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Bruno Gâmbaro Marcelo da Luz Batalha

No documento Livro Ética Hacker e Educação (páginas 73-82)

Sergio Ferreira do Amaral

RESUMO

O objetivo deste trabalho é discutir as características que envolvem a culturahacker , seus conceitos e a

sua influência na atual sociedade permeada pelas Tecnologias de Informação e Comunicação. PALAVRAS-CHAVE: hacker , cibercultura, sociedade da informação, internet.

DESMYSTIFYING THE HACKER CULTURE: WILL AM I ALSO ONE OF THEM? ABSTRACT

The objective of this paper is to discuss the features that involve the hacker culture, its concepts and its influence in contemporary society permeated by the Information Technology and Communication. KEYWORDS :hacker , cyberculture, information society, internet.

As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) são consideradas os principais vetores do processo de desenvolvimento socioeconômico da atualidade ao produzirem alterações sociais, econômicas e culturais. Novos paradigmas e contratos sociais vêm sendo construídos desde o final do século XX tendo expoente comum a rede mundial de computadores, também conhecida como Internet.

Originária de pesquisas militares do departamento de defesa dos EUA para o desenvolvimento de um sistema de troca de pacotes de informação que permitia a comunicação entre computadores em rede, a ARPANet, como foi primeiramente denominada, começou a operar em 1969 e conectava universidades e laboratórios responsáveis pelas pesquisas financiadas pelo referido departamento de defesa. Mesmo que primariamente o uso da rede tenha sido restrito aos pesquisadores ligados ao projeto, que sem o financiamento do governo dos EUA não teriam condições de criar a rede, seus responsáveis sempre estiveram orientados para a construção de um sistema mais amplo, voltado para o uso coletivo e colaborativo que fugia do escopo da encomenda militar (CASTELLS, 2003; MARKOFF, 2005).

O quadro de pesquisadores era formado por cientistas, professores, alunos de pós-graduação, amigos e curiosos que vislumbraram o uso dos recursos disponíveis que estavam sendo desenvolvidos

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para dar poder às pessoas através do uso dos computadores. Um dos pensadores e ideólogos da Internet para o empoderamento do social através da apropriação das tecnologias que se desenvolveram desde há quatro décadas, Stewart Brand afirma categoricamente que a revolução das tecnologias é fruto da chamada contracultura, movimento que vivia seu auge neste mesma época: “esqueçam os protestos anti-guerra, Woodstock, os cabelo cumpridos. O verdadeiro legado dos anos 60 é a revolução computacional” (TURNER, 2006).

Dessa forma acabou se formando um espaço virtual global que ficou conhecido como ciberespaço. O termo surgiu pela primeira vez no ano de 1984 no romance de ficção científica de Willian Gibson, que o definiu como o universo das redes digitais, descrito como o campo da batalha entre multinacionais envolvidas nas disputas por novos territórios e mentes, a partir de fortalezas de informações secretas, trocadas em alta velocidade ao redor de todo o planeta. Tal termo foi ampliado pelo pensador Pierre Levy que desenvolveu definições sobre esse “espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das memórias dos computadores” (LEVY, p. 92, 1999).

Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de rede hertzianas e telefônicas clássicas), na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização. Insisto na codificação digital, pois ela condiciona o caráter plástico, fluido, calculável com precisão e tratável em tempo real, hipertextual, interativo e, resumindo, virtual da informação que é, parece-me, a marca distintiva do ciberespaço. Esse novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação. A perspectiva da digitalização geral das informações provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do próximo século. (LÉVY, 1999, p. 92-93).

Com esse amplo universo de possibilidades decorrentes das interações e o desenvolvimento de novos suportes tecnológicos, a ARPANet acabou resultando no que hoje é mundialmente conhecido como Internet. E como ocorre em qualquer local onde pessoas se inter-relacionam, códigos e contratos sociais foram se estabelecendo com base nas características próprias do ambiente, no caso, um espaço virtual global de natureza libertária e autônoma.

A defesa da Internet como uma zona livre de regulação e imune ao controle por parte dos governos sobre as comunicações dos seus cidadãos usuários teve em 1996 um marco com a “Declaração de Independência do Ciberespaço”, proclamada em Davos, na Suíça, e publicada na revista Wired   no mês de fevereiro do mesmo ano. Escrita por John Perry Barlow, fundador da  Eletronic Frontier Foundation (organização não governamental dedicada à preservação do direito de

liberdade de expressão no contexto da era digital), a declaração foi uma resposta à promulgação nos EUA da Lei de Reforma das Telecomunicações, que permitia intervenções estatais dentro do ciberespaço. A declaração faz uma forte defesa da separação entre a Internet e qualquer governo, afirmando que nenhum sistema governamental possui legitimidade para legislar o ciberespaço uma

vez que o mesmo não pertence a nenhuma unidade federativa ou até mesmo seja algo material, ressaltando que seus usuários possuem total liberdade de pensamento, expressão e organização.

Governos do Mundo Industrial, vocês gigantes aborrecidos de carne e aço, eu venho do espaço cibernético, o novo lar da Mente. Em nome do futuro, eu peço a vocês do passado que nos deixem em paz. Vocês não são bem vindos entre nós. Vocês não têm a independência que nos une. [...] Eu declaro o espaço social global aquele que estamos construindo para ser naturalmente independente das tiranias que vocês tentam nos impor. [...] Vocês não nos conhecem, muito menos conhecem nosso mundo. O espaço cibernético não se limita a suas fronteiras. Não pensem que vocês podem construí-lo, como se fosse um projeto de construção pública. Vocês não podem. Isso é um ato da natureza e cresce por si próprio por meio de nossas ações coletivas. [...] Estamos formando nosso próprio Contrato Social. Essa maneira de governar surgirá de acordo com as condições do nosso mundo, não do seu. Nosso mundo é diferente. O espaço cibernético consiste em idéias, transações e relacionamentos próprios, tabelados como uma onda parada na rede das nossas comunicações. Nosso é um mundo que está ao mesmo tempo em todos os lugares e em nenhum lugar, mas não é onde pessoas vivem. [...] Estamos criando um mundo onde qualquer um em qualquer lugar poderá expressar suas opiniões, não importando quão singular, sem temer que seja coagido ao silêncio ou conformidade. Seus conceitos legais sobre propriedade, expressão, identidade, movimento e contexto não se aplicam a nós. Eles são baseados na matéria. Não há nenhuma matéria aqui. [...] Acreditamos que a partir da ética, compreensivelmente interesse próprio de nossa comunidade, nossa maneira de governar surgirá. [...] Precisamos nos declarar virtualmente imunes de sua soberania, mesmo se continuarmos a consentir suas regras sobre nós. Nos espalharemos pelo mundo para que ninguém consiga aprisionar nossos pensamentos. Criaremos a civilização da Mente no espaço cibernético. Ela poderá ser mais humana e justa do que o mundo que vocês governantes fizeram antes. (BARLOW, 1996).

Barlow aponta para a emergência de uma civilização alternativa convivendo em um espaço virtual, baseada na criatividade da mente e na defesa da autonomia dos cidadãos usuários. Uma sociedade que possui sua cultura baseada na ética de respeito às liberdades individuais e coletivas, oriunda da prática do uso dos primeiros computadores e hoje principal energia propulsora das criações e inovações tecnológicas. Ou seja, uma culturahacker .

QUEM SÃO OS HACKERS: DEFININDO CONCEITO

Há pouco tempo atrás o termo hacker  era conhecido apenas pelas pessoas especializadas no

campo da ciência da computação, mas com o passar dos anos o processo de popularização dos computadores e a sua reprodução pela mídia colocaram o termo em disputa. O uso ordinário do termo

hacker  está associado ao ato de acessar dados não autorizados e fazer o uso subsequente dos sistemas

de computadores pessoais (TAYLOR, 1999; YAR, 2005).

O termo hacker  surgiu no mundo da computação nos anos 60 com um sentido positivo para

descrever os indivíduos com alto conhecimento, criatividade e interesse pelos temas associados à programação e à computação. Um hacker   correspondia a alguém com alta qualificação que

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apresentava soluções inovadoras aos problemas, principalmente na área de programação e desenvolvimento de softwares. Nesse sentido, é que os pioneiros da rede mundial de computadores podem ser chamados de hackers, por excelência. Esseshackers eram influenciados pela contracultura

dos anos 60-70, e na sua ética, entre outras coisas, estava o direito do acesso, uso e troca de informação e conhecimento coletivo; a capacidade da ciência em criar tecnologias para melhor a vida das pessoas, especialmente através da computação; a desconfiança dos usos políticos e militares das ferramentas computacionais, assim como dos fins corporativos e mercadológicos que pudessem ter seus produtos; e uma resistência às convenções sociais que representassem qualquer controle e subordinação a autoridades e hierarquias tradicionais.

Apesar de o termo hacker  ser empregado rotineiramente para rotular àqueles que acessam e

usam dados alheios para atos criminosos, isto vai contra o que defendem oshackers pioneiros, que se

referem a esse tipo de usuário usando o termo cracker . Em relação a estes criminosos, o hacker  Eric

Raymond, fundador da Iniciativa do Código Aberto e autor de “The Hacker's Dictionary” (O

Dicionário dos Hackers), explica: “os hackers reais chamam essas pessoas de ‘crackers’ e não quer

nada com elas... ser hábil na quebra de segurança não faz de você umhacker , assim como ser hábil no

roubo de carros não faz de você um engenheiro automotivo” (BEST, 2003, p. 266).

Em sua definição, um cracker   é o usuário que utiliza suas habilidades para praticar atos

criminosos ou maliciosos na Internet, sendo geralmente especializados em invasões com objetivo de roubar dados de suas vítimas. Outros termos usados para designar o cracker é hacker black-hat 

(chapéu preto) oudark-side hacker (hacker  do lado negro, em alusão à série do filmeStars Wars). Já o

termo white-hat   (chapéu branco) também é frequentemente usado para denominar os hackers  “do

bem”, enquanto que no meio desses dois extremos estão os gray-hat (chapéu cinza), usuários que

possuem habilidades e intenções de umwhite hat , porém com alguns desvios éticos. (SALES, 2009).

Por mais que esses nomes pareçam soar como vindos de uma obra de ficção científica, tais termos necessitam ser desmistificados como algo que não pertence ao nosso cotidiano. A atual sociedade da informação e comunicação, submersa em suas TIC, está repleta de pessoas de diversas idades se especializando cada vez mais e aplicando sua criatividade em novas soluções tecnológicas. Nomenclaturas mais aceitas socialmente retratam tais personagens como analistas de sistemas, técnicos em informática, especialista em TI (Tecnologia da Informação), programadores, e tantos outros, porém são em sua essênciahackers.

A diferenciação entrehacker  e cracker  é uma batalha que o movimento de autênticoshackers

enfrenta principalmente com os grandes meios de comunicação, que insistem em utilizar o termo

Por mais que haja uma intenção de criminalizar o hacker   ético, fato é que hoje diversas

pessoas, mesmo sem saber, compartilham ideologias defendidas e praticadas por eles. Basta constatar o sucesso da rede social Facebook , criada pelo jovem Mark Zuckerberg, que mesmo sendo hoje um

executivo milionário, nunca deixou de ser um hacker   e sua criação fruto desta característica. O

principio básico da rede social que encerrou o ano de 2011 com aproximadamente 845 milhões de usuários é o uso da Internet para conectar pessoas e promover o compartilhamento entre elas, essências presentes na culturahacker .

CULTURA HACKER

O conceito de cultura hacker , pensando aqui como conjunto de valores e crenças que formam

padrões representativos de comportamentos e costumes, adotados por grupos informais, influenciou e continua a influenciar uma geração de produtores e usuários da Internet e se destaca pelo pressuposto máximo da rede mundial de computadores, a liberdade: liberdade para criar, apropriar o conhecimento disponível e a liberdade para redistribuir esse conhecimento sob qualquer forma ou canal escolhido pelo hacker  (CASTELLS, 2003).

Para Coleman (2003), a ética hacker  corre paralelamente à fórmulaart pour l’art  (arte pela

arte), ou seja, oshackers estão focados na busca pelo conhecimento e o exercício da curiosidade para o

prazer próprio; a práticahacker  não é como uma obrigação instrumental, mas uma ação autônoma e de

liberdade que prevalece sobre os interesses meramente instrumentais.

O significado dado por Coleman está em sintonia com a definição da ética hacker ,

desenvolvida por Pekka Himanen (2001), filósofo e pensador finlandês, que estabelece uma analogia entre a ética protestante do espírito do capitalismo de Weber (2004). Se em Weber o trabalho é um principio ético e moral, que orienta a vida dos indivíduos, tornando-os moralmente obrigados a exercer um trabalho para valer a sua existência, na ética hacker , esse valor moral do trabalho é colocado em

xeque. Para os hackers  o trabalho não está necessariamente associado à obrigação moral, à

necessidade de sobrevivência, à sublimação da vida e dos prazeres terrestres, mas, pelo contrário, está associada ao prazer, à diversão e à razão social de comunhão e reconhecimento individual pelo trabalho para o coletivo. Para os hackers, obter reconhecimento numa comunidade que compartilha

suas paixões é mais importante e proporciona mais satisfação que o dinheiro. A diferença fundamental da ética do Protestantismo é que, para os hackers, o reconhecimento não deve substituir a paixão –

pelo contrário, o reconhecimento deve resultar da paixão, da criação de algo socialmente válido para essa comunidade criativa.

Eric Raymond conceitua a cultura hacker   através da metáfora do bazar e da catedral: no

modelo da catedral um indivíduo ou um pequeno grupo elabora estratégias, modelos, ideias e produtos, sem qualquer abertura para a participação de outros indivíduos que não foram previamente

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aceitos ou qualificados para a participação desse grupo. No modelo do bazar, ao contrário, as ideias, planos, estratégias, pedaços de informações são abertas para que potencialmente todos possam participar, colaborar na produção e distribuição de um produto que seja coletivo. A multiplicidade dos pontos de vistas é que é o importante: as ideias iniciais devem ser disseminadas para serem melhoradas através dos acréscimos e críticas dos outros indivíduos e grupos que possam ter interesse sobre o tema. O bazar contrapõe-se fundamentalmente a catedral porque nesta o produto final é resultante de poucas contribuições e seus fundamentos não podem ser alterados, tanto por motivos de proteção legal, quanto pela construção social da legitimidade que lhe cabe o reconhecimento.

Himanen (2001), seguindo os passos de Raymond, fundamenta o conceito da culturahacker 

sob o analogismo entre o mosteiro e a academia. O mosteiro, como o modelo da catedral, representa a regulação e o controle de quem pode produzir, acessar e utilizar a informação, sempre sob uma estrutura rígida e hierárquica. A academia, por sua vez, se assemelha ao bazar de Raymond: o modelo da academia pressupõe um aprendizado aberto e coletivo no qual as teorias e resultados são produzidos sob acréscimos e críticas de conhecimentos de terceiros. No modelo acadêmico o ponto de partida é o interesse por um problema ou objetivo no qual um indivíduo ou grupo de pesquisadores se lançam para encontrar um resultado satisfatório. Nessa busca da solução qualquer um pode utilizar, criticar e desenvolver a solução mediante informações já prontas e disponíveis para o público. O processo pela busca de uma solução coletiva, com base nos conhecimentos disponíveis, produz um efeito de retro-alimentação da cadeia de informações, no qual várias fontes são consultadas, discutidas, criticadas, e as informações úteis são agregadas e disponibilizadas para que outros indivíduos possam seguir o encaminhamento, ou tirar suas próprias conclusões a partir das suas experiências próprias.

Nesse sistema de produção de conhecimento, cada nova informação produzida deve ser lançada ao público e deve estar ao alcance de todos, para que novas elaborações surjam das críticas, reutilização e desenvolvimento. O aperfeiçoamento do material existente em novas direções trará mais subsídios aos estudos ou discussão em voga (HIMANEN, 2001). Esse modelo de aprendizagem aberta, a partir do qual Himanen conceitua a prática é modelo exemplar de como a rede mundial de computadores tem afetado os repertórios de produção e acesso ao conhecimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a Internet em forte ritmo de desenvolvimento oferecendo ferramentas virtuais mais práticas e intuitivas motivadas por esta cultura, somada a dinâmica de disseminação do conhecimento relatada acima, ocorre que é muito mais fácil hoje ter a expertise no uso das TIC e ser um membro dessa sociedade hacker , conceito que necessita sua desmistificação para que seja melhor

compreendido e aceito pela sociedade. Hoje a rede mundial de computadores é um campo fértil para atores sociais mais conscientes e dotados de capacidades para lidar e realizar intervenções se valendo dos recursos tecnológicos existentes ou criando outros novos. Cabe aqui uma observação para a

importância do papel da educação, que deve estimular e trabalhar de maneira positiva as habilidades nas crianças e jovens para que saibam como se portar, agir e criar dentro desse universo de infinitas possibilidades, onde a criatividade e a vontade de aprender podem resultar em hoje inimagináveis soluções para grandes problemas sociais que vivemos.

Na prática da cidadania, a Internet reforça os laços e identidades de indivíduos e grupos dispersos geográfica e socialmente através do compartilhamento de interesses e informações comuns, agrupando esses usuários em torno de redes de relacionamento e fornecendo grandes poderes a estes cidadãos virtuais. Para Sassen, a culturahacker  criou as oportunidades para o desenvolvimento, dentro

do campo das tecnologias de comunicação, de ideais como “descentralização, abertura, possibilidade de expansão e expressão, horizontalidade e fuga do controle autoritário” (SASSEN, 1998, p. 177). Ainda de acordo com este autor, a Internet se apresenta como “um espaço de poder distribuído”, no qual a sociedade civil pode engajar-se de “baixo para cima” (SASSEN, 1998, p. 192).

Uma vantagem do uso da Internet para a articulação dos movimentos sociais em rede é a facilidade com que podem criar e coordenar suas atividades através do uso de e-mail, salas de bate papo, reuniões virtuais e outros meios de produzir, organizar e divulgar informação. Essas ferramentas permitem que os usuários da rede mundial de computadores promovam um ambiente de discussão que supera os limites das plataformas não virtuais de comunicação antes existentes. A organização em rede possibilita que qualquer um, em qualquer lugar ou hora, tendo acesso à Internet, possa apresentar sua opinião e ponto de vista sobre a realidade, tornando-se sujeito ativo e, potencialmente, politicamente engajado.

Fazendo uso dessas ferramentas disponíveis na Web, um usuário muitas vezes mesmo sem saber realiza ações que podem ser consideradas como atividade culturalmente hacker , seja

compartilhando um arquivo, disseminando conhecimento, ou lutando por uma causa justa. Assim, o que precisa ser repensado, como levantado na “Declaração” de Barlow, são os parâmetros que regem os conceitos que não se adequam a realidade da atual sociedade digital. A culturahacker  precisa ser

descriminalizada no senso comum para que o cidadão ético usuário da rede possa assumir o seu lado

hacker white-hat . Em contrapartida, que os esforços das autoridades competentes sob atos criminosos

no uso da Internet sejam focados contra os denominados crackers  e que a mídia utilize os termos

corretos na divulgação dessas ações.

Mudanças para uma educação mais condizente com esta nova forma de pensar, relacionar socialmente, produzir, e até mesmo um novo modelo econômico, também se fazem necessárias para que as instituições se adequem a esta realidade em rede. Paradigmas que resistem a este desenvolvimento natural devem ser quebrados para que uma nova cultura de pensamento já estabelecida se fortaleça em todos os setores sociais. Como em um passado não muito distante houve a mudança da sociedade agrícola para a sociedade industrial, hoje estamos vivenciando uma outra

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mudança social, agora para a sociedade digital culturalmente hacker , baseada em uma ética

essencialmente horizontal e livre. REFERÊNCIAS

BARLOW, John Perry. Declaração de independência do ciberespaço. Disponível em:

<http://www.internetlegal.com.br/1996/11/declaracao-de-independencia-do-ciberespaco-por-john- per>. Acesso em: 23 nov. 2011.

BEST, Kirsty. The hacker’s challenge: active access to information, visceral democracy and discursive practice.Social Semiotics, v. 13, n. 3, p. 263-282, 2003.

CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet – reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade.

Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

COLEMAN, Biella.The (copylefted) source code for the ethical production of information freedom.

No documento Livro Ética Hacker e Educação (páginas 73-82)

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