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5. DA IMPOSSIBILIDADE DE EXONERAÇÃO MEDIANTE A

5.1. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O INSTITUTO DOS

Como um dos efeitos decorrentes do reconhecimento da paternidade socioafetiva e principal ponto que se pretende alcançar com o presente trabalho, para se compreender o alcance e a dimensão da prestação de alimentos na modalidade de paternidade socioafetiva é necessário primeiramente se pontuar seu conceito bem como sua finalidade.

Os alimentos constituem um amparo de bens essenciais para a subsistência de um indivíduo. Observar a necessidade de prestação de alimentos para crianças e adolescentes é um pensamento natural e indispensável, devido às necessidades especiais que estes apresentam, ao tempo que não possuem a capacidade de prover a si mesmos.

Neste sentido, para Paulo Lôbo:

Alimentos, em direito de família, tem o significado de valores, bens, ou serviços destinados às necessidades existenciais da pessoa, em virtude de relações de parentesco (direito parental), quando ela própria não pode prover, com o seu trabalho ou rendimentos, a própria mantença.84

Indo além, mais do que a garantia do amparo material despendido ao menor que teve seu núcleo familiar desestabilizado, pretende-se oferecer à ele a manutenção da qualidade de vida que possuía anteriormente. Ademais, os alimentos abrangem e alcançam as condições sociais e morais, como a criação, a moradia, o vestuário, a educação, a saúde, a alimentação, o lazer e as demais garantias contidas no artigo 227 da Constituição Federal. Ou seja, a prestação dos alimentos é o cumprimento efetivo do princípio da dignidade da pessoa humana.

Outrossim, para além do princípio da dignidade da pessoa humana, é também a consagração do princípio da solidariedade contida no art. 3, I da CF/88, especialmente 84LÔBO, Paulo Direito civil : Familias / Paulo Lôbo. – 4. ed. – São Paulo : Saraiva, 2011. p. 371.

observado junto ao art. 226, o qual solidifica a família como a base da sociedade, gerando em concomitância, efeitos jurídicos decorrentes do dever de solidariedade familiar.85

Com efeito, Maria Berenice Dias disserta que “a obrigação dos pais para com os filhos se origina do dever de sustento ínsito ao poder familiar e os alimentos decorrentes dos elos de parentesco têm por fundamento a solidariedade que existe - ou deveria existir - entre os membros de uma família”.86

Os alimentos, no caso particular da criança e adolescente é principal efeito jurídico decorrente da solidariedade, tendo o Código Civil disciplinado sua matéria nos artigos compreendidos do 1.694 a 1.710, além do Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual também contemplou a presente matéria em seu artigo 22. Como pontua Lôbo “[...] o direito empresta-lhe tanta força que seu descumprimento enseja, inclusive, prisão civil (art 5º, LXVII, da Constituição)”.87

Insta salientar no entanto, que o Código Civil não se preocupou em estabelecer a definição de alimentos, dispondo apenas da delimitação de sua matéria legal, determinada no artigo 1.920 o qual aduz que “o legado de alimentos abrange o sustento, a cura, o vestuário e a casa enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor”.

A doutrina cuidou de preencher as devidas lacunas à respeito do tema, tendo em vista que a classificação tradicional dos alimentos em naturais e civis, sustentada pela doutrina consolidou-se substancialmente após a distinção feita entre alimentos para “viver de modo compatível com a condição social” 88 e alimento como “valor indispensável à sobrevivência” .89

89BRASIL. Código Civil. Artigo 1.694 § 1º e 1.704 parágrafo único do Código Civil. 88BRASIL. Código Civil . Artigo 1.694

87 LÔBO, Paulo. op., cit., p. 373

86DIAS, Maria Berenice. Alimentos, sexo e afeto.Portal Jurídico Investidura, Florianópolis/SC, 13 Jan. 2009.

Sendo assim, os naturais seriam aqueles necessários para a manutenção do padrão de vida e os civis aqueles fixados em comparação entre o poder de oferecimento do alimentante e a necessidade pessoal do alimentado.

Ainda segundo Dias:

A diferenciação se estabelecia ao se quantificarem alimentos devidos aos filhos e alimentos a serem pagos ao ex-cônjuge. Enquanto o encargo decorrente do poder familiar era fixado em valor proporcional às condições econômicas do alimentante, os alimentos com origem nas relações de parentesco destinavam-se a atender à necessidade do ex-cônjuge de modo a prover sua subsistência com dignidade.90

Neste diapasão, Pontes de Miranda analisa que não há mais fundamentos que sustentem tal distinção , “pois o Código Civil anterior e atual referem aos alimentos em conjunto, abrangendo o sustento, a cura, o vestuário e a casa [...] além da educação se ele for menor (art. 1.920 CC/2002)”.91

Deste modo, como preleciona Andréa Salgado de Azevedo: 92

Hoje, o encargo alimentar visa a manutenção vital mínima, em respeito à dignidade da pessoa humana. No que tange a paternidade sócio-afetiva, o direito de proteção integral à família é considerado fundamental dada a relevante importância que exerce no desenvolvimento da sociedade e sua característica de efetivação do princípio da dignidade da pessoa humana, própria dos direitos fundamentais.

Isto posto, cabe ressaltar que atualmente, o princípio da igualdade da filiação, em conjunto dos supracitados pela autora, é um dos principais argumentos nas doutrinas e jurisprudências que urgem transmitir a obrigação alimentar para os vínculos, uma vez que são proibidos os atos discriminatórios e quaisquer diferenciações com relação à filiação.93

93OLIVEIRA, Eliana Maria Pavan de; SANTANA, Ana Cristina Teixeira de Castro. Paternidade Socioafetiva E Seus Efeitos No Direito Sucessório. Revista Jurídica UNIARAXÁ, Araxá, v. 21, n. 20, p. 94, ago. 2017

92AZEVEDO, Andréa Salgado. A paternidade sócio-afetiva e a obrigação alimentar. 2007. p. 46. 91MIRANDA, Pontes de; apud LÔBO, PauloDireito civil : Familias/ Paulo Lôbo. – 4. ed. – São Paulo : Saraiva, 2011. p. 373.

Ocorre que quando inserida a pauta da obrigação alimentar paterna, comumente é feita a correlação da paternidade biológica, ou registral , no entanto a ação alimentar é consequência inequívoca e imediata dos deveres assumidos no laço paternal e, este laço reconhecido voluntária ou judicialmente atribui deveres inafastáveis, cabendo portanto, o dever de prestar alimentos àquele que cumpre o papel de pai.

Desta forma, presentes os requisitos que viabilizam o reconhecimento da socioafetividade contidos no conceito da posse de estado de filho, os efeitos jurídicos provocados por ela fixam-se igualmente como qualquer outro molde de filiação.

Ademais, o Enunciado 341 da IV Jornada de Direito Civil de 2006, dispõe que “para os fins do art. 1.696, a relação socioafetiva pode ser elemento gerador de obrigação alimentar”.

No mesmo norte, a lição de Paulo Lôbo:

Os alimentos têm por objetivo a preservação do que o Código Civil denomina “viver de modo compatível com a sua condição social”, além de atender “às necessidades de sua educação”. A separação dos cônjuges e companheiros nunca preserva inteiramente a “condição social”, inclusive quanto aos filhos, pois as despesas que antes eram compartilhadas passam a ser assumidas individualmente, o que significa queda do padrão anterior. Onde havia uma família, passam a ser duas, com suas despesas próprias e conjuntamente superiores ao que se tinha antes, em comum. Mas o direito propugna pela aproximação possível das anteriores condições de vida.94 Assim sendo, diante da possibilidade e legalidade do pleito do requerimento da fixação de alimentos na paternidade socioafetiva, ressalva-se o disposto nos §1º e §2º do art. 1.694, quanto às observações que devem ser cumpridas para sua fixação de direito, e ainda, com base no princípio da obrigação alimentar, devem os alimentos serem fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.

Há atualmente ainda a possibilidade de se pleitear alimentos do pai biológico como complemento nos casos onde o pai afetivo não possua condições de prover o sustento.

5.2. DA IMPOSSIBILIDADE DO AFASTAMENTO DA PRESTAÇÃO DE

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