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3.2 Entre Britos e Gaudêncios está uma população: transformações na cultura política em tempos de eleições e seca

A cultura política do coronelismo baseado na independência dos chefes locais em relação ao domínio do Estado estava em pleno colapso. O aparato jurídico e a segurança policial nas eleições de 12 de outubro de 1947 demonstraram nos Cariris Velhos que o mando não estava apenas nas mãos dos chefes políticos. Os domínios do Estado que começou a solapar o poder de mando na Paraíba teve início no governo de João Pessoa e prosseguiu com Antenor Navarro. No governo de Gratuliano Brito começou a reaproximação com as oligarquias dentro do Partido Progressista, que teve sua efetivação nas interventorias de Argemiro de Figueiredo e Ruy Carneiro. Mesmo com a continuação das oligarquias, o Movimento de 1930, o Estado Novo e a redemocratização trouxeram em seu bojo mudanças no modo de fazer política. A partir da década de 1950 não bastava reprimir e controlar o eleitorado, era necessário convencer. As transformações desta cultura política são evidentes ao se observar o retorno de Getúlio Vargas no cenário político da pré-eleições de 1950.

O governo Dutra, recebeu apoio de empresários, banqueiros, latifundiários e militares de alta patente, que demonstravam ser reacionários, anticomunistas, liberais e que temiam o aumento do poder da população, principalmente da classe operária. Segundo Almeida Junior (2004, p. 242), o governo Dutra buscou construir “um sistema de hegemonia da burguesia”, mas não utilizou práticas convincentes com o período histórico, do qual a classe operária ganhara mais prestígio depois das políticas públicas trabalhistas de Getúlio.

Durante todo o seu governo o presidente buscou enquadrar o país nas condições econômicas do pós-guerra182 para combater a inflação advinda do final do Estado Novo. Assim, ele encaminhou a economia em direção para o livre comércio. A Constituição de 1946 teve inclinação para o liberalismo, pois o novo governo buscou se desviar da política econômica de Getúlio Vargas. Mas apesar disto não teve mudanças expressivas referente a legislação sindical, mantendo os sindicatos subordinados ao Estado (ALMEIDA JUNIOR, 2004, p.241).

Primordialmente, Dutra não desenvolveu a industrialização, pois temia o aumento do nível de preços, que ocasionaria no aumento inflacionário. Em

contrapartida a busca de bens de consumo no mercado interno aumentou a industrialização, processo que ficou conhecido como “industrialização espontânea” (SKIDMORE, 1982, p.98).

No planejamento regional, o Nordeste não teve grandes mudanças. O algodão, principal produto de exportação da Paraíba, passou a concorrer com o algodão paulista. Esperava-se primordialmente o desenvolvimento do sul com a industrialização, principalmente com as indústrias têxteis, e a partir de então, o desenvolvimento econômico do Nordeste. Dutra, na coordenação dos gastos públicos, organizou o Plano SALTE183, que enviaria recursos de combate à seca juntamente com o desenvolvimento do vale do Rio São Francisco, plano que estancou e se findou em 1951 (SKIDMORE, 1982, p.99).

No cenário político, após a Constituição de 1946, a UDN se tornou oposição ao governo Dutra. No mesmo ano, Vargas rompeu abertamente com o presidente e passou a organizar sua própria base partidária no PTB do Rio Grande do Sul, chamando a participar do partido toda a classe trabalhadora. Este fato demonstra as transformações da política brasileira perante a redemocratização, pois Getúlio Vargas abandonou o velho caráter de ditador e assumiu a nova postura de democrático e “popular”.

Devido ao aumento da participação política do PCB184, o Exército aliado com Dutra usou um dispositivo da Constituição que ilegalizava qualquer partido “antidemocrático” tal como foi considerado o PCB. A ilegalidade do PCB coincidiu com o início da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. Luís Carlos Prestes declarou que em caso de guerra entre os dois países, apoiaria o último. Para o governo Dutra, de caráter liberalista, o “perigo vermelho” deveria ser erradicado. Com o PCB ilegal, o presidente interveio nos sindicatos e perseguiu todos os funcionários de esquerda.

Após a ilegalidade, o PCB tratou o presidente como “governo de traição nacional”. O partido começou um processo de radicalização. Em agosto de 1950, Luiz Carlos Prestes assinou um documento que determinou uma nova orientação revolucionária para o partido. Tratava-se do “Manifesto de Agosto” que acusava o governo Dutra como “ditadura-feudal-burguesa a favor do imperialismo americano”. A

183 O termo SALTE abrange as áreas Saúde, Alimentação, Transporte e Energia.

184 Segundo Leôncio Rodrigues (2004, p.411), o aumento da participação política foi consequência da simpatia da sociedade pelo partido devido a liderança política de Prestes “o cavaleiro da esperança”, a possibilidade de atuação política do partido e a representação da União Soviética como “principal baluarte da luta contra o nazi-fascismo.

radicalização do partido também foi consequência do inicio da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética (RODRIGUES. L, 2004, p.413-414).

Vargas passou a contracenar como líder trabalhista, inclusive conquistou a simpatia de um considerável número de eleitores do PCB. Uma nova imagem “mítica” estava surgindo, Vargas se metamorfoseava de um político ditador para um político “popular”. Skidmore (1982, p. 94) enquadra Vargas num novo estilo de fazer política denominada de política populista ou populismo:

O termo populista era um tanto impreciso. Veio ser usado para denominar um estilo de procedimento político numa situação da qual o eleitorado urbano de massas mostra receptividade a um líder atraente, que recorre a um apelo aberto e irracional, baseado em considerações econômicas de variável sofisticação ideológica. (...) É um líder personalista, cuja organização política gira em torno das suas próprias ambições e da sua própria carreira.

A política “populista” foi inaugurada inicialmente pelo governador de São Paulo, Ademar de Barros, nas eleições de 1947. Mas ela demonstrou sua força nas eleições de 1950, tanto em nível de Brasil quanto em Paraíba. Para Skidmore (1982, p.427), o coronelismo se assentava “num sistema político manipulável” enquanto o populismo “pressupõe um sistema político aberto com resultados menos previsíveis”. Assim como colocamos o coronelismo como cultura política, o populismo também o é? O populismo a partir da análise conceitual, a priori, seria a continuação da cultura política mandonista que perpassou o patriarcalismo e o coronelismo. Ocorre que em termos conceituais, o populismo é confuso: seria o personalismo dos políticos e a barganha dos votos num cenário urbano e industrial. Enquanto que nas regiões menos urbanizadas seria um novo sistema de controle entre dominantes e dominados.

Na historiografia brasileira, o conceito de populismo está intermediado com as condições da vida das classes trabalhadoras. Devido à falta de determinada consciência de classe das “massas”, recém-chegada no setor urbano, o Estado utilizou de práticas populistas para “manipular, cooptar e corromper os trabalhadores” (FERREIRA. J, 2001, p.65). Ocorre que nas últimas décadas o conceito de populismo foi revisado e não se enquadrou como cultura política.

Jorge Ferreira (2001, p.64-97) divide a interpretação do populismo em duas gerações. A primeira geração abrangeu as décadas de 1950 e 1960. Neste período, o populismo foi explicado a partir da teoria da modernização. A inserção da América Latina no mundo moderno foi diferente da democracia liberal europeia, o processo de

urbanização e industrialização mobilizou as “classes populares” que buscaram maior representatividade política. O resultado foi o aparecimento de ditaduras militares e governos nacionais – influenciados por líderes manipuladores “das massas”. O populismo surgiu num período de transição da economia agroexportadora para a economia industrial. A sociedade moderna se originou da formação da classe campesina que migrou para as cidades. Assim, determinado por aglomerados urbano recém- formado, surgiu o populismo.

Destacam-se várias teorias sobre o populismo na primeira geração sugerida pelo(s):

 O Grupo de Itatiaia: defendia a teoria da modernização com o surgimento de uma classe proletária sem consciência de classe liderada por um líder carismático.

 O sociólogo Alberto Guerreiro Ramos: descreve o populismo como “doenças infantis do trabalhismo” de um “povo embrionário”. As doenças por ironia eram “o varguismo, o janguismo, o peleguismo e o expertismo”.

 O sociólogo Luiz Werneck Viana: o populismo segundo este, numa “interpretação sociológica” surgiu a partir do individualismo de origens rurais que transformou a classe operária passiva perante o domínio do Estado.  A teoria de Francisco Weffort do qual o populismo se consolidou a partir das

pressões da “revolução individual”, ou seja, os trabalhadores do campo ao migrarem para as cidades pressionaram o governo por garantias de emprego e consumo. Assim, o problema teve que ser resolvido por práticas populistas. A segunda geração analisou a relação entre o Estado e a sociedade com forte influência do marxismo. Assim se destacou nas discussões o conceito de ideologia. A principal questão era: como a ideologia influenciou a classe trabalhadora referente ao papel do Estado? A explicação recaiu no advento por parte do Estado de uma “falsa consciência”, que levou os trabalhadores a não se revoltarem contra o mesmo Estado. A maior influência marxista foi de Antônio Gramsci, para esta geração, o poder repressivo e persuasivo185 do Estado prevaleceu sobre as classes trabalhadoras dando origem ao populismo.

A partir da década de 1980 o conceito de populismo foi substituído por uma análise vidrada no controle operário. O Estado utilizou de mecanismos racionais para

controlar a classe operária. Mas com a recepção da história cultural no Brasil, percebe- se que este controle era limitado, pois a classe operária possuía vida própria. Assim, observou-se que nenhum Estado tinha domínio totalitário sobre as “massas”, pois existiam relações mais complexas entre dominantes e dominados.

Concordamos com Ferreira (2001, p.95) quando este nega que o Estado transformou a sociedade em elemento passivo perante a dominação e a repressão. Para ele:

A sociedade em si mesma não era tão “boa” e isenta de culpas, e que nela circulavam preconceitos contra judeus; manifestaram-se rancores contra alemães e japoneses, sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial; existiam pessoas com horror dos comunistas ou dos integralistas; encontravam-se alguns que queriam punir o comerciante da esquina desmedido em seus lucros; havia outras que desejavam livrar-se das dívidas com agiota – e, em alguns casos, mais raros, do próprio marido. (...) Em outras palavras, as relações entre Estado e sociedade não eram de mão única, de cima para baixo, mas sim, de interlocução, de cumplicidade.

Quando anulamos uma interpretação maniqueísta entre o Estado e a sociedade, o conceito de populismo perde sentido. A partir da década de 1990, o conceito estava em colapso devido à introdução no Brasil de teorias advindas da História Cultural186 e da História Social. Houve também a interpretação baseada na ideia de que a consciência de classe forma-se independente da relação com a classe dominante. Teoria atribuída a E.P. Thompson (1987, p.12):

Se determos a história num determinado ponto, não há classes, mas simplesmente uma multidão de indivíduos com um amontoado de experiências. Mas se examinarmos esses homens durante um período adequado de mudanças sociais, observaremos padrões em suas relações, suas idéias e instituições. A classe é definida pelos homens enquanto vivem sua própria história e, ao final, esta é a sua única definição.

Assim, a partir desta interpretação relativa à ideia de “classe”, entendemos o populismo como pouco elucidativo para explicação da relação política entre o Estado e a sociedade. Não houve uma dominação ideológica entre o Estado e a classe operária, mas sim, troca de interesses. Logo o populismo não é um poder absoluto e totalitário, já

186 Destaca-se a idéia de “circularidade cultural” de Ginzburg (1987) do qual as idéias “circulam” entre a cultura popular e a cultura erudita e a idéia de apropriação e ressignificação das mensagens dos dominantes discutida por Chartier (1990).

que existem os valores, as crenças, os mitos e as tradições de determinada sociedade, que ora denominamos de cultura política.

A partir da perspectiva dos mitos e das mitologias políticas187Ângela de Castro Gomes (2005, p.33-41) definiu três mitos construídos na história do Brasil: o primeiro foi o populismo, devido “a identificação contínua da presença política de elites personalistas e egoístas, ao lado de um povo crédulo, apático e/ou inconsciente, sempre capaz de ser enganado”. Os outros mitos são a questão da “raça” no Brasil do qual a sociedade não se reconhece como preconceituosa, mas conhece sempre alguém com preconceito e o mito da natureza que exalta a grandeza da terra, mas minimiza a presença das secas, da poluição, do desmatamento e das queimadas. Para Gomes, o mito da “raça” e da natureza mobiliza a possibilidade de esperança. O populismo, diferente dos outros mitos, carrega consigo a desesperança devido ao eterno “pacto perverso” entre o Estado e a sociedade. Desta forma, o conceito de populismo desqualifica nossa política e nossa sociedade, fato que prejudica a consciência de cidadania e a participação política.

Baseado no contexto histórico do Estado Varguista e Janguista, Gomes prefere o trabalhismo como cultura política devido à criação da tradição que incluiu no seu bojo, a inclusão social e o aumento da participação política, mesmo que esta participação esteja relacionada ao assistencialismo e às práticas demagógicas.

Nota-se que a partir do Movimento de 1930, a historiografia brasileira prestigiou a pesquisa histórica a partir do eixo urbanização - modernidade - industrialização. Assim, a história da sociedade rural do país foi tratada como coadjuvante referente às políticas públicas para incentivo a industrialização do eixo Rio - São Paulo. A cultura política vigente no Brasil durante o período de 1945-1964 se restringe à relação Estado- classe operária, que por Gomes é abordada como trabalhismo. Mas como seria a cultura política na perspectiva da região Nordeste e primordialmente na Paraíba? O trabalhismo não foi a única cultura política do Brasil, o Nordeste teve uma cultura política diferenciada e diversificada. Logo, não acreditamos que a partir de contextualizações históricas exista apenas uma cultura política, mas sim culturas políticas. O caso da cultura política estudado nos Cariris Velhos é particular se comparado na mesma periodização histórica a outras formas de culturas políticas.

187 Título do livro de Raoul Girardet (1987) que trabalhou as construções reveladoras de crenças e valores de determinada sociedade.

O conceito de populismo também foi utilizado como interpretação das relações sociais vividas na Paraíba tal como destaca Cittadino (1998, p.18):

No caso da Paraíba, a emergência de uma política populista só pode ser entendida a partir das transformações processadas na economia local com a penetração das relações capitalistas no campo, que destroem as relações tradicionais de caráter pré-capitalistas, levando à expropriação do homem do campo e, conseqüentemente, ao êxodo rural. É sobre essa população que migrará para os centros urbanos, constituindo aí as massas populares, que incidirá a política populista, e não, sobre um proletariado urbano criado por força do processo de industrialização188.

As mudanças ocorridas com a redemocratização e as novas relações sociais entre dominantes e dominados ocasionaram a construção de uma nova cultura política no Brasil que foi diversificado pelos estados e pelos municípios. A “penetração das forças capitalistas” foi impactante para a diferenciação das relações sociais entre Serra Branca e São João do Cariri.

Segundo Cittadino (2006, p.91-92), as classes produtoras do Nordeste investiram na expansão das áreas de cultivo, já que não estavam conseguindo concorrer com o capitalismo industrial do sul. Este fato contribuiu para pressão exercida pelos grandes latifundiários em relação aos trabalhadores rurais, para que estes diminuíssem sua área de cultivo. Consequentemente ocorreu a expulsão do trabalhador da terra e o êxodo rural. Afirma ainda Cittadino que:

As populações expulsas de suas terras tendiam a migrar para os pequenos centros urbanos dispersos pelo interior do estado, instalando-se naquilo que ficou conhecido como “pontas de rua”. Rompiam-se assim, os elos fundamentais que ligavam o trabalhador do campo ao proprietário da terra.

A principal “ponta de rua” da Comarca de São João do Cariri foi a “próspera” Serra Branca, domínio da família Gaudêncio.

A cultura do algodão no Cariri trouxe em seu interior mudanças nas relações sociais de Serra Branca. Antes o agricultor estava preso a terra do latifundiário. Com a abertura dos armazéns e com as máquinas de beneficiamento do algodão, ele ficou livre dos laços que detinha com seu “senhor”. Mas o domínio econômico do latifundiário

188 Tomamos o populismo não a partir de sua abstração, mas sim como prática política caracterizada com o poder de decisão da população a partir do voto. As práticas utilizadas pelos políticos para adquirir os votos dessa nova “massa” populacional advinda do campo não definia totalmente o direito de escolha dos eleitores, daí ter as políticas populistas como prática e não como conceito que coloca total domínio dos dominantes sobre os dominados.

continuou, pois ele foi o principal negociador entre o plantador de algodão e as exportadoras. A mudança ocorreu em relação a posse da terra. O pequeno agricultor podia comprar a terra a partir de empréstimos dos Caixas Rurais, cabia à elite manter o domínio a partir da compra da produção do agricultor.

No caso de Serra Branca se destacaram como mediadores do mercado do algodão Antero Torreão e Joaquim Gaudêncio. A propriedade das terras se democratizou com os empréstimos dos Caixas Rurais que começou a ser realizado no governo de Gratuliano Brito (SANTANA, 1999, p.118). O pequeno proprietário não devia obediência ao chefe político, ele não era mais obrigado a votar como ocorreu no período da República Velha. Novos mecanismos foram criados pelas oligarquias. Daí Joaquim Gaudêncio ser um dos primeiros políticos a adotar mudanças na postura para com o eleitor.

O conceito de populismo189 não se adéqua ao modelo da cultura política vigente na década de 1950 na Comarca de São João do Cariri. Uma nova cultura política surgiu com heranças do mandonismo, que utilizou o clientelismo e o empreguismo como pilares. Houve neste período gradativa participação política da população, mas visada pela cultura do patrimonialismo. Entre Britos e Gaudêncios estava uma sociedade que esperava “ganhar” um emprego pela prefeitura. Assim, a vitória das eleições representava lucratividade para quem era eleitor. Como afirmou Gerusa Mamede (apud MOREIRA, 1999, p.42):

(...) a minha história, a minha paixão, o meu fanatismo por eles (Gaudêncios) (...) quando eu sai foi porque eles não me ajudaram com a aposentadoria do meu pai que antigamente era agricultor e a minha mãe também, eu fiquei muito aborrecida, muito chocada, não iria mais votar nele.

Professoras, vigilantes, cozinheiras, coveiros, garis, todos tinham empregos garantidos de acordo com quem estava no poder. Entre Britos e Gaudêncios estava uma cultura política que circulava entre dominantes e dominados, que a priori, beneficiava a ambos.

O discurso que se enquadra como retórica “populista”, ou a teatralização do poder190 dos Britos e Gaudêncios se manifestou na disputa pela transferência da

189 No que se refere às relações entre dominantes e dominados.

190 Teatralização do poder foi um dos conceitos trabalhado por George Balandier (1982), para ele a representação do político surge a partir da encenação de seus agentes, assim para adquirir apoio da

Comarca. Os Gaudêncios, sob a liderança de Seu Quinca conseguiram o apoio da população de Serra Branca, que como observamos, era maioria em comparação aos outros distritos. O discurso desenvolvimentista serra-branquense facultou a aliança entre a população e a família Gaudêncio.

Era de extrema necessidade na fase de redemocratização do Brasil, a partir de 1945, a utilização de discursos legitimadores de identidades, pois foram a partir destes discursos que as famílias do poder buscaram manter influência na política. A população da Comarca, por sua vez, aceitou a disputa entre as famílias de forma natural, pois se tratava de trazer valorização para seu lugar de origem, fosse Serra Branca ou São João do Cariri. Simultaneamente, além da busca da legitimidade política por meio da autonomia, a população buscava adquirir cargo público para algum membro da família. Logo, as paixões afloravam e nas disputas eleitorais extrapolaram o bom senso. Segundo Almeida Barros (2007, p.30) (...) “era bastante comum nesse período piadas entre adversários partidários e até agressões verbais, chegando ao extremo de pessoas comuns, populares se tornavam inimigos devido essas disputas políticas”.

Assim, acreditamos que houve na Comarca de São João do Cariri uma união de interesses entre a população e as famílias do poder. A cultura política manteve elos