas.

Nesse contexto, Adam Smith foi o primeiro pensador a estabelecer distinção entre a tipologia dos lucros comercial e industrial e relacionar às classes sociais da época – capitalistas, proprietários de terras e operários – as três principais categoriais funcionais da renda: lucro, aluguéis e salários.

A principal busca estava na identificação das forças sociais e econômicas que maximizariam o bem-estar humano, conceito estritamente quantitativo entendido como a quantidade do “produto do trabalho anual e do número dos que poderiam consumi-lo”. Smith atentou para a importância central do conflito de classes baseada na propriedade da terra e capital e reconhecia que o poder capitalista advinha de várias fontes inter-relacionadas: sua riqueza, sua capacidade de influência e o controle do Governo.

Ao defender a importância dos ganhos de produtividade e do acúmulo de capital como primordiais à expansão do produto e bem-estar, Adam Smith defendeu limitação das funções do Governo em favor de uma economia de mercado concorrencial e capitalista na qual o mercado livre conduziria os atos egoístas e gananciosos para um sistema socialmente benéfico e harmonioso.

Smith concluiu que as intervenções, regulamentações, concessões de monopólios e subsídios especiais do Governo são responsáveis por alocações ineficientes de capital e, em última instância, pela diminuição da sua contribuição para o bem-estar econômico.

De um modo geral, a concepção liberal surgida com as obras de Adam Smith e David Ricardo, defendia o mercado e a livre concorrência como o meio superior de redução de desigualdade de classes e privilégios. A doutrina liberalista postulava que além do mínimo necessário, qualquer intervenção do Estado tende alterar o processo de equalização via trocas competitivas e responderá por ineficiência e distorções alocativas.

A redução de desigualdades e a maximização de prosperidade seriam, sob a ótica liberal, o resultado natural do mercado livre com mínima intervenção estatal – estabelecimento de claro ideal de liberdade individual e empresarial.

Ao Estado de mínimas intervenções corresponde à emergência da escola clássica ou liberal no âmbito econômico, centrada no individualismo econômico, livre concorrência e divisão do trabalho – bases definitivas do moderno capitalismo.

Não obstante o mérito de ter fundado as bases dos grandes incrementos de produtividades em função da divisão do trabalho, a escola liberal não prosperou na redução da desigualdade social.

Como potencial razão da superação do modelo liberal, Gøsta Esping-Andersen 44 afirma que o raciocínio liberal da livre concorrência e mínima intervenção seria adequado se o capitalismo pudesse ser mantido como universo de pequenos proprietários. Para o autor, a premissa de ajuste pelo mercado não se mostrava aplicável aos agentes alheios ao sistema: desempregados, pobres e necessitados de amparo.

No âmbito político, a emergência do grande proletariado estabeleceu uma contradição intrínseca ao modelo liberal de análise: a industrialização implica a emergência das massas proletárias para as quais a democracia é meio de restrição dos privilégios da propriedade.

Observa-se, desse modo, a materialização do temor liberal: o sufrágio universal como forma de politização dos processos de distribuição e eficiência econômica.

De outro lado, o movimento socialista constitui reação contra os abusos do liberalismo. A socialização dos meios de produção e o controle estatal figuravam como condições necessárias para a reversão do quadro de desigualdades. A economia política de orientação marxista não apenas ataca a premissa do mercado como garantir da igualdade, como o seu efeito atomizador sobre o indivíduo.

Em tal orientação, a acumulação de capital subtrai a propriedade e amplia as divisões de classe. Para os marxistas, a defesa da igualdade e neutralidade do Estado pelos liberais culminaria na defesa da propriedade e cooperaria no estabelecimento da dominância de classes.

As formulações e análise da distinção de renda do trabalho e renda da propriedade cooperaram na avaliação de um antagonismo de classes constante e fundamental.

Um novo equilíbrio entre classes deveria ser estabelecido.