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Breves comentários sobre o PNT

A busca de um novo modelo de turismo para o país pressupõe que as fórmulas anteriores apresentavam equívocos no tratamento da atividade, como foi o caso do Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), ou alguns programas de financiamento como, por exemplo, o Fundo Geral do Turismo (Fungetur), ou, ainda, os tipos de publicidade sobre o Brasil no exterior. A partir do diagnóstico realizado após a criação do Ministério também foi possível averiguar a desarticulação entre o próprio governo no campo do turismo e a frágil parceria com a iniciativa privada, provocada em decorrência de políticas anteriores confusas que foram sendo implantadas com planejamentos tendenciosos e sem se apoiar em bases sustentáveis. São conhecidos exemplos em que dados, estatísticas e programas foram forjados, criados segundo interesses pessoais, institucionais e empresariais, e verbas foram distribuídas segundo critérios políticos.

Em um primeiro plano, as diretrizes do PNT, juntamente com os demais programas que o compõem, priorizam o turismo como uma ação que deve beneficiar a população brasileira, facilitando que a mesma tenha condições objetivas para usufruir seu lazer, incorporando as populações nativas ao mercado de trabalho e tentando distribuir a riqueza de forma mais eqüitativa entre as pessoas e as regiões. Acredita-se que reduzir as desigualdades regionais e sociais só é possível por meio de uma política de base macroeconômica em que o sistema financeiro esteja sob o controle do governo

78 (juros baixos, crédito fácil e proteção integral à industria nacional) e em que os planejamentos no campo do turismo levem em conta a profissionalização e o treinamento da mão de obra local, para que o trade possa de fato ser um instrumento de integração e não de exclusão.

Por outro lado, ao analisar uma nova política pública e suas documentações, não se deve adotar um pensamento simplista, principalmente em se tratando de uma política de turismo, atividade complexa que abarca vários discursos, setores da economia, atores envolvidos e dinâmicas sociais. Segundo Sansolo e Cruz, vários pontos devem ser observados atenciosamente, lacunas devem ser identificadas e estudadas, e decisões precipitadas devem ser evitadas (Sansolo & Cruz, 2005). Seguem algumas observações desses dois autores sobre o turismo e o Plano.

Primeiramente, muitas vezes as pessoas são levadas à idéia de que, em razão da sua capacidade de impactar a economia e mexer com o ordenamento social local, o turismo seja a “salvação da pátria”. Esse é um risco que um plano de governo não pode incorrer, pois é somente adotando um processo paulatino e planejado que o setor poderá ser capaz de trazer grandes benefícios para o país. Caso contrário, ele também pode produzir pobreza, exclusão social e espacial e degradação ambiental, entre outros problemas, pois ele muitas vezes segue a mesma lógica de produção industrial capitalista.

O raciocínio acima se reflete indiretamente em uma outra questão, que também pode ser abordada equivocadamente: a crença generalizada e cega de que o país possui todas as condições necessárias para se destacar como potência turística mundial e que essas condições dependem exclusivamente dele, como se vê nos discursos políticos e nos documentos relacionados ao turismo. O fato é que o Brasil depende do fundamento e intensidade de suas ações, mas também de fatores exógenos sobre as quais não se tem possibilidades de interferência.

Outro importante ponto identificado pelos autores, que sempre chamou a atenção para a análise da prática do turismo e, mesmo assim, ainda apresenta fortes indícios no PNT, consiste em uma abordagem secundária à temática do território, ofuscada por uma abordagem predominantemente econômica e economicista do fenômeno. Mesmo estando um passo à frente dos seus antecessores, nesse âmbito, esse plano ainda peca por não planejar, orientar e normatizar o território com o mesmo cuidado que costuma dedicar a toda a sua cadeia produtiva.

79 CAP. 3: PROGRAMA DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO – ROTEIROS DO BRASIL

Nas últimas décadas, o turismo passou a ser encarado como uma atividade estratégica para alcançar o desenvolvimento sustentável em âmbito regional, já que sua prática responsável permite buscar a maximização dos benefícios ambientais, culturais e sociais que o setor pode proporcionar e a minimização dos efeitos negativos ao ecossistema das localidades e das comunidades em que se instala. A idéia vem se reforçando cada vez mais em razão da relação de dependência existente entre o turismo, a conservação do ambiente físico e o patrimônio cultural.

Desde que o Plano Nacional do Turismo (PNT) começou a ser formulado pelo Ministério do Turismo (Mtur) em 2003, houve a preocupação em repensar o modelo de gestão proposto pelo Programa de Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT) que, até então, imperava como balizador das políticas públicas de turismo no Brasil. Muitos aspectos desse programa foram mantidos e outros aprimorados. Porém, constatou-se que o setor turístico poderia exercer um papel ainda mais efetivo na geração de renda, conservação do ambiente e inclusão social, se seu planejamento fosse focado, principalmente, dentro da realidade local, estadual e regional (Almeida, 2005).

Assim, foram realizadas novas ações, estratégias e reformas na estrutura do governo e do ministério para atender às demandas do mercado nacional e internacional. A principal delas consiste na elaboração do Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil (PRT), originado do Macroprograma 4 – Estruturação e Diversificação da Oferta Turística que, atualmente, se tornou o grande eixo estruturante dos demais macroprogramas do PNT.

A transição da etapa de municipalização para a de regionalização do turismo influiu rapidamente na percepção daqueles que atuam no processo de formulação, mobilização, execução e comercialização do produto turístico, bem como dos que definem os instrumentos de política e de gestão pública. Apesar de o modelo de gestão do Mtur permanecer voltado para o interior dos municípios do Brasil e da valorização

80 de suas diversidades ambientais, patrimoniais e sociais, passou-se a pensar na geração de riqueza vinculada aos movimentos de grupos sociais regionalmente organizados, que demandavam cada vez mais participação nos processos de decisão.

Para a consecução deste capítulo, faz-se necessário apresentar um conjunto de reflexões que traduzem o Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil. O primeiro desafio consiste em conhecer o PNMT, programa que, até certo ponto, serviu de base para a elaboração do PRT e que mobilizou um número significativo de municípios para desenvolver seus planejamentos nos moldes do turismo sustentável. No passo seguinte, cabe apresentar e analisar o PRT, principal objeto de estudo da dissertação, construído a partir das especificidades locais e caracterizado por um modelo de gestão pública descentralizada, coordenada e integrada, baseada nos princípios da cooperação intersetorial e interinstitucional. Por último, faz-se um resumo dos três principais relatórios que compõem o Programa de Regionalização – Sustentabilidade Econômica, Sustentabilidade Sociocultural e Sustentabilidade Ambiental, onde se propõe debater e questionar os conceitos e diretrizes mais relevantes desses documentos, levando em consideração as teorias defendidas e desenvolvidas ao longo do trabalho.