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CONCLUSÃO 218 REFERÊNCIAS

2.1 Breves destaques sobre o significado do desenvolvimento

O desenvolvimento é um conceito recorrente na contemporaneidade e é, por vezes, aclamado pelas plataformas políticas de candidatos de diferentes correntes ideológicas possuindo vários significados. De acordo com Castoriadis:

[...] o termo desenvolvimento começou a ser empregado quando se tornou evidente que o “progresso”, a expansão, o crescimento não eram virtualidades intrínsecas, inerentes a todas as sociedades humanas cuja efetivação (realização) se pudesse considerar como inevitável, mas propriedades específicas – dotadas de um “valor positivo” – das sociedades ocidentais (CASTORIADIS, 1987, p. 144).

Concordamos com o autor e entendemos que há um significado hegemônico atrelado ao “desenvolvimento” e à maneira como passa a ser encarado dentro da sociedade capitalista de produção. Segundo Castoriadis (1987), no mundo pós-guerra, havia uma preocupação dos poderes com uma reconstrução econômica e por soluções dos problemas decorrentes daquele período histórico. Difundia-se a ideia da necessidade que, a partir da maturidade industrial e do aumento do consumismo, os países fossem levados a seguir algum grau de “liberalização” interna e que os países ditos de “terceiro mundo”, que não apresentavam crescimento econômico, tivessem asseguradas condições para o seu crescimento, mesmo sendo este conquistado às custas de consequências humanas, ambientais e sociais para as gerações futuras.

Essa ideologia do “crescimento” fora criticada logo após sua introdução não pelo fato de que se assumia a preocupação e a promoção de apenas fazer crescer, mas pelos ônus sem

19 A delimitação do tempo (a partir de 1930) se justifica em função do método adotado como instrumento de

análise. A divisão periódica serve para apreender as particularidades conjunturais de cada governo que cumpriu o papel de intermediação dos interesses envolvidos ao longo do processo de mudanças no setor elétrico e consequentemente no modelo de desenvolvimento no país.

precedentes à coletividade e a humanidade dos efeitos cumulativos e destrutivos da industrialização.

A esse respeito, Goldenstein e Seabra afirmam:

Sob o capitalismo, o desenvolvimento das atividades econômicas não se dá de maneira uniforme entre seus diversos ramos e seus setores. Esse desenvolvimento desigual não é meramente fruto da reprodução de uma situação histórica presente nos primórdios da definição do modo de produção capitalista. Resulta de determinações que interferem no processo de acumulação de capital e guardam aspectos ora mais especificamente econômicos ou político-econômicos. E ainda, de todas as formas de desigualdades que opõem exploradores e explorados, dominantes e dominados, e em particular, a burguesia e o proletariado (GOLDENSTEIN E SEABRA 1982, p. 21).

Para entender o significado do desenvolvimento, é necessário ter ciência das diferentes correntes que o interpretam. Para tal, reportaremo-nos a Singer (1968), que aponta duas correntes de análise mais usuais: 1. as que identificam desenvolvimento como crescimento econômico e 2. as que distinguem desenvolvimento de crescimento. Para a corrente de pensadores que interpretam desenvolvimento como crescimento econômico, segundo o autor, ele é tido apenas como sinônimo de crescimento, fator que, por si só, caracterizaria o subdesenvolvimento. Dentro de tais premissas, os países subdesenvolvidos seriam aqueles que não utilizam integralmente os fatores de produção de que dispõem. No entanto, essa abordagem desconsidera que o capitalismo, como sistema produtivo hegemônico, gera não somente riqueza, mas também a pobreza, de forma antagônica.

No que se refere à diferenciação entre desenvolvimento e crescimento, nos apoiamos em Singer:

O primeiro corolário da distinção entre desenvolvimento e crescimento é que o crescimento é visto como um processo de expansão quantitativa, mais comumente observável nos sistemas relativamente estáveis dos países industrializados, ao passo que o desenvolvimento é encarado como um processo de transformações qualitativas dos sistemas econômicos prevalentes nos países subdesenvolvidos. Segue-se o reconhecimento da diferença de natureza (e não de grau) entre os sistemas econômicos destes dois tipos de países. O desenvolvimento é o processo de passagem de um sistema a outro (SINGER, 1968, p. 17).

O debate sobre o tema é acirrado pela conceituação econômica do termo desenvolvimento. Os economistas veem surgir a necessidade de elaborar um modelo de desenvolvimento que englobe todas as variáveis econômicas e sociais. Sob o prisma econômico, “desenvolvimento é, basicamente, aumento do fluxo de renda real, isto é,

incremento na quantidade de bens e serviços por unidade de tempo à disposição de determinada coletividade” (FURTADO, 1961, p. 115-116).

O desenvolvimento sob a lógica de produção capitalista menospreza as mais diversas formas de organização da vida dos que não têm como prioridade o lucro e a riqueza. Na contemporaneidade, essa assertiva mostra-se cada vez mais evidente. Maranhão (2012) destaca que o desenrolar da história no século XXI desmorona conceitos e reverte a clássica equação de Schumpeter (1961), a qual explicava que o desenvolvimento capitalista mundial era baseado em uma “Destruição criadora”, pois ao passo que destruía velhas formas de produção e organização social as substituía por mais novas e eficientes, num processo virtuoso e com crescente prosperidade e bem-estar. Segundo o autor, o grande paradoxo indisfarçável do capitalismo no presente século é o modo pelo qual o atual avanço produtivo antagoniza com a sobrevivência de uma parcela cada vez maior da humanidade.

Torna-se cada vez mais visível no sistema capitalista a incompatibilidade existente entre crescimento econômico e desenvolvimento social e humano, como destaca Mészáros:

[...] não estamos mais diante dos subprodutos “normais” e voluntariamente aceitos do “crescimento e do desenvolvimento”, [...] nem tampouco diante de problemas periféricos dos “bolsões de subdesenvolvimento”, mas diante de uma contradição fundamental do modo de produção capitalista como um todo, que transforma até mesmo as últimas conquistas do “desenvolvimento”, da “racionalização” e da “modernização” em fardos paralisantes de subdesenvolvimento crônico. [...] e quem mais sofre todas as consequências é a totalidade da força de trabalho da sociedade (MÉSZÁROS, 2003, p. 30).

Ianni (2004) argumenta que a política econômica governamental concentra-se sobre o processo de acumulação de capital, que é selecionado como fulcro do desenvolvimento [grifo nosso]. E estabelecendo uma hierarquia de atuação do Estado, Ianni comenta ainda que em segundo plano fica a política de mão-de-obra e em um lugar mais inferior ficam outras esferas da realidade, que incluem processos sociais, políticos e culturais.

Para Mota (2012), o Estado, muitas vezes, não se preocupa em dar condições para a realização de políticas que garantam o desenvolvimento econômico e social. Pelo contrário, apesar de no discurso a maioria das políticas estarem relacionadas às melhorias sociais, acaba existindo a predominância da vontade de classes hegemônicas sobre outras. Nesse sentido, o argumento de Farias (1999) propõe a superação da argumentação fragmentada que pressupõe Estado e capital em lados opostos, mas, sim formando um todo orgânico cujas relações são contraditórias e são mediadas pela luta de classes que, no século XXI, assume novas modalidades e características. Ambos, Estado e capital, são “uma forma específica do ser

social cujas determinações são sincrônicas e diacrônicas, estruturais e dinâmicas” (FARIAS, 1999, p. 21).

No caso brasileiro, o padrão de desenvolvimento nacional que fora adotado, entre as décadas de 1940 e o início dos anos 1980, recebeu a denominação de nacional-

desenvolvimentismo20, na tentativa de compreender uma trajetória comum de diversas experiências nacionais das sociedades latino-americanas.

A crise internacional, que abalou as estruturas intervencionistas do capitalismo europeu e norte-americano durante a década de 1970, pôs também em xeque o receituário latino-americano de industrialização, exceção feita ao México e ao Brasil. Este último logrou manter, de certa forma, a concepção básica do projeto até meados dos anos 1980, ainda que mergulhado em uma profunda crise (FIORI, 1992; HIRSCHMAN, 1987).

No Brasil, os resultados obtidos, sob esses diferentes ângulos, foram objetos de críticas21, sobretudo quanto à incapacidade do modelo mencionado desembocar em alternativas compatíveis com as transformações internacionais operadas a partir da década de 1970 e quanto à possibilidade de endogeneizar o processo de desenvolvimento nacional vis-à-

vis os compromissos, demandas e interesses de segmentos nacionais e internacionais que pontuaram a trajetória local.

Nesse sentido, o item a seguir trata a questão do desenvolvimento econômico (urbano- industrial), a estruturação e a expansão da energia elétrica, e como esta última, constituiu-se historicamente em um pilar para o desenvolvimento.